O dia seguinte do Threads

Foto em close de um celular, com várias frases soltas em movimentos circulares. Uma, com o nome “Threads” repetido e colorida, aparece em destaque.

Passada a euforia da estreia, é um bom momento para avaliar o impacto do Threads na confusão que virou a disputa pelo suposto vácuo deixado pela passagem do furacão Elon Musk pelo Twitter.

Os dados iniciais foram surpreendentes: 100 milhões de pessoas deram uma chance ao Threads nos primeiro cinco dias do app, lançado em 5 de julho. A taxa quebrou o recorde do ChatGPT, que havia demorado dois meses para chegar nove dígitos.

Dados mais recentes, porém, mostram um cenário menos otimista.

A consultoria SimilarWeb notou que o número de usuários ativos do Threads no Android caiu de um pico de 49 milhões, no dia 7 de julho, para 23,6 milhões uma semana depois.

Após a publicação original desta coluna, na sexta (21), o Wall Street Journal divulgou dados da consultoria Sensor Tower apontando uma queda ainda maior, de 70%, na base de usuários ativos diários do Threads.

Nos Estados Unidos, país líder em downloads do aplicativo da Meta, o engajamento despencou no mesmo período, de 21 minutos por dia de uso do Threads para pouco mais de 6 minutos.

Essa ressaca não é estranha. No início de 2023, fenômeno similar acometeu o Mastodon. Tampouco assustou a direção da Meta. No Threads, Mark Zuckerberg disse que “dezenas de milhões de pessoas” estavam voltando ao app dia após dia, “muito acima das nossas expectativas”.

Pode-se dizer que atrair usuários e fideliza-los são duas batalhas da mesma guerra. A primeira a Meta venceu com facilidade. A segunda está se dando agora.

Na mesma mensagem, Zuckerberg disse que “o foco para o resto do ano é melhorar o básico e a retenção [dos usuários]”.

Há mais de uma década, outro sucesso avassalador acometeu a internet. O Google+, a resposta do Google ao fenômeno Facebook, conquistou 90 milhões de usuários, mas não conseguiu retê-los na plataforma.

Diferença fundamental, na época ninguém ou poucos estavam insatisfeitos com o Facebook. Hoje, a decadência a olhos vistos do Twitter é forte motivação para as pessoas buscarem alternativas.

Trocar Musk por Zuck talvez seja trocar seis por meia dúzia no longo prazo. Hoje o Threads é todo positividade, com uma interface limpa, sem anúncios, ainda que infestado de influenciadores e marcas artificiais, sem opção de ler só perfis que a pessoa opta por seguir. Amanhã?

O único desfecho positivo que consigo imaginar ainda está por se materializar: a integração do Threads ao fediverso, ao mesmo protocolo do Mastodon.

Na terça (18), o perfil oficial do Threads no Threads voltou a tocar no assunto:

Estamos trabalhando para tornar o Threads compatível com o ActivityPub, o que significa que ele funcionaria com aplicativos como Mastodon e WordPress.

Pense nisso como no e-mail: você pode escrever para qualquer pessoa com um endereço de e-mail, porque é um sistema descentralizado.

É bom demais para ser verdade, e por isso só acreditarei na integração quando ela estiver no ar, funcionando.

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Foto do topo: Azamat E/Unsplash.

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