O fim do celular pequeno

Mão segurando um iPhone 13 Mini, editado dificilmente para exibir o logo do Google e a inscrição “powered by Android”.

Quem vai às compras atrás de um celular se intimida com a variedade de modelos disponíveis. São muitos e, apesar do volume, quase nenhum pequeno. Eric Migicovsky, que fez fama na década passada com o relógio inteligente Pebble, quer um celular Android pequeno. Será que vai conseguir?

Eric criou um site detalhando seu celular dos sonhos, com um abaixo-assinado para reunir outros sonhadores como ele, na esperança de sensibilizar alguma fabricante de celulares.

“Eu amo celulares pequenos porque eles cabem certinho no meu bolso, são mais leves, mais fáceis de serem usados com uma mão só sem o risco de caírem e não caem do meu bolso enquanto pedalo”, escreveu no site.

O que é um “celular pequeno” em 2022? Segundo Eric, um com tela menor do que 6 polegadas, “do mesmo tamanho e com o mesmo design do iPhone 13 Mini”.

O pedido é mais específico que isso, é verdade. Eric anseia por um celular pequeno com Android que seja premium, ou seja, que não use componentes de baixa qualidade. E está disposto a pagar um ágio pelo privilégio, algo entre US$ 700 e 800. “Não temos alternativas, então deveríamos estar dispostos a pagar um pouco mais!”, justifica-se.

O pedido já angariou ~16 mil assinaturas. Em entrevista ao The Verge, onde revela que usa um iPhone 13 Mini, mas que prefere o Android, Eric explica que, após alguma matemática de padeiro, concluiu que 50 mil assinaturas é o mínimo para sensibilizar executivos da indústria. A partir daí, defende, seria possível bancar os custos de produção e ter algum lucro com um celular decididamente de nicho.

Fotos sobrepostas, semi-transparentes, do iPhone 13 Mini, Pixel 5 e Pixel 6, a fim de mostrar a diferença de tamanho entre eles.
Imagem: I want a small Android phone!/Reprocução.

Não é muito difícil encontrar pessoas que simpatizam com a ideia de um celular pequeno. O problema é que simpatizar e comprar são dois verbos distintos.

O iPhone 13 Mini, paradigma de Eric, é um bom exemplo dessa distinção. Elogiadíssimo pela imprensa especializada, o modelo é um fracasso de vendas e destoa dos irmãos maiores — segundo a IDC, o iPhone 13 foi o celular mais vendido do mundo no primeiro trimestre, seguido pelo iPhone 13 Pro Max na vice-liderança; o iPhone 13 Pro ficou em quarto lugar.

Algumas consultorias estimam que ele responde por apenas 3% das vendas da linha, um repeteco do fracasso do iPhone 12 Mini, o primeiro do tipo.

Tudo indica, aliás, que a Apple não fabricará um iPhone 14 Mini. Em seu lugar, virá um novo modelo Max, um mini-tablet com sua tela de 6,7 polegadas e 16 cm de altura.

Tentativas no lado Android da indústria também não foram bem sucedidas ou deixaram de sê-la. A linha Xperia Z Compact, da Sony, teve cinco gerações, mas a última saiu no longínquo ano de 2018. Uma reformulação no negócio de celulares da fabricante japonesa diminuiu o número de aparelhos e, logicamente, os que menos vendiam foram limados.

A linha Pixel, do Google, também parou de oferecer um modelo pequeno. Os últimos do tipo — e nem eram tão pequenos assim — foram o Pixel 4A e o Pixel 5. Durante o Google I/O, no início de maio, a empresa revelou o Pixel 6A e… bem, ele é maior que o iPhone 13 convencional.

A Unihertz, uma pequena fabricante norte-americana, é especializada em celulares alternativos, incluindo modelos pequenos — na verdade, em celulares muito pequenos, como os das linhas Jelly e Atom. Não se culpe se nunca tinha ouvido falar dela.

Talvez haja um círculo vicioso em ação, mas a verdade é que a maioria das pessoas prefere telas grandes e a indústria responde a essa demanda. Não é difícil entender: para muita gente, o celular é o principal ou o único dispositivo de acesso à internet. O telão ajuda na hora de ver vídeos, declarar o imposto de renda ou acessar materiais de trabalho ou estudo.

Com o fim do iPhone Mini no horizonte, Eric acredita que estejamos à beira da “última chance” de ter um celular pequeno com Android. “Se a Apple matar o iPhone Mini, todas as fabricantes dirão ‘nem a Apple conseguiu’ e terão uma desculpa fácil do porquê não estarem fazendo um [celular pequeno].” Não dá para dizer que seja uma “desculpa fácil”.

Foto do topo: Kārlis Dambrāns/Flickr, com alterações.

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20 comentários

  1. O ultimo bastião: Zenfone 8.

    Interior de flagship com menos de 6 (5.92) polegadas de tela. Bateria boa (4mil mah), processador de ultima geração, tela de 120hz… unica coisa que falta é carregamento sem fio.

    1. realmente no momento só tem ele, mas o sem fio… sei-la se vale a pena a longo prazo

  2. Gostava do Moto G que tinha 4.5″, é do tamanho do iPhone 13 Mini, mas com tela menor. Porém aplicativos e sites se baseiam em telas grandes, 5″ pelo menos e nele ficava um conteúdo espremido muitas vezes.

    O Lumia 520 era ainda melhor, acionava tudo com uma mão por conta da UI diferentona que a Microsoft bolou, mas durou pouco porque ninguém queria desenvolver um app específico só para aquela interface.

    1. Será que é? Eu concordo que numa comparação em condições de igualdade o teclado físico provavelmente ganhe, mas acho que se considerarmos as ferramentas de correção automática e autocompletar dos teclados digitais modernos, a digitação neles deve ser mais rápida e menos suscetível a erros do que com teclados físicos minúsculos.

      1. É porque o feedback do físico é real, do digital ainda é algo que tem que melhorar, mas já vem melhorando muito, a inteligência artificial pelo bem pelo mal ajuda na questão do auto completar. Inclusive isso bate de frente em relação ao tamanho dos celulares, os pequenos são piores pra digitar, em compensação ja conversei com um usuário do ultimo blackberry com teclado físico, ele disse que é muito bom digitar mas só consegue com duas mãos, no geral tem suas vantagens e desvantagens, é uma opção que também tinha que ter mais no mercado.

      2. Ao menos nos velhos celulares de Teclado QWERTY com o S40, tinha o T9, que fazia esse papel de correção e autocompletar.

  3. Eu também estou na contramão do mercado.
    Inclusive, se dinheiro não fosse problema, eu compraria mais um iphones 13 mini, pra trocar quando o meu der pau.

  4. Meu primeiro smartphone foi o moto G de primeira geração, depois tive o Xperia Z3 compact, galaxy A3 modelo de 2016 e, atualmente, estou com o iphone 7. Todos são modelos com tela menor que 4,7 polegadas, nunca tive um aparelho com uma tela maior que isso.
    Até o final de ano devo comprar um novo aparelho e, apesar de ainda nao ter pensado profudamente no assunto, estou cogitando um aparelho com tela maior que 6 polegadas.

  5. é complicado q a velocidade do mercado é maior do q a das pessoas q comprariam.
    eu uso iphone e teria um iphone mini pq gosto os menores msm, mas eu só troco qdo ele chega no fim mesmo. eu não tenho $$ pra gastar comprando celular antes do atual morrer.
    então as vendas pequenas podem esconder mais gente interessada… mas q vai aceitar o menor dos celulares grandes se não tiver um pequeno, então pra q insistir no nicho, né.

  6. A galera acha que tamanho do celular é status, por isso eles estão cada vez maiores (e com mais câmeras). Olha o falocentrismo aí, né

    1. O meu atual tem quatro câmeras e a qualidade de meia, hahaha. :(
      Sem falar que ele é comprido e estreito. (Te odeio, M12, te odeio!) Não vejo a hora de poder trocar e eu gostaria de um menor (também tenho um tablet pra leituras longas e vídeos).

  7. Me identifiquei bastante com o relato de Eric. Também prefiro o Android ante o iOS, acho o iPhone mini lindo e a coisa que menos gosto no meu S20 FE é o tamanho dele.

    É triste saber que dificilmente a ideia emplacará, mas assinei a petição e ficarei na torcida.

  8. e eu sei lá se é mesmo as pessoas que querem isso ou só se o mercado foi mudando a esmo. não dá pra saber. se não fossem tão escassas as opções de celulares pequenos, a gente poderia ter uma amostragem melhor.

  9. O Eric trabalha no beeper atualmente.

    Sobre o mercado, eu acho que até as empresas reconhecem que telefones menores seriam melhores mas fica difícil manter a relação tamanho, espessura, câmera, potência e bateria de uma vez só rsrsrs

  10. Tenho um Galaxy S10e e não vejo nenhum smartphone android no mercado que eu tenha vontade de fazer o upgrade.

    Eu gosto de consumir conteúdos em vídeo na televisão, leituras maiores no tablet ou kindle e uso de produtividade no computador.

    O smartphone é praticamente para chat, ligações/audios e música/podcast/audiobooks. Não necessito de um tijolo para realizar isso.

    Infelizmente, estou na contramão do mercado.

    1. Estou na mesma contramão. Tenho um iPhone SE2, que seria o menor depois do 13 mini. Mas, vindo de um SE1, ainda gosto dos menores.
      Comprei um iPad 9 para tentar adaptá-lo ao meu fluxo de estudos e desde que chegou, o iPhone é utilizado ou na rua ou raramente em casa.