Bloco de notas #5

Notas curtas e curiosidades do mundo da tecnologia que publicaria no Twitter se o Twitter fosse uma rede legal. (Não é.)

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Um smartphone feito com matéria-prima acompanhada desde a origem, muita reciclagem, que fiscaliza e tenta melhorar as condições de vida dos funcionários de chão de fábrica e feito para durar por anos graças a uma engenharia modular que permite trocar peças defeituosas ou defasadas sem se desfazer das demais. Esta é a premissa da fabricante holandesa Fairphone que, nesta semana, lançou a terceira versão do seu smartphone [TechCrunch, em inglês]. A expectativa do fundador e ex-CEO da Fairphone, Bas van Abel, é de vender 200 mil aparelhos por ano e, mais importante que isso, trazer à luz os problemas que sua empresa ataca. O Fairphone 3 será vendido apenas na Europa pelo preço sugerido de € 450 (cerca de R$ 2 mil).

→ A indústria da tecnologia está intimamente ligada à da mineração, que degrada o planeta e, não raro, submete sua mão de obra a situações desumanas. Falamos deste assunto em um Guia Prático no início do ano.

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Cuidado para não virar o vovô Simpson gritando para nuvens

Este Tecnocracia começa bem lúdico. Transcreverei duas notícias publicadas por um veículo de massa e um trecho de ensaio falando sobre a chegada de uma nova tecnologia e você vai pensando sobre o que o sujeito está falando:

1. “A tecnologia fez algum bem? Acabou com algum mal, mitigou alguma tristeza? É de alguma consequência que você, de Nova York, deva saber na terça-feira em vez de quarta-feira que Jones amassou o nariz de Thompson no Congresso na segunda-feira? Algum dinheiro a mais é ganho ou perdido pelos especuladores de algodão em Nova Orleans e Nova York por que eles sabem das variações de ambos os mercados em cinco minutos, não mais cinco dias, antes que sua operações passem a valer?”

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Post livre #189

Toda semana, o Manual do Usuário publica o post livre, um post sem conteúdo, apenas para abrir os comentários e conversarmos sobre quaisquer assuntos. Ele fecha no domingo por volta das 16h.

Algoritmo do YouTube impulsionou canais de extrema-direita nas eleições de 2018

O YouTube tem uma área nobre em sua interface para promover vídeos que estão viralizando. Chamada “Trending” lá fora, aqui no Brasil ela atende por “Em alta”. Os critérios para que um vídeo seja destacado ali são vagos, resultado da opacidade do algoritmo que monta as listas de vídeos automaticamente. Uma análise inédita do Manual do Usuário e The Intercept Brasil mostra como o YouTube contribuiu para o sucesso de candidatos de extrema-direita nas eleições brasileiras de 2018. Além disso, ela revela incongruências entre os vídeos promovidos e as políticas do próprio YouTube.

A empresa de data analytics Novelo analisou todos os mais de 17 mil rankings “Em alta” veiculados pelo YouTube no Brasil durante o segundo semestre de 2018. (O YouTube libera um novo ranking do tipo a cada 15 minutos.) Os resultados mostram que dos dez canais que mais cresceram no total de aparições nos rankings “Em alta”, metade era de extrema-direita e de apoio ao candidato que viria a eleger-se presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL).

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Bloco de notas #4

Notas curtas e curiosidades do mundo da tecnologia que publicaria no Twitter se o Twitter fosse uma rede legal. (Não é.)

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O Google propôs um novo modelo de privacidade na web [Google, em inglês] como alternativa aos cookies pervasivos que rastreiam e monitoram usuários atualmente. A retórica terrorista do anúncio beira o inacreditável: “Primeiro, o bloqueio de cookies em larga escala destrói a privacidade das pessoas ao encorajar técnicas obscuras como o fingerprinting.” Parece um gângster dizendo que pagar pedágio é ruim, mas que sofrer as consequências do não pagamento seria pior. Confiar a nossa privacidade ao Google equivale ao proverbial “deixar a raposa cuidando do galinheiro”.

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Post livre #188

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Pessoas ouvem o que você diz ao celular; Startups que abrem capital sem dar lucro

Neste Guia Prático, Rodrigo Ghedin e Guilherme Tagiaroli e Giovanni Santa Rosa, ambos do Gizmodo Brasil, falam da sucessão de revelações de que basicamente todas as empresas com assistentes de voz inteligentes empregavam seres humanos para ouvirem uma fatia mínima das frases que dizemos a eles e a sinuca de bico que startups bilionárias, mas que não dão lucro, enfrentam quando resolvem abrir capital, casos recentes de Uber e WeWork.

Mande o seu recado para o podcast! Pode ser pelo e-mail podcast@manualdousuario.net ou enviando um áudio no Telegram para @ghedin.

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Do Galaxy J aos novos Galaxy A: a evolução do smartphone intermediário da Samsung

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Não é exagero dizer que a linha Galaxy J, da Samsung, é um grande sucesso da empresa sul-coreana. Em 2017, no Brasil, os incontáveis aparelhos da linha venderam 20 milhões de unidades, o que correspondeu a 42% dos smartphones vendidos no país. Os dados são da consultoria IDC. Apesar do bom desempenho, em 2019 a Samsung revitalizou a linha Galaxy A e lançou a Galaxy M, vendida exclusivamente via internet, a fim de substituir a Galaxy J. Diz o velho ditado que “em time que está ganhando, não se mexe”, mas o exemplo da Samsung mostra que se mexe no time sim se o placar estiver apertado do outro lado do mundo.

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Bloco de notas #3

Tweet: "Não sei se isto vai tweetar estou falando com minha geladeira mas que droga minha mãe confiscou todos os meus eletrônicos de novo".
A revolução será feita em geladeiras. Imagem: Twitter/Reprodução.

Uma menina avisou seus seguidores no Twitter que ficaria ausente da rede social porque sua mãe confiscara seu celular. Mandou a mensagem por um Nintendo 3DS. A mãe descobriu e confiscou o video game também. Dias depois, ela reapareceu na rede social tuitando de uma geladeira [Twitter, em inglês]. A história, descobriu-se após enorme repercussão, é lorota [BuzzFeed News, em inglês], mas uma lorota divertida e, convenhamos, absolutamente crível — não à toa, um monte de gente acreditou.

→ Isto me fez lembrar da geladeira inteligente que perdeu o acesso ao Google Agenda [Manual do Usuário]. Profético, escrevi na época (2015): “Ainda sentiremos saudade do tempo em que, você sabe, pais davam celulares a seus filhos na esperança de receberem em troca um pouquinho de atenção e amor. No futuro, geladeira inteligente será o mínimo”.

→ Nos Estados Unidos, alguns donos de fornos inteligentes da June relataram que eles ligaram sozinhos no meio da noite e pré-aqueceram a mais de 200º C [The Verge, em inglês]. Em caso de incêndio, dá para chamar os bombeiros pelo Twitter da geladeira?

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Post livre #187

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A tecnologia prometia diminuir a desigualdade entre brancos e negros, mas periga aumentá-la ainda mais

Este Tecnocracia começa com uma explicação básica para quem não viveu a era da fotografia analógica: nas câmeras do tipo, a foto era “impressa” pela luz em um filme fotográfico, que ia se enrolando a cada pose tirada num tubinho. Os filmes não eram praticamente infinitos como os cartões de memória de hoje; cada um tinha entre 12 e 36 fotografias. Acabadas, o fotógrafo tinha que tirá-lo da câmera e deixá-lo em um estúdio fotográfico, que usaria máquinas caras na época para “transformar” aquele filme em imagens de papel.

Basicamente, as máquinas liam a imagem no filme, imprimiam ela no tamanho que você queria e um sujeito, por fim, colocava as fotos em um pequeno álbum. Procure na casa dos seus pais ou avós e você deverá achar um monte desses álbuns com capas medonhas (a Fototica, uma época, colocava uns peixes lisérgicos na capa) e uns adesivos constrangedores para colar nas fotos.

Esse foi o modelo que durou mais de 50 anos. A partir da década de 1940, quem quisesse montar um estúdio fotográfico precisava comprar os equipamentos e o papel fotográfico onde o filme seria impresso. Junto com o filme fotográfico, a Kodak, maior empresa do setor e case da líder que foi destruída pela própria petulância, mandava também um cartão colorido chamado Shirley Card. O Shirley Card estampava uma mulher sorridente e maquiada, olhando para a câmera, cercada de quadrados com mais de dez cores, dos tons de cinza às cores primárias. Era com ele que os donos de estúdios calibravam as máquinas que faziam a revelação — era preciso fazer pequenas alterações para garantir que o amarelo que saía nas fotos era o amarelo mais vivo possível.

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Como o Twitter fomenta o ódio e instiga o que há de pior em nós

Nem os representantes divinos no plano terreno serão poupados no Twitter. Na quinta-feira (8), o padre cantor e tuiteiro de carteirinha Fábio de Melo abriu a rede social para reclamar da saída de presos condenados por filicídio no Dia dos Pais. Foi execrado. No dia seguinte, ele anunciou sua saída do Twitter. Em sua última mensagem lá, o padre disse:

Agradeço muito o carinho que sempre recebi aqui. Eu me divertia muito com vocês. Obrigado pelos amigos que fiz. Rezem por mim. ?

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