Entrando no Matrix

Enquanto a Europa tenta obrigar algumas das maiores empresas do mundo a tornarem seus aplicativos de mensagens interoperáveis para bilhões de pessoas, uma turma reduzida já vive no futuro.

Eles usam o Matrix, um protocolo de troca de mensagens em tempo real, descentralizado, de código aberto e com criptografia de ponta a ponta.

Para ficar num exemplo recorrente aqui, é mais ou menos o que o Mastodon é para redes sociais.

Em vez de falar de servidores, licenças de código e outros assuntos que pouco engajam — um erro cometido na minúscula janela de atenção do Mastodon, em novembro de 2022 —, foquemos no que importa, na parte prática1.

Quer experimentar? Crie uma conta no servidor dos desenvolvedores. Sua identificação será algo assim: @nome:matrix.org.

Depois, é necessário escolher um aplicativo. Ao contrário de serviços centralizados, como WhatsApp, Discord ou Slack, no Matrix existe um cardápio de apps.

O principal, desenvolvido pelas mesmas pessoas que trabalham no protocolo e usado para criar contas no servidor delas, é o Element. É, também, o mais completo e o que costuma receber os novos recursos com mais agilidade.

Tenho usado o Cinny no computador (baseado no navegador) e, no celular, o Element X, uma reformulação ainda sem paridade de recursos com o Element tradicional, focada em velocidade e leveza. São ótimos.

Escolhido o aplicativo, basta logar com seu nome de usuário e senha.

Dentro do Matrix existem três ambientes possíveis para interações:

  • Conversas um a um privadas;
  • Conversas em grupos, aqui chamados de salas (“rooms”). Uma sala é identificada pela sintaxe #sala:servidor.com; e
  • Espaços (“spaces”) com várias salas, como o Slack ou o Discord. Um espaço é identificado pela sintaxe !espaco:servidor.com.

Além de mensagens de texto, é possível enviar imagens e vídeos, figurinhas, e fazer ligações e videochamadas.

Há, ainda, suporte a integrações, que estendem as funcionalidades do protocolo, e às pontes (“bridges”): componentes que permitem conectar o Matrix com outros aplicativos que, a princípio, não conversam entre si.

Com as pontes, é possível conversar, pelo Matrix, com pessoas usando WhatsApp, Discord, Telegram, Signal, LinkedIn, Instagram e outros vários aplicativos2.

Um ponto contra relevante do Matrix é a administração das chaves criptográficas. Quando alguém adota um novo aplicativo do Matrix, é preciso “verificá-lo” em um já em uso. Em alguns casos, essas verificações podem ser um tanto confusas. Não é nada de outro mundo, mas um detalhe que pode afugentar os menos dispostos a resolver problemas que inexistem em soluções centralizadas.

Quase consigo ouvir daqui você murmurando: “Ah, lá vem, mais um aplicativo de mensagens…” A fadiga é real, mas é urgente buscarmos por alternativas mais saudáveis no ambiente digital.

O Signal resolve muito bem os casos de uso do WhatsApp. Para comunicação profissional ou com “semi-conhecidos”, ele não é uma boa. É esse papel que, espero, o Matrix possa desempenhar.

Para estimular a adoção do Matrix e tentar resolver uma dor de quem se dispõe a dar uma chance a ele — a ausência de gente lá para conversar —, nessa semana demos início a uma tentativa de migrar os grupos do Manual no Telegram para lá (endereços abaixo).

Dois deles, o do PC do Manual e o do Órbita, ambos voltados a desenvolvedores e para tirar dúvidas, são públicos, abertos a qualquer interessado. O terceiro é o grupo fechado dos assinantes.

Por enquanto, tocarei os grupos do Telegram em paralelo aos novos do Matrix. Seria lindo se, daqui a algumas semanas, eu pudesse fechar os do Telegram porque todo mundo migrou para o Matrix.

Grupos abertos:

  • PC do Manual: #pcdomanual:matrix.org
  • Órbita: #orbita:matrix.org
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  1. Se quiser mergulhar nos servidores, porém, fica o convite para conhecer outros além do dos desenvolvedores. É uma boa prática pulverizar cadastros entre vários servidores, para diminuir a centralização e desafogar os principais.
  2. Atente, porém, que o funcionamento das pontes demanda a quebra da criptografia de ponta a ponta dos apps que oferecem isso, como WhatsApp e Signal. Por esse motivo, desaconselho usá-las em servidores alheios e/ou caso não saiba o que está fazendo.

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2 comentários

  1. Mas pra integrar outros protocolos o site dos caras tá dizendo que tem que pagar 5 usd por mês ou 55 usd por mês. É isso mesmo?

    Saudades do Miranda…