Bloco de notas #25

Notinhas, impressões pessoais e curiosidades do mundo da tecnologia.


Os impactos do coronavírus (COVID-19) na tecnologia

O novo coronavírus, o COVID-19, continua se espalhando pelo mundo, causando preocupação e afetando a economia. No setor de tecnologia, o impacto mais evidente até o momento é nos grandes eventos anuais do primeiro semestre, boa parte deles já cancelada a fim de mitigar a disseminação do vírus. Estão nesta lista o Mobile World Congress, a F8 (Facebook), o Google I/O e a Game Developers Conference. A essa altura, parece apenas questão de tempo para que os remanescentes, como a SXSW, WWDC (Apple) e Build (Microsoft), tenham o mesmo destino, ou seja, se transformem em “conferências virtuais”, com transmissões por streaming e vídeo conferências. O site is it canceled yet? [em inglês] traz uma lista, direta e sem firulas, dos eventos cancelados pelo COVID-19.

→ A situação de quase pandemia, apesar de todos os óbvios e gravíssimos reveses, pode se transformar em um ponto de virada para o home office. O Twitter foi a primeira grande empresa norte-americana a estimular seus quase 5 mil funcionários a trabalharem de casa, se possível. Microsoft e Google, por sua vez, deixaram de cobrar temporariamente por suas ferramentas premium de colaboração remota, Hangouts Meet [Google, em inglês] e Microsoft Teams [The Verge, em inglês].

Dois mapas, de 2019 e 2020, mostrando a diferença na presença de NO2 na atmosfera da região central da China. O mapa de 2020 quase não tem o elemento.
Imagem: NASA/Joshua Stevens, usando dados modificados do Copernicus Sentinel 5P processados pela Agência Espacial Europeia (ESA).

→ Outro efeito positivo do COVID-19 é observado no meio ambiente: fábricas paradas e a redução na circulação de veículos e aviões estão purificando o ar na China [BBC Brasil]. A imagem de satélite acima, da NASA e da ESA, mostra a redução dos níveis de dióxido de nitrogênio (NO2) na atmosfera do país asiático [Folha], epicentro da crise. O NO2 é um gás emitido por veículos motorizados, termelétricas e indústrias que pode agravar quadros respiratórios e aumenta o risco de morte em crianças.

→ O impacto do coronavírus nas cadeias de produção no nosso bolso deverá se fazer sentir em breve. Na de celulares, estima-se uma queda global nas vendas de 10,6% no primeiro semestre [IDC, em inglês]. No Brasil, a falta de componentes vindos da China para a montagem dos aparelhos terá seu primeiro reflexo no Dia das Mães, com celulares mais caros no varejo[Telesíntese].


Uber chega ao século XIX

Nesta quarta (4), a Uber passou a limitar a jornada diária dos seus motoristas em 12 horas [Estadão]. Ao bater nesse teto, o motorista é forçado a descansar por 6 horas. Surpreendi-me ao saber que isso não existia, mas antes tarde do que nunca. É como se a relação entre Uber e motoristas ainda estivesse no século XIX. Fica a esperança de que não leve décadas para que a jornada limitada a 8 horas e demais direitos trabalhistas cheguem à categoria.

→ Na França, país com tradição de queimar carros e resistir a tentativas de desmonte dos direitos trabalhistas, a Suprema Corte reconheceu nessa semana a relação trabalhista entre a Uber e um motorista [O Globo].


Os mais vendidos

O celular mais vendido em 2019 foi o iPhone XR [Counterpoint Research, em inglês]. O modelo da Apple abocanhou 3% das vendas globais. Em segundo lugar, com apenas quatro meses no mercado, apareceu o iPhone 11, com 2,1%. A Samsung ficou com as terceira e quarta posições, com os modelos — muito mais baratos — Galaxy A50 e A10.

Ranking por regiões globais dos celulares mais vendidos em 2019.
Imagem: Counterpoint Research/Divulgação.

→ A Counterpoint Research quebrou os dados de vendas anuais por regiões (acima), o que nos dá uma boa ideia das disparidades existentes no mundo. Na América Latina, por exemplo, o celular mais vendido do ano (5% do total) foi o Galaxy A10, que custa cerca de R$ 700. Os dois iPhones que lideram o ranking global sequer aparecem no top 5 latino-americano, dominado pela Samsung, mais o Moto E5 Plus (~R$ 800) da Motorola. Não por acaso: por aqui, os modelos da Apple custam até 470% a mais que o líder de vendas — ~R$ 3 mil (iPhone XR) e ~R$ 4 mil (11).


Leituras de fôlego recomendadas


Contra a procrastinação

É difícil resistir às redes sociais e outros atrativos da internet para procrastinar. Em sua última coluna na Folha, Ronaldo Lemos dá uma dica muito bacana para ajudar nessa luta inglória:

Em outras palavras, procrastinar no mundo de hoje não significa não trabalhar. Significa trabalhar para outras pessoas e empresas, que capturam o valor daquele trabalho realizado na maior parte dos casos de forma gratuita.

→ Um negócio que me deixa muito frustrado é aquele CAPTCHA do Google, usado em muitos sites, que exige que você identifique semáforos, montanhas, faixas de pedestre etc. Esses “testes” servem para aperfeiçoar os algoritmos de identificação visual do Google. A diferença para as redes sociais é que, neste caso, o trabalho não remunerado para o Google é feito sem qualquer tipo de tentativa de ilusão de que não se trata de um trabalho.


Newsletter automatizada do bem

Um dos grandes baratos das newsletters é a pessoalidade de quem a redige, mas há cenários em que a automação pura gera resultados interessantes. O Mailbrew [em inglês] é um serviço recém-lançado que permite ao usuário “programar” uma newsletter personalizada a partir de fontes como perfis do Twitter e feeds RSS. Você seleciona o que quer monitorar e em intervalos periódicos eles mandam um e-mail com as novidades das fontes pré-selecionadas. Uma boa para acompanhar ambientes caóticos, como Reddit e Twitter, sem entrar em contato com o algoritmo tóxico deles. Gratuito com limitações, US$ 8/mês para removê-las.


RIP chatbots do Facebook

Há pouco menos de quatro anos, o Facebook anunciou com estardalhaço sua plataforma de chatbots no Messenger. Era o futuro, prometia Zuckerberg. Nessa semana, a empresa liberou uma atualização do Messenger para iOS que esconde os chatbots e, na prática, condena a plataforma ao ostracismo [TechCrunch, em inglês]. Imagine empresas que investiram tempo e dinheiro nessa solução para, agora, vê-la escanteada pelo Facebook. Mais uma vez: não dá para confiar em grandes plataformas.

→ O destaque da nova versão do Messenger no discurso oficial, obviamente, não é o fim dos chatbots, mas os ganhos em velocidade. A receita? Tem um post enorme do Facebook explicando [em inglês], mas ela pode ser resumida a usar as ferramentas de desenvolvimento nativas do iOS em vez do React, tecnologia criada pelo próprio Facebook (!) para reaproveitar um mesmo código em vários sistemas operacionais.

→ O Manual tinha um chatbot no Messenger. Coincidentemente (ou não; já dava para sentir o barco afundando), descontinuei ele poucos dias antes do anúncio acima.


Um app: Botnet

Viralizar (ou “hitar”) em uma rede social é uma das piores experiências online que alguém pode ter. Aquele pico de endorfina que a validação de milhares de curtidas gera é rapidamente substituído por uma multidão deturpando, problematizando ou só criando o caos nas respostas. (Isso quando é um tuíte neutro ou engraçado; se for um polêmico, é só chateação pura e simples.)

O aplicativo Botnet [em inglês] recria esse cenário e o coloca ao alcance de qualquer um. Você escreve alguma coisa, “publica” (o app é offline, nada é publicado de verdade) e um exército de robôs, treinados com comentários reais da internet, começa a curtir e comentar seu post. Se levarmos em conta que as redes sociais de verdade estão infestadas de robôs, a semelhança da simulação com a realidade fica ainda mais perturbadora.

Não é tão ruim quanto a coisa real, porque você não usa o Botnet para outra finalidade que não dar uma espiada na desgraça e não há notificações, mas vale como exercício. O app é gratuito e oferece recursos extras pagos (~R$ 4 cada): bots trolls, mais bots e bots com piadas de tiozão. Para Android e iOS.


Apps

  • Mostrando uma falta de agilidade incrível, o Twitter anunciou o início dos testes com “fleets” [TechCrunch, em inglês], sua versão dos stories criados pelo Snapchat e popularizados no Instagram. Os testes serão feitos no Brasil e, por aqui, a recepção foi ruim: na tarde em que a notícia saiu, o termo “RIP Twitter” disparou nos trending topics do próprio Twitter.
  • Demorou um bocado, mas o WhatsApp finalmente ganhou suporte ao modo escuro [WhatsApp]. No Android 10 e iOS 13, ele acompanha a configuração do sistema.
  • Shihab Mehboob, desenvolvedor por trás do Mast 2, app do Mastodon para iOS e macOS, abriu o código-fonte do app [Github, em inglês] e o tornou completamente gratuito. Downloads: macOS, iOS.

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