Para quem estuda ou faz pesquisas sobre o tema, este é um prato cheio. Trecho da apresentação, texto da pesquisadora Issaaf Karhawi:
“Entre os textos selecionados para compor o presente dossiê, há uma clara compreensão de que influenciadores digitais não impactam apenas no consumo material dos sujeitos, ou seguidores, mas também são responsáveis por colocar pautas em circulação, amplificar discursos ou mesmo suprimir debates. O termo influenciador, como um título conferido pelo mercado, ainda em 2014, começa a ser colocado em xeque quando se percebe que há não só um trabalho de publicização, promoção e divulgação, mas de produção de conteúdo, articulação de debates e construção de comunidades.”
Esse trecho é bem instigante! Confesso que tenho uma visão meio enviesada (e negativa) de influenciadores — não vejo muita distinção entre influenciador e vendedor —, e que talvez existam outros aspectos e características mais nobres nessa profissão.
Leitura para o feriadão!
Eu vejo o influenciador mais como um ator de propaganda. O influenciador é contratado para campanhas específicas, divulga o produto/serviço sem “pertencer” aquela companhia. Seu compromisso é apenas divulgar enquanto durar o contrato. O vendedor é diferente, precisa prospectar ativamente, respeitar e entender processos, gerar relatórios, alimentar CRM, não depende de ser conhecido nem ter seu próprio público, ele atende uma carteira de clientes e é responsável por aumentá-la. O vendedor É a empresa para os clientes, representa oficialmente. O influenciador, não. Se der qualquer problema o vendedor é responsável por solucionar ou ajudar a solucionar, o influenciador apenas diz que não tem nada a ver com a empresa (e está correto).
Essa linha é mais borrado do que parece. Um monte de influenciadores norte-americanos que bombaram a FTX está tendo que se explicar à Justiça de lá, para ficar num exemplo, e as relações entre influenciadores e anunciantes vão muito além do “apenas divulgar”. Os influenciadores emprestam muito mais que a imagem, o que seria o caso de uma publicidade tradicional (comercial de TV ou revista); eles “usam de verdade”, “garantem que funciona” etc.
Mas “usar de verdade” e “garantir que funciona” não necessariamente é papel do vendedor. A grande maioria dos vendedores nem usam o produto serviço que vendem, e nem precisam, eles devem conhecer tecnicamente para orientar o consumidor.
Mas eu entendi o seu ponto, e não tiro a relevância do assunto, só não concordo em categorizar como vendedor.