Tristan Harris foi Filósofo de Produtos no Google até 2016, onde estudou como a tecnologia afeta a atenção, o bem estar e o comportamento de um bilhão de pessoas. Ele é parte do Time Well Spent, um esforço que encoraja as empresas de tecnologia a oferecer escolhas honestas e que respeitem o tempo dos usuários.
“É mais fácil enganar pessoas do que convencê-las de que elas foram enganadas.”
— Autor desconhecido
Sou especialista em como a tecnologia assalta as nossas vulnerabilidades psicológicas. Foi por isso que passei os últimos três anos trabalhando com ética do design no Google, cuidando de como desenvolver coisas de um jeito que defenda as mentes de bilhões de pessoas de serem exploradas.
Quando estamos utilizando tecnologias, frequentemente focamos de forma otimista em todas as coisas que ela faz por nós. Mas eu quero te mostrar onde ela pode fazer o oposto.
Onde a tecnologia explora as fraquezas da nossa mente?
Aprendi a pensar dessa forma sendo mágico. Mágicos partem da procura por pontos cegos, vantagens, vulnerabilidades e limites na percepção das pessoas para que possam influenciar o que elas fazem sem que elas sequer percebam. Uma vez que você saiba como controlar as pessoas, quais botões apertar, consegue manipulá-las como alguém toca um piano.

É exatamente isso o que designers de produtos fazem com a sua mente. Eles manipulam suas vulnerabilidades psicológicas (consciente e inconscientemente) contra você na corrida para ganhar a sua atenção.
Eu quero te mostrar como eles fazem isso.
Cilada #1: Se você controla o menu, você controla as opções

A cultura ocidental foi construída em torno dos ideais da escolha individual e da liberdade. Milhões de nós defendemos com afinco o nosso direito de fazer escolhas “livres” enquanto ignoramos como essas escolhas são manipuladas contra a nossa vontade por menus que, para início de conversa, não escolhemos.
Isso é exatamente o que os mágicos fazem. Eles dão às pessoas a ilusão da livre escolha ao mesmo tempo em que constróem o menu de tal modo que eles ganhem sempre, não importa o que você escolha. Eu não consigo enfatizar o bastante o quão profunda é essa prática.
Quando as pessoas recebem um menu de opções, elas raramente perguntam:
- “O que não está no menu?”
- “Por que tenho estas opções e não outras?”
- “Eu conheço os objetivos de quem criou este menu?”
- “Este menu me dá poder em relação à minha necessidade original ou as opções são, na realidade, uma distração?” (Exemplo: uma variedade enorme de pastas de dente.)

Imagine que você saiu com amigos em uma terça-feira à noite e quer manter a conversa rolando. Você abre o Yelp para encontrar indicações de lugares próximos e vê uma lista de bares. O grupo se torna um amontoado de rostos olhando para seus celulares procurando por bares. Eles examinam minuciosamente as fotos de cada um deles, comparando os drinks. Esse menu ainda é relevante para o desejo original do grupo?
Não é que bares não sejam uma boa escolha, é que o Yelp substituiu a pergunta original do grupo (“aonde podemos ir para continuar conversando?”) por uma pergunta diferente (“qual bar tem boas fotos de drinks?”) apenas pelo formato do menu.
Além disso, o grupo cai na ilusão de que o menu do Yelp representa um conjunto completo das opções aonde ir. Enquanto olham absortos para seus celulares, eles não veem o parque do outro lado da rua com uma banda tocando música ao vivo. Eles perdem a barraquinha da galeria de arte no fim da rua servindo crepes e café. Nenhum desses dois aparecem no menu do Yelp.

Quanto mais opções a tecnologia nos dá em cada domínio de nossas vidas (informações, eventos, lugares para ir, amigos, encontros, empregos), mais assumimos que o smartphone é sempre o menu mais poderoso e útil para usar nessas escolhas. Ele é?
O “menu mais poderoso” é diferente do menu que tem a maior quantidade de opções. Mas quando nos rendemos cegamente aos menus a que somos dados, é fácil esquecer essa diferença:
- “Quem está livre pra sair essa noite?” vira um menu das últimas pessoas que nos mandaram uma mensagem (a quem poderíamos mandar um “oi”).
- “O que está acontecendo no mundo?” vira um menu de histórias em uma lista infinita.
- “Quem está solteiro e quer ter um encontro?” vira um menu de rostos para arrastar para os lados no Tinder (em vez de eventos locais com amigos ou aventuras urbanas nas proximidades).
- “Eu preciso responder a esse e-mail” vira um menu de botões para digitar uma resposta (em vez de maneiras mais poderosas de se comunicar com uma pessoa).

Quando acordamos pela manhã e ligamos nossos celulares para ver uma lista de notificações, isso molda a experiência de “acordar pela manhã” em torno de um menu de “todas as coisas que eu perdi desde ontem”. (Para mais exemplos, veja esta palestra de Joe Edelman.)

Ao moldar os menus que usamos, a tecnologia assalta o jeito que percebemos nossas escolhas e as substitui por novas. Mas quanto mais atentamente nós olharmos para as opções que nos são dadas, mais perceberemos quando elas não se alinham de verdade às nossas reais necessidades.
Cilada #2: Colocar uma máquina caça-níquel em um bilhão de bolsos
Se você é um app, como fisgar a atenção das pessoas? Transforme-se em uma máquina caça-níquel.
Uma pessoa média consulta seu smartphone 150 vezes por dia. Por que fazemos isso? Estamos fazendo 150 escolhas conscientes?

Um grande motivo para isso é o principal ingrediente psicológico das máquinas caça-níquel: recompensas variáveis e intermitentes.
Se você quer maximizar o vício ou dependência, tudo que os designers de tecnologia precisam fazer é atrelar uma ação do usuário (como puxar uma alavanca) a uma recompensa variável. Você puxa a alavanca e imediatamente recebe ou uma recompensa tentadora (um match! Um prêmio!) ou nada. A dependência é maximizada quando a taxa de recompensa é bastante variada.
Isso realmente funciona nas pessoas? Sim. Máquinas caça-níquel fazem mais dinheiro nos EUA do que baseball, cinema e parques temáticos somados. Relativo a outros tipos de jogos, as pessoas ficam “problematicamente envolvidas” com máquinas caça-níquel de três a quatro vezes mais rápido de acordo com a professora Natasha Dow Schull da Universidade de Nova York, autora do livro Addiction by Design (sem tradução no Brasil).
Mas aqui está a triste verdade — alguns bilhões de pessoas tem uma máquina caça-níquel em seus bolsos:
- Quando tiramos o celular do bolso, estamos apostando em um caça-níquel para ver quais notificações recebemos.
- Quando atualizamos nosso e-mail, estamos apostando em um caça-níquel para ver quais novas mensagens recebemos.
- Quando rolamos para baixo o feed do Instagram, estamos apostando em um caça-níquel para ver qual foto aparece em seguida.
- Quando deslizamos rostos para a esquerda ou para a direita em apps de namoro como o Tinder, estamos apostando em um caça-níquel para ver se conseguimos um match.
- Quando tocamos em um app que tem um badge vermelho com um contador, estamos apostando em um caça-níquel para ver o que se esconde ali.

Apps e sites espalham recompensas intermitentes e variáveis por toda parte porque isso é bom para os negócios.
Mas em outros casos, máquinas caça-níquel acontecem por acidente. Por exemplo, não existe uma corporação do mal por trás de todos os e-mails decidindo conscientemente torná-lo um caça-níquel. Ninguém lucra quando milhões de pessoas verificam seus emails e não encontram nada lá. Nem os designers da Apple nem os do Google queriam que smartphones funcionassem como máquinas caça-níquel. Aconteceu por acidente.
Mas, agora, empresas como Apple e Google têm a responsabilidade de reduzir esses efeitos transformando recompensas variáveis e intermitentes em coisas menos viciantes e mais previsíveis através de um design melhor. Por exemplo, eles poderiam dar mais poder às pessoas ao criarem horas previsíveis do dia ou da semana para quando eles querem verificar apps “caça-níquel” e, consequentemente, ajustar quando novas mensagens são entregues para alinhar com esses horários.
Cilada #3: Medo de perder algo importante
Outro maneira que os apps e sites têm de sequestrar as nossas mentes é induzir “uma chance de 1% de que você possa estar perdendo algo importante”.
Se eu te convenço de que eu sou um canal para informações importantes, mensagens, amizades ou oportunidades sexuais em potencial, será difícil você me desligar, remover a assinatura ou excluir sua conta porque (rá, ganhei!) você talvez deixe algo importante passar:
- Isso nos mantem assinando newsletters mesmo elas não trazendo benefícios recentes (“e se eu perder um comunicado futuro?”).
- Isso nos mantém “amigos” de pessoas com quem não falamos há anos (“e se eu perder algo importante delas?”).
- Isso nos mantem deslizando rostos em apps de relacionamento, mesmo quando sequer nos encontramos com alguém por algum tempo (“e se eu perder o match daquela pessoa linda que quer sair comigo?”).
- Isso nos mantém usando as redes sociais (“e se eu perder aquela notícia importante ou ficar desatualizado sobre o que os meus amigos estão falando?”).
Mas se nós olharmos mais de perto para esse medo, descobriremos que ele é infundado porque nós sempre perderemos coisas importantes em algum ponto quando pararmos de usar algo:
- Existem momentos mágicos no Facebook que perderemos ao não usá-lo pela sexta hora seguida (exemplo: um velho amigo que está visitando a cidade neste momento).
- Existem momentos mágicos que perderemos no Tinder (exemplo: nosso cônjuge dos sonhos) ao não deslizar para a esquerda e conseguir nosso milésimo match.
- Existem ligações de emergência que perderemos se não estivermos conectados 24/7.
Mas viver o momento com medo de perder algo não é como nós somos feitos para viver.
E é incrível o quão rápido, uma vez que deixamos esse medo para trás, nós acordamos da ilusão. Quando nos desconectamos por mais de um dia, removemos aquelas notificações ou fazemos um retiro de detox digital, as preocupações que achávamos que teríamos não acontecem na verdade.
Não sentimos falta do que não vemos.
O pensamento “e se eu perder algo importante?” é gerado em antecipação à desconexão, remoção de uma assinatura ou ao desligamento, não depois. Imagine se empresas de tecnologia reconhecessem isso e nos ajudassem a proativamente ajustar as nossas relações com amigos e negócios nos termos do que nós definimos como “tempo bem gasto” para as nossas vidas, em vez dos termos do que podemos perder.
Cilada #4: Aprovação social

Estamos todos vulneráveis à aprovação social. A necessidade de pertencer, de ser aprovado ou admirado por nossos pares é uma das maiores motivações do ser humano. Agora, porém, a nossa aprovação social está nas mãos das empresas de tecnologia.
Quando sou marcado pelo meu amigo Marc, imagino que ele fez uma escolha consciente de me marcar. Mas eu não vejo como uma empresa como o Facebook orquestrou a situação para que ele fizesse aquilo em primeiro lugar.
Facebook, Instagram ou Snapchat podem manipular com que frequência as pessoas são marcadas nas fotos ao automaticamente sugerirem todos os rostos que as pessoas deveriam marcar (exemplo: mostrando uma caixa com uma confirmação de um clique, “marcar Tristan nesta foto?”).
Então, quando meu amigo me marca nessa foto, ele está na verdade respondendo a uma sugestão do Facebook, não fazendo uma escolha independente. Por escolhas de design como essa, o Facebook controla o multiplicador da frequência com que milhões de pessoas experimentam a aprovação social em seu site.

O mesmo acontece quando mudamos nossa foto de perfil — o Facebook sabe que esse é um momento em que ficamos vulneráveis à aprovação social: “o que os meus amigos acharão da minha foto nova?” O Facebook pode colocar isso mais alto no feed para que a atualização dure por mais tempo e mais amigos curtam ou comentem-na. Cada vez que eles curtem ou comentam a foto, somos puxados de volta a ela.
Todo mundo responde à aprovação social de forma inata, mas algumas demografias (adolescentes) são mais vulneráveis a isso do que outras. Esse é o motivo pelo qual é tão importante reconhecer o grande poder dos designers quando eles exploram essa vulnerabilidade.

Cilada #5: Reciprocidade social (olho por olho)
- Você me faz um favor — fico te devendo uma.
- Você diz “obrigado” — eu tenho que dizer “de nada”.
- Você me envia um email — é grosseria não responder.
- Você me segue — é rude não te seguir de volta. (Especialmente para adolescentes.)
Nós estamos vulneráveis à necessidade de retribuir os gestos dos outros. Mas tal qual a aprovação social, as empresas de tecnologia agora manipulam a frequência com que nós passamos por isso.
Em alguns casos, é acidental. E-mail e apps de mensagens são fábricas de reciprocidade social. Em outros, as empresas se aproveitam dessa vulnerabilidade de propósito.
O LinkedIn é o culpado mais óbvio. Ele quer a maior quantidade possível de pessoas criando obrigações sociais umas com as outras, porque cada vez que elas retribuem (ao aceitar uma conexão, responder uma mensagem ou recomendar alguém por uma habilidade), eles têm que voltar ao site ou app do LinkedIn, onde podem gastar mais tempo na rede.
Assim como o Facebook, o LinkedIn explora uma assimetria na percepção. Quando você recebe um convite para se conectar a alguém, imagina aquela pessoa fazendo uma escolha consciente de te convidar, quando, na realidade, ela provavelmente respondeu inconscientemente à lista de contatos sugeridos do LinkedIn. Em outras palavras, o LinkedIn transforma os seus impulsos inconscientes (de adicionar uma pessoa) em novas obrigações sociais a que milhões de pessoas se sentem obrigadas a retribuir. Tudo isso enquanto eles lucram em cima do tempo que as pessoas gastam nisso.

Imagine milhões de pessoas sendo interrompidas dessa forma ao longo do dia, correndo como galinhas decapitadas, retribuindo umas às outras — tudo projetado por empresas que lucram com isso.
Bem-vindo às redes sociais.

Imagine se as empresas de tecnologia tivessem uma responsabilidade de minimizar a reciprocidade social. Ou se houvesse uma organização independente que representasse os interesses públicos — um consórcio ou uma ANVISA para tecnologias –, que monitorasse quando as empresas abusassem desses vieses comportamentais?
Cilada #6: Poços sem fundo, timelines infinitas e autoplay

Outra forma de sequestrar a atenção das pessoas é mantendo-as consumindo mesmo quando elas já estão satisfeitas.
Como? Fácil. Pegue uma experiência que era limitada e finita e transforme-a em um fluxo sem fim.
O professor Brian Wansink da Universidade de Cornell demonstrou que é possível enganar as pessoas para comerem mais sopa ao dar a elas uma tigela sem fundo que é reabastecida automaticamente enquanto elas comem. Com tigelas sem fundo, as pessoas comem 73% mais calorias do que aquelas com tigelas normais. Elas também subestimam as calorias que elas consumiram por algo próximo de 140 calorias.
Empresas de tecnologia exploram o mesmo princípio. Feeds de notícias e timelines são intencionalmente feitos para se reabastecerem automaticamente de motivos para você continuar rolando a tela e eliminarem qualquer motivo para você parar, reconsiderar ou sair.
É por isso também que redes sociais e sites de vídeos como Netflix, YouTube e Facebook reproduzem automaticamente o próximo vídeo após uma contagem regressiva, em vez de esperar que você tome uma decisão consciente (no caso de você não fazê-la). Uma enorme parcela do tráfego nesses sites é impulsionada pela reprodução automática do que vem a seguir.


Empresas de tecnologia costumam afirmar que “nós estamos facilitando aos usuários assistirem o vídeo que eles querem ver”, quando elas estão, na verdade, servindo aos seus próprios interesses comerciais. E você não pode culpá-las, porque aumentar o “tempo gasto” é a moeda pela qual elas competem.
Em vez disso, imagine se as empresas de tecnologia te dessem o poder de conscientemente limitar a sua experiência para se alinhar ao que seria um “tempo bem gasto”. Não apenas limitar a quantidade de tempo gasto, mas também as qualidades do que seria um “tempo bem gasto”.
Cilada #7: Interrupção instantânea vs. distribuição respeitosa
As empresas sabem que as mensagens que interrompem as pessoas imediatamente são mais persuasivas no sentido de fazer com que elas respondam do que mensagens entregues assincronamente (como o e-mail ou qualquer meio que possa ser postergado).
Dada a escolha, o Facebook Messenger (ou o WhatsApp, WeChat ou Snapchat nesse sentido) preferiria projetar seus sistemas de bate-papo para interromper os destinatários imediatamente (e mostrar uma caixa de diálogo) em vez de ajudar os usuários a respeitarem a atenção alheia.
Em outras palavras, interrupções são boas para os negócios.
Também é do interesse deles elevar a sensação de urgência e de reciprocidade social. Por exemplo, o Facebook automaticamente informa ao remetente que você viu a mensagem, em vez de permitir que você não revele se a leu (“agora que você sabe que eu vi a mensagem, eu me sinto ainda mais na obrigação de responder.”)
Por outro lado, a Apple e o WhatsApp mais respeitosamente deixam os usuários ativarem ou não a função de “recibo de leitura”.
O problema é que ao maximizar as interrupções em nome dos negócios, cria-se uma tragédia popular, arruinando a capacidade de concentração global e causando bilhões de interrupções desnecessárias todos os dias. Isso é um problema enorme que precisamos consertar com padrões de design compartilhados (potencialmente, como parte do Time Well Spent).
Cilada #8: Atrelar o seu motivo com os motivos deles
Outra forma dos apps te enganarem é pegando os seus motivos para visitar o app (fazer uma tarefa) e torná-lo inseparável dos motivos comerciais do app (maximizando o quanto consumimos uma vez que estivermos lá).
No mundo físico das lojas de conveniência norte-americanas, os dois motivos mais populares que atraem consumidores são remédios e leite. Mas as lojas querem maximizar o quanto as pessoas compram, então elas colocam a farmácia e o leite nos fundos.
Em outras palavras, elas tornam a coisa que os clientes querem (leite, remédios) inseparável daquilo que o negócio quer. Se as lojas fossem realmente organizadas para ajudar as pessoas, elas colocariam os itens mais populares na entrada.
As empresas de tecnologia desenvolvem seus sites da mesma forma. Por exemplo, quando você quer olhar um evento no Facebook acontecendo essa noite (seu motivo), o app do Facebook não permite que você o acesse sem primeiro passar pelo feed (o motivo deles). É proposital. O Facebook quer converter qualquer motivo que você tenha para usar o Facebook no motivo deles, que é maximizar o tempo que você gasta consumindo coisas.
Em vez disso, imagine se…
- O Twitter fornecesse uma tela separada para postar um tweet que não exibisse a timeline.
- O Facebook oferecesse um local separado para ver os eventos que acontecerão hoje à noite noite, sem forçá-lo a ver o feed.
- O Facebook oferecesse uma maneira separada de usar o Facebook Connect como um passaporte para usar contas novas em sites e apps de terceiros, sem te forçar a instalar todo o app do Facebook com o feed e as notificações.
Em um mundo preocupado com o “tempo bem gasto”, sempre existe uma maneira direta de conseguir o que você quer separadamente do que o negócio quer. Imagine uma “declaração de direitos” digitais regrando padrões de design que forçassem os produtos usados por bilhões de pessoas a deixá-las acessarem diretamente aquilo que elas querem, sem precisar passar por distrações plantadas.

Cilada #9: Escolhas inconvenientes
Nos disseram que é suficiente para as empresas “oferecer escolhas”:
- “Se você não gosta, pode a qualquer momento usar um produto diferente.”
- “Se você não gosta, pode a qualquer momento cancelar a assinatura.”
- “Se você está viciado em nosso app, pode a qualquer momento removê-lo do seu smartphone.”
As empresas, naturalmente, querem fazer as escolhas que elas querem que você faça mais simples e as escolhas que elas não querem que você faça, mais complicadas. Mágicos fazem a mesma coisa. Você facilita a um espectador pegar o que você quer que ele pegue e dificulta que ele pegue aquilo que você não quer.
Por exemplo, o site do New York Times te permite “livremente optar por” cancelar sua assinatura digital. Mas em vez de apenas apertar o botão “Cancelar assinatura”, eles te enviam um e-mail com informações sobre como cancelar sua conta ligando para um número de telefone que só está disponível em alguns horários ao longo do dia.

Em vez de ver o mundo em termos de disponibilidade de escolhas, nós deveríamos vê-lo em termos do atrito exigido ao exercer nossas escolhas. Imagine um mundo onde as escolhas fossem rotuladas de acordo com a dificuldade em completá-las (como um coeficiente de atrito) e houvesse uma entidade independente, um consórcio da indústria ou uma organização sem fins lucrativos, que rotulasse essas dificuldades e estabelecesse padrões sobre o quão fácil a navegação deveria ser.
Cilada #10: Prevendo erros, estratégias “pé na porta”

Por fim, os apps conseguem explorar a incapacidade das pessoas de prever as consequências de um clique.
As pessoas não preveem intuitivamente o verdadeiro custo do clique quando um é apresentado a elas. Vendedores usam técnicas “pé na porta” ao fazer uma perguntinha inofensiva para começar (“só um clique para ver qual tweet foi retuitado”) e, a partir dali, crescer em escala (“por que você não fica mais um pouco?”). Virtualmente todos os sites de engajamento usam esse truque.
Imagine se os navegadores web e os smartphones, os portais pelos quais as pessoas fazem essas escolhas, estivessem realmente cuidando de nós e ajudassem a prever as consequências dos nossos cliques (baseado em dados reais sobre quais benefícios e custos isso realmente teria?).
É por isso que eu adiciono o “tempo estimado de leitura” no topo dos meus posts. Quando você coloca o “custo real” de uma escolha na frente das pessoas, você está tratando seu usuário ou sua audiência com dignidade e respeito. Em uma internet do “Tempo bem gasto”, escolhas poderiam ser enquadradas em termos de custo e benefício projetados, de forma que as pessoas tivessem o poder de fazer escolhas informadas por padrão em vez de, para isso, terem trabalho extra.

Resumo e como podemos consertar isso
Você está incomodado que a tecnologia engana a sua mente? Eu também. Listei algumas técnicas aqui, mas existem literalmente milhares delas. Imagine bibliotecas inteiras, seminários, workshops e treinamentos que ensinam aspirantes a empreendedores de tecnologia técnicas como essas. Imagine centenas de engenheiros cujo trabalho diário é inventar novas maneiras de te manter viciado.
A liberdade plena é ter uma mente livre. Precisamos da tecnologia que está do nosso lado, para nos ajudar a viver, pensar e agir livremente.
Precisamos que nossos smartphones, telas de notificações e navegadores sejam exoesqueletos para as nossas mentes e relações interpessoais que coloquem os nossos valores, não os nossos impulsos, em primeiro lugar. O tempo das pessoas é valioso. E devemos protegê-lo com o mesmo rigor com que protegemos a privacidade e outros direitos digitais.
Agradecimentos àqueles que inspiraram o meu pensamento ao longo dos anos: Joe Edelman, Aza Raskin, Raph D’Amico, Jonathan Harris e Damon Horowitz. Meu raciocínio sobre menus e escolhas tem raízes profundas no trabalho de Joe Edelman.
Publicado originalmente no Medium em 18 de maio de 2016.
Tradução por Leon Cavalcanti Rocha.
Foto do topo: Ariel Dovas/Flickr.
Gostaria de saber se interesses politicos tb manipulam nossa mente sem que de fato possamos perceber?e tb como paginas de esquerda tomaram conta das plataformas e conteudos assim sao a unica coisa que recebemos sutilmente que nem nos damos conta
Ótimo texto, Apps são altamente viciantes!
Mais um menu de experiências na minha vida aos 50 anos de idade.
Ótimo artigo.
@disqus_Ph4NU1lNWI:disqus, a cultura realmente mudou nos últimos anos — ainda que, acho eu, desde sempre o ser humano se viu questionado por casos curtos, desejo do proibido e outros dilemas amorosos que nos parecem muito moderninhos.
Balman fala de amor líquido e, até onde sei, apesar do exagero de desconsiderar outras formas de amar na contemporaneidade, é uma das melhores explicações para a efemeridade das relações. Eu digo exagero porque… bem, as pessoas ainda namoram, casam e passam algum tempo juntas (algumas poucos, a vida toda). Freud e Erich Fromm falam do amor como o caminho (ou um dos caminhos) para a felicidade, por exemplo, e isso não saiu de moda.
Nesse grande contexto, ter todas essas opções é muito legal. Acho injusto, até rude, comparar a liberdade sexual à prostituição ou à prática do dote. São situações muito distintas. Nessas que você citou, apenas uma parte detém o poder — não por coincidência, o homem, reflexo do machismo de épocas passadas, ainda pior que o atual. Hoje é uma escolha feita a dois. Não é “mercado”, são pessoas extravasando desejos e vontades. Eu consigo ver muita beleza nisso aí.
Sensacional! Por essas e outras escolhi como fontes Manual do Usuário e Tecnoblog.
Isso não só na tecnologia. Você pode trocar a tecnologia por religião, por exemplo, na Cilada 1, pois quem controla o menu, controla tudo.
parabéns pela matéria, Ghedin!
fui lá no Medium pra curtir a matéria tb. aliás, sabendo garimpar, o Medium é um lugar bem rico. pra quem não sabe, é um poço de coisas ruins, desagradáveis e descartáveis igual… a internet?
por isso que seu blog é e tem tudo pra continuar sendo relevante: sua marca opinativa e de escolhas deliberadas que, na maioria das vezes, são boas, úteis e relevantes.
abs!
Excelente texto Ghedin! Muito bom mesmo para nos ajudar a ter consciência de como perdemos nosso tempo sem percber! Obrigado!
Um exemplo besta de como isso se manifesta. No Tinder, às vezes um perfil novo aparece do nada, alguns milissegundos antes do momento em que você vai deslizar o dedo para a esquerda (rejeitar). Que coisa, né? Por que será que isso acontece?
Um dos recursos do Tinder Plus (pago) é a possibilidade de voltar os perfis descartados para curti-los. Ao gerar esse erro, o Tinder induz o usuário a pagar para ver quem ele descartou e/ou dar uma chance ao perfil descartado sem querer.
Pode ser um bug?? Pode, mas é no mínimo esquisito algo tão escancaradamente errado continuar acontecendo mesmo depois de uma reformulação no visual do app e da introdução de uma major feature (Tinder Social).
Tenho pensado sobre apps de namoro, e noto as seguintes coisas:
– Ultimamente não é nem os apps de namoro, mas sim a própria cultura nossa que mudou o valor do relacionamento para algo efêmero, com medição de valor social. Talvez porque nas gerações anteriores tinhamos o valor social em “permanecer” com um relacionamento estável, e agora que a ciência em um todo dismistificou a questão do relacionamento estável, o resultado é que agora é só pesquisar em um classificado como você quer ser relacionar.
– Outro ponto, isso um pouco contraditório com o último, é que ao mesmo tempo que os relacionamentos são variáveis, é possível escolher a pessoa que você queira ficar, o “sonho de consumo”. Ah, curte tecnologia, ir para a praia e andar de ônibus, beleza.
Só que lembrando que o Tinder valoriza a imagem da pessoa. Então se ela não atende um padrão de beleza comum à sociedade, bem…
– Relacionamento é hoje algo de mercado desde quando a prostituição ganhou valor monetário :p Desde então, de dar um “dote” até “pagar para pegar uma pessoa descartada” é o que vem acontecendo :p
No 6tin do Windows Phone / 10 Mobile vc consegue voltar numa boa, que absurdo isso ser cobrado nas outras plataformas.
Ghedin, eu não tinha feito um comentário aqui? Tu apagou por que?
Tinha caído na moderação. Liberei.
Boa reportagem,não achei mt válida , porque no fundo no fundo eles não nos enganam , por exp, o lance do “Menu” , eles podem não te dar todas as opções possíveis pra sua vida, mas cara, é um aplicativo, ele te da as opções que ele tem , caso você não queira nenhuma, ninguém tá te obrigando a fazer oq o app sugeriu … Quando eu vou comer alguma coisa, já entro no Ifood com uma ideia de comida pra pedir , ele te da varias opções , facilitando assim sua vida, mesmo que não tenha todos os restaurantes da cidade, no final ele vai te satisfazer, pois vc vai acabar ganhando tempo , com a praticidade … Não acho que isso é enganar … Pois são enganações “bobas” que não vai prejudicar a sua vida … E nem todos esses Apps são produzidos por mágicos ou pessoas com esse objetivo,conheço várias pessoas normais que nem pensam nisso e criam Apps alheios …
Não é todo mundo que tem a “mente aberta”, e de alguma forma, não é que o app está te obrigando a aquela condição, mas que no app, a única condição disponível é aquela. Ou seja, as opções aqui são: ou você vai na opção que o app lhe dispõe, ou você procura outra forma.
O “ganhar tempo” aqui pode ser subjetivo, pois você pode ganhar tempo com a escolha de um delivery, mas vai gastar o tempo depois com jogos no Facebook ou o girar de dedos no Tinder, tudo isso para satisfazer seu ego e vontades.
Outra condição principal no texto é explicar que as empresas fazem de tudo para cativar sua atenção, mas não querem expor condições que você possa usar contra a empresa, como excluir sua conta por exemplo.
Não importa quem ou como, todos querem sua atenção na economia da atenção. É ingenuo ou eganoso dizer que “eles não nos enganam”…
o app só tá fazendo uma jogada de marketing, claro q ele tá tentando ganhar dinheiro,chamar sua atenção , é o dever dele fazer isso , todo mundo sabe , então não necessariamente te “engana” , é a mesma coisa de quando você vai num shopping ou num mercado comprar algo, e já tem coisas colocadas estrategicamente pra você levar, ou tem um joguinho pra passar o tempo (daqueles que vc coloca uma moeda… ), ou aquelas máquinas de chiclete pra chamar atenção de crianças para a loja … Ingênuo é achar que é só na internet que acontece isso ,pois na verdade isso nos cerca em qualquer lugar ,então Se isso é enganação, a nossa vida também é , porq sair da internet não vai te tornar menos manipulável .
Outro ponto principal do texto é justamente pedir (ou refletir) para que se evite justamente que as pessoas enganem-se entre si. Errei ao usar o argumento “ad-hominem” de tratar que uma pessoa ingenua não mereça crédito por pensar diferente de mim.
Não é qualquer lugar que é manipulavel, no entanto isso é mais ocorrido em onde há “dinheiro em jogo”.
A vida pode ser feita em alguns momentos de manipulações, mas se for possível criar movimentos para que justamente não exista mais manipulações, será ótimo.
Ir para onde você, eu e qualquer outra pessoa podemos entrar em um lugar e ter a certeza que não existirá formas de manipular nossas intenções, será um feito e tanto.
Vide o próprio Ghedin e este site. Enquanto muitos outros sites hoje fazem de tudo para que você siga as regras estabelecidas por eles em relação a uso e até pagamento ou propaganda, aqui há uma liberdade maior (apenas restringida ao uso de comentários que não agreguem ao site).
Em outros lugares, as opções que lhe restam é ou você entra, ou você não entra. E em algumas situações atuais, uma vez dentro, não é mais possível sair (vide novamente o texto do Ghedin).
Eu mesmo: tenho (?) o costume de apagar meu perfil de comentários quando me “invoco” com algo. Enquanto isso, em alguns outros sites, não posso apagar nem meu comentário, muito menos os textos que escrevi. Esse é outro ponto principal na discussão do Ghedin.
Pense sobre.
Outro ponto principal do texto é justamente pedir (ou refletir) para que se evite justamente que as pessoas enganem-se entre si. Errei ao usar o argumento “ad-hominem” de tratar que uma pessoa ingenua não mereça crédito por pensar diferente de mim.
Não é qualquer lugar que é manipulavel, no entanto isso é mais ocorrido em onde há “dinheiro em jogo”.
A vida pode ser feita em alguns momentos de manipulações, mas se for possível criar movimentos para que justamente não exista mais manipulações, será ótimo.
Ir para onde você, eu e qualquer outra pessoa podemos entrar em um lugar e ter a certeza que não existirá formas de manipular nossas intenções, será um feito e tanto.
Vide o próprio Ghedin e este site. Enquanto muitos outros sites hoje fazem de tudo para que você siga as regras estabelecidas por eles em relação a uso e até pagamento ou propaganda, aqui há uma liberdade maior (apenas restringida ao uso de comentários que não agreguem ao site).
Em outros lugares, as opções que lhe restam é ou você entra, ou você não entra. E em algumas situações atuais, uma vez dentro, não é mais possível sair (vide novamente o texto do Ghedin).
Eu mesmo: tenho (?) o costume de apagar meu perfil de comentários quando me “invoco” com algo. Enquanto isso, em alguns outros sites, não posso apagar nem meu comentário, muito menos os textos que escrevi. Esse é outro ponto principal na discussão do Ghedin.
Pense sobre.
Bom, no caso do iFood, eles ganham dinheiro em cima da tua compra, mas tente reclamar, ou entrar em contato com eles, caso algo não de certo, verá a dor de cabeça que é.
Não acho que isso é enganar … Pois são enganações “bobas” que não vai prejudicar a sua vida
Você se contradiz na mesma frase. E o objetivo do texto, são de apps que abrangem muitas pessoas, não aquele app feito pelo primo que vai ter 100 downloads.
Bom, no caso do iFood , eles ganham dinheiro em cima da tua compra, mas tente reclamar, ou entrar em contato com eles, caso algo não de certo, verá a dor de cabeça que é.
Troque iFood por Uber, AirBnb, Trivago, Decolar, etc…
O uber me é uma baita mão na roda e só me deu dor de cabeça no Rio… Pq os motoristas burlavam o atendimento…
Deletei o iFood. Geralmente precisava recorrer ao telefone por algum problema no pedido. E ainda pegando o gancho do artigo… Acredito que apps como o iFood só te colocam na zona de conforto fazendo você gastar mais, fazer escolhas ruins e, consequentemente, engordar :-/
Bom, onde moro, o iFood não tem opções saudáveis, mas na região também não existe demanda para tal, logo não tem como culpar a plataforma pela falta de opções mais saudáveis.
caraca, vcs exageram mesmo ein? Parece aqueles teoricos da conspiração paranóicos que acham que tudo ao seu redor é feito pra te destruir ou prejudicar, se é loko…. gastar mais??? porque? o ifood ta te obrigando a comprar alguma coisa nele? Tem algum funcionario invadindo sua casa enfiando pizza no seu c*???? Não, a única coisa que ele faz é pegar algo que já existia (delivery) e tornar mais prático, assim os restaurantes podem se cadastrar no app, daí quando vc quiser comprar alguma coisa, como faria normalmente pelo telefone, vc faz pelo app. Sem ofensa, mas vocês tão parecendo aquelas tiazona religiosa que acha que tudo é satânico e tudo tem um proposito malicioso por trás, daqui a pouco vão lançar um artigo: como Yu-gi-oh influência sua mente à adorar o capeta.
Tu tá atribuindo ao i-food a culpa do seu mal uso do mesmo?
A parte do autoplay também achei mancada. Se eu to vendo uma série, ao terminar um episódio a chance de querer ver o próximo é altíssima. É melhor pra mim e pra Netflix, pois não vou ficar perdendo tempo a toa.
Você está falando baseado em séries do Netflix. De fato para séries, o ideal é o autoplay sequencial da temporada. Mas para videos aleatórios do Youtube, que é a grande maioria, isso faz diferença. Você é induzido a continuar assistindo coisas que não pediu.
Mesmo na Netflix é mancada. Quantas vezes não ouvi (e já fiz, também) de gente que ia assistir só a um episódio e acabou emendando três, quatro ou até mais. Esse comportamento é direcionado, em parte, pelo autoplay.
Com certeza. Mas acho que ele estava dizendo que mancada foi o que você escreveu nessa parte. rs
O plex faz o mesmo
Me apresente uma pesquisa que prove que o autoplay de alguma forma induz a pessoa à assistir mais… onde que um botão de play automático pode influenciar algume de alguma forma??? e como você sabe que a pessoa mudou de idéia e e assistiu três eps a mais por causa do autoplay??? Você só lançou suposições e não sustentou nenhuma delas, não há nada para se refletir no seu artigo.
O autor layout impede a reflexão. Se vc junta episódios deixa de fazer uma pausa pra pensar pensar, inclusive de ver outra coisa… Esse estímulo a um ritmo ininterrupto de entretenimento é ruim no longo prazo.
Concordo.
Que baita artigo! Literalmente um soco no estomago. Obrigado por compartilhar conosco Ghedin.
Excelente texto.