Mais “escolhas algorítmicas”, mais filtros

O YouTube parou de mostrar vídeos recomendados na página inicial para quem desativa o histórico de visualizações. Na Europa, o TikTok oferecerá uma opção de feed sem personalização algorítmica.

Por pressão regulatória, as big techs começam a nos dar alternativas à recomendação automática de conteúdo. É uma ótima oportunidade de combater a falácia da superioridades dos algoritmos opacos apenas porque passamos mais tempo nessas versões, como se rolar a tela sem ver o tempo passar — ou seja, o vício — fosse sinônimo de preferência ou mesmo algo saudável e/ou desejável.

O Bluesky, apesar dos alertas que sua estrutura corporativa e o envolvimento do ex-CEO do Twitter geram, traz à mesa uma ideia interessante, a da “escolha algorítmica”.

Quem está no Bluesky tem um mercado de feeds à disposição, criados e distribuídos pelos próprios usuários. Os feeds personalizados modulam a organização e apresentação do conteúdo com que o usuário se depara. Tomara que vire tendência.

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Não acho que o problema dos feeds cronológicos seja a ordem dos posts, como alegam as empresas. Pelo contrário: a ordem cronológica é uma vantagem. Ela facilita a orientação.

O feed cronológico tem um problema, que é o excesso de conteúdo. A troca pelo de recomendações algorítmicas, hoje padrão em todas as redes sociais comerciais, resolveu esse problema, sim. Só que não era a única forma de resolvê-lo. Talvez não fosse nem a melhor.

Quando o TikTok levou a recomendação algorítmica ao extremo, mostrando conteúdo de gente que o usuário não segue, livre da amarra das conexões, dos “amigos”, ficou evidente que o intuito do algoritmo não era (apenas) organizar o que importa ao usuário final. Antes disso, é fazer as pessoas passarem mais tempo consumindo conteúdo e anúncios.

Um caminho alternativo para o problema do excesso de conteúdo é o dos filtros.

Nessa proposta, a diferença entre filtros e a “escolha algorítmica” do Bluesky é que o primeiro estaria sob o controle absoluto do usuário, incluindo as fontes do conteúdo, seria transparente e fácil de manipular.

“Posts de quem posta menos de uma vez por dia”; “posts de pessoas, sem empresas” (e vice-versa); “posts de perfis com menos de 10 mil seguidores” (sem influenciadores); “apenas posts originais, sem compartilhamentos/RTs” são alguns exemplos úteis.

Quando as pessoas manifestam que preferem feeds cronológicos, suspeito que o que elas querem dizer é que gostariam de receber o conteúdo de todas (ou da maioria) das fontes/contas/perfis que escolheram acompanhar.

O algoritmo opaco jamais entrega todo o conteúdo. É sempre um recorte que mantém a ilusão de que o melhor ainda está por vir, atrás de só mais um “arrastar e soltar para atualizar”, só mais um, só mais um…

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9 comentários

  1. Essa do YouTube não exibir mais recomendações é a melhoria do ano pra mim. Só podiam estender para outros lugares, como na TV (estou logado lá).

  2. As recomendações do YouTube ainda fazem algum sentido pra mim e ele consegue me sugerir conteúdo interessante ao mesmo tempo que consigo acessar as novidades dos canais onde estou inscrito.

    Agora Instagram é completamente irritante: só me mostra anúncio e a não ser que eu entre de tempos em tempos na página de várias contas interessantes que sigo, não consigo ver o conteúdo deles no feed. Se desse para criar listas, no mesmo estilo que o Twitter permitia, já ajudava a amenizar o problema.

  3. Muito bom! Na verdade eu sempre ficava de olho na home vendo que a opção de desligar o histórico só era ruim para mim, já que o Google em si sabia tudo que eu estava vendo. Agora está numa situação um pouco mais parelha, e mais próximo do que eu gostaria.

    O próximo passo é desligar a recomendação no Google tv, mas aí ainda acho que vai muito tempo. Inclusive recebo indicação de conteúdo se política na home de canais que nem sigo ou assisto. Bem complicado.

  4. Tomara mesmo que dê pra mexer nos critérios um dia. Eu tô detestando profundamente a palhaçada do Instagram me mostrar conteúdo de quem eu NÃO sigo (inclusive posts quase contrários ao que defendo) e não mostrar o conteúdo de quem eu sigo 🤡

  5. Eu desativei o histórico quando li alguém comentando essa novidade no órbita, mas até agora continua do mesmo jeito. Não que faça muita diferença pra mim, eu sempre acesso direto a minha página de inscrições, só fui na página inicial justamente conferir se teve alguma mudança.

  6. “O YouTube parou de mostrar vídeos recomendados na página inicial para quem desativa o histórico de visualizações…”
    Pois é, na sexta-feira eu fiz isso, desativei o histórico de visualizações e tanto no app quanto no browser não mostravam nada além da mensagem padrão deles, era tão estranho aquilo que até voltei o histórico.

  7. eu reparei isso no YouTube essa semana,achei que fosse pq tinha trocado de celular, kkk

    mas ficou ótimo, eu nunca vou na home do YouTube esperando por algo, isso até deixa de me distrair.