A polícia da descrição de imagens na internet é um atraso à causa da inclusão

Uma das grandes diferenças entre Mastodon e Bluesky não se nota em comparativos nem em números. É o clima, a atmosfera. Kate Knibbs conseguiu resumir essa sensação no título de um artigo de opinião publicado no início de maio — “Lamento informar que o Bluesky é divertido”.

O Mastodon, ou pelo menos o rincão do fediverso que frequento e que ganhou projeção desde a implosão do Twitter sob o ego de Elon Musk, parece mais sisudo, mais sério. Por vezes, é meio chato. Após anos frequentando e promovendo o Mastodon, acho que detectei uma das pequenas fontes desse mal-estar: a polícia do texto alternativo em imagens.

Desde tempos imemoriais, o HTML, o “idioma” da web, permite descrever uma imagem com o atributo alt. É um recurso útil para quando a conexão está instável e a imagem não carrega e, principalmente, para deficientes visuais, que confiam em leitores de tela que leem a descrição de imagens para “mostrar” a quem não pode ver o que está aparecendo na tela do celular.

Embora seja antiga e simples de fazer, a descrição da imagem (também conhecida como texto alternativo) ainda é pouco usada. É, de fato, uma pena, porque ela torna a web e a internet mais inclusivas, melhor para todos. Há anos descrevo todas as imagens veiculadas no Manual e nas plataformas sociais que permitem isso. Meu braço não caiu por isso.

O problema é que alguns grupos, que parecem genuinamente preocupados com essa luta, acabam passando do ponto. Transformam a promoção de uma causa em uma espécie de assédio, em um excesso, quase uma perseguição.

Se os motivos para se dar ao trabalho de descrever imagens são muitos, existem uns poucos que justificam o deslize de não se atentar a ele. E são legítimos! Às vezes o tempo é prioridade. Em outras, a pessoa que posta desconhece o recurso. Às vezes nos esquecemos mesmo, e está tudo bem; tentaremos ser melhores na próxima e sempre dá para remediar a situação com uma edição ou um novo post.

Importunar de modo implacável quem não conhece ou não se preocupa com descrições de imagens vira algo contraproducente. O recado, ao virar cobrança, provoca ojeriza, vitima a causa. Até eu, que, repito, descrevo todas as imagens há pelo menos meia década, acho um lance bem chato. Não surpreende que a polícia da descrição de imagens acabe afastando em vez de aglutinar pessoas à causa.

Não é que não dá para fazer nada. A questão é no como fazer.

Algumas instâncias brasileiras de Mastodon, por exemplo, sinalizam com uma borda vermelha imagens sem descrição. Excelente: um recurso discreto, mas que chama a atenção, feito de modo automático, sem envolver chamadas de atenção em público por alguém.

Outra medida super legal é este robô do Brenno Machado. Ele “refaz postagens de imagens sem descrição e coloca a descrição que indicarem a ele na resposta”. É útil, colaborativo, resolve o problema de fato e, ainda por cima, conscientiza sem apontar dedos, sem tentar fazer a pessoa que não escreveu a descrição da imagem sentir-se a pior pessoa do mundo.

Com a emergência das inteligências artificiais gerativas, não deve demorar para que a geração de descrições de imagens seja automatizada. (A Meta faz isso no Facebook e Instagram há anos, ainda que os resultados até aqui sejam rudimentares.) Teremos uma descrição básica, gerada por IA, e a opção de melhorá-la antes de publicarmos o conteúdo.

É especialmente intrigante que esse policiamento ocorra em locais com viés progressista. Constranger as pessoas a adotarem tal comportamento, por mais benéfico que seja o resultado almejado, é uma postura ruim, opressiva. Convencer e converter pessoas a uma causa não vital pode (deve!) ser algo mais leve, sem o ar autoritário e carrancudo que às vezes domina alguns espaços da web.

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28 comentários

  1. Esse seu texto virou um ótimo case de como as pessoas interpretam o que querem mesmo sabendo o que tá escrito porque as pessoas que estão interpretando o que você não escreveu passam longe de ter problemas reais de interpretação de texto. Fenômeno interessante.

  2. Olha, pra quem já havia embarcado digamos na “segunda onda” das redes sociais federadas, o que acontece no Mastodon não é bem uma novidade.

    Quando o Diaspora estava despontando como a rede social federada que desbancaria o Facebook, tinha muito usuário no Friendica e no Red#Matrix (que depois virou Hubzilla) que eram insuportáveis… os usuários do Diaspora não estavam usando uma rede social federada de verdade, etc etc. Quem usava Status.Net também não estava usando uma rede federada de verdade pq só tinha o identi.ca que funcionava etc etc.

    Era insuportável. Aí qnd vc pulava para o Friendica/Red#Matrix, o assunto era basicamente falar mal das outras redes ou ser auto referrente falando o quanto a rede em que se estava era a melhor e verdadeira rede federada existente.

    Estou generalizando evidentemente, tinham muitos perfis legais em ambas, mas a comunidade era isso aí. Poucos continuaram nessas redes (eu msm, saí fora e tlvz por isso hoje esteja mais propenso a sair de vez das redes sociais do que embarcar em mais uma, msm que federada).

  3. As pessoas estão com a mentalidade das outras redes sociais, onde tudo acontece de forma acalorada, de forma atropelada, sem pensar, a qualquer custo.
    Por culpa de anos de intoxicação algorítimica, da forma como as redes sociais funcionam, a galera vê o nós x eles em tudo, ou é 8 ou 80, não há meio termo.

    Como eu disse lá no Mastodon: Vamos ver gatinhos fofinhos na time line pra acalmar os ânimos, galerinha.

  4. Eu vejo isso mais como outro aspecto da briga sobre o quanto o Mastodon/Fediverso quer crescer ou não. Acho que quanto mais o lado que recebe gente vindo de outras redes que não estão acostumadas ou nem se interessam nas ferramentas que o Mastodon possui (descrições de imagens, alertas de conteúdo, servidores alternativos), mais você vai ter esse atrito com o lado que já tinha estabelecido uma cultura sobre essas coisas. E isso é amplificado 1000x por causa do sistema de federação, onde cada servidor vai ter uma filosofia diferente sobre isso.

    Pessoalmente, acho que essas disputas podem acabar levando à uma fratura irreparável do fediverso entre esses dois lados. Claro, isso se todo mundo não for pro Bluesky antes como você diz no primeiro parágrafo.

    Finalmente, acho importante notar que esse recurso de marcar imagens que não tem descrição não existe no Mastodon, apenas em forks dele. Existia um pull request pra trazer isso pro Mastodon base: https://github.com/mastodon/mastodon/pull/22831, mas o que aconteceu foi que fizeram o oposto e passaram a marcar imagens que possuem descrição: https://github.com/mastodon/mastodon/pull/24782

  5. Tomando ciência do post e de alguns repercussões sobre as descrições só agora.
    Vi que citou meu bot Guedin, obrigado.
    O repositório tá bem vazio, ainda não consegui fazer uma doc. decente nem dar a atenção que queria, mas está funcionando… criei um perfil que tá rodando sem muitos problemas desde o fim do ano passado: https://botsin.space/@descreva, se quiser adicionar alguma referência pro @ dele… acho mais prático pra quem apenas quer usar e não sabe o que fazer com o código do github.


    Confesso que gostei de quando o movimento de descrição de imagem começou e no começo foi meio que isso mesmo, cobranças exacerbadas em posts públicos e etc, mas logo tomou corpo melhor com medidas que você citou, por exemplo quando criamos o destaque para imagens sem descrição nos layout web e que rapidamente muitas instâncias também colocaram. Foi aberto PR também em alguns apps de Mastodon (o que acompanhei foi o app Megalodon) para que desse uma aviso visual nas imagens sem descrição e também que fizesse alerta por padrão na hora de fazer um toot. Vi também um movimento de artistas e a própria Mastodon.art fazendo publicações para que todos priorizassem essas descrições. E algo que achei importante foi quando as pessoas decidiram não dar boost em conteúdos que não tivessem descrição. Veja não é ir lá apontar, é só priorizar e construir uma própria timeline acessível.

    É certo que uma cobrança exacerbada afasta quem não está acostumado/ciente da importância disso, assim como afasta em inúmeras outras coisas… outro dia passou um toot que gostei que fazia a comparação a descrição a cobrança da descrição com achincalhe feito por vegans com pessoas que comem carne.


    Eu tomei como um esforço mínimo meu isso de descrever sempre, não foi fácil e hoje é basicamente um hábito comum. Criei o bot para ajudar e continuar dando visibilidade de alguma forma para publicações que não tem descrição, e às vezes converso/dou um toque para algumas pessoas que gosto e digo que acho importante a descrição para que o conteúdo delas chegue a mais pessoas.

    Nesse processo eu conheci algumas pessoas com deficiência visual no Mastodon e aprendi muito sobre como descrever e tudo mais… mas o mais legal é alguém que eu sei é deficiente visual chegar num post meu que só tem uma imagem e interagir apenas pois há a descrição.

    Enfim, é isso. #Paz e descrevam suas imagens.

  6. Eu tava me lembrando do Flávio Dino falando sobre a questão de debater: “Se a pessoa faz um debate sério, se responde com seriedade (…)”

    Eu entendo a necessidade da militância para poder ajudar as pessoas com deficiência. E ok. Há situações que alguém com um ótimo Relações Públicas ou a pessoa que entende disso vai responder de forma polida e respeitosa, não importa quem.

    E entendo o porque deste post. O problema é como estão sendo argumentados em diversos lugares sobre isso.

    SE a militância quer usar de uma opressão para tentar “supostamente” acabar com outra opressão, bem, seria isso uma ditadura? Pergunta estúpida, né?

    O texto fala da necessidade de descrever imagens e o próprio descreve no site, mas a galera vive a dizer nas repostas que o autor do texto não defende a descrição e não descreve as imagens. Eu não sei se isso é falta de interpretação de texto, tentativa de gerar “treta” ou sei lá o quê. Mas me soa covarde até.

    Talvez quem leu se incomodou com o título. Com a seguinte palavra: “Polícia”

    Polícia, este termo que remete a um ser opressor, que tem gente que não gosta de ser comparada a tal ser. E ok. Talvez o erro do texto esteja aí? Não sei dizer, a quem se incomodou, pode ser. É um termo que não nego que eu usei outras vezes quando me referi a algumas repressões que sofri por ter errado algo em uma instância mastodon. E ok, por que se incomodar com estes dois termos “Polícia” e “repressão”, sendo que não se nega que era uma tentativa de educar para seguir uma regra da comunidade? Ué, não é trabalho do moderador ou de alguém membro voluntário de fazer as pessoas seguirem as regras? Algo que geralmente é posto a ser feito por um moderador, este que age a nível policial, diga-se. Errou, vai “corrigir”, e correção geralmente tem uma repressão – uma bronca verbal ou isolamento da pessoa na comunidade por não se portar como deve.

    O engraçado é algumas críticas ao texto cair no ad-hominem, tipo, notando-se uma raiva dentro deles.

    E fico chateado com tudo isso. Pois se a gente só ficar na retórica de que ninguém pode criticar ninguém porque o outro é oprimido e tal, no final (censurado pelo próprio comentarista :op )

    Repetindo: sou muito desta ideia posta pelo Cochise em um post:

    Acho que ter foco em policiamento de indivíduos é contraproducente e intensifica a ideologia liberal da sociedade de indivíduos.

    Acho que o policiamento dos grupos oprimidos quanto à observação desses pontos anteriores quase sempre é uma forma de opressão disfarçada.

    Então, é complicado e a solução que a esquerda achou na prática foi as pessoas que não concordam não conviverem, o que também não resolve o problema.

  7. Vcs estão colocando uma discussão sobre uma ligeira inconveniência pessoal (“não gosto de DM”) meio etérea (“as pessoas podem se afastar…”) acima da acessibilidade, causando mal real a pessoas que existem e não conseguem vivenciar espaços sem a descrição. Se for preguiça, o tanto de caracteres que vcs usaram nesses comentários poderiam ter descrito várias imagens.

    1. Por favor, anônimo, em momento algum questionei a descrição de imagens. Às vezes eu sinto que estou escrevendo em grego, porque não é possível — reli meu texto para ter certeza de que não escrevi isso e… bom, não escrevi isso.

      Se constranger pessoas que não descrevem imagens resolvesse o problema, eu seria um apoiador de primeira hora dessa abordagem. Só que não resolve. A gente pode ficar repetindo a mesma estratégia na esperança de que uma hora ela funcione (spoiler: não vai) ou algum outro motivo (virtuosismo, sadismo, sei lá) ou assumir que ela é falha e buscar alternativas para alcançar o resultado desejado. O que você prefere?

      1. Me desculpa, mas até onde eu vejo, se fosse assim, a resposta pra “polícia da descrição” seria: “foi mal, deixa eu colocar a descrição. Obrigado por lembrar”. Outra saída muito simples é postar a foto dizendo “não consigo descrever agora por favor alguém descreva por mim”. Já cansei de fazer isso em interações rápidas e urgentes com pessoas cegas quanto tem outras pessoas na conversa e não tem drama algum. Por isso não entendo o argumento do post, me parece querer resistir a uma mudança de cultura que aos meus olhos é (felizmente) inevitável, mas que só vai acontecer se a gente insistir que esse é o jeito certo de se postar imagens. Recomendo a leitura https://thagomizer.com/blog/2017/09/29/we-don-t-do-that-here.html

        1. Mas poxa, o texto fala justamente não ser extremamente impositivo (ou impositivo a ser incômodo demais), e tipo, o teu comentário chega nesta mesma conclusão. Ele não está criticando a necessidade de descrever, mas sim o incômodo quando a pessoa usa como desculpa para militar e incomodar outros.

  8. Nunca vi ngm sendo constrangido pra colocar a descrição no texto. Mas já vi gente falando que não coloca porque não acha necessário. Quando questionada, até por pessoas portadoras de deficiência, a pessoa apelo pra carta do policiamento. Esse texto parece abordar uma questão em torno do problema, e não o problema em si.

    1. Acho que o ponto é o seguinte: a pessoa não vai falar ali que está sendo constrangida – e quem fala acaba “apanhando” digitalmente e não volta mais naquele espaço.

      Fico me perguntando se não é mais fácil isolar a pessoa que não colabora ao invés de cobra-la. Uma hora ela vai se perguntar o porque e talvez ajude (ou não).

    2. Bom, eu já vi gente sendo constrangida a colocar descrição em imagem. Vi hoje, aliás, e foi o que me motivou a escrever o texto.

      Em momento algum coloquei em xeque a necessidade. Repito: eu descrevo todas as imagens que publico, em todos os lugares onde isso é possível. Acho de uma insensibilidade enorme quem, ciente desse recurso, opta por ignorá-lo como praxe.

      O que questionei, no texto, é se apontar dedos é a melhor maneira de convencer essas pessoas de que elas estão erradas. A mim, parece óbvio que não — caso contrário, todas as imagens do Mastodon estariam descritas, do tanto que enchem o saco com isso lá. Existem caminhos alternativos, mais promissores, mais eficientes, com potencial para melhores resultados. Vamos ignorá-los? Se sim, por quê?

      1. > Existem caminhos alternativos, mais promissores, mais eficientes, com potencial para melhores resultados. Vamos ignorá-los? Se sim, por quê?

        Acho complicada essa afirmação sem nenhum dado real pra gente verificar. “Melhores resultados” com base no que exatamente?

        Agora, um post sobre como melhor descrever as imagens no Mastodon, com a colaboração de PCDs que sabem o que tão falando, certamente daria “melhores resultados” que este daqui.

        1. Se quer usar dados, gostaria de sugerir que use os que estiver a sua mão sobre isso, seja sobre a instância onde está ou seja em instâncias na qual tem capacidade de monitorar isso.

          Acho o que muitos aqui se incomodaram é porque o texto fala do excesso de cobrança, algo quase “policialesco”, muitas vezes e inclusive repudiado pelos próprios que são militantes de causa e tem ojeriza de polícia.

          Por mais que seja necessário descrever imagens (ou até faze audiodescrição – algo mais complexo, diga-se), fazer uma militância com uma matilha raivosa que não consegue interpretar um texto (ou talvez perdeu a vontade de interpretar devido ao texto ter palavras que elas se sentiram ofendidas) acaba mais afastando as pessoas do que ajudando na causa.

          Fico me perguntando se esta mesma militância teria coragem de por exemplo combater gearheads que não respeitam a faixa de pedestre na vida real.

          1. > Se quer usar dados, gostaria de sugerir que use os que estiver a sua mão sobre isso

            Pq eu faria isso se não sou eu fazendo o caso de que existe algo melhor ou mais efetivo? O ônus da prova não tá do meu lado…

            > fazer uma militância com uma matilha raivosa

            Nunca vi isso acontecer. E até o próprio exemplo dado pelo autor como estopim pra criação desse texto está longe de ilustrar isso. MUITO longe. Eu acho que o que existe aqui é um espantalho. Fico imaginando pq existe a necessidade de criar um espantalho pra isso sabe? É do interesse de quem?

            > Acho o que muitos aqui se incomodaram é porque o texto fala do excesso de cobrança, algo quase “policialesco”

            Nunca vi acontecer e, de novo, o “estopim” desse texto não chega nem perto de exemplificar isso. Pedir pra vc descrever uma imagem não é cobrança excessiva. A não ser que vc nunca seja cobrado de nada nunca. Aí qualquer pedido pode soar como cobrança. E advinha de quem nunca se cobra nada… Poisé!

            > Fico me perguntando se esta mesma militância teria coragem de por exemplo combater gearheads que não respeitam a faixa de pedestre na vida real

            Pq? Uma “militância” anula a outra? Se “esta mesma militância” não tiver essa coragem aí, em nada diminui o esforço em tornar a web mais acessível pra PCDs. Ou diminui? Não entendi o ponto.

        2. Pq eu faria isso se não sou eu fazendo o caso de que existe algo melhor ou mais efetivo? O ônus da prova não tá do meu lado…

          Creio que o texto fala das experiências que foram notadas pelo autor – algo que também passei e também é notório em alguns comentários e replies em outras redes que outros passaram. Então existe um embasamento da informação.

          Nunca vi isso acontecer.
          Se você for no perfil do autor nas redes federadas, verá que houve pessoas que atacaram o mesmo desde ad-hominem tipo “a pessoa é liberal” até “a pessoa não descreve imagens”, ignorando o texto em si.

          Pedir pra vc descrever uma imagem não é cobrança excessiva.
          Então, PEDIR é uma coisa. Lembrar que tem que descrever de forma discreta é uma coisa.

          Ir no perfil de uma pessoa no meio de um protesto para encher o saco (obrigar de forma estúpida) para a mesma descrever uma imagem é outra.

          É tipo você estar no meio da manifestação, a polícia estar lá te batendo, você tira uma foto para servir de prova, aí vem a outra militante e fica toda hora VOCÊ ESQUECEU DE DESCREVER A IMAGEM!!! Além de quem está junto com a militante atacar de N formas. Ou seja, a pessoa que está lá sendo atacado pela polícia tanto apanha da polícia quanto do militante.

          Pq? Uma “militância” anula a outra? Se “esta mesma militância” não tiver essa coragem aí, em nada diminui o esforço em tornar a web mais acessível pra PCDs. Ou diminui? Não entendi o ponto.

          Uma coisa é militância online, pois isso teoricamente até é fácil tanto de “militar” (engraçado este termo, né?) quanto de um militante ser bloqueado.

          Outra é estar nas ruas fazendo algo. E tipo, conheço a situação, o problema aqui é que aparentemente a militância virtual soa virulenta, enquanto a militância de rua não consegue pegar e prender um político corrupto.

          Em tempos: creio que só vi um militante PCD, os outros PCDs da instância não falaram nada.

  9. É especialmente intrigante que esse policiamento ocorra em locais com viés progressista.

    Essa parte aqui está umbilicalmente ligada a essa parte aqui:

    Constranger as pessoas a adotarem tal comportamento, por mais benéfico que seja o resultado almejado, é uma postura ruim, opressiva.

    E isso é o padrão normal de qualquer grupo progressista. A polícia de tudo e a todo o momento, que no final serve como um repelente de qualquer pessoa que esteja aberta mas acaba sendo surrada virtualmente porque errou um pronome, não descreveu uma imagem ou qualquer outra coisa menor das redes.

    Basta ver os problemas (tretas!) das redes de esquerda como Soberana e os canais de pessoas ligadas à esquerda, progressistas ou no espectro mais social. Enquanto as redes de direita demoram anos para ter atritos, as de esquerda não fecham uma semana sem ter um racha. E isso faz parte do pensamento de esquerda (é assim que surge o PSOL, PSTU, PCO, PCdoB; por exemplo) e do pensamento marxista.

    Mas sim é chato. A Ursal tem um robôzinho que SEMPRE manda DM se você se esquece de usar o ALT. Eu não cheguei a me incomodar, mas qualquer pessoa que passe por cima dos 1000 obstáculos de entender como o Mastodon funciona vai achar um saco ter essas DMs automatizadas em qualquer postagem com imagem (o que pode gerar o efeito inverso: colocar uma palavra só pra não receber DM ou alerta).

    Enfim, tomara que não batam em você por causa desse post =P

    1. Não acho que aqui seja o melhor espaço, nem o melhor momento, para entrarmos num debate de esquerda ou direita, só queria pontuar (até para equilibrar o debate) que esse “padrão normal” não me parece algo exclusivo da esquerda, mas sim algo da natureza humana. Para ficar em um exemplo análogo ao apresentado, da política partidária, a direita ficou anos batendo cabeça antes de Bolsonaro para encontrar alguém capaz de vencer uma eleição e não conseguiu chegar a um consenso quando precisaram de um substituto que soubesse usar talheres para concorrer em 2022, por exemplo.

      1. Acho o oposto, esse tipo de discussão social é o local para se firmar um marco civilizatório mínimo e diferenciar quem é de esquerda, centro e direita, senão ocorre o que vem ocorrendo nos EUA e no Brasil: a direita puxa a corda pra extrema direita e coisas que antes eram apenas bom senso passam a ser pautas de esquerda.

        Para ficar em um exemplo análogo ao apresentado, da política partidária, a direita ficou anos batendo cabeça antes de Bolsonaro para encontrar alguém capaz de vencer uma eleição e não conseguiu chegar a um consenso quando precisaram de um substituto que soubesse usar talheres para concorrer em 2022, por exemplo.

        Eu acho que é o oposto, a direita sabia o que queria e se infiltrava em espaços de esquerda, puxando a esquerda pra direita. O próprio PT começou na esquerda e hoje é um partido de centro-progressista. Isso não foi “por acaso”, são décadas de uma agenda impositiva da direita liberal pra cima de qualquer governo. O que rolou com o Bolsonaro foi um conflusão de forças apenas. A direita liberal queria o Paulo Guedes vendendo tudo e destruindo a rede social do país e a extrema-direita queria o militarismo do capitão. Calhou de ter os dois numa tempestade perfeita. A direita segue organizada, como está desde 1989, mandando no dinheiro (na parte que importa) e impondo sua agenda. Se no meio do caminho surge essa tempestade, aproveitam.

    2. Oi Paulo! Não lhe conheço para inferir lugares progressistas que você frequenta, mas a sua visão, ao que me parece, está centrada no que existe de esquerda (ou progressistas, odeio esse termo) pela internet. Frequento espaços de esquerda há mais de uma década e posso dizer que esse tipo de policiamento não é a norma. Na internet, sim.

      E essa ideia de que a esquerda precisa estar unida em tudo quanto é pauta, é um pensamento reacionário. A discordância é fundamental e é isso que faz os movimentos sociais se reproduzirem. Foram discussões históricas a respeito de questão organizativas ou teóricas que levaram as dissidências de partidos e a criação de outros. E tudo bem!

      Só pensar nas posições de partidos como o PCO e o PCB, você acha que os debates apontados pelos dois são próximos? Essas discordâncias existem desde sempre, desde Bakunin x Marx até Mao x Stalin, que gerou a divisão dos PCB e PCdoB.

      Super concordo quando você fala sobre essa presença da esquerda nas redes! Mas acho que erra muito quando coloca isso como algo essencialmente progressista, marxista ou dos partidos de esquerda.

      Um abraço!

      1. Se você odeia o termo “progressistas” como algo relacionado a esquerda, não por al mas creio que demonstra onde o Paulo quer chegar.

        Não é que ninguém é obrigado a não discutir, mas sim que a um leigo político, discordância demais é um péssimo sinal.

        E isso vai em encontro ao texto do Ghedin: as vezes as pessoas não frequentam espaços progressistas/de esquerda com medo de represalias e preconceitos.

        Fui na feira do MST no sábado e vi o quanto de gente que muitos torceriam o nariz por ” se parecer mauricinho” tavam lá comprando coisas e até tirando foto no bonezão do MST na entrada.

        Nada contra discussão, o problema é discutir tudo para tentar “limpar a moral”…

        E em tempos: nas comunidades Mastodon brasileiras já presenciei outros tipos de incomodos relativos a cobranças de posturas – como o do Augusto do Br Linux que teve que fechar uma página pois postou um dado técnico relativo a uma instância mastodon condenada por muitos das comunidades de esquerda.

        1. Depois do meu comentário que fui entender que o texto do Ghedin está veiculado a uma situação que aconteceu, achei que fosse fora de um contexto específico. E concordo com tudo que está ali, mesmo não sabendo do contexto específico, essas situações acontecem.

          Mas mantenho tudo que escrevi no meu comentário, se colocado pra fora da discussão específica. Não posso opinar dentro de algo que não estou a par.

          Só que continuo dizendo, existem espaços que acontecem e existem espaços que não. Então não dá pra generalizar pra todos espaços de esquerda. N sindicatos, n ocupações, n movimentos comunitarios, todos de esquerda, estão lidando com a contradição e o contraditório porque faz parte da construção da luta. Esse tipo de postura de cancelamento não existe ou não é tolerado.

          1. Acho que o ponto aqui é justamente a tal “postura de cancelamento”.

            Fui ver umas reações sobre este post e é realmente uma espécie de “cancelamento”, usando ad-hominem por exemplo (A pessoa é cis branca, etc…), o que não deixa de ser uma generalização também. Noto que não importa o espectro, vale uma frase: se é meu amigo ou está do meu lado, tolero….

            É aquela coisa: paga de moralista, mas falam mal dos outros por trás. Céus. É algo que até noto comum nas bolhas das redes sociais: o cara da rede social A fala mal da rede social B… e isso ocorre até em (e entre) instâncias Mastodon… ou como o Cris Dias diz “A pessoa pode sair do Twitter, mas o Twitter não sai dela.

            Esse é um dos males de a gente ter o poder da comunicação.

      2. Eu convivo bastante com esquerda fora da internet e isso rola do mesmo modo. Uma das maiores brigas no RS é sobre o comando sindical do CPERS, por exemplo, que sempre esteve com o PT. Se for mais além, o SIMCA e vários sindicatos municipais hoje estão na mão de partidos opostos ao PT, e isso significa que eles não dialogam com o CPERS, por exemplo. É uma exacerbação do comentário que eu fiz, claro, porque todos os locais precisam de atrito pra crescer, por isso até pontuei que é uma marca histórica do próprio marxismo. Não vejo problemas, sinceramente, mas acho que quem é progressista (que é diferente de ser de esquerda; o Ghedin é progressista, mas acho muito longe de ser de esquerda; por exemplo) busca um consenso centralizador – por isso são de centro – que lide com esses atritos. A esquerda quer o atrito, o progressismo social-democrata quer o consenso.

        A democracia burguesa é isso elevado a escala mundial.

    3. Isso não é o padrão de grupo progressista. É de qualquer grupo militante de qualquer coisa, onde o que se busca não é resolver o problema demonstrado ou ajudar certo grupo e sim sinalizar virtude, biscoitando.

      1. Eu usaria o termo “querem ter a moral perfeita”. Sendo que em uma visão cínica, ninguém tem moral perfeita – não importa espectro político.

        Se a pessoa “quer ser chata”, como li até agora pouco em um espaço que provavelmente pararei de ver -, acho que isso mais afasta do que ajuda. E detalhe: eles não estão sendo diferentes da pessoa que foi moderadora em uma instância e foi atacar a mesma instância que agora está reclamando da mesma situação de patrulha que sofreu tempos atrás.

        (E sim, sei que tem horas que eu sou o chato da história, até porque de fato sim, eu sei que o ideal é afastar certos tipos de pessoas :V ).

        Acho que isso é mais um fator que não a toa afasta a galera do Mastodon. Não é só a questão de uma camada a mais de complexidade (ao invés do “bota seus dados, vai lá no celular por o código e belezinha”). Mas sim este fator da “comunidade”.

        No final, as bolhas vão voltando a si mesmo… umas criticando as outras…