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Facebook e Instagram são paraísos para golpistas, revelam documentos internos da Meta

A Reuters jogou luz no lucrativo negócio da Meta baseado na venda de anúncios fraudulentos em suas plataformas — Facebook e Instagram. Documentos internos da empresa obtidos pela agência de notícias mostram que 10,1% da receita da Meta em 2024, ou US$ 16 bilhões, veio de anúncios fraudulentos, de golpes digitais.

Um documento de dezembro de 2024 mostra que a Meta veicula em média 15 bilhões de anúncios fraudulentos por dia. Eles se somam a 22 bilhões de conteúdos suspeitos “orgânicos”, aqueles sem impulsionamento/pagamento, que vão de perfis hackeados oferecendo esquemas de criptomoeda à promessa de curas milagrosas em grupos, passando por anúncios falsos no Facebook Marketplace.

Nick Heer fez uma conta simples, com base nos 3,5 bilhões de usuários que a Meta alega ter, para chegar a um número alarmante: cada pessoa que usa o Facebook e/ou o Instagram vê 10 conteúdos fraudulentos em média por dia.

Para piorar, o sistema de recomendação algorítmica da Meta faz com que alguém predisposto a cair em golpes seja bombardeado com mais conteúdo e anúncios suspeitos.

Dado que é impossível bloquear anúncios no Facebook e no Instagram, não seria loucura tratá-los todos, a princípio, como suspeitos. E do lado dos anunciantes legítimos, que ainda se creem dependentes da Meta para fazer negócios, levar em consideração a pecha (que, como se vê, é justificada) de que as plataformas da Meta, Facebook e Instagram, são paraísos para golpistas e talvez um risco reputacional.

A Meta é o caso exemplar da “bostificação” (“enshittification”) de que fala Cory Doctorow, segundo ele mesmo. “A depravação e a ganância da Meta diante de fraudes e golpes horríveis em suas plataformas é de tirar o fôlego.”

Em entrevista ao podcast Decoder por ocasião do lançamento de livro em que trata do fenômeno que batizou, Sarah Jeong pergunta a Cory qual “o exemplo mais icônico de enshittification”, no que ele responde “Facebook”.

A entrevista é anterior às revelações da Reuters.

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A reportagem da Reuters, assinada por Jeff Horwitz, é recheada de outros dados assustadores:

  • A equipe responsável por vetar anúncios fraudulentos tinha uma diretriz para não afetar mais do que 0,15% da receita da Meta, ou US$ 135 milhões de US$ 90 bilhões no primeiro semestre de 2025.
  • Denunciar anúncios fraudulentos é inútil: em 2023, das +100 mil denúncias válidas feitas semanalmente, 96% era ignorada ou rejeitada incorretamente.
  • A tolerância a anunciantes golpistas é enorme: os pequenos podem ser flagrados até oito vezes antes de serem banidos; para os grandes, nem mesmo 500 irregularidades são suficientes para a Meta agir.
  • Os sistemas automatizados de moderação só barram anúncios que atingem 95% de certeza de serem fraudulentos. Em níveis menores, a Meta cobra mais (em outras palavras: fatura mais) para veicular tais anúncios.
  • A Meta estima que as multas pela leniência com anúncios fraudulentos seriam menores que a receita gerada por eles. O crime compensa também para o intermediário.

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Em paralelo, uma pesquisa do Projeto Brief no Brasil, em cima da biblioteca de anúncios da própria Meta, revelou que mais da metade (52%) dos anúncios que mencionavam a palavra “empréstimo”, veiculados em setembro de 2025, apresentavam indícios de fraude. Do total, 9% eram golpes confirmados.

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O acórdão (*.pdf) do Supremo Tribunal Federal (STF) que torna o artigo 19 do Marco Civil da Internet parcialmente inconstitucional, publicado na última quarta (5), atribui a responsabilidade presumida às plataformas a prejuízos decorrentes da veiculação de conteúdos ilícitos de terceiros que tenham sido impulsionados (pagos). Em seu relatório, o ministro Luiz Fux argumentou que:

Nestas hipóteses, penso ser necessário reconhecer a possibilidade de responsabilização civil das empresas provedoras de aplicações em todas as situações em que houver lesão a direitos, individuais e coletivos, de terceiros. A obtenção de lucro direto que advém do serviço de publicidade prestado pelas plataformas digitais justifica que se lhes imponham ônus mais elevados de verificação dos conteúdos.

A tempestividade (ou coincidência) da reportagem bombástica da Reuters é digna de nota. Estou curioso para saber como — e se — ela repercutirá por aqui.

Em tempo: falei umas abobrinhas a respeito desse acórdão no renovado podcast do Manual.

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4 comentários

  1. me mudei durante a pandemia e estava comprando muitos eletrodomésticos para a casa nova. a cada compra, eu via uma quantidade sem fim de anúncios similares de golpe no instagram, com preços irreais. sempre denunciava. os anúncios eram grotescos. para alguém formada em publicidade, estava na cara que a maioria era golpe. não por coincidência, quando eu buscava a página que veiculou o anúncio no facebook, os donos golpistas eram sempre bolsonaristas, cloroquiners, gente muito ignorante (mas não boba). hoje estão aí contra a regulamentação das plataformas digitais, e dá pra entender bem o porquê.

  2. Direto sai alguma notícia/denúncia do tipo contra o Facebook e nunca acontece nada… Too big to fail?

  3. Outro dia um cliente recebeu uma guia de pagamento de imposto falso. Por curiosidade tentei fazer o pagamento para descobrir quem seria o verdadeiro beneficiário e para minha surpresa era um boleto emitido pelo Facebook!

    Aparentemente era um boleto que daria créditos para usar na plataforma de anúncios deles. O golpista usaria o pagamento para comprar mais publicidade para alavancar outros tipos de golpes.

    Como bem se aponta, o Facebook é conivente porque se beneficia e muito de toda a cadeia criminosa.

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Atualizado em 17/11, às 14h10.


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