Marketplaces de NFTs tornam opcional comissão no mercado secundário.
Uma das principais promessas do mercado de NFT era a de que os artistas ganhariam comissões nas negociações do mercado secundário, ou seja, de vendas feitas após a inicial.
Só tem um problema: as comissões/royalties não estão previstas na blockchain e, dada essa discricionariedade, vários marketplaces passaram a isentar os negociadores da comissão ou torná-la opcional.
Para ilustrar a situação, na x2y2, um dos marketplaces que adotaram a comissão opcional, em apenas 18% das compras de outubro os criadores receberam comissão.
A OpenSea, maior marketplace de NFTs do mundo, está prestes a adotar uma política que banirá marketplaces rivais que não obrigam ao pagamento das comissões. Só que isso valerá apenas para novos NFTs. Os antigos estão num limbo e os artistas, com razão, impacientes com a situação. Via Decrypt (em inglês).
Uma provocação à quem pensa que NFT cria valor do nada…
Existe um valor intrínseco às coisas ou depende da validação humana (da sociedade)? Um diamante tem valor? Se não existir um ser humano na face da Terra disposto a pagar um centavo por ele, ele vale alguma coisa? Mas alguém poderá dizer que o diamante tem alguma utilidade e por isso tem um valor… tem mesmo? Qual é a utilidade de um diamante?
Qual a utilidade de uma bolsa Gucci? Carregar coisas, dirão alguns… Mas então a bolsa Gucci é 1000 vezes mais útil que uma bolsa sem marca para justificar o valor dela?
Qual a utilidade do NFT? Não importa… o valor dele é quanto estão dispostos a pagar por ele…
A questão é que o NFT se vende como algo finito quando, na realidade, é algo replicável infinitamente — pois digital. (Não à toa os preços de NFTs estão despencando; é um negócio insustentável.)
Abordei esse paradoxo com mais profundidade nesta coluna.
Não sei se foi uma pergunta retórica, mas diamantes tem muitas utilidades.
https://allusesof.com/earth/50-important-uses-of-diamonds/
Foi tendo em mente apenas os diamantes para “ostentação”…
Quando as criptomoedas foram anunciadas como “forma de troca monetária pelo mundo sem burocracia”, até achei interessante a ideia no começo. Na prática, ela se mostrou apenas uma forma especulativa de ganhar dinheiro enganando pares.
O NFT não é diferente: ele ilude a pessoa falando que aquilo “não é copiável”, mas ele é. O que daria as condições de “ser original” é apenas um código de computador em um servidor. Tal como uma escritura em cartório de um terreno – e mesmo assim ambos são passíveis de fraudes ou questionamentos. A diferença também é que um terreno é tangível real: você pode ir lá, construir, demolir, etc. Questionar a propriedade é algo que entra no passo político – eu não posso ir onde você mora hoje e falar que a sua casa é minha, a não ser que eu seja um fraudador.
Um NFT é apenas uma imagem ou vídeo com um certificado digital. E só. Se houver uma cópia sem o certificado digital, outra pessoa verá o conteúdo, e provavelmente estará salvo no computador / celular dela. E só.
Se dá dinheiro, etc… isso tudo é passo político. Se teoricamente o NFT / criptomoedas funcionasse como forma de igualdade social, seria legal. Mas não é assim. O que dá igualdade social é o M-Pesa e (em partes) o Pix.
Ou seja, assim como as criptomoedas, os benefícios alardeados aos quatro ventos para legitimar o que não passa de uma ferramenta sofisticada de especulação financeira, não passam de engodo.
Criptomoedas, NFTs e agora os “terrenos no Metaverso”… O que mais o capitalismo vai inventar para continuar criando valor do nada? Mas o que chama atenção é que sempre tem alguma justificativa “do bem”, que no fim não entrega uma fração do que promete.