Apesar da multiplicidade de alternativas disponíveis, o êxodo do WhatsApp tem beneficiado dois aplicativos em especial: Signal e Telegram. Por priorizar privacidade e segurança, o Signal come poeira do WhatsApp em experiência de usuário (UX). O Telegram, por outro lado, é muito mais do que o WhatsApp poderia ser. E isso pode virar um problemão agora que o aplicativo está sob os holofotes.
Usuários do Telegram se gabam dos recursos exclusivos e limites generosos (ou inexistentes) do aplicativo. No WhatsApp, um grupo pode ter no máximo 256 participantes; no Telegram o limite para os “super grupos” é de 200 mil pessoas. No WhatsApp, usuários podem trocar arquivos de até 100 MB; no Telegram, o limite é 20 vezes maior (2 GB). Sem falar nas funções pioneiras e, por ora, exclusivas, como os robôs e os recém-anunciados chats de voz.
Outra dessas funções são os canais. Eles se parecem com grupos, mas uma olhada atenta revela que estão mais para blogs, ou seja, um meio de comunicação unidirecional, “um para muitos”: um canal dispara mensagens que são recebidas pelos seus assinantes e esses, por padrão, não interagem nem com o canal, nem entre eles. Aquilo que se faz no WhatsApp na base da gambiarra é, no Telegram, institucionalizado. Na prática, um canal do Telegram é um megafone sem limites — literalmente; um canal pode ter quantos assinantes for possível. O de Pavel Durov, fundador do Telegram e que muitas vezes funciona como relações públicas do aplicativo, tem mais de meio milhão de assinantes. O “Telegram Tips”, o mais popular que encontrei, conta com quase 3,8 milhões.
Dá para imaginar a dor de cabeça que canais e “super grupos” podem causar. Em 13 de janeiro, uma semana após a violenta tentativa de golpe no Congresso dos Estados Unidos, o Telegram anunciou o bloqueio de dezenas de grupos e canais norte-americanos, um deles com mais de 10 mil usuários, acusados de fazer “apelos à violência para milhares de assinantes,” prática que os magérrimos termos de uso do app proíbem.
Não foi a primeira vez que o Telegram derrubou canais e grupos. Não será a última. Essa certeza suscita questionamentos legítimos. Qual é a estrutura do Telegram para monitorar essas infrações? Há uma estratégia posta para lidar com abusos? No discurso oficial, o Telegram se diz preparado e vigilante, mas os indícios não animam. Estima-se, por exemplo, que a empresa tenha ~280 funcionários. Qualquer que seja o percentual dedicado à tarefa, é insuficiente, dada a magnitude da plataforma.
O Telegram é um raro caso paradoxal de serviço muito popular que permanece desconhecido do grande público. Como se fosse um iceberg. O app chegou a 500 milhões (!) de usuários neste começo de 2021 sem que… sei lá, a sua tia soubesse da existência dele. (Ela pode até ter baixado o app em uma das raras quedas do WhatsApp nos últimos anos, mas foi o quebra-galho de uma tarde, se muito.) Com a crescente popularidade, novos desafios surgirão aos apps alternativos que têm absorvido o fluxo de insatisfeitos com o WhatsApp. Para o Telegram, com canais e “super grupos”, eles serão ainda maiores.
Donald Trump não foi bloqueado do Telegram porque nunca teve um canal no Telegram, mas seus seguidores, sim. E embora dezenas deles tenham sido contidos no último dia 14, não foram todos. Um grupo com 7,6 mil brasileiros (que se acham) associados à seita QAnon, por exemplo, segue debatendo insanidades perigosas.
Na falta de Trump, o Telegram conta com alguns dos seus genéricos piorados, como Jair Bolsonaro e Recep Erdogan. Ambos têm canais populares, com ~370 mil e ~330 mil seguidores. Um dia após o banimento dos canais norte-americanos, Durov comemorou no seu a presença de presidentes na plataforma. “É uma honra para nós que líderes políticos […] confiem no Telegram para combater a desinformação e conscientizar importantes questões em suas sociedades,” escreveu ele, após destacar os dois mandatários acima citados.
Dois dias antes, em 12 de janeiro, Bolsonaro havia postado que “o tratamento precoce [da COVID-19] salva vidas”. Um dia depois (15), postou o vídeo do negacionista Alexandre Garcia dizendo que “estudos clínicos demonstram que o tratamento precoce do covid funcionam” — post que, no Twitter, foi ocultado e rotulado como desinformação.
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E o mundo vislumbrava que no futuro a humanidade utilizaria armas nucleares e biológicas como ferramentas de guerra.
Desinformação e Alienação está ai pra provar que não precisa de muito.
Eu sou totalmente contra o bloqueio, cancelamento ou qualquer tipo de censura que as redes sociais fazem com alguns perfis, por mais ridículo que seja a informação(?) compartilhada. Prefiro ter esses inúteis visíveis na luz, expostos pro mundo todo. Do que não ter conhecimento sobre o que estão compartilhando de maneira oculta. E que respondam criminalmente pelos seus atos.
O ato em si de manifestar-se pode configurar, por si só, violação aos termos de uso das plataformas e, no Brasil, crime (racismo e os contra a honra, por exemplo). E palavras têm consequências, às vezes graves: os malucos que invadiram o Congresso nos Estados Unidos, onde cinco pessoas morreram, só foram lá porque alguém (sabemos quem) os organizou e incitou a invasão.
E não saíram impunes. Todos eles estão respondendo a processos. Esse é o ponto! Achar que por não terem acesso às redes sociais esses malucos não fariam isso é vão. Quando se é doido, sempre se encontra uma maneira de cometer suas loucuras e compartilhar insanidades. No Twitter pelo menos poderiam ser monitorados, acompanhar suas postagens, identificá-los e tomar medidas restritivas antes do fato acontecer. Como fazem no futebol europeu contra os hooligans (pelo menos lá funciona).
Censura precede necessariamente a divulgação. (“Censura prévia”, termo muito usado por aí, é uma redundância.) Se as pessoas têm a liberdade de se manifestarem, ainda que de maneira desprezível ou criminosa, não há que se falar em censura.
Quando essas pessoas postam no Twitter uma mensagem incitando à violência, já estão violando os termos de uso da plataforma. Essa é a conduta problemática, indesejada e proibida pelos termos de uso, ou seja, o problema (do ponto de vista do Twitter) não é o que acontece depois do que se publica, mas o que é publicado.
O mesmo vale, na esfera legislativa, aos crimes contra a honra — manifestar-se, nesse caso, é o crime em si. Você pode ser racista com uma pessoa negra ou caluniar alguém, porém corre o risco de ser processado por isso.
Essas condutas são combatidas porque elas têm consequências graves. Trump, por exemplo, incitou a invasão ao Capitólio e, por isso, perdeu suas contas em redes sociais. Ok, é uma punição, mas as cinco vidas perdidas no episódio jamais serão recuperadas. Os traumas decorrentes dessas condutas são difíceis (nesse caso, impossível) de serem remediados, por isso existem termos de uso e leis que as proíbem.
Existem outras formas mais inteligentes de monitorar e coibir ações de grupos extremistas, não precisa deixá-los agir livremente em plataformas públicas e de alta visibilidade. Isso é justamente o que eles querem, pois é o método que lhes é mais eficiente para atingirem seus objetivos. Veja você, por exemplo, que o volume de posts questionando o resultado das eleições norte-americanas caiu 73% depois que Trump e alguns dos seus aliados ensandecidos foram banidos do Twitter.
Para estar no Twitter, ou em qualquer espaço público ou privado, alguém tem que aderir a regras de convivência, escritas ou tácitas. É básico de qualquer sociedade civilizada — ainda que, nos últimos anos, a gente pareça ter se esquecido disso.
Minha mãe entrou recentemente no telegram e fui visitar ela, ao pedir pra mim instalar algo e notei as notificações, uns 7 grupos com essa temática, muitos audios, videos de vacinas fake é muito assustador. Na TV dela youtube com Constantino e companhia afirmando que a vacina não foi testada o suficiente… acabei tendo um briga com ela mas no fundo é uma briga sem fim contra essa dominação de mentes, que sinceramente não sei como lidar.
Pablo, sinto a mesma angústia em relação a meus pais.
Prevejo uma migração em massa para o Telegram, em virtude principalmente dos canais que têm um alcance infinito e portanto uma forma econômica de atingir muito público.
E poem economica nisso, diferente do instagram e facebook que vc tem que pagar para ter algum alcance, no telegram via channels da pra ter alcance quase ilimitado.
Por enquanto né, Herberson
Daqui um tempo os caras vendem o app pro Facebook e o monopólio continua