O cartão de loja da Amazon.

A Amazon fez um barulhão esta semana, com direito a evento presencial em São Paulo, para lançar seu cartão de crédito. Ele dá “cashback” em pontos que só podem ser gastos na própria Amazon e parcelamento a perder de vista. O que me chamou a atenção foi a cobertura da imprensa. Não me recordo de outro cartão de loja (convenhamos, é disso que se trata) que tenha atraído tanto a atenção dos colegas.

FTC processa Amazon por enganar consumidores e forçar assinatura do Prime.

A FTC abriu um processo contra a Amazon nesta quarta (21). O órgão, espécie de Cade dos Estados Unidos, acusa a Amazon de enganar consumidores a fim de forçá-los à assinatura do Prime e de dificultar seu cancelamento. Esse procedimento, segundo reportagem do site Insider, é conhecido dentro da Amazon como “Ilíada”, referência ao trabalho homérico exigido do consumidor que não quer mais o Prime. Via FTC (em inglês).

33–46% dos trabalhadores do Mechanical Turk usam inteligência artificial em suas tarefas.

Uma pesquisa descobriu que 33–46% dos trabalhadores da plataforma Mechanical Turk, da Amazon, estão usando inteligência artificial para completar as tarefas repetitivas e enfadonhas que costumam ser publicadas lá.

O MTurk é muito usado por empresas, entre outras coisas, para treinar IAs a um custo irrisório e sem encargos trabalhistas, ou seja, caminha-se para um circuito fechado de automação de tarefas repetitivas/enfadonhas. É a revolta dos precarizados usando as “armas” dos seus empregadores, hehe.

O pesquisador Manoel Ribeiro, um dos autores do estudo, alerta para o risco de que o treinamento de novos conjuntos de dados com IAs perpetue vieses e ideologias já existentes. Via @manoelribeiro/Twitter (em inglês).

A sangria da tecnologia é consequência de um “novo normal” que nunca chegou

Queremos conhecer quem ouve o Tecnocracia. Se puder, tire dois minutinhos para responder a primeira pesquisa demográfica do podcast. Ajuda bastante e não custa nada.

Em janeiro de 1953, estreou no Théâtre de Babylone, em Paris, a nova peça de um dramaturgo irlandês chamado Samuel Beckett. Na peça, dois mendigos passam dois atos conversando sobre a vida, interagindo com outros três personagens e esperando um sujeito que só conhecemos pelo nome. Dado que em janeiro de 2023 completaram-se 70 anos da estreia, não tem por que se preocupar com spoiler, não é mesmo? Então um leve spoiler para você: no fim, o tal Godot não aparece e os mendigos, Estragon e Vladimir, terminam a peça revoltados com a ausência, mas imóveis, incapazes de se movimentarem. Ambos, em outras palavras, se mantêm Esperando Godot, o que vem a ser o título da peça. Esperando Godot é um clássico do teatro moderno, reencenado centenas de vezes com diferentes abordagens e panos de fundo e dissecada atrás de significados políticos, psicológicos, filosóficos, sexuais…

Continue lendo “A sangria da tecnologia é consequência de um “novo normal” que nunca chegou”

O saldo das demissões em massa nas big techs.

  • Meta: 11 mil demissões (~13% dos funcionários).
  • Microsoft: 10 mil demissões (~5%).
  • Amazon: 18 mil demissões (~6%).
  • Google: 12 mil demissões (~6%).

O Google juntou-se às big techs que demitiram em massa nesta sexta (20). Já são mais de 50 mil empregos eliminados, em três meses, em quatro das empresas mais poderosas do mundo.

Ainda falta a Apple.

Amazon, Meta, Microsoft e TomTom se unem para criar sistema de mapas aberto.

A Fundação Linux anunciou nesta quinta (15) a criação da Overture Maps Foundation, uma iniciativa para criar padrões abertos para mapas digitais.

Os membros fundadores são Amazon, Meta, Microsoft e TomTom — a iniciativa passa a sensação de ser uma investida da indústria para fazer frente à liderança do Google no setor.

A Overture usará dados abertos de cidades, do OpenStreetMaps e dos membros fundadores. O objetivo, segundo a Fundação Linux, é “criar dados abertos de mapas confiáveis, fáceis de usar e interoperáveis”.

A Overture em si não produzirá aplicações para o usuário final, porém. Os dados abertos gerados e organizados por ela serão usados como base para produtos baseados em mapas. O foco, ou os “clientes” da nova fundação, são desenvolvedores.

Espera-se que o primeiro conjunto de dados básicos, com camadas como prédios, ruas e informações administrativas, seja liberado no primeiro semestre de 2023. Via VentureBeat, TechCrunch (ambos em inglês).

Demissões na Amazon atingem Alexa em cheio; prejuízo em 2022 pode bater US$ 10 bilhões.

A demissão em massa da Amazon, que atingiu ~10 mil funcionários, pesou bastante na divisão responsável pela Alexa e dispositivos relacionados.

O Business Insider obteve documentos internos da Amazon e falou com funcionários para entender os motivos. O principal é uma falha grotesca de estratégia. Os dispositivos compatíveis com a Alexa são vendidos a preço de custo com o intuito de gerar receita durante o uso. Acontece que os casos de uso limitados (a maioria usa a Alexa para definir timers e pedir a previsão do tempo) não geram receita.

Ainda segundo as fontes e documentos, a Alexa deve dar um prejuízo de US$ 10 bilhões à Amazon em 2022. A iniciativa, lançada em 2014, era um projeto queridinho do fundador e ex-CEO da empresa, Jeff Bezos, que deixou o cargo em 2021. Desde 2020, porém, Bezos já demonstrava desinteresse pela Alexa. Via Business Insider (em inglês).

Demissões humanizadas.

Elon Musk deu um ultimato aos funcionários que sobraram no Twitter: comprometa-se com jornadas extenuantes de trabalho ou caiam fora. Mais gente que o esperado optou por cair fora.

O Twitter está na UTI e seus sistemas podem quebrar a qualquer momento, em grande parte porque falta gente para manter as coisas funcionando.

Musk é tão tóxico que, por comparação, conseguiu a proeza de fazer Mark Zuckerberg/Meta e a Amazon ganharem confete por demitirem dezenas de milhares de pessoas de forma ~humanizada — leia-se com o mínimo de dignidade. (Foram 11 mil demissões na Meta e 10 mil na Amazon.) Via The Verge (2) (em inglês).

Como chegamos até aqui?

Nota do editor: Este é um Tecnocracia diferente, gravado ao vivo pelo Guilherme Felitti durante a Python Brasil, evento que rolou em Manaus (AM) no último sábado (22). O texto abaixo foi levemente adaptado para facilitar a leitura. Se preferir, veja no YouTube e acompanhe os slides.

Quando me convidaram [a palestrar na Python Brasil], fiquei muito honrado e pensando por que que me chamaram. Não foi exatamente pela minha capacidade de programar em Python. Tem seis anos que programo — eu era jornalista e fiz uma mudança de carreira.

Meu nível técnico é muito melhor do que era, mas tem algumas coisas do Python que ainda não consigo entender, como decoradores. Aquilo para mim um grande mistério. O ponto principal é eu não estou aqui para falar de questões técnicas, mas para “desanimar” vocês um pouco. Quero conversar sobre as consequências da tecnologia, porque falar das consequências da tecnologia é falar também do trabalho de vocês e como ele está impactando a sociedade.

Começo dizendo que nenhuma tecnologia é isenta, nenhuma tecnologia age no vácuo. A partir do momento que ela sai da mente humana, ela sempre é adaptada e impacta outros seres humanos. De uma maneira um pouco menos etérea, isso significa que as tecnologias, quando são introduzidas na sociedade, têm consequências que quase ninguém é capaz de antever.

Continue lendo “Como chegamos até aqui?”

Matter, padrão para internet das coisas, é lançado oficialmente.

A Connectivity Standards Alliance (CSA) anunciou nesta terça (4) o lançamento da especificação final do padrão Matter, uma tentativa da indústria de padronizar a comunicação entre dispositivos de internet das coisas.

Mais de 550 empresas fazem parte da CSA, incluindo titãs da indústria — Amazon, Apple, Google e Samsung. A promessa do Matter é permitir que dispositivos de empresas distintas aderentes ao padrão conversem entre si. Ele confia em duas tecnologias, o bom e velho Wi-Fi para a comunicação com a internet, e o novo Thread, que cria uma rede mesh de alta eficiência e confiabilidade para que os dispositivos se comuniquem localmente.

Dessa forma, com o Matter você poderá ter, por exemplo, uma lâmpada inteligente Philips Hue e uma fechadura “smart” da Aqara na mesma casa, conectando ambas ao mesmo sistema e podendo controlá-las a partir de um único aplicativo da Apple ou do Google.

Algumas empresas anunciaram que seus atuais produtos receberão atualizações para se tornarem compatíveis com o Matter. Espere, também, uma avalanche de lançamentos destacando a compatibilidade com o padrão nos próximos meses.

A falta de interoperabilidade entre soluções de IoT é vista pela indústria como um gargalo na adoção dessas tecnologias. Se o Matter resolverá o problema, só o tempo dirá. Via CSA, The Verge (ambos em inglês).

Kindle com caneta e suporte a escrita na tela é anunciado pela Amazon

Foto de um homem segurando e escrevendo em um Kindle Scribe com uma caneta, em um gramado.
Foto: Amazon/Divulgação.

A Amazon anunciou um punhado de novos produtos nesta quarta (28). Destaque para o Kindle Scribe, nova versão do tablet de leitura da Amazon que permite escrever na tela — ainda e-ink, com 10,2 polegadas, 300 pixels por polegada e iluminação.

Segundo a Amazon, o Kindle Scribe recebe documentos de celulares e computadores, faz anotações em PDFs e deixa comentários em documentos do Word. A partir de 2023, será possível enviar documentos a ele a partir do Word.

Lá fora, o Kindle Scribe custará US$ 339, valor que o coloca no terreno do iPad de entrada (US$ 329 sem caneta, US$ 428 com a caneta). Um concorrente mais direto, como o reMarkable 2, é um pouco mais mais caro (US$ 378 com a caneta “básica”).

O Kindle Scribe não consta na enxuta lista de produtos que chegarão ao Brasil num primeiro momento. Via Amazon (em inglês).

Amazon mudará política de devolução de e-books Kindle devido a abusos de tiktokers.

A Amazon mudará a política de devolução de e-books Kindle até o fim do ano, segundo a Authors Guild, espécie de associação norte-americana de escritores independentes.

A mudança ocorre a pedido desses autores, que vinham sendo afetados por uma prática, digo, uma “trend” no TikTok que estimula as pessoas a lerem os livros digitais em até sete dias e solicitar o reembolso integral à Amazon.

Até o fim do ano, pedidos de reembolso de e-books Kindle que o comprador já tenha lido pelo menos 10% serão analisados caso a caso, por um funcionário da Amazon. Via Authors Guild, TechRadar (ambos em inglês).

O novo Kindle básico é quase tão bom quanto o Paperwhite.

A Amazon atualizou o Kindle de entrada e, talvez eu esteja perdendo algum detalhe, mas eliminou os principais motivos para alguém pagar mais caro no modelo Paperwhite e superiores?

O novo Kindle ganha a tela de alta definição (300 PPI), dobra a memória interna para 16 GB e troca a velha porta microUSB por uma USB-C. Está disponível em duas cores, o tradicional preto e um azul “calça jeans”.

Os únicos diferenciais do Paperwhite, um produto R$ 200 mais caro, são a tela ligeiramente maior (6,8 polegadas contra 6 do Kindle comum), resistência à água e o sistema de iluminação melhor, com mais LEDs e sensor que ajusta automaticamente o brilho.

O novo Kindle ficou um tiquinho mais caro, saindo a R$ 499 — o modelo anterior, de 10ª geração, continua à venda por R$ 449. A pré-venda já começou, com entregas previstas para 13 de outubro. Via Amazon.

Fire Stick, da Amazon, ganha aplicativo oficial do Globoplay.

Uma das grandes ausências nos dispositivos de streaming da Amazon, como o Fire Stick, foi solucionada: nesta quinta (25), o aplicativo oficial do Globoplay chegou à loja de aplicativos da Amazon. Via G1.

Talvez a Amazon esteja interessada em saber onde você colocou seu sofá.

A repercussão da compra da iRobot, dos robôs aspiradores de pó, pela Amazon, por US$ 1,7 bilhão, inclui analistas e gente da indústria desmerecendo o receio de que a Amazon esteja comprando um atalho para consolidar dados das residências dos consumidores.

Na newsletter de tecnologia da Bloomberg, por exemplo, o setorista de Amazon Brad Stone disse achar “a ideia de que a Amazon quer a ajuda do Roomba para mapear o interior da sua casa absurda: à Amazon não interessa saber onde você colocou seu sofá”.

No Twitter, Benedict Evans ecoou o sentimento:

O que me deixa mais perplexo em fios como este é a ideia de que alguém queira saber detalhes aleatórios e triviais da sua vida — que isso tenha qualquer valor econômico. “A Amazon quer saber onde sua mobília está!” Não, ela não quer, mas por que ela iria querer?

Talvez o co-fundador e atual CEO da iRobot nos ajude a entender? De uma entrevista dele à Reuters de 2017:

Há todo um ecossistema de coisas e serviços que uma casa inteligente pode entregar uma vez que você tenha um mapa detalhado da casa que o usuário tenha concordado em compartilhar.

Na época, a iRobot tinha acabado de tornar seus robôs Roomba compatíveis com a Alexa, da Amazon. Na entrevista, Angle ventilou a possibilidade de compartilhar os mapas da casa com as três gigantes de tecnologia — Amazon, Apple e Google —, um serviço que seria gratuito.

A vantagem à iRobot nesses arranjos, na avaliação do executivo, seria conectar os robôs Roomba ao maior número de outras empresas para torná-los mais úteis dentro de casa.

A reação foi bem negativa, o que levou Angle a uma tour de contenção de danos. Em outra entrevista, esta ao Mashable, o executivo bateu na tecla de que dados das casas só são enviados à nuvem e só seriam compartilhados com a anuência do usuário, mas também não descartou vendê-los no futuro: “Ainda não temos qualquer plano para a venda de dados.”

Talvez, afinal, a Amazon esteja sim interessada em saber onde você coloca seu sofá?