🔗 Como o aplicativo Discord virou ferramenta para envolver adolescentes em um submundo de violência extremag1.globo.com

Reportagem chocante e bem destacada no Fantástico deste domingo (30/4). Não duvido que ela coloque o Discord e a nova direção errática do Twitter em evidência na semana de votação do PL das fake news.

(O famigerado emoji de cocô em resposta automática à imprensa apareceu em rede nacional.)

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18 comentários

  1. Eu uso uso bastante o Discord (embora não como os adolescentes no geral), então gostaria de compartilhar meu ponto de vista sobre o app:

    Discord não é tão diferente do Telegram e do que era o Whatsapp quando era o epicentro das redes de desinformação lá em 2018, mas há algumas diferenças especiais:

    A primeira é que grupos de apps como Whatsapp e Telegram são feitos de uma única “linha” de texto, já no discord é diferente, um “servidor do discord” (análogo para grupo) pode ter N linhas de texto e N linhas de voz, posso citar como exemplo meu “servidor” que fiz pra discutir desenvolvimento de jogos: “regras”, “geral”, “showcase”, “jogos-legais”, “offtopic”, “artigos”, “palestras”, “podcasts”, e uns poucos outros, eu também removi o canal de voz de propósito, apesar dessa quantidade, ainda é um servidor com poucos canais comparado a outros servidores que já vi.

    Isso é importante, porque as conversas se tornam fragmentadas e não mais centralizadas numa única linha, num servidor pequeno é fácil de acompanhar e moderar, mas num servidor grande (coisa de 10 mil, 20 mil membros) pode haver inúmeras discussões acontecendo ao mesmo tempo, e esses servidores (mesmo os pequenos) acabam se tornando redes sociais por si próprios, mas fechadas e só acessível por convites.

    Sendo sincero, servidores de discord são ótimos pro intuito original a que foram feitos: criar um grupinho pros seus amigos, e especialmente útil pra se reunir, bater papo, assistir alguma coisa e conversar enquanto joga on-line (que foi o motivo principal da criação do Discord, diante dos problemas do Skype), por isso os grupos são fechados e difíceis de entrar: era pra ser sobre algo pessoal entre você e seus amigos (você não quer um estranho entrando no grupo do nada né?).

    A coisa desanda totalmente mesmo em grupos maiores (novamente, coisa de 10 mil, 20 mil membros), mesmo na melhor das intenções, moderar um servidor grande é impossível se não houver um time dedicado de moderadores (mesmo de um de mil membros já é difícil), mesmo com todas as ferramentas enxutas de moderação oferecidos pelo app, porque é difícil de acompanhar todas as conversas, e quando se trata de voz, a tarefa se torna impossível, já que alguém da moderação teria que estar presente (e vale dizer que os canais de voz permitem ligar a webcam, é realmente uma chamada como no Google Meet), é nessas que a toxidade e abusos podem florescer, especialmente quando os moderadores se desgastam e no pior das hipóteses, desistindo (até mesmo o adm), deixando a coisa solta lá.

    Isso, como disse, na melhor das intenções; em grupos de abuso como reportados na reportagem, só dependeria do Discord em si, que já deixa claro nas “guidelines” de uso que podem tomar uma ação, mas só não tomam mesmo, porque não há sistema de moderação que dê conta de tanta coisa (embora eu suspeite que poderia dar, eu pelo menos acho cínico dessas empresas de tecnologia criarem IAs gerativas milagrosas pra substituir artistas, mas o mesmo “milagre” não acontecer com detecção de conteúdo violento).

    Enfim, eu diria que a “culpa” acaba sendo do Discord mesmo, que acabou preferindo se tornar o próximo Facebook durante a pandemia ao invés de um app de pequenos grupos, se esquecendo da dor de cabeça e das responsabilidades impossíveis de cumprir que vêm junto, mas também do setor de tecnologia que é negligente igual, e assim abrindo brechas do tamanho de uma cratera pra abusadores.

    Enfim, agora estou temendo pelo que acontece ou pode acontecer na rede Matrix…

  2. Vão proibir um monte de plataforma e vai ser de uma extrema burrice. Quem quer usar pra fazer merda, vai só ter o trabalho de usar VPN. O certo seria o trabalho de inteligência, se infiltrar nessas comunidades e pegar o pessoal. Mas dá muito trabalho, né. Proibirão e quando der algum problema, vão lavar as mãos , falando que fizeram o que estava ao alcance.

    1. Mas Faustini, este trabalho de inteligência já existe tanto das polícias quanto dos ativistas e jornalistas – senão nem tinha saído a matéria no Fantástico.

      Entendo que matérias assim servem para fazer a sociedade “abrir o olho” para a situação, e nisso a responsabilidade acaba “individual” ou “familiar”. Ou seja, pais agora tem autonomia melhor pois sabem o que e porque tal serviço não deveria ter seu filho ali.

      Entendo que a tua ideia é que depois desta matéria (e quem sabe de outras sobre outras comunidades – imaginem investigar fóruns de games ou de gearheads?), há o risco de a justiça censurar/bloquear (acho que é nisso que ele quer chegar, @Ghedin). E bem, é do jogo – a lei prevê isso, e fazer o quê se existe VPN e formas de burlar? Ao menso reduz o impacto pois quem não quer ter trabalho ou teme a lei, vai evitar usar.

      As empresas de tech estão colhendo agora o que plantaram durante décadas. Ou elas assumem as responsabilidades ou alguém vai assumir por elas.

      1. É exatamente isso. Meu receio é começar com coisa boa de ser bloqueada (sou contrário a existência de redes sociais), pra logo virar um padrão chinês, acabando com qq pensamento divergente.
        Molecada tá pouco se fudendo pra lei e talz, quem faz merda, vai continuar fazendo. É tipo maconha e aborto, quem quer, faz uso numa boa, e quanto melhor condição tem, mais tranquilo faz.
        E tipo, filho que chega nesse ponto ai da reportagem é filho de pais que tão nem aí pros filhos. Não vai ser uma matéria assim que vai abrir o olho de ninguém.
        Tenho uma filha de cinco anos, e minha obrigação como pai é saber o que ela consome e ver se é valido ou não, por exemplo. Mesma coisa conforme ela for ficar mais velha. Tenho de continuar acompanhando.

        1. Estamos tão longe de um “padrão chinês” que, me desculpe, mas esse tipo de comentário é quase nocivo por normalizar coisas que causam danos reais em pessoas por definição vulneráveis.

          Acho que ninguém espera que regular plataformas digitais vá acabar com crimes e barbaridades perpetradas por elas. Nem que proibir total é a solução. O que se busca é um mínimo de cuidado e de responsabilização, deveres óbvios, mas que as plataformas ignoram quando permitem que crianças se cadastrem — e elas conseguem saber quando são crianças usando seus produtos — e se articulem sem qualquer supervisão.

          O dever de cuidar de menores é dos pais, sim, mas não só. É ilusão achar que isso compete exclusivamente aos progenitores, ou que pais responsáveis blindam os filhos de quaisquer desvios. Até parece que sua filha, que qualquer adolescente, vai levar numa boa que os pais a acompanhem durante o desenvolvimento. Parte inerente de envelhecer é depender menos dos pais, é conhecer o mundo por outras perspectivas, e é por isso que a demanda por ambientes saudáveis deve ser coletiva.

          1. Mas qual o ponto onde se barra alguma coisa e é valido? Por enquanto são pra coisas que estão certas ao nosso ver, mas e depois? O meu grande receio é esse.
            Do jeito que está sendo feito é a apenas a forma mais fácil e menos eficaz de resolver um problema, como sempre é feito aqui em nossa terra. Vai virar um safespace total, já que vai ser bloqueado ao uso aqui e logo, a responsabilidade de passar qq dado, por menor que seja, vai ser nula.
            Hipoteticamente, volta um Gibeira da vida, dá um jeito de criminalizar pensamento de esquerda e aí o feitiço vira contra o feiticeiro.

          2. É justamente por isso que ninguém está falando em bloquear/proibir. O que se espera é colaboração.

            Não concordo com sua premissa de que “por enquanto são pra coisas que estão a nosso ver”, porque essas coisas evidentemente não estavam no radar dos pais, dos professores nem de ninguém. Num nível extremo, sim, sempre haverá um lugar onde é possível fazer o que se queira fazer; essas ferramentas, porém, facilitam o encontro com estranhos e a criação dessas dinâmicas. Devem arcar com responsabilidades à altura desse poder que concede a qualquer sem muito critério.

            Eu geralmente evito fazer analogias entre digital e físico, mas talvez caiba uma aqui para ilustrar minha posição: se houvesse um endereço físico que recebesse menores para que eles fizessem essas mesmas coisas lá (automutilação, abuso sexual e psicológico, maus tratos a animais), a responsabilidade seria só dos pais em não deixarem seus filhos frequentarem tal lugar?

            Ou melhor: se fosse um amplo espaço, com muitas salas e para diversas finalidades, a maioria delas lícita/saudável, mas em algumas tais atrocidades estivessem acontecendo, não exigiríamos que esse local tivesse mais critérios e colaborasse com as autoridades?

        2. Creio que muito do que estamos comentando já tem pontos em outras discussões que tivemos – destaco a sobre Jogos e Violência, na qual o Greg trás um ótimo comentário

          A responsabilidade de garantir que as crianças tenham uma infância plena e uma educação cidadã é de todos nós.

          Você não está errado da sua responsabilidade como pai. Mas também eu tenho responsabilidade em ajudar a que você não tenha problemas com conteúdos que possa prejudicar sua filha. Ou seja, eu não posso criar conteúdos que façam mal a crianças e adolescentes. E quando eu acabo vendo conteúdos assim, reportar e achar formas de combate-lo.

          A questão chinesa não entendo, mas ao que noto, é bem questão de cultura feita por lá – o “partido” ajudou a consolidar uma cultura que hoje é difícil de ter quem é contra dentro do país. Só que aí é uma discussão diferente que nem eu (e não sei se você) tenho (ou temos) capacidade de entender e botar em debate.

          Estamos em um país que não é a China, e que tem problemas morais e ao mesmo tempo problemas culturais, dado justamente a influência de pessoas com comportamentos tóxicos (como lideranças políticas, inclusive), e que transformam estes comportamentos tóxicos em um valor de atenção. Pessoas não se matam ou mutilam a toa – e isso é um assunto delicado que espero ver melhor tratado com especialistas da área.

          Se a gente ao menos tem capacidade de discutir como evitar, já é um valor. Se puder impedir, ótimo. Como? Não a toa discutimos. Prefiro ter a possibilidade de discutir como enfrentar do que já deixar para uma “autoridade” combater sem discutir e depois a própria “autoridade” interferir em outros assuntos, aí sim gerando censuras sem controle.

          1. Mas ai, acho complicado demais. Quem decide o que é bom ou não é pra minha filha? Em ultima instancia teria de ser eu.
            Por exemplo, a uns anos atrás iluminados decidiram que não era pra ter propaganda de produtos infantis na tv aberta, o que matou a programação pra crianças sem condições de assistir outra coisa. Na melhor das hipóteses as jogaram pro youtube, onde o conteúdo infantil é pavoroso de ruim e a venda de produtos dos produtores de conteúdo é 20 vezes mais agressiva do que a forma que era feito na tv aberta, vide excrecências como Maria Clara e JP, Lucas Netto e afins.

          2. Bom ponto ter lembrado da questão da TV Aberta, Faustini. E você não está errado na lógica. Só que tipo, ao menos o Google criou o YouTube Kids, que ajuda um pouco a mitigar os problemas – se bem que fui ver este dias e não sabia que quando chega na classificação de pré adolescente, aí aparece os “gameplayers” e os “conteúdistas” tipo Lucas Netto.

            A propósito, seria interessante ver já tem legislação prevista para este tipo de conteúdo, senão, a PL da Fake News poderia ter aproveitado o passar do trem para aprovar isso também.

            O gozado é que a programação midiática para crianças geralmente é planejado para vender produtos – difícil ter conteúdo só feito para ser um conteúdo educativo – até porque a imagem de um conteúdo pode render empatia a ponto de ser “comercializavel”.

            Enfim, a lógica sua não está errada. O ponto é como tratar de todas estas camadas. Aí volta ao primeiro ponto, sem uma regulação bem definida, vamos ficar enxugando gelo ameaçando e bloqueando para depois voltar e nisso virando um ciclo.

          3. @ Alexandre Faustini

            Quem decide o que é bom ou não é pra minha filha?

            Claro, você tem discricionariedade nesse assunto, mas mesmo isso não é absoluto. Acho que concordamos que submeter uma criança/adolescente a tortura psicológica, levando-a a se mutilar, matar animais e a se expor sexualmente, é bem errado.

            Na hipótese de alguém achar que não tem problema o filho ou a filha se engajar nessas ~atividades, existem leis que protegem a criança de pais/responsáveis tão perigosos.

            Os artigos 4º e 5º do ECA não deixam dúvidas de que a responsabilidade pelos menores é comum, de todos, e que o bem-estar da criança está acima dos direitos paternos/maternos — a perda ou a suspensão do poder familiar (da “guarda” da criança) estão previstos na mesma lei, nos artigos 22, 23 e 24.

            Determinar qual programa de TV infantil sua filha vai consumir é algo, em condições normais, da total responsabilidade dos pais. Determinar se a criança pode frequentar ambientes que expõem ela a traumas e abusos de todo tipo, não.

          4. O youtube Kids não faz lá muita diferença não. Uma interface diferenciada e uns filtros pré-feitos.
            Eu não vejo problemas em vender produtos junto com conteudos infantis. Alguém tem que pagar a conta. O problema é como isso é feito. Passamos de propagandas de 30 segundos a videos de 10, 15 minutos só vendendo de forma disfarçada os produtos. Ainda mais que são videos ruins…kkk
            Por incrível que pareça, evitamos ao máximo que ela veja youtube e ao invés disso, ao assistir tv, ela vê muito canais a cabo infantis (tipo Cartoonito e Discovery Kids). Eu reparei que até essa forma de ver a deixa até mais tranquila. Acho que a recompensa imediata que youtube e netflix dão deixam as crianças mais ansiosas.
            Mas mesmo assim sou contra mais essa regulamentação, que ia piorar novamente a situação. Na maioria das vezes, nunca resolvem nada, como nesse caso ou os Tipper Stickers lá nos EUA, que viraram mais uma propaganda do que uma proteção. Criamos nossa filha pra não ser uma criança pidona e consumista, e ao invés de proibir propagandas e afins, tem de se criar pras propagandas terem menos efeitos.

          5. Uma coisa que me veio a mente é que a única emissora de tv aberta que tem programação infantil é a Cultura (e os canais educativos). Salvo engano a TV Brasil também tem, mas abastece-se pela Cultura também. E em tempos, a Cultura tem parceria com o YouTube Kids para o desenvolvimento de programas.

            (Depois preciso pegar umas dicas, pois estou pensando como ajudar uma escola a rodar o Youtube sem propagandas em uma TV Smart :p )

            Um ponto também é pensar, como bem colocado pelo Ghedin, como regular certos aspectos públicos. Em uma condição ideal, não precisaríamos discutir isso. Mas dado a situação, é mais que necessário.

            Veja, imagina se o Ghedin ia me permitir jogar um vídeo aqui no Órbita onde estou mergulhando em um poço de lama (e incentivando criança a fazer isso)… :p Desde quando permitimos “as banheiras de Nutella”, parece que as coisas vem destrambelhando. Vide o funk. Começava com músicas de duplo sentido, mas até que divertidas. Hoje as músicas são diretas e incisivas. E inclusive ouvidas por crianças.

            Quando os programas dos anos 80 e 90 começaram a destrambelhar, foi quando começou as legislações que combateram tais abusos.

            Meio que estamos repetindo o passado, se analisar…

          6. A Cultura tem uma programação excelente. Mas acho que não é em todo lugar que pega com sinal bom.

            Eu vejo sem propagandas pelo Premium. Não sei se bloqueando DNS direto no roteador consegue tirar as propagandas.

            Desse link que você botou aí, pouca coisa é coibida pela legislaçao atual. Fora as fake news no texto. Por exemplo, Xuxa Hits e principalmente Milk Shake (que foi praticamente um sucessor do Cassino do Chacrinha), eram programas de música, não programas infantis. No Milk Shake tem até o saudoso Ademir Lemos fazendo ode ao energético do Maradona. Além de botar o Ratos de Porão como se fosse algo sujo e absurdo.

            Sobre replicar o passado a história sempre se repete, mas como farsa…kkk

            Só de curiosidade. Se na PL das Fake News colocarem um jabuti que criminaliza a burla de paywalls de qualquer espécie, no outro dia, todo o conteúdo feito aqui sobre o tema seria excluído?

          7. Se botarem esta questão de proibir “sistemas anti-paywall”, das duas uma: ou vira “lei morta”, pois é difícil de investigar e o máximo que será feito será as empresas de tech tirarem as extensões de seus webshops e sites desbloqueadores das buscas. Ou vão permitir que usem sistemas mais fortes de paywall (já existe).

            Seria lei morta de qualquer forma pois isso entraria em conflito com conceitos jornalísticos tipo “clipping” (quando jornais copiam notícias para resguarado / arquivo ou anexo a outras matérias abertas).

            Mas voltando a PL, o ponto aqui maior é que provavelmente a ideia é que as notícias verdadeiras prevaleçam. E que se valorize os profissionais jornalísticos (vide o fato que tem previsto remuneração de jornalísticos na lei).

            Enfim, agradeço o debate. :)

    2. As proibições não são para impedir os usuários de conversar na plataforma, são uma punição para redes que não cooperam com a justiça