Então você quer ter um site…?
Para quem passa algum tempo em cantos esquisitos da internet, como o Mastodon ou este Manual do Usuário, exaltar a web é prática recorrente. “Saia do Instagram, faça um site”, alardeamos a quem nos dá ouvidos, com aquela esperança que não sei se de alguém ingênuo ou que se sabe iludido.
Tenho pensado na hipotética pessoa comum, insatisfeita com o Instagram e/ou o TikTok, que decide seguir o conselho. “Certo, é isso que eu quero: vou fazer um site!”
Por onde ela começa? Quais dificuldades enfrentará? Quanto terá que gastar? Vai conseguir publicar seu primeiro “Olá, mundo!” antes de desistir e voltar com o rabo entre as pernas ao Instagram?
Sinto que estamos gastando muita energia na promoção da web e nos esquecendo de como viabilizá-la a pessoas que não sabem o que é git ou HTML e nem querem saber. Abrir uma conta no Instagram é grátis e exige três cliques — bilhões de pessoas conseguem, literalmente.
Como faz para criar um site, ou um blog?
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É possível fazer um recorte de dois tipos de sites, os dinâmicos e os estáticos.
O do Manual é o chamado dinâmico, com um sistema complexo (WordPress) que faz… coisas no servidor (o computador onde ficam os arquivos), o que me permite atualizá-lo dentro do próprio site, em uma área restrita, em uma espécie de Google Docs, só que (ainda) mais feio.
Ninguém (ou quase ninguém) cria um site desses do zero. Seria reinventar não apenas uma roda, mas uma roda super complexa. Além disso, o WordPress é gratuito e tem o código aberto.
É preciso, porém, instalar e gerenciar o WordPress. É bem mais fácil fazer isso do que ~inventar um sistema desses, mas tais tarefas estão longe de serem óbvias, ou simples. A título de comparação, é um trabalho que as redes sociais comerciais abstraem dos usuários.
Felizmente, dá para terceirizar a instalação e o gerenciamento de um site. (Se dependesse de mim, aliás, o Manual provavelmente já teria tido uma falha catastrófica.) Existem hospedagens gerenciadas, que lidam com toda essa parte mais técnica. No meu caso, uso o WordPress.com da Automattic.
Aí é só escrever, certo? Sim. Pode ser no WordPress ou em um dos vários rivais da Automattic — Squarespace, Wix, Ghost, Webflow, mmm.page…
O “porém” desse caminho é que você terá que botar a mão no bolso para ter uma experiência decente. Em serviços que oferecem plano gratuito, como o WordPress.com, era melhor que não oferecessem: há anúncios em excesso e funcionalidades de menos.
Quanto custa? Em março de 2025, o plano mais básico do WordPress.com custa R$ 31/mês ou R$ 12/mês em um contrato anual, pago em uma parcela (R$ 144). Considere, ainda, o gasto em um domínio próprio (R$ 40/ano para os .br), o que é importante pela apresentação e para não ficar preso ao serviço. Ter um domínio te garante autonomia para “trocar o motor” do seu site sem perder os links e o tráfego que você conquistou.
É barato, sim, mas talvez os ~R$ 20 mensais saia caro para alguém que ainda não tem certeza de que se comprometerá com o site, que só queira experimentar ou ter um blog como hobby.
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O outro tipo de site é o chamado estático. Tem esse nome porque, ao contrário do dinâmico, não acontecem… coisas no lado do servidor — este só entrega arquivos do jeito que são a quem acessa o site, sem processá-los, sem eventos definidos pela programação do site.
É tão barato e descomplicado (do lado do servidor) que não é difícil encontrar boas hospedagens gratuitas. GitHub e Cloudflare são dois exemplos. (Meu site pessoal está hospedado na Cloudflare.)
A fim de facilitar atualizações e alterações em sites estáticos, existem aplicações que automatizam a geração do mesmo. Jekyll, Hugo, Eleventy… Eles criam algo parecido com regras pré-definidas (este cabeçalho vai em todas as páginas, por exemplo) que são executadas ao rodar um comando no terminal (a tela preta com letrinhas brancas dos ~hackers) para gerar um diretório com o site inteiro, pronto para ser enviado à hospedagem.
Os já citados GitHub Pages e Cloudflare Pages funcionam melhor se o seu site estiver conectado a um repositório do git. Não entrarei em detalhes do git porque na maior parte do tempo eu não sei muito bem o que estou fazendo, só sei que no fim dá certo.
Se você nunca escreveu uma tag de HTML, tenho certeza que eu te perdi há uns dois ou três parágrafos, muito antes do git.
E esse é um grande problema.
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Fazer um site não é tão difícil. Um site simples, “meio capenga? Diria que é fácil. Dá para fazer com o Bloco de notas, até.
Quando a internet ainda era movida a manivelas, a web era rainha e nela predominava o texto escrito. Mesmo com a chegada dos sites interativos da “web 2.0”, no início dos anos 2000, o texto escrito ainda prevalecia porque vídeos eram (e ainda são) bem mais pesados.
Foi nesse contexto que muita gente aprendeu a criar sites, mesmo sem saber que estava aprendendo. Gente que queria personalizar seus perfis no MySpace, blogs no Blogger; que queria homenagear suas bandas favoritas e expressar interesses pessoais no Geocities, no hpG.
Havia incentivo (vontade de se expressar) e circunstâncias favoráveis (tempo livre e falta de alternativas mais atraentes e/ou fáceis). Hoje a molecada só quer saber de Roblox, Fortnite e TikTok. *Levanta o punho e brada impropérios a nuvens inocentes no céu*
Não as culpo; longe disso. Porque, convenhamos: transformaram a web em um lixão. Sites limpinhos e escritos por pessoas, como este Manual, são exceções. De um jeito infeliz, a web é o metaverso que deu certo, um ambiente virtual saturado pela sanha extrativista do capital, uma vitrine de anúncios ou funil de vendas, e só.
Apesar disso, eu ainda gosto daqui, da web. E continuo incentivando as pessoas a criarem sites pessoais. Amadores, esquisitos, talvez um site seja o “conteúdo” mais humano que um “criador” possa fazer no digital.
A imagem do topo é do primeiro site publicado por Tim Berners-Lee. Ainda está no ar.
Me perdi um pouco quando começou a parte sobre sites estáticos, mas sigo curiosa. Sou uma zero à esquerda em coding e tudo que envolve a estrutura da web, mas me interesso muito em pensar a internet como uma rede no sentido mais real do termo. Talvez por isso eu me atraia tanto por sites que tenham pessoas reais por trás, mesmo que “feios”, pouco lidos ou completamente fora dos algoritmos. O conceito de jardim digital e tudo o que orbita essa ideia também me fascina.
Mas me vejo numa emboscada: o Instagram parece ser a única solução, especialmente comercialmente, para que meu trabalho cresça e apareça. E isso me incomoda, porque de certa forma vai contra a natureza do meu trabalho, da minha pesquisa e do que acredito.
Sou artista visual. Trabalho com imagens, mas não como um designer, ilustrador ou publicitário. Eu questiono imagens. Mastigo as que se formam na minha cabeça e as coloco no mundo carregadas de perguntas. Para mim, ser artista e fazer arte é isso: desorganizar a forma como vemos o mundo, deslocar referências e abrir um abismo de possibilidades imaginativas.
E então vem a pergunta: como isso se traduz num site?
Na adolescência tive blogs, fotologs, páginas improvisadas. Nunca soube codar, mas os tutoriais sempre me salvaram. Agora, me vejo numa transição forçada da slow web para o Instagram, porque toda minha bolha de trabalho está lá. É onde podem me acompanhar e atestar com um toque num coração (o like) que meu trabalho existe e vale algo. Afinal, no Instagram, uma imagem fala mais do que mil palavras.
Mas e se eu quiser voltar? Se eu quiser criar um site slow web, com imagens, um espaço que conecte um blog, um jardim digital e um arquivo de imagens, onde tudo converse entre si? Como as imagens são tratadas nesse universo? Como um artista ignorante de HTML pode fazer isso acontecer?
Aqui é meu site empoeirado, querendo ser bagunçado por dentro e polido por fora e que, a. muito custo, chegou a esse formato e já estou cansada, sem tempo de o atualizar: https://causilva.com/
E aqui um jardim digital, que parece mais uma estufa de sementes, pois nada dele cresceu ainda e eu mal o rego: https://publish.obsidian.md/soft-collapse/Notes/welcome+to+soft+collapse
Ótimos questionamentos, Cau!
Meu conselho é para que aprenda HTML e CSS. São linguagens de marcação, ou seja, são “óbvias” — o que é declarado no código acontece no navegador, sem depender de operações ou lógica. Tem muitos cursos e tutoriais gratuitos por aí. Se inglês não for um entrave, este parece bem legal.
Esse conhecimento é bem útil para explorar o potencial da web. A newsletter Naive Weekly destaca, todo domingo, várias coisas ~artsy feitas na web.
E em relação ao Instagram, acho que virou uma vitrine mesmo. O que me ajuda a ignorá-lo é pensar o Manual como uma coisa não comercial (apesar de ser meu ganha-pão). Isso tira a urgência de divulgá-lo, tira até a necessidade, eu diria, o que tem seu lado ruim (não é tão grande ou rentável quanto poderia ser), mas me dá uma paz que acho que não teria se me preocupasse com isso.
Acho de extrema relevância discutir essa questão de ter uma página própria, não estar suscetível às atrocidades das redes sociais, eu mesmo sempre flerto com a ideia de fundar um blog/jardim digital… mas na real o grande impasse é que dificilmente algum visitante vai estar religiosamente acessando o seu blog obscuro pra acompanhar eventuais atualizações. Nem falo de ganhar dinheiro com clique, mas simplesmente de não falar com a própria sombra…
Nesse aspecto, tenho visto o Substack e o Medium como um meio termo entre os blogs e as redes sociais – ainda que também tenham vários problemas. Pelo menos nessas plataformas existe uma coesão interna que permite que as pessoas leiam e escrevam e, nesse mesmo ambiente, permaneçam acompanhando os blogs/newsletters que mais interessarem, sem a presença do algoritmo e do conteúdo tóxico das grandes plataformas.
Não sei se quem está em busca de criar um jardim digital tem essa questão com o ser lido.
Claro, que se for lido é mais legal, mas ao mesmo tempo tem a questão de ter seu espaço próprio de alguma forma.
Falo por mim, claro, que venho ao longo do tempo mexendo, atualizando e colocando coisas novas naquele espaço. E somente esse ano que realmente trouxe meu blog para lá.
Aliás, o blog que eu tinha ficou parado em 2010. Por algum tempo não escrevi nada e depois passei a escrever em blocos de nota e deixar no app de anotações. Agora que criei o blog no meu cantinho venho recuperando esses textos todos e colocando lá aos poucos.
Concordo com o que você disse sobre Substack e Medium ser o meio termo. Porém ainda acho que é sempre melhor ter sua página própria.
No meu caso eu não me importo se alguém vai ler ou não. Tendo um site próprio, eu sou o responsável se aquele conteúdo vai estar disponível no longo prazo. Ao colocar o conteúdo nestas plataformas, eu não sei se elas estarão aí no futuro. Então é por isso que prefiro colocar as coisas debaixo do meu próprio domínio.
Se a preocupação é se você vai ter seu conteúdo lido ou não, minha sugestão é usar estas plataformas mas fazer o crossposting, isto é, coloca no seu site, e também publica uma cópia nestas plataformas. Na indieweb isso é chamado de POSSE.
Loucura achar esse post logo depois de passar o dia inteiro subindo meu blog num domínio antigo, justamente com a premissa de sair do instagram e ter uma experiência mais autentica na internet, com menos algoritmos me influenciando. Millenials unidos no pensamento nostálgico parecido.
por curiosidade a quem interessar: nildo.blog.br
quero implementar comentários e dar uma modificada nuns elementos visuais. ta sendo muito bom voltar a brincar com isso
Parabéns pela iniciativa. Já assinei o seu feed. Aguardo os próximos posts. Abraços
Eu adorava a época dos blogs. Nunca fui de escrever, mas acompanhava alguns, principalmente de comida: Neide Rigo, Marisa Ono, Receitas de Minuto da Gi Souza.
Vi algumas formas para criar blogs, mas sinto que não há uma preocupação em traduzir todo o template para português, por exemplo, next post para próximo post.
Outra questão é a parte dos comentários, deixar aberto para ter discussões ou fechar evitando assim as mensagens de spam / golpes.
Rodrigo, bom dia.
Fiquei com uma dúvida: vc poderia detalhar como é seu uso do Wordpress.com? Vc usa plugins? Qual o plano que você usa? Ou vc fez o site e apenas hospeda no Wordpress.com?
Agradeço a atenção. Parabéns pelo site!
Claro! Uso o plano Negócios, que dá direito ao uso de plugins, temas próprios e até acesso via SSH/SFTP. É, para todos os efeitos, uma hospedagem comum, com alguns detalhes (Jetpack é obrigatório, por exemplo). É uma boa hospedagem e tem um custo-benefício excelente.
Uso um tema próprio, criado em cima do _underscores. O código é aberto; está no nosso repositório. A lista de plugins é bem enxuta. Depois posso te passar aqui, se tiver interesse. Evito-os ao máximo e, nesse sentido, funções dentro do
functions.phpdo tema ajuda bastante.Show. Muito obrigado!
Tenho interesse sim na lista de plugins
Mas tenho uma outra dúvida: por que você considera um ótimo custo benefício?
Por ser barato e de ótima qualidade. No plano anual, sai R$ 83/mês com 50 GB (uma regressão; quando contratei meu plano, davam 100 GB), sem limites de tráfego ou de outros tipos.
Guedin, fica uma sugestão
Uma vez por mês você poderia criar um post aberto de links de blogs pequenos, pra gente “recriar” uma blogosfera rs
Não é o mesmo que um post aberto, mas tem o Lerama, no PC do Manual.
A galera cadastrando o blog permite o contato de outras pessoas.
Eu pessoalmente acesso o site pelo menos uma vez na semana, até mais, pra acompanhar o pessoal que cadastrou o blog. Tem muita coisa bacana.
Ótima ideia!!
É uma boa! Eu tenho pensado nisso, sabe? Acho que o Lerama, que o Pedro indicou, é um excelente ponto de partida. Há poucos dias, sugeri ao Renan Altendorf, criador do Lerama, para gerarmos um super feed RSS de todos os blogs cadastrados no Lerama. Isso abrirá algumas possibilidades de fomento aos blogs cadastrados, como perfis em redes sociais que divulgam novos posts.
Isso é bem interessante o bearblog tem essa função e até assinei o feed dele de blogs em pt-br pra ver o que aparece.
Eu já pensei em comentar isso com você, Ghedin, mas achei que acessar o Lerama também é interessante, mas eu assinaria esse feed.
Bom dia! Queria dicas para começar um blog
Eu vi o blogger e o WordPress, mas existe um lugar mais clean? Aceito sugestões
Eu descobri a pouco o bearblog, que parece ser bem simples de usar.
Eu cogitei ele antes de me embrenhar na saga de criar meu blog na mão via jekyll. Não usei porque preferi sofrer e fazer na mão. O processo foi sofrido-e-divertido.
Dê uma olhada no Bear Blog e no Mataroa. Tem uma matéria aqui no Manual a respeito deles. São bem “clean”.
Há muito tempo eu tinha um blog pessoal no Blogger e ainda mantenho outro lá meio morto-vivo sobre livros.
Já tem alguns anos que eu tenho um site sitezinho que funcionava apenas para ter um lugar para dizer quem eu era profissionalmente. Eu já tinha um dominio que peguei pra ter um email próprio, apesar de usar como alias do Gmail, foi malz… 😬
Aí tem uns meses eu animei em ampliar o site e fui atrás de criar um blog em jekyll e sem saber nada, com ajuda de buscas e algumas interações com IAs, meu irmão e umas olhadas no diretório do Ghedin eu criei meu blog que já tá funcionando bem.
Pra mim é um passatempo, ir mexendo nele, melhorando o uso, adicionando coisas, mexer no css.
Eu hospedo o netlyfi, foi o que me dei melhor na hora de configurar a hospedagem e os arquivos estão no github, eu nem sei se é o pages, acho que não.
Apanhei, mas foi divertido e escrevo mesmo só pra mim, acho.
Estou nessa de voltar a ter um local meu na internet também acho que é importante, cansando não de rede social, mas de algoritmos e feeds infinitos.
Por incrível que pareça, tem pessoas que mexem com construção de site e que só sabe usar algum framework em javascript, esquecendo a “simplicidade” do HTML e CSS.
Bateu uma nostalgia ao ler esse texto. Lembrar do tempo que abria o código fonte de uma página para entender o que tava acontecendo, construir páginas aleatórias e ter feito meu primeiro buscador em javascript a partir de uma lista em um arquivo .txt.
Velhos tempos, não voltam mais!!
Ps.: das soluções de sites estáticos, o 11ty (eleventy) é o que eu uso e acho mais flexivel .
A coisa mais próxima da antiga web é o neocities.
Eu vejo html como algo complicado demais pro usuário final.
Talvez markdown seja a solução. Se o teu conteúdo tá em markdown, pular de um blog pra outro é relativamente fácil
Verdade! Apesar que o markdown também tem suas “dificuldades” para quem não está acostumado, mas realmente é mais prático.
Meu site é http://www.flávio.com, consegui este domínio por sorte.
Quando falei pra um conhecido, a pessoa entrou e disse: “não é um site, não tem nenhum link!” kkkkkk fui contemplado por esse texto!
Hoje eu aprendi que um domínio pode ter acento, nunca tinha parado para pensar sobre isso.
Cara, como assim pode acento? Todo dia têm algo novo pra aprender..
Ehh… há uns 5 ou 6 anos que isso passou a ser permitido pelo NIC.br
Encontrei a matéria do NIC, é permitido desde o dia 09/05/2005
https://nic.br/noticia/na-midia/registro-br-aceita-dominios-com-acentos-e-cedilha/
Ótimo texto.
Me lembrou lá em meados dos anos 2000 no Geocities (sei que é mais antigo, mas foi nessa época que comecei), onde as pessoas literalmente “codavam” seus sites “na unha”. Eu comprava revistas sobre HTML para fazer coisas mais legais. Praticamente todo o ecossistema era feito por pessoas que não eram necessariamente web designers, mas elas o faziam. E muitos desses sites eram feitos por adolescentes de 12 a 14 anos de idade. O Tumblr, uma década depois, também é um exemplo disso, de “criar” seu site “na raça”; inclusive, até hoje existem comunidades dedicadas à criação e personalização de temas para o Tumblr. Concordo contigo que as redes sociais centralizadas abstraem muito e tornam mais acessível para que essas pessoas tenham seus espaços pessoais. Mas percebo que isso fomenta um comodismo que os adolescentes de 12 anos lá nos anos 90 e 2000 não tinham. Eu não diria que é preguiça, pois é algo de origem cultural e estrutural, que envolve mais do que o simplismo da “força de vontade” e “falta de interesse”. Mas não é de se negar que muito dessa dificuldade de sair das redes e criar seu próprio espaço surge desse comodismo. Óbvio, não incluo aqui aquela parcela significativa da população que é definida como “analfabetos digitais”; como eu disse anteriormente, é o problema é algo de ordem estrutural. Inclusive, acho que seria legal um coletivo digital voltado a ensinar as novas gerações algo desse tipo, como usar o Hugo, Jekyll, como configurar uma página no GitLab e coisas do tipo.
Hoje ainda escrevo muito para central de ajuda da empresa, nada de mais. Eu particularmente amo o que faço e acredito que a web seria um lugar melhor se voltasse ao seu “primeiro amor”, digamos assim. Blogs de comédia fazem falta hoje em dia, era o conteúdo dos mais jovens que hoje são os pais e não os filhos. Lembro de como a tecnologia era interessante quando lia o tecnoblog, que por sinal ainda é um dos meus favoritos hoje, mas não muito frequente.
Será que tudo isso foi culpa da nossa geração que transformou tudo isso em uma terra de vídeos e de procrastinação? Não vejo pessoas da nova geração “Z”, curtindo blogs e falando sobre isso hoje em dia.
Tenho por mim que as redes sociais (como estão atualmente) removeram muito da barreira que é o de criar e administrar um site, e permitiu focar no conteúdo (o que, por sinal, é refletido no famoso (ou infame) termo “criador de conteúdo”).
Claro que essa desnecessidade de “cuidar de um site” não é uma exclusividade das redes sociais (e nem o motivo da predominância delas), e que não é por isso que vai deixar de haver outras preocupações. Mas já é um adianto.
Falando por mim: eu tenho uma vontade de criar um site para compartilhar algumas ideias da minha cabeça. Mas nunca coloquei na prática. Talvez eu devesse focar no conteúdo e tentar escrever primeiro, mesmo sendo só pra mim mesmo? (pois nem mesmo isso eu ainda fiz). Depois eu procuraria algum lugar para compartilhar — nem que fosse num Medium ou numa rede social mesmo.
Acho que um site não substitui uma rede social, mas com certeza substitui aqueles linktree que o pessoal linka na bio. Eu matei meu site em wordpress pra subir uma página única em html com as mesmas coisas (portfólio, bio, contato e links), mas bem mais simples e direta.
Adorei o texto! Ótimo pra compartilhar com os amigos pois sou desses que vive falando sobre ter um site, haha.
Não tenho insta. Detesto rede social mostrando um monte de coisa que não pedi pra ver. Eu cheguei a usar o WordPress para montar um site, mas não gostei, achei rígido demais à época. Eu criei meu site no https://www.jimdo.com/. Tem versão web e app. Uso o modo gratuito, pois meu interesse é ter um repositório acadêmico e artístico. Tem espaço para blog, que não uso. É bastante simples de usar. Eles apresentam vários templates, e você pode construir a partir de um template. Depois, pode modificar o layout. Pra quem tiver interesse em ver como fica, segue o meu site https://claudiahelenaalvarenga.jimdofree.com
Como fica o domínio quando usa o blog?
Opa Rodrigo,
Uma outra coisa que a se “preocupar” para se escrever um sitiozinho web, artesanal ou não, é se preocupar para que ele seja a prova de futuro. Experimente seguir as ligações (links) de uma página sua de 10 anos atrás… possivelmente mais de 50% deles estão quebrados (não existem mais).
Infelizmente, para além das questões técnicas (que não são tão complexas), a cultura do efêmero tomou conta das mentes… as pessoas quando resolvem escrever (principalmente em serviços de terceiros) não se preocupam em manter aquele conteúdo a prova do tempo [1]!
1 – https://jeffhuang.com/designed_to_last/
Eu sempre tive blogs. Lembro na década de 2000 quando a febre de blog começou. Eu tinha blog pra falar de tudo em todas as plataformas (não usava nenhuma direito 😂). Wordpress e Blogger eram os principais. Até hoje, quando abro a minha primeira conta no Wordpress, aparecem as dezenas de subdomínios que criava lá. Vai virar museu.
Mas vim aqui falar do blot.im. Encontrei essa plataforma procurando por alternativas ao write.as, que se tornou um serviço bem mais limitado quando do seu lançamento (e também mais caro). Ele gera páginas estáticas, mas bem estruturadas, por meio de pastas em nuvem. Eu escolhi sincronizar pelo drive do iCloud. É possível escrever textos no Bloco de Notas, subir na pasta e o post aparece lá. Simples. No momento criei o https://neon.blot.im, mas posteriormente quero linkar com um domínio que já possuo.
Custa 6 dólares por mês. É o mais barato e mais prático encontrei por aí. Façam seus sites! Povoem a web de coisas reais e humanas! E claro, de bom conteúdo.
Certo, eu já estava convencido antes. Mas vamos aos pormenores para um site estático:
Vocês recomendam Jekyll, Hugo ou Eleventy?
GitHub e Cloudflare?
Meu blogspot ainda está online mesmo há anos sem atualizações.
Eu uso Jekyll por ter mais familiaridade. Não sei se recomendo, por causa do Ruby e das dependências. Levei um tempão para entender aquilo direito. (Parte do “tempão” foi por descaso, hehe; estava funcionando, se não está quebrado, não mexa.)
O Hugo tem a grande vantagem de ser apenas um binário, sem dependências, ou seja, é fácil de instalar e gerenciar. Eleventy eu nunca usei; tem muita gente que usa e gosta.
Já hospedei no GitHub e na Cloudflare, e prefiro a segunda: o acesso é mais rápido e você pode usar o Jekyll normal/do jeito que você quiser. O GitHub Pages usa uma versão velha do Jekyll e restringe os plugins que você pode usar. (Sim, dá para gerar o site estático no seu computador e transferi-lo, mas aí é uma etapa extra que deveria ser desnecessária.)
Ghedin, qual seria o serviço da Cloudflare que usa?
Pages.
Escolheria o eleventy, mas é porque sou mais familiarizado e uso já para meu blog: https://tcelestino.github.io/bloco-de-notas/
Uso o Github Pages pela a facilidade e comodidade já que está no meu dia a dia. Rs
@feed É exatamente isso.
“Não entrarei em detalhes do git porque na maior parte do tempo eu não sei muito bem o que estou fazendo, só sei que no fim dá certo.” 100% eu.
Lembrando que o Blogger ainda existe, ainda funciona e meu blog tá lá há mais de 20 anos funcionando direitinho.
Eu também continuo incentivando as pessoas a criarem seus próprios sites. Inclusive, já fiz alguns de graça para familiares e colegas. O problema é que as pessoas querem mesmo é o vucu-vucu das grandes redes sociais, não estão realmente preocupadas com isso.
Mas no caso das pessoas que verdadeiramente produzem conteúdo, acho uma tristeza confiarem só nos bilionários e não terem seu próprio cantinho seguro.
não só pessoas, mas várias empresas e negócios de diversos tamanhos, desde o facebook as empresas deixaram de ter seus sites, confiando que o facebook serviria, depois veio o instagram e agora o whatsapp, é triste.
Eu tenho site desde 2010. As vezes eu penso que estou “falando sozinho”. Mas eu sempre gostei de escrever e estou no 7ª período de jornalismo. Mês passado resolvi pagar pelo domínio – dentro mesmo do Tumblr – onde estou há alguns anos. Mas já passei pelo Wordpress, Medium, Blogger.
Quem tiver coragem…
https://falaalexandre.blog/
Adendo: Ghedin e o Manual é uma inspiração para mim. Já disse isso pra ele num e-mail.
Eu ia escrever blog, mas, escrevi site.
Não tá errado. Blog é um dos vários tipos de site, e o mais interessante deles (na minha opinião).
Excelente. Estas ferramentas mencionadas são todos muito boas e algumas delas como o WordPress, permite qualquer pessoa começar.
Na web eu gosto de enfatizar que é importante ter o seu próprio domínio. Eu acho que um .br por r$40 por ano é um preço que muita gente pode pagar. Quando se tem o próprio você tem mais flexibilidade em trocar de plataforma e levar o seu website para qualquer hospedagem conforme vai aprendendo mais sobre websites.
Excelente texto. O ideal mesmo é ter um site para si. Estar nas plataformas é, tacitamente, pagar um “aluguel” e estar debaixo de termos e condições que mudam ao sabor do dono. Vejo algumas pessoas fazendo o movimento de criar um site próprio, caso da “Nath Finanças” que vende curso de educação financeira e tem um próprio.
Outra coisa são as “plataformas” de sites, como o Hotmart e a sambatech, além do próprio wordpress. São voltadas a vídeo, mas também não deixam de ser alternativas.
Abs
Saudade de ler algo desse tipo por aqui.
Muito legal esse incentivo para criar sites e blogs pessoais, mesmo que não sejam atualizados com frequência (meu caso), ainda é algo que tem mais personalidade do que qualquer perfil de rede social.
concordo!