Jovem, bilionário, CEO e controlador de uma multinacional dona de aplicativos e redes sociais usados por bilhões de pessoas todos os dias. Estou falando, é claro, de Mark Zuckerberg.
Quem lê esse currículo e conhece a história de Zuck talvez imagine uma versão moderna, digital, dos grandes inventores do passado. Um cérebro criativo, inovador, uma lenda viva entre nós. O Einstein desta geração, o Nicolau Copérnico do século XXI que viu antes de todo mundo que nossas vidas girariam em torno de telas conectadas.
Só que não é o caso. Lamento dizer, mas Zuck é um bom empresário e excelente copiador. E só isso. De visionário, não tem nada.
Faz alguns anos, o império de Zuckerberg vem sendo ameaçado de verdade pela primeira vez. É uma versão moderna das Guerras do Ópio que colocaram a Grã-Bretanha em rota de colisão com uma China fechada e poderosa no século XIX. Só que agora o ópio é outro: é o shot de endorfina liberado por curtidas e vídeos virais de 15 segundos.
Quando se viu perdendo a geração nascida nos anos 2000 para o TikTok, Zuckerberg reagiu como de costume: copiando. Copiou o TikTok na cara dura. O que são os Reels senão uma cópia fajuta do TikTok?
Como todo bom senhor da guerra, Zuckerberg atua em várias frentes simultâneas e tenta antecipar as próximas jogadas do seu xadrez 5D. Enquanto tenta conter o avanço das tropas tiktokianas no campo de batalha atual, ele torra bilhões de dólares na sua arma nucelar: o metaverso.
Seria fascinante se fosse novidade, mas o metaverso é só a última de uma série de tentativas de emplacar a realidade virtual, uma tecnologia que soa interessante no papel, mas que faz seres humanos vomitarem e/ou terem dor de cabeça desde os anos 1980.
Nem o nome é original. Zuck surrupiou o termo “metaverso” — a ponto de trocar o nome da sua empresa para Meta — de um livro do Neil Stephenson que ele deve ter lido na adolescência e achado o máximo.
(De fato, um samurai preto e oriental e que ainda por cima é um super hacker, descrição de Hiro Protagonist, o protagonista de Snowcrash, é um perfil irresistível.)
Dois dos três aplicativos principais da Meta foram comprados — é aí que entra o lado empresário de Zuckerberg. Instagram e WhatsApp foram as maiores pechinchas da história dos negócios em tecnologia. Seriam ameaças ao próprio Facebook se não tivessem sido adquiridos enquanto havia tempo.
Quando tentou o mesmo expediente com o Snapchat, outra ameaça que despontou ali por 2013, Zuck deparou-se com algo novo: um “não”.
A negativa o levou a atitudes desesperadas, e foi nessa que ele descobriu o poder da cópia, ainda que não de primeira.
Antes de acabar com o Snapchat copiando o recurso dos stories no Instagram, Zuck tentou a sorte com aplicativos à parte, pouco inspirados e esquecíveis, como Poke, Slingshot e Bolt. (Se você não se lembra deles, não se culpe.)
Aliás, é curioso como o histórico de cópias frustradas de Zuckerberg parece ser ignorado.
Além das cópias frustradas do Snapchat, numa lista rápida, de cabeça, lembro que ele já tentou copiar sem sucesso:
- O Twitter em 2013, acrescentando recursos de “seguir” e compartilhamento (RT) ao Facebook.
- O IGTV, em 2018, uma ambiciosa investida contra o YouTube que deu em nada.
- O Tinder, em outro recurso colado no Facebook e que… sério, alguém usa isso?
O Facebook, aliás, é uma cópia realizada em estágio embrionário. Em 2003, os irmãos Winklevoss abordaram um jovem programador brilhante em seu dormitório na Universidade de Harvard para ajudá-los no projeto de criar uma rede social para universitários. O jovem era Zuck.
Ele gostou da ideia, mas não dos parceiros, daí resolveu passar a perna nos Winklevoss e prosseguir sozinho. Típico.
Engana-se, porém, quem acha que o Facebook foi o pecado original de Mark Zuckerberg.
Antes disso, ele havia causado polêmica em Harvard ao lançar o FaceMash, um site que pegava fotos dos alunos do diretório central da universidade e as colocava lado a lado para que os demais elegessem as pessoas mais gostosas.
Uma cópia do site Hot or not, lançado três anos antes por dois engenheiros do Vale do Silício que tinham o hábito de avaliar a beleza de mulheres aleatórias na rua, como se fosse pedaços de carne ambulantes, e nem sempre concordavam com as “notas” que atribuíam a elas.
Neste incidente, Zuck quase cometeu o único ato criativo de toda a sua carreira. A ideia original do FaceMash era comparar as fotos dos estudantes com as de animais.
Em seu blog, ele escreveu na época:
“O livro de alunos do [dormitório] Kirkland está aberto no meu computador e algumas dessas pessoas têm fotos bem horríveis. Eu quase tenho vontade de colocar alguns desses rostos ao lado de fotos de animais e pedir às pessoas para que votem em quem é mais atraente.”
Pouco mais de duas horas depois, Zuck anunciou no mesmo blog que estava trabalhando no projeto, mas que deixara de lado os animais.
Perfeito.
Mark não é único nisso. Dizem que a única coisa que Bill Gates criou de fato na Microsoft foi a linguagem BASIC. Todo o resto dos anos de ouro da Microsoft (DOS, Windows, pacote Office, SQL Server, Internet Explorer, etc.) ou foi comprado no início do projeto de outra empresa ou é cópia descarada de alguma coisa já existente.
Mark zukberg controla o planeta praticamente inteiro, com muita formalidade e disciplina, ou agora vocês esqueceram dos impulsionamentos do twiter que é uma rede social em falência, ou mesmo do tiktok que possui práticas nada convencionais no brasil inteiro. NAO PODEMOS ESQUECER DA QUALIDADE DO CONTEUDO QUE NOS E OFERECIDA.
Discordo da sua análise em alguns pontos:
Apesar do Facebook levar toda a fama de “copiador” de recursos, essa é uma prática bem comum no mercado tech, repetida a exaustão desde…bem, sempre. No início dos anos 2000, Google comprava todos os concorrentes ou implementava recursos similares. Recentemente, você vê o YouTube criando os Shorts para competir com Tik&Tok e Reels, porque já está estabelecido que o formato da vez são vídeos curtos. O Tik&Tok implementou o recurso Now para competir com o BeReal, e por aí vai.
O próprio formato de feed, que já é um padrão em quase toda rede social, foi criação do Facebook. Antes, para saber as atualizações de um contato, você precisava entrar diretamente no perfil da pessoa. O Facebook introduziu o conceito de organizar as principais atualizações da sua lista de amigos em uma timeline. Também foram pioneiros na segmentação por interesses. Algo que, querendo ou não, ajuda milhões de pequenos e médios negócios a alcançar uma maior audiência e vender seus produtos e serviços.
Também acredito que a opinião pública tem uma visão um pouco tendenciosa do metaverso. Sim, não é uma tecnologia acessível para todos em 2022, mas dizer que isso é um investimento megalomaníaco e sem sentido é um exagero. Ultimamente temos visto plataformas de IA se popularizando, citando o Midjournal e o ChatGPT como exemplos mais recentes. É inegável que estamos caminhando para um mundo onde a inteligência artificial estará presente em quase tudo. Imagino que o investimento no metaverso parta de um desejo de posicionar a empresa como pioneira em uma tecnologia que é o futuro. Se ele vai ser bem-sucedido nisso, aí já é outro assunto.
É um artigo levemente satírico. Tenho certeza o Facebook/a Meta e o próprio Zuckerberg inventaram várias coisas interessantes nessas quase duas décadas. O que eu disputo, e aí acho que não é o caso mesmo, é a ideia de que Zuckerberg é um cara visionário, criativo. Isso acho que não é, e ilustro o argumento com a linha do tempo que tracei no texto acima.
Fiquei curioso com a invenção do feed. O do Facebook foi introduzido em 2006, segundo a Wikipédia. Foi, portanto, contemporâneo a outras redes que operam como a mesma lógica, como o Twitter (2006). Pensava que o FriendFeed tivesse sido o precursor, mas vi aqui que foi lançado em 2008. (Pouco depois, o Facebook comprou o FriendFeed, uma aquisição que, imagino, tenha sido muito influente para o feed deles.)
O metaverso, como argumentei no último Guia Prático, é uma aposta de longo prazo. (Fui acusado de defender a Meta, hehe 😄) De fato, ainda é cedo para cravar se é acerto ou fracasso. Acho, porém (e isso é só um palpite), que vai fracassar.
Mas nenhum empresário do Vale é criativo de fato. O endeusado Jobs é um grande vendedor de vento, por exemplo. Essas empresas criaram dinheiro do éter, nada mais. A ideia sempre foi prender-nos no computador e não inventar algo bom. Poucas tecnologias melhoraram a nossa vida ao longo dos anos (tirando a área médica). Toda a indústria é basicamente feita pra vender, crescer e canibalizar a sociedade.
Se ele conseguiu vender vento, então ele era de fato muito criativo, XD.
Aí depende, ser bom vendedor é ser criativo?
Se vocêr achar que sim, vale o carimbo nele.
Eu não acho, acho que a qualidade de um bom vendedor é ser capaz de enganar as pessoas ou levá-las ao erro induzindo comportamentos e sentimentos – aka marketing.
“Tenho certeza o Facebook/a Meta e o próprio Zuckerberg inventaram várias coisas interessantes nessas quase duas décadas” bom nem o FB é ideia do Zuck. Sem pode listar tais criações dele, o adequado seria trocar “certeza” por “fé”.
Mas é assim mesmo, no capitalismo o que mais tem é apropriação do trabalho alheio.
Ou seja, de 10 em 10 anos a humanidade vivenciará uma nova versão de Second Life 😆😆😆😆
Diria até que ‘cópia’ é tão antiga quanto a própria humanidade e isso é bom. A partir disso disseminamos muita tecnologia pelo mundo.
Guedin, se tirar o nome do Zuck ai e colocar Gates a história continua crível não? E talvez alguns outros Gênios/Empresas do Vale do Silício também se encaixem ai. “Nada se cria…..” (Não é defesa)
Agora outro ponto que gostaria de levantar, acredita que aplicativos como Instagram e outros trilhariam um caminho de sucesso como tem hoje se não estivessem sob o guarda chuva da Meta ou outra empresa de renome e poder $$$? Algo que nunca saberemos mas posso afirmar que muitas ideias boas ficam pelo caminho ou por falta de adesão ou porque em algum momento esbarra na necessidade de monetização que diremos corrompe o produto.
Sim, acho que tem razão. No geral, grandes empresas se estabelecem por uma mistura de visão, oportunidade e sorte. A tecnologia em si, bruta, é mais pulverizada e acessível. No caso da Microsoft, a sacada de gênio do Gates e do Paul Allen foi comprar um DOS compatível com os PCs da IBM e fechar um contrato super vantajoso para a Microsoft — uma vantagem que a IBM não conseguia vislumbrar. Dali em diante, esse canhão de grana ajudou a Microsoft a se estabelecer e conquistar novos mercados.
É difícil comentar essa outra “linha do tempo” em que o Facebook não comprou o Instagram e o WhatsApp. Acho, porém, que eles foram, enquanto independentes, os grandes rivais potenciais do Facebook na década passada. Zuck achava isso também, e tinha dados para embasar sua decisão — os da VPN gratuita Onavo, algo fartamente documentado.
A gente tem o Snapchat como exceção à regra. Acabou dizimado por uma cópia implementada no Instagram, num momento em que o Instagram ainda estava em ascensão e tinha uma imagem pública muito melhor que a do Facebook. Se os stories tivessem sido copiados no Facebook, com o Instagram ainda independente, como estaria o Snapchat hoje?