Seis anos! Como parte das comemorações pelo aniversário do Manual do Usuário, listo abaixo seis destaques publicados nos últimos 12 meses.
A linha editorial deste blog é uma mistura de opiniões e reportagens. O formato blog, aliás, é legal pela liberdade que propicia — para testar, experimentar, despirocar. No sexto ano de operação, sinto que aproveitei bem essa flexibilidade do formato.
LEIA TAMBÉM: Aniversário de seis anos do Manual do Usuário
Abaixo, meus seis conteúdos favoritos em ordem cronológica e destacando seis aspectos/características do Manual. (E algumas menções honrosas, porque seria impossível escolher apenas seis entre mais de 200 conteúdos.)
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1. Youtubers brasileiros recomendam celulares chineses irregulares e sem garantias legais ao consumidor, em 13 de março
Uma das grandes investigações do ano. Os maiores youtubers de tecnologia independentes do Brasil cresceram falando incessantemente de celulares chineses. São bons aparelhos, não se pode negar, mas havia um incentivo extra por trás de todos aqueles elogios e que quase nunca era citado: as generosas comissões sobre vendas pagas por lojas também chinesas como Gearbest aos youtubers.
Este sempre foi um daqueles assuntos que todo mundo que cobre e trabalha com tecnologia pessoal no Brasil conhece, mas que ninguém questionava — você deve imaginar o potencial enorme de gerar desconforto e ferir egos que um tema espinhosos desses carrega. Acho que tornei-me “persona nongrata” em alguns círculos, mas alguém tinha que fazer o trabalho.
Outras grandes reportagens:
- Estar seguro na internet não depende mais só de você e tem tudo a ver com os seus dados pessoais, em 5 de fevereiro.
- Universo alternativo: Cine Filmes e a pirataria de filmes debaixo do nariz do Google, em 25 de maio.
- Como as conversas da Lava Jato no Telegram podem ter sido vazadas ao The Intercept Brasil, em 10 de junho.
- Algoritmo do YouTube impulsionou canais de extrema-direita nas eleições de 2018, em 28 de agosto.
- Como o jogo mais popular do Brasil caiu nas graças do povo, em 8 de outubro.
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2. Da web para o impresso: a reinvenção do Manual do Usuário, em 1º de abril
Primeiro de abril é um dos dias mais difíceis da internet, com empresas como o Google gastando horrores em brincadeiras forçadas e sem graça. Há anos tento levar alegria ao povo com posts temáticos menos… ahh, constrangedores. A repercussão sempre é boa e, em 2019, com o anúncio da “revista impressa” do Manual, não foi diferente — alguns leitores chegaram a dizer que foi a melhor coisa publicada aqui, e não sei se isso deveria me deixar feliz ou preocupado :)
Se faltou algum tipo de conteúdo, acho que foi o dos irreverentes. A tecnologia de consumo é uma fonte generosíssima de ideias nonsense e, em anos anteriores, consegui explorar melhor esse ponto fraco da indústria para fins de entretenimento. Fica aí como meta para o novo ano que se inicia.
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3. Com a fragmentação do streaming, pirataria volta a ganhar força, em 14 de abril
Embora eu assine a maioria dos posts publicados no blog, as portas da casa estão sempre abertas a amigos que queiram um espaço legal para divulgar ao mundo suas ideias.
Escolhi este excerto da tese de doutorado da Andressa Soilo para representá-los. A Andressa, aliás, publicou outros artigos magníficos sobre pirataria digital por aqui. Ela, a exemplo do blog, também foi multimídia: participou de um podcast Guia Prático sobre o tema da sua tese. Ah sim: a tese dela já foi publicada e pode ser lida aqui. Obrigado, Andressa!
Estendo o agradecimento aos outros amigos que passaram por aqui e aos estrangeiros que, muito gentilmente, permitiram que eu traduzisse seus artigos e os republicasse em português. Alguns deles:
- Bicicletas e patinetes nas calçadas, carros autônomos na vizinhança e a inevitabilidade do Algoritmo, de Rob Horning em 4 de fevereiro.
- Leica, China e a nossa impotência diante das injustiças, de Marcellus Pereira em 25 de abril.
- O que se perde quando “vemos Netflix” em vez de filmes, de Drew Austin em 6 de maio.
- Privacidade ambiental e o paralelo com o meio ambiente, de Maciej Ceglowski em 26 de junho.
- A falácia da sustentabilidade nas startups de patinetes elétricos de aluguel, de Alcysio Canette em 23 de julho.
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4. A câmera do Huawei P30 Pro é a caixa preta definitiva, em 30 de abril
Quando comecei o Manual do Usuário, havia um foco enorme em análises de gadgets, os famosos “reviews”. É um tipo de conteúdo que ainda tem lá sua relevância, embora cada vez menor. (Convenhamos, hoje é mais fácil comprar acidentalmente um celular bom do que um ruim.) E com uma estrutura tão enxuta como a minha, não demorou muito para concluir que seria melhor cortar esse tipo de conteúdo a fim de dar espaço a abordagens mais originais.
O artigo acima, sobre a câmera do P30 Pro, celular da Huawei que promete tirar fotos nítidas da Lua, é um ótimo exemplo. Em que outro lugar você encontra o pensamento de um filósofo da fotografia embasando um artigo sobre um celular recém-lançado?
Outros textos sobre gadgets e mais “mão na massa”, como dicas:
- O Google tem resultados mais precisos, mas o DuckDuckGo é melhor por causa deste recurso, em 25 de março.
- Todo mundo precisa de um app de anotações rápido e que sincronize com a nuvem, em 8 de maio.
- Moto G7 Play: o mais barato finalmente está bom o bastante, em 20 de maio.
- Nem todas as coisas “inteligentes” são digitais: a história do Caderno Inteligente, em 16 de junho.
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5. Os apps de transporte criaram uma dinâmica de trabalho de Robin Hood ao contrário, em 1º de maio
No Dia do Trabalhador, a coluna/podcast Tecnocracia do Guilherme Felitti tocou em um dos assuntos mais controversos de 2019: a classe precarizada que os chamados aplicativos da “economia dos bicos” criaram. Este episódio repercutiu bastante e, acho eu, é um dos que melhor personificam a razão de existir do Tecnocracia.
Podcasts são divertidos de fazer e sinto que ele geram uma proximidade entre quem fala e quem os escuta. Além do Tecnocracia, conseguimos manter o longevo Guia Prático na ativa. Nesse, começamos o ano com a proposta de abordar em profundidade um tema por quinzena, com Fabio Montarroios e Naiady Piva dividindo os microfones comigo. Na metade do ano, por motivos diversos os dois não puderam mais gravar, então entrou o pessoal do Gizmodo Brasil e mudanças no formato, que voltou a abordagem temas mais quentes e a trazer blocos fixos como o de recomendações culturais e agenda da quinzena.
Meus episódios favoritos:
- Chegou a hora de sair das redes sociais?, do Guia Prático em 7 de fevereiro.
- Sobre câmeras, fotografia digital e a nossa memória, do Guia Prático em 28 de fevereiro.
- Como o lobby pode ser uma arma para suprimir inovação, do Tecnocracia em 27 de março.
- A tecnologia prometia diminuir a desigualdade entre brancos e negros, mas periga aumentá-la ainda mais, do Tecnocracia em 14 de agosto.
- Pessoas ouvem o que você diz ao celular; Startups que abrem capital sem dar lucro, do Guia Prático em 21 de agosto.
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6. Livrar-me do carro próprio trouxe economia, paz de espírito e a esperança de cidades melhores, em 13 de maio
Outra coisa muito legal de se escrever em um blog é poder recorrer a anedotas, experiências pessoais e opiniões para enriquecer ou até mesmo basear uma pauta inteira. Foi o caso desta: uma vontade minha, de livrar-me do carro próprio, revelou-se uma bela oportunidade de divulgar uma causa que, acredito, deveria ser mais ventilada por aí. (A propósito, sigo sem carro e muitíssimo satisfeito com o novo estilo de vida.)
Outros textos derivados de experiências pessoais ou opinativos:
- Ficar bem informado sem depender de redes sociais e do WhatsApp é possível. Veja como, em 18 de fevereiro.
- A hora e a vez do teclado mecânico, em 8 de julho.
- O gosto cada vez mais amargo do hambúrguer pedido por aplicativo, em 12 de julho.
- Por que apago meus tweets antigos, por Rob Horning em 30 de julho.
- Como o Twitter fomenta o ódio e instiga o que há de pior em nós, em 12 de agosto.
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Foram mais de 200 conteúdos publicados ao longo do ano. Ainda tivemos algumas mochilas, entrevistas sobre produtividade, os enriquecedores posts livres…
Mergulhar no arquivo do Manual para fazer a seleção acima foi uma experiência revigorante. No dia a dia, é fácil perder de perspectiva o que está acontecendo aqui e o que estou produzindo. Com o devido distanciamento, pareceu-me um negócio impressionante.
Faltou algum post que você considera memorável desse último ano? Relembre-nos aí nos comentários.
Tecnocracia e Guia Prático, eu não perco um!!!
honradíssima por fazer parte!
Pessoalmente, o post mais marcante desse ano foi esse Tecnocracia: “A rede social não está apenas fragmentando sua atenção, mas também te anestesiando para a vida” (https://manualdousuario.net/podcast/tecnocracia-11/).
Eu já vinha flertando com a ideia de sair das redes sociais, e esse post foi o empurrão que faltava — juntamente com o livro “Homo deus”, que eu estava lendo na mesma época. Daqueles textos que eu sinto que preciso ler de tempos em tempos para não deixá-lo sumir da memória.
bela seleção, não faltou nenhum não, rs…