Dos mesmos especuladores que garantem que as crioptomoedas nos libertarão (do quê?) e que NFTs salvarão a arte (de quem?), vem aí a Web3, um novo ambiente digital que revolucionará a internet e o modo de fazer negócios em rede. Ou assim estão nos prometendo.
Em um texto publicado na Future, o braço editorial da firma de capital de risco a16z, do Vale do Silício, Chris Dixon definiu a Web3 como uma combinação entre “a descentralização e o ‘ethos’ guiado pela comunidade da Web1 com as funcionalidades modernas e avançadas da Web2”.
A suposta grande sacada da Web3, grande o bastante para justificar a nova numeração, é a descentralização das propriedades digitais e a tokenização da economia, ou seja, uma expansão totalizante da lógica das criptomoedas — a da blockchain — ao ambiente digital.
Gente como Chris Dixon alega que as plataformas digitais, ao resolverem os problemas da Web1 e se tornarem dominantes, passaram a ter incentivos contrários aos dos usuários e parceiros comerciais a quem deveriam servir ou, no mínimo, não serem hostis.
Ao distribuir a propriedade dessas plataformas, ou das suas equivalentes criadas no novo paradigma, e garanti-la com a blockchain, a Web3 neutralizaria tais incentivos perniciosos, aflorando o que há de melhor na humanidade.
“Na Web3, propriedade e controle são descentralizados”, nos garante Chris. “Usuários e construtores podem ter pedaços dos serviços de internet ao terem tokens, tanto não fungíveis (NFTs) quanto fungíveis.”
Tudo muito lindo, veja como essas pessoas cheias de ideais virtuosos querem uma internet melhor para todo mundo! Talvez, mas até o momento a Web3 é só uma grande promessa feita por gente que, na real, se beneficiaria horrores com a consolidação da Web3. E, isso também é um tanto curioso, a consolidação da Web3 depende da crença generalizada de que a Web3 está logo ali e trará benefícios inimagináveis à coletividade quando chegar.
Como posto pelo pesquisador e escritor bielorrusso Evgeny Morozov, a Web3 é um mapa para terras que ainda não existem. Sem surpresa, essas terras já estão demarcadas e prontas para serem exploradas comercialmente pelo pessoal que promove a Web3 como a oitava maravilha do mundo — sem exceções, investidores, empreendedores e especuladores.
“O modelo de negócio da maioria das iniciativas na Web3 é auto-referencial ao extremo, alimentando-se da fé das pessoas na inevitável transição da Web 2.0 para a Web3”, escreveu Evgeny em um ótimo ensaio.
Não tem nada de substancial na Web3, uma inconveniência enorme que, não por acaso, costuma ser varrida para debaixo do tapete pelos seus proponentes.
A Web1 trouxe uma rede global interconectada, acessível e aberta a todos. A Web2 — ou web 2.0, como definiu Tim O’Reilly em meados dos anos 2000 —, facilidades que permitiram expandir aquelas vantagens da fase anterior à maior parte da humanidade. A Web3 simplesmente troca essa infraestrutura por uma mais complexa, lenta e cara (pois blockchain) apenas porque… por quê?
Por mais erráticas que empresas como Google e Facebook sejam em suas posturas éticas e decisões de negócio, é inegável que elas resolveram muitos problemas e que, nessa, potencializaram novas tecnologias e o alcance e usos possíveis da internet. A Web3 passa longe disso. Todo o diferencial da Web3 é absolutamente inútil em termos práticos na imensa maioria dos casos. Quase sempre, ele atrapalha.
Em um interessantíssimo (e bombástico) post em que descreve suas primeiras impressões da Web3, Moxie Marlinspike, co-fundador do aplicativo de mensagens Signal, foi taxativo quanto ao argumento delirante da descentralização e além. Para ele, já hoje tal argumento é mais um artifício marqueteiro do que característica útil.
Alguém que queira construir algo na Web3 — por ora, leia-se lançar qualquer coisa na blockchain Ethereum — precisa passar por plataformas centralizadoras, startups como OpenSea, Rarible, MetaMask e Rainbow, condicionando seus aplicativos e tokens a esses intermediários. Sem isso, fica tudo muito difícil, caro e lento. Inviável. Se for assim, melhor ficar na boa e velha Web2.
“Quando você pensa a respeito, a OpenSea seria, na real, muito ‘melhor’ num sentido imediatista se todas as partes da Web3 sumissem. Ela seria mais rápida, mais barata a todos e mais fácil de usar”, resume Moxie.
Sem a blockchain — ou seja, fora da Web3 —, a OpenSea seria apenas um marketplace vendendo arquivos JPEG de desenhos de macacos e outras bobagens do tipo cujo valor intrínseco é irrisório ou nulo. É a insanidade dos NFTs elevada ao quadrado, esparramada por tudo. A Web3 é a roupa invisível do rei nu.
A OpenSea, aliás, é um marketplace de NFTs. Foi fundada em 2017 e está avaliada em US$ 13,3 bilhões. Entre seus investidores está a a16z, onde nosso amigo Chris Dixon é sócio. Não é à toa que há tanto interesse deles em transformar o mundo das criptos — Web3, criptomoedas, NFTs — em uma história convincente. Muito dinheiro está apostado nessa narrativa.
A a16z também investiu pesado na Coinbase, uma das maiores exchanges de criptomoedas do mundo. Marc Andreessen, co-fundador e sócio da firma, tem um assento no conselho da Coinbase.
Faço um desafio: encontre alguém entusiasta de criptomoedas, NFTs e Web3 que não esteja comprado de alguma forma nessas coisas, ou seja, que não tenha investido nelas. Boa sorte tentando achá-lo.
Se a essa altura você ainda tem dificuldade em entender o que é Web3, não se culpe nem se preocupe. A abstração faz parte do jogo e a Web3 é o que for preciso ser para que seja alguma coisa afinal.
Na prática, as diferenças entre a Web3 e a internet que temos hoje são tangenciais e irrelevantes à maioria das pessoas. Mas se alguém insistir e te questionar o que é Web3, diga que é a internet como a conhecemos, mas com blockchain no meio. Em última instância, é somente isso mesmo.
Deu pra ver que não entende absolutamente nada de Web3, que triste
Nossa, essa coisa toda começou a me dar mais e mais raiva, é tão horrível. Eu trabalho com animação, como não faço nada em redes sociais ninguém nunca chegou pra me passar o papinho, mas nesse exato momento estou saindo de um período de testes em um estúdio pequeno que o chefe virou um cryptobro.
No início dos três meses parecia normal, uma agência, você faz umas coisas meio estranhas, mas bem, te pagam e as vezes vc faz coisas massa também, mas aí começou o papo de crypto, que eu tinha que investir, que todos deviam aprender, até que culminou numa reunião falando que iam 100% trabalhar em projetos desses e vão fazer nft próprio! O estúdio tá recebendo em crypto e pensando em mintar coisas e eles pegaram um puta empréstimo, não consigo nem ver um futuro promissor nesse estúdio.
Eu acabei falando que ia sair por causa do nft e que era porque eu era contra e não podia ficiar ali, tudo de boas, até que o chefe propôs uma reunião em que expuséssemos nossos motivos e conversássemos.
No mesmo dia ele trocou pra uma reunião em que cada um falaria suas dúvida (???)
E o dia da reunião foi horrível, as pessoas falaram com aquele medo, meio isento, eu já tinha jogado pro alto e fui falar os pontos que tinham dúvida, o que eram as coisas, e mais um monte de coisa, o maluco simplesmente me interrompeu!!! E fez gaslight comigo, falou que minha opinião não valia porque eu era contra já e minha emoção que tava falando.
Mano, eu já tinha empatia com pessoas que sofrem isso, normalmente mulheres, durante a reunião eu enchi o saco, interrompi, fiz o zaralho, mas no fim, né, eu sou o elo fraco, eu desliguei a câmera e desabei no choro de raiva e fragilidade sabe, inferno. Agora eu tô aqui mais duas semanas nessa merda ouvindo esse fdp nas reuniões e as pessoas falando que tem certeza que a reunião não seria assim, pq ele, olhem só um clássico junto do emoções, pq ele não é assim, ele é um amor de pessoa.
Desculpa, desabafei, eu tô em reunião agora e toda vez que ele fala eu só fico desconfortável e com vontade de arrebentar ele, eu não consigo nem ligar minha câmera mais tamanha raiva e vergonha, é horrível.
Falou tudo que penso sobre essa tal de Web3, Ghedin.
Chega ser delirante ver o quanto as pessoas querem empurrar goela algo sem nenhum sentindo, se ñ apenas enriquecer quem aposta nessa ideia.
Quando Wallstreet e Siliconvalley se juntam para nos f#der
Scott Galloway falou sobre isso aqui: https://medium.com/marker/the-false-promise-of-web3-7e6c1a00d4be
Gosto do Scott.
Já o Elon Musk, não :-)
Web3.0 e Metaverso parecem ser duas invenções delirantes para vender algo que ninguém pediu.
Falaram isso do primeiro iPhone.
E dos computadores com GUI.
O iPhone foi ao menos feito estudo e tudo mais para algo que virou “padrão de mercado”. Crypto e similares é pirâmide e pronto.
“Crypto é pirâmide.”
Você é o Gates falando que ninguém precisa de mais de 64k de ram.