Voltando ao tema, só que dessa vez de forma mais honesta, trago a matéria do Morning Brew que mostra que quem mais quer a volta aos escritórios é quem depende de gente morando apertada em apartamentos supervalorizados e comerciantes que se acostumaram a vender comida superfaturada para trabalhadores que se deslocavam pelas abarrotadas e sujas ruas dos centros das cidades.
Ainda que muita mídia role (convívio social, conversas no café, happy hour, distribuição de riquezas no já rico centro comercial das cidades) ao redor do tema e algumas empresas de Big Tech (depois de massivas demissões em massa pra causar pânico nos trabalhadores) esteja exigindo a volta ao escritório, a verdade é que, tirando uma parcela pequena das pessoas, trabalhar de casa é o melhor arranjo para o trabalhador e para a cidade (menos trânsito, periferia mais movimentada, comércio local vendendo mais, etc).
Ah, mas eu adoro o clima de escritório, o barulho, as festinhas e as pessoas me chamando a cada 10 minutos pra tomar café na copa. Beleza amigo, esse post não é sobre você e sua realidade =D
Recentemente o prefeito do RJ, Eduardo Paes, publicou em seu Twitter que seria um grande avanço para a Petrobras voltar ao presencial todos os dias (hoje está híbrido), rolando até uma troca de farpas pública com o presidente da Petrobras por isso. Ele alega que o home office está acabando com o comércio do centro, só que na verdade existe todo um lobby do setor imobiliário por trás. Uma observação é que uma semana antes disso, teve uma chuva no Rio, e com todos bueiros entupidos no centro, muitos colegas ficaram presos no trabalho até 22:00h devido a alagamentos na região.
Lá no começo da pandemia, não lembro o país ao certo. Queriam criar o “imposto do cafezinho”, justamente pra ajudar esses restaurantes e comércios do centro que perderam cliente pro HO, curioso que o oposto não ninguém pensa né a economia dos bairros residenciais.
é preciso tomar muito cuidado com a transposição dessa discussão da maneira como é feita nos EUA para outros países
os EUA possuem, com algumas exceções (talvez nova iorque sendo a principal delas) um modelo urbano bastante particular: pequenos centros com alta densidade construtiva e baixa densidade populacional e grandes áreas de subúrbios espraiadas com baixa densidade populacional e baixa densidade construtiva, o que gera um custo social e ambiental extremamente nocivo e violento na distribuição de infraestrutura e emissão de carbono por largas faixas de território
o subúrbio de classe média estadunidense é simplesmente o PIOR modelo urbano do mundo: nocivo ao meio-ambiente, nocivo ao transporte, nocivo à urbanidade
quando se fala lá em trabalhar de casa se está, implicitamente, naturalizando esse pesadelo urbano e condenando os centros dotados de infraestrutura ao esvaziamento
no brasil, contudo, as periferias são destituídas de infraestrutura e são as áreas centrais aquelas onde se concentram as moradias das elites (e é preciso lembrar que áreas como pinheiros, jardins e faria lima são CENTRAIS do ponto de vista metropolitano)
mas tem um detalhe: áreas centrais tradicioanais JÁ PASSAVAM por um processo de esvaziamento em função da maneira como se dá a expansão das áreas centrais e em função da especulação imobiliária clássica. O que nós deveríamos fazer aqui não é naturalizar esse esvaziamento, mas disputá-lo a fim de tornar os centros áreas de moradia popular com fácil acesso à infraestrutura — mas não fazemos isso desde sempre
Eu concordo com a ideia de morar no centro e revitalizar através da ocupação de espaços. Nos governos do PT em Porto Alegre existia uma ideia de revitalizar o centro da cidade. E ocorreu muito disso na época (com limpeza urbana, coleta seletiva, moradias sendo revitalizadas em prédios históricos, reformas desses prédios comerciais mais antigos). Com os novos governos, o centro voltou a ser abandonado e hoje a maioria da área central de Porto Alegre é de estacionamentos e grandes prédios comerciais/galeria.
As empresas, aqui em Porto Alegre, se adensam todas numa pequena área central da cidade, Moinhos de Vento, onde as incoporadoras investiram bilhões durante anos pra transformar numa “mini avenida paulista” (a Carlos Gomes pra quem conhece Porto Alegre) e adensar todo o sistema de escritórios empresariais nesse bloco. A questão é que, ou você paga 1 milhão por um apartamento de 1 quarto nessa região (ou 4 mil de aluguel) ou mora na periferia e demora 2h para chegar na empresa (e mais 2h para voltar, meu caso morando na zona norte da cidade, que é a maior periferia da cidade de Porto Alegre).
A questão é que essa realidade está longe de ocorrer, a cidade, pelo menos Porto Alegre, é completamente estratificada com um centro comercial longe (que só é perto dos executivos que tem salários de 6 dígitos ou dos nepobabies da cidade) que aglomera o tráfego da cidade em duas vias arteriais (Assis Brasil e Sertório) que servem de saída não apenas pra zona norte mas também para as cidades da região metropolitana (Gravataí, Canoas, Alvorada, Viamão, Cachoeirinha) que abrigam uma grande parte da MdO trabalhadora.
Claro que pessoas que trabalham no pesado (faxineiras, zeladores, vigias) não tem home office, mas muita gente que trabalha de assistente administrativo, escritor técnico, programador e outras profissões pode fazer seu trabalho sem sair de casa e, de quebra, cria um comércio que não existia nessas regiões (aqui onde eu moro abriram 2 restaurantes que vendem comida de meio-dia e a grande maioria é de pessoas que trabalham de casa).
Muito se fala dos problemas de esvaziar o centro e os prédios que eram comerciais mas ninguém fala que existe um movimento de melhorar o comércio e a economica das periferias com mais gente passando o dia por lá e consumindo do comércio local.
Enfim, não existe, por enquanto, uma justificativa efetiva para retirar o home office das pessoas que podem e querem fazê-lo, todas passam por questões subjetivas.
O ideal poderia ser no formato híbrido. Exemplo: Home office em um dia, fisicamente no outro ou uma semana de home office, outra presencial. Pode variar conforme o local.
Ficaria bom pra ambas as partes.
O ideal é que cada trabalhador escolha o seu modo de operação e seja livre pra ir ou não ao escritório. Se for precisa, uma reunião de discovery por exemplo, que tenha toda a equipe, sem problema ir uma manhã ou tarde e voltar pra casa depois. Não tem nada demais. A questão toda é a obrigatoriedade imposta por chefes e lideranças de ter um hibrido que não é hibrido (3x por semana no escritório não é híbrido, eu tinha esse modelo em 2019).
“trabalhar de casa é o melhor arranjo para o trabalhador e para a cidade”
Mas não é bom para o patrão. Se fosse bom para o patrão, se o funcionário produzisse mais em casa do que presencialmente, o patrão seria o primeiro a exigir isso. E quem manda – infelizmente – é o patrão, não o funcionário.
Eu quero estudos sobre essa produtividade. Desde os anos 70 (e pra isso temos estudos sobre [1]) a produtividade aumentou drásticamente nos escritório e o salário não seguiu esse aumento.
Até agora o que eu tenho são opiniões sibjetivas que apelam para questão intangíveis sobre modelos de trabalho: mais sociabilidade, mais contato com a equipe, mais pertencimento. Empresas gostam de falar que são orientadas por dados e produtividade, mas, na hora de ferrar o trabalhador apelam pro RH e pra questões de subjetividade (quando não de medo, vide as demissões massivas em empresas de TI nos EUA e Brasil).
[1]: https://trt-12.jusbrasil.com.br/noticias/100230576/oit-salarios-nao-acompanharam-produtividade-em-paises-desenvolvidos
Esses estudos nunca irão aparecer, duvido até que eles existam, Paulo. É pura necessidade de um suposto controle que os patrões acham que tem porque está todo mundo no mesmo lugar.
EXATAMENTE!
Com o home office consegui aumentar bastante meu salário sem precisar mudar para uma cidade grande e também fico incomodado em como estão empenhados em tirar isso da gente
Esse é um dos maiores argumentos que eu vejo. Além do desgaste do trânsito.
Eu trabalho com apenas 2 pessoas que estão em Porto Alegre. Minha gerente direta trabalha de SP, uma colega trabalha do PR e outro de SP também. Tem gente de Goiás, Santa Maria, Marau, Dois Irmãos, SC; enfim, um time muito mais diverso do que se a empresa fosse 100% presencial.
As cidades, acima de tudo, são segragadas e as pessoas que moram no interior e nas periferias não tem, com trabalho presencial, as mesmas chances de conseguir um bom emprego quando comparadas com aqueles que moram em zonas nobres da cidade. Se a empresa onde eu estou hoje pedisse todo mundo presencial, provavelmente perderia uns 50% da MdO na hora e teria que se focar em conseguir talentos ao redor do bairro onde ela tem escritório. No final, veríamos o de sempre: pessoas que se conhecem desde o ensino médio trabalhando lado-a-lado e zero diversidade de ideias, de pensamentos, de experiências …
Uma volta ao trabalho presencial precisa ter um argumento racional MUITO forte que não seja social, baseado no medo ou apenas uma decisão de cima. Trabalhadores já conseguiram, se unindo, barrar jornadas de 12/16 horas por dia, sindicatos, CLT, fim do trabalho infantil (legalizado) etc. Em termos atuais, é uma revolução no modo de trabalho e pra isso vai ser preciso que os trabalhadores de unam (algo rato em se tratando de TI, mas tenho esperança).
Só entrei aqui para comentar que adoraria estar em home office nesse momento, porém trabalho em uma empresa onde o diretor acabou de completar 70 anos e deve amar nos assistir chegando para trabalhar de uniforme (ele não nos vê indo embora porque sai mais cedo para não pegar trânsito).
Esse eh o grande problema. Não é produtividade como falaram acima que faz o pessoal trabalhar no escritório, tem pessoas que simplesmente gostam de ver outros por X motivos, e todos funcionários se ferram.
EXATAMENTE