“Pintura” criada por inteligência artificial vence concurso de arte

Pessoas da realeza, trajadas como tal, em um ambiente escuro e requintado, cheio de detalhes, com uma janela circular ao fundo, de onde provém toda a iluminação do ambiente.
Clique para ampliar. Imagem: Jason Allen/Midjourney.

Um homem inscreveu uma pintura gerada pela inteligência artificial Midjourney em um concurso no Colorado, Estados Unidos. A “pintura” (acima) ganhou o primeiro prêmio na categoria de arte digital e, por óbvio, gerou reações acaloradas.

O homem, Jason Allen, presidente de uma empresa de jogos de tabuleiro, reagiu às reclamações de que o resultado é injusto. No servidor da Midjourney no Discord, escreveu:

Interessante ver como todas essas pessoas [reclamando] no Twitter, que são contra a arte gerada por inteligência artificial, são as primeiras a descartar o ser humano desacreditando o elemento humano [da obra]! Isso não soa hipócrita?

O “elemento humano” a que ele se refere é o comando dado à Midjourney para gerar a imagem. Um argumento difícil de sustentar. Seria o mesmo que dizer que a autoria de pinturas comissionadas a seres humanos é de quem paga e/ou faz o pedido, e não dos pintores. É o caso? Nunca foi, até agora.

Recentemente, o colunista Charlie Warzel usou a Midjourney para gerar ilustrações de Alex Jones em uma newsletter publicada na The Atlantic. A reação negativa foi similar. Como pode, dizem os críticos, uma das maiores revistas dos Estados Unidos preterir ilustradores humanos por um software?

Em vários blogs técnicos, que povoam locais como o Hacker News, é notável a emergência de ilustrações criadas por essas inteligências artificiais. Neste exemplo, a pessoa se gaba de ter substituído +100 imagens em seu blog com a ajuda da DALL-E 2 por US$ 45. Parabéns?

E nem entramos nos dilemas éticos mais profundos, como os relacionados a direitos autorais e limitações artificiais para impedir a criação de imagens violentas ou obscenas. A DALL-E 2 tem várias amarras contra usos questionáveis. A Stable Difusion, lançada dia desses, não tem nenhuma. Via Vice, Simon Willison’s Weblog (ambos em inglês).

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6 comentários

  1. Toda vez que há um avanço tecnológico para gerar obras artísticas alguns céticos já declaram a morte da arte. A transição da pintura para a fotografia, do teatro para o cinema, da fotografia analógica para a digital, e por aí vai.

    Na minha opinião, o elemento humano definitivo é o julgamento estético. A IA pode gerar milhares de imagens aleatórias, e parte delas vão ficar bem legais, mas só serem humanos são capazes de escolher qual que toca a sua subjetividade, a que ficou mais “bonita”.

    1. Sem mais.

      E outra, a IA é só mais uma ferramenta que podemos usar. Ferramenta. Para usar uma ferramenta temos que aprende a manejá-la. Não vai ser qualquer Zé que vai chegar ali e criar um obra prima.

  2. Pensando aqui com os meus botões… será mesmo que o “elemento humano” dessa arte se resume somente ao comando dado à IA? Vejamos, para seres humanos, a intenção (ou o objetivo o qual a arte atende) de uma pintura de fato influencia bastante na obra, mas também há a técnica utilizada pelo artista, o estilo, a experiência anterior e até idiossincrasias da própria pessoa. Será que uma IA não poderia ter elementos “humanos” parecidos? Por exemplo, o próprio algoritmo da IA, programado por humanos, pode ter algumas peculiaridades originadas no código. O banco de imagens o qual a inteligência é alimentada também depende de um arquivo que deve ser selecionado por humanos. Até mesmo os parâmetros do algoritmo são ajustados por humanos.

    Nesse mesmo contexto, eu lembro daquela polêmica do Twitter onde o algoritmo estava favorecendo pessoas brancas. Alguém poderia dizer que a empresa declarou especificamente para que o algoritmo fosse racista (ou seja, o “elemento humano” do algoritmo), porém era igualmente provável que um banco incorretamente enviesado ou que algum parâmetro/código inserido resultou nesse comportamento. Ambos “elementos humanos” do algoritmo.

    PS: eu tentei comentar ontem aqui, mas por algum motivo, meu comentário não estava aparecendo após clicar em “Publicar comentário”.

    1. Esse é o cerne do debate, Diogo. Os dois lados têm argumentos muito válidos. Da minha parte, fico um pouco reticente em pensar “elementos humanos” no algoritmo como algo próprio do algoritmo; os exemplos que você deu só poderiam ser considerados “humanos” se intencionais, e, até onde se sabe, máquinas não têm esse discernimento.

      Que todo algoritmo é enviesado pelos seus criadores, de modo intencional ou não, acho que é ponto pacífico. Agora, quando essa intenção se descola dos humanos e passa a ser reclamada pelo algoritmo? Acho eu que ainda estamos muito, mas muito longe disso.

      PS: Estamos enfrentando uma falha desconhecida com a Cloudflare que barra alguns comentários — eles simplesmente desaparecem. Quando acontecer, peço que, se possível, relate por e-mail com o seu IP e horário da tentativa. Estou coletando esses dados para tentar encontrar um padrão ou pistas do que está errado na nossa configuração da CF.

  3. Pensando aqui com meus botões…

    Não sei se dá para fazer um paralelo com a “música eletrônica”, mas vamos tentar.

    Música em si hoje não é mais feita só por instrumentos comuns, seja uma bateria, piano, violão ou flauta. Mesmo estes equipamentos são “simulados” em sistemas criados para produção musical. Quando não, podemos ter músicas feitas por uma programação – que não é diferente de um algoritmo – bastando apenas definir a sequência desejada.

    Claro que há muito mais complexidade em uma pintura, fotografia ou edição de imagem em relação a produção musical. Músicas são feitas baseadas em ruídos em sequência. Imagem é definir algo muitas vezes bem delimitado visualmente – como um ser humano e suas feições.

    Admirável Mundo Novo…