Tenho vivido um dilema ético recentemente que tem acontecido sempre que abre um novo negócio na minha vizinhança. Me empolgo com o lugar, vou diversas vezes, eventualmente conheço a pessoa proprietária, vou atrás de saber um pouco mais sobre a pessoa e lá está: é conservadora brasileira e está com bostonaro.
Infelizmente escolhi morar em um bairro conveniente próximo ao centro da cidade que possui diversos estabelecimentos e tudo pode ser feito com apenas uma caminhada. Não possuo carro, e dados os preços atuais não me vejo comprando um tão cedo, por isso acabo vivendo esse loop de descobrir que os donos de pequenos estabelecimentos na região apoiam uma política nefasta. Isso aconteceu recentemente até mesmo com uma livraria de bairro super bacana que abriu, e cuja dona parecia um amor de pessoa, porém é filha de jurista conservador e claramente lacrou o número da besta na urna.
Claro que, como sabemos, não existe consumo ético no capitalismo. Mas como proceder se mesmo os pequenos negócios acabam sendo controlados por pessoas ligadas de alguma forma a políticas absurdas de direita (por uma questão resultante do acúmulo de capital pelas elites)?
Existe saída além de se isolar num bunker no meio do nada e tentar ao máximo viver de sua própria subsistência?
Sigo anseiando pela revolução e tentando transformar meu ódio de classe em algo positivo, até o dia do soar das trombetas da revolução proletária. Mas até lá, como lidar com esses sentimentos de revolta?
Existem diversos dilemas dentro do seu dilema, o primeiro e perdão com a forma direta de dizer, saber da vida dos outros. Uma pessoa íntegra, no meu entendimento, não se importa com o que o outro faz ou deixa de fazer no seu particular. Uma por que isso não lhe diz respeito e outra pq pouco ou nada interfere na sua vida (não deveria interferir pelo menos). Agir por esse princípio “ético” que comenta abre espaço pra segregação e bem, temos exemplos de sobra que isso não acaba bem.
E o negócio bolsonarista certamente deve empregar pessoas comuns. Deixar o consumo em última instância fere o próprio trabalhador, já q o capital de uma forma ou de outra irá encontrar uma remuneração. O pai de família não, fechou o mercadinho/pequeno negócio é rua. Talvez olhando por esse ângulo seja mais fácil relevar a posição política do dono.
Por fim sobre consciência de classe e ser usado pelas “elites”. O dono do negócio é tão trabalhador como seu funcionário, talvez não veja o esforço braçal, mas existem demandas bastante chatas pro lado dele. Claro q uns usa isso pra se fazer de vítima, mas é fato, pequeno negócio o dono é refém do empreendimento. Só parar para pensar que algumas obrigações se ele não fizer, ninguém irá fazer por ele. Enfim, só para chegar ao ponto que queria, o comerciante é tão pobre quanto eu ou vc, se ele parar hoje de trabalhar, não vive nem até o final da vida (as vezes nem até o final do ano) com o que tem. Rico mesmo, a elite, não trabalha, nunca trabalhou e gerações dele não irão precisar trabalhar. O restante ou é pobre ou pobre premium.
Concluindo, no fim a elite usa todo mundo. Joga pros conservadores a tara de retirada de direitos e mais valia e tal. Joga pros progressistas (“esquerda”) que precisa de mais auxílio, mais impostos para investimentos de saúde e educação e tal. Um cabo de guerra em que ninguém ganha por que nada acaba mudando, mantendo assim os negócios dos grandes como estão.
(Desculpa por engajar tão tarde no post, mas achei relevante fazer essa pontuações complementando os outros comentários)
Como sei que não vou viver pra ter mudança, boto dinheiro no bolso de quem tá ganhando: os bilionários. Se lasquem os pequenos comerciantes bolsonaristas. Compro tudo nas Americanas, Pão de Açúcar mesmo. Só que moro perto dessas coisas mesmo, no seu caso é diferente.
Rapaz, é uma pergunta difícil dependendo do contexto, e o pessoal aqui já expôs muitos contextos diferentes.
Eu presto serviço para alguns bolsonaristas/extrema-direita JP. E tipo, o pior é pensar que ninguém de esquera ou centro me convida ou pede para trabalhar com eles.
Só que separo politica do trabalho. Evito discutir, quando eles querem começar, já corto.
No final, quem tem condições sempre vai evitar ter relações com um terceiro que o considera alguém prejudicial. Eu não tenho. Não tenho para onde escapar. Tenho que trabalhar para quem me paga (ou me ajuda).
E esse é um ponto engraçado neste tipo de discussão. A quem tem condições, se pode proteger em bolhas sociais. Quem é pobre ou até miserável, não tem isso. A pouca ajuda é de poucos que tem altruísmo, independente de partido ou espectro político (se bem que há excessões – incluso época eleitoral).
Eu também tenho uma preocupação de promover um comércio minimamente ético e justo. O problema é que, quanto mais você se aprofunda no tema, mais percebe o quanto é difícil fugir de relações injustas. Então, no final das contas, procuro ir mais ou menos na mesma linha de um texto do Ghedin sobre como passou a lidar com o consumo de big techs (se não me engano; procurei aqui o texto, mas não achei): vou até o limite de quando passa a me prejudicar. Em casos extremos como o citado (em que o dono tem adesivo nazista no carro), corto totalmente. Mas, em alguns casos, não tem muito o que fazer. Daí não dá pra querer abraçar o mundo sozinho, a transformação social e política é algo que depende de todos.
Creio que esteja se referindo a este texto aqui.
Exato, este mesmo, valeu. Reli agora e continuo concordando.
me passa a impressão de algo bem infantil, é tipo quando criança duas salas rivais no campeonato de futebol não se falarem mais pq são “rivais”. vc não conseguir aceitar a diferença entre opniões é muita imaturidade, imagina se todo gay não conseguisse falar um uma mulher ou um hétero? se vc tem certeza da sua crença, a do outro não deveria te afetar, se te afeta é por falta de maturidade, seja pelo que vc acredita ou psicológica.
Obrigado pela resposta meu caro. De fato discordo profundamente de você: aqui o que está em jogo é consumir produtos/serviços de pequenos negócios que pertencem a pessoas *ricas* que apoiam políticas genocidas. Dinheiro este que é finito e poderia fazer a diferença em pequenos negócios de pessoas mais pobres, mas que nem sempre estão ao alcance, especialmente por conta da distância.
Conviver com as diferenças é básico em uma sociedade. Escolher de quem você consome é um ato político.
“consumir produtos/serviços de pequenos negócios que pertencem a pessoas *ricas* que apoiam políticas genocidas” só é um pretexto para apresentar um preconceito e infantilidade de aceitar um ponto de vista divergente.
vc isolar um grupo “como um ato político” tendo como premissa o “apoio a genocidas” é covardia. existem N questão que levam uma pessoa escolher o lado X ou Y e deduzir que 50% da população é genocida é infantilidade, imaturidade de quem se apropria desse discurso.
vamos dizer que um é genocida e o outro aproveita do pobre para se enriquecer desviando dinheiro da educação e da saúde publica (vide lava jato). o que isso infringe na sociedade? se uma família morre pelo desvio de dinheiro que deveria ter sido utilizado para construir uma barragem, isso é intitulado do que? descuido ou genocídio?
é um discurso vazio cheio de preconceito e imaturidade. se vc fosse tão ético e maduro, que visa o bem da população em primeiro lugar e das minorias não estaria aqui disseminando ódio e preconceito a um grupo.
Como disse em outra resposta, acho meio complicado boicotar tudo de qualquer bolsonarista, mas acho importante traçarmos uma linha aqui em relação a algumas coisas que foram ditas.
Genocídio contém a intenção de dizimar uma população. É (muito) diferente de causar a morte de alguém ou de um grupo de pessoas por descuido ou negligência, como no caso citado da barragem. Embora as duas situações possam ter resultados similares, estão em escalas diferentes de gravidade.
Também não é “disseminação de ódio” reagir contra um discurso genocida, como o do ex-presidente nos casos da covid-19 e dos yanomamis. Exigir respeito com quem desrespeita a vida configura a famosa falsa equivalência.
Dito isso, peço aos senhores que segurem um pouco os ânimos e se atenham às regras de convivência do site, em especial às #1 e #2.
Amado, eu não estou disseminando ódio e preconceito. Só queria fomentar o assunto do que fazer para direcionar o dinheiro para pessoas que possam estar precisando mais dele. Ninguém é obrigado a aceitar um ponto de vista divergente quando este visa a extinção de minorias.
Ter caído no conto da direita em 2018 ainda tem desculpas. Apoiar bolsonarismo e nazifascismo em 2023 é falha de caráter.
É que tudo virou ato político (sabe-se lá o que isto significa, na prática). Ao menos serve bem para vender camisetas e sacolas (ecológicas, claro). Que tal uma camiseta “Respirar é um ato político”? Será que vende?
O ponto é que você comentar aqui É um ato político. Estamos aqui discutindo opiniões sobre relações públicas e políticas.
Se você comenta, assim como estou fazendo aqui, não deixa de ser um ato político, de botar uma posição política sobre o assunto.
O problema é que as pessoas ainda temem o termo política.
que questões levam alguém a escolher o lado que prega a eliminação física dos adversários? que é abertamente machista, misógino, homofóbico e epistemicida? que defende abertamente a tortura?
eu não perdoo quem votou em bolsonaro
não perdoo
e em tempo: quem realmente acredita na farsa que foi a lava jato? a lava jato foi uma operação fraudulenta de uma meia dúzia de riquinhos que queria fazer de tudo para tirar o PT do poder. Forjaram provas, utilizaram juízes imparciais e de conduta questionável, fizeram tortura psicológica e desviaram completamente de qualquer devido processo legal num ambiente democrático.
moro e dalagnol são os maiores bandidos do país
mas o que vc está fazendo não é diferente do que vc acabou de dizer que não aceita hahah ou vc acha que vc está certo em excluir um grupo pq ele quis te excluir primeiro? desculpa Gabriel, mas esse “moralismo” é muito raso
@gimigliano
lembra daquela coisa de que se você se recusa a levantar da mesa quando um nazista senta?
o bolsonarismo é a expressão brasileira contemporânea do nazismo
não tem diálogo possível: essa gente QUER me matar (e eu JÁ fui fisicamente agredido por essa gente)
não tem diálogo com nazista
@gimigliano você tem noção do que é passar semanas recebendo notícias ruins de uma pessoa próxima e querida que está na UTI por conta da gestão criminosa daquele miliciano de merda na pandemia?
700 mil pessoas morreram por conta dos brasileiros que votaram naquele bandido
eu não perdoo
Vou entrar nesta discussão para falar uma coisa que noto que pouco que de fato praticam uma luta política “de esquerda” não reparam.
É fácil para alguém que tem relações sociais com “iguais” e tem consciência política suficiente a poder evitar pessoas que ela considera “negativa” – genocidas, segregadores, etc. e tal.
Agora pergunte para alguém que mora em uma favela ou bairro periférico sobre isso? Tirando parte dos jovens ou pessoas que tenham consciência política (e são poucas) que atuam social e politicamente; boa parte “não se importa com a cor do gato, desde que pegue o rato”.
Eu não votei no salnorabo e evitei ao máximo contato com quem tinha posição política ao apoia-lo. Perdi um “amigo” e alguns clientes.
Resultado de hoje: não tenho amigos (nem de esquerda, nem de direita, nem muito menos de centro ou ignorantes à política). Só as poucas pessoas restantes que atendo nos consertos e apoios de informática (vide o post que pus acima).
Eu entendo perfeitamente a postura de muitos desta frase. E apoio, se ela tem condições.
Só que muitos ignoram que foram os mesmos nazistas /fascistas que com uma propaganda forte e voltada a confortar os pobres e miseráveis a se aliarem a ele. Se prestarem atenção, os caras que são de direita e buscam manter o poder, vão usar toda a dialética para evitar o conflito pois sabem que eles poderão ser o alvo no futuro. Melhor aliciar com o poder do dinheiro de do conforto do que com a utópica ideia de uma comunidade que cuida de seus pares sem conflitos.
A partir do momento que se entender que posturas de conflito só geram conflito, a gente tem que buscar admitir que vamos conflitando até (não) sobrar um ou até podemos viver ignorando uns aos outros (as vezes acho que a criação de diferentes países e culturas veio justamente das pessoas se afastarem a cada conflito, com isso criando novas culturas a cada nova ocupação que um grupo criava no passado antigo).
Eu tinha um pouco isso, aí eu olhei pro meu umbigo. Meus pais tem um comércio e são bolsonaristas (ou convervadores, como eles diriam). E eu ainda prezo pelo bem estar e sustento deles apesar das divergências. Eu não cortei relações com eles (qdo eu vejo alguém falar q cortou relações com a família, eu invejo quem tem pais progressistas ou imagino q a relação com os pais já não era boa).
Aí eu imagino outras famílias e relações complexas em que deixar de comprar em alguém bolsonarista não vai ajudar em nada.
Então, se o lugar não for grande do tipo que tem força pra financiar ações escrotas, se a pessoa não tratar mal funcionários e clientes (ou impor a opinião de alguma forma), ou se não for ostensivo, continuo sendo cliente.
p ex: Tem uma borracharia que sempre passo em frente q tinha uma bandeira com a cara do bolsonaro. Prefiro evitar. Mas se fosse bolsonarista sem ter bandeira, nem ia saber.
Tem uma padaria ótima q eu frequentava. Um pão de forma integral caseiro ótimo. Mas sempre junta um monte de velho reaça na porta conversando com o dono. Não foi uma coisa consciente de não querer consumir lá, mas fui achando o ambiente desagradável. Ai eu descobri q um carro sempre na frente com simbolo nazista era do padeiro. Uns dias antes da eleição de 2018, passando no caixa, a atendente do nada mandou um “17 né?”. Não deixo de ir lá se quiser algo específico, mas não dá mais vontade de ir como antes. É bad vibes.
Tbm estava uma vez procurando passeador pro cachorro. Aí um tinha posts de Deus patria familia e cortei ele das opções. Posso estar levando em algum bolsonarista agora, mas pelo menos não é tanto a ponto de ter isso nas redes sociais.
Eu tenho a mesma situação aqui com uma padaria do bairro, com nome italiano, que tem vende pães excelentes e um brownie perfeito, porém é abarrotado de senhorzinho dono de mercedes benz que votou no lixo.
Durante a pandemia eu evitava passar lá, porque sempre tinha aglomeração de gente sem máscara.
Eu evito passar perto pra não correr o risco de querer comer brownie.
Nome italiano e brownie, parece ser o mesmo lugar que falei. Vc é de Campinas? hehe
Vai fugir totalmente da relação econômica proposta aqui. Mas essa questão me leva a algo que me angustia de verdade: minha aproximação com amigos.
Como o próprio Ghedin colocou ali: se a amostragem fizer sentido, é um eleitor do contrabandista das arábias a cada dois conhecidos. Até por isso, presumo que todo mundo tenha uma história parecida com a minha: aquele cara sempre presente, de juntar famílias em festa de casamento, de chamar pra viajar até a casa da mãe.
Aí veio 2018, o discurso de “morte ao esquerdista”, o papo de que “respeito às minorias é mimimi”, a manutenção do voto “anti-corrupção” quatro anos mais tarde, enfim.
Minha esposa já veio perguntar se “não era hora de tentar uma reaproximação”, afinal de contas há uma história pregressa etc.
A resposta hoje é “não”, mas pode mudar. A questão, altamente subjetiva, é o cansaço. Manter posição é exaustivo, é preciso escolher bem as batalhas antes de dissipar energia. Talvez isso se aplique às escolhas comerciais também.
Eu me afastei de geral, inclusive da família. Zero arrependimentos, zero interesse em voltar.
Estou me convencendo a sair dessa paranóia e me alienar um pouco mais em relação ao consumo, acho que não tem muito o que fazer além seguir doando pra iniciativas que eu acredito, enquanto tento detectar comportamentos de proprietários escrotos, seja com funcionários ou clientes.
A menos que seja algo explícito, escancarado, eu não me importo com as inclinações políticas de pequenos comerciantes. Não ajuda em muita coisa boicotar essa galera e, no fim, você corre o risco de entrar num lance meio paranoico.
Se pegarmos como espelho as últimas eleições (e desconsiderar as variações geográficas dentro do Brasil), você tem quase 50% de chances de topar com uma galera que votou diferente. Não só por isso. Acho que o voto institucional e o meio de ganhar a vida de alguém são aspectos com uma conexão bem frágil. Ok, o dono da quitanda da esquina votou no Bolsonaro, o que fazemos com ele? Deixamos de comprar até ele quebrar? E depois?
Como alguém disse ali embaixo — e concordo —, a maioria dos que votaram em Bolsonaro não é mau caráter em essência, é gente que se deixou levar pela onda e/ou tem um medo patológico da “esquerda”, derivado de décadas de propaganda maliciosa contra esse lado do espectro político.
Só abro exceção contra grandes empresários ou pequenos que são escrotos no geral (destratam funcionários, são mal educados etc.). Embora mesmo esses às vezes sejam inescapáveis (boa sorte para encontrar um dono de supermercado “progressista”), sempre que possível, evito.
Perfeito!
Obrigado pela resposta @ghedin!
Eu entendo e concordo contigo, mas também identifico que especialmente nas pessoas mais abastadas existe um total desinteresse pelo outro e impacto de suas ações na sociedade. Geralmente isso implica na pessoa ser bolsonarista, e mau caráter em essência.
Como você procede em caso de serviços grandes e homogêneos? (como amazon prime, rappi/ifood, etc)
Quando possível, não uso. E dá para não usar bastante coisa. (Amazon e Rappi/iFood mesmo, são duas coisas que dá para passar sem.)
Eu entendo o seu questionamento inicial, mas o desenvolvimento está levando vc para um caminho em que vc vai acabar contribuindo com a polarização.
Entenda que: nem todo bolsonarista é mau caráter, assim como nem todo não-bolsonarista é bom caráter.
Agradeço pelo ponto de atenção. Infelizmente na raiva a tendência vez ou outra é querer viver num buraco e sair da sociedade.
O bolsonarismo é um discurso de eliminação do outro. Não tem como alguém bolsonarista ter bom caráter.
E quem disse que polarização é ruim? Agora a gente tem que acolher nazista?
Entendo o ponto acima antipolarização, visto que muita gente foi cooptada pela seita neofacista por suas estratégias de mídia (vide o Normose sobre Existir uma segmentação do Bozo pra cada tipo de pessoa).
Não temos que acolher nazifascista, pelo contrário, tem mais é que dar porrada mesmo. Mas entendo que tem gente que não é nazifascista, só caiu no funil do ódio e das fake news em relação ao Lula, mas que tem chance de ser resgatada do sequestro ideológico que ocorreu nesses últimos anos.
Todo bolsonarista é mau caráter!!
Não entendi. Você está julgando a dona do lugar por causa das escolhas dos pais? Não é incomum membros de uma mesma família discordarem em questões políticas; com frequência isso acontece entre pais e filhos.
Olha, sem ofender, mas achei exagerado falar dessa forma. Sei lá, pode ser que os exemplos que você esteja pensando sejam específicos, mas quando penso em pequeno negócio, penso num autônomo, ou no máximo uma lojinha, sabe? Algo que seja meio que por subsistência mesmo. Elas podem ser até bolsonaristas, mas acho improvável que se beneficiem desses “acúmulos de capital das elites”.
E assim, eu consigo ver os níveis de bolsonaristas, que o outro comentário falou. Às vezes a pessoa apenas repete um discurso pronto só por conveniência (ou ignorância, provavelmente o mais comum), mas nem é tão ferrenho assim. Tem gente que votou nele, mas sei lá, não é anti-vacina. Não concorda com algo do governo dele, apesar de passar pano pro que ele falou, ou tentar justificar algo como culpa de terceiros. Enfim, aí já é mais uma decisão sua mesmo se quer tolerar ou não.
Bom, viver em sociedade é isso. Você encontra pessoas odiáveis no caminho, não dá pra evitar. Beleza, você mora em um bairro onde “infelizmente” dá pra fazer tudo a pé (nem todo mundo tem esse privilégio). No exemplo da livraria, livro é uma coisa que dá pra encontrar em outras lojas que não precisam ser perto (ou até online); de repente você pode ir 1 vez por semana num lugar mais distante onde o dono não seja bolsonarista. Tudo bem.
Mas vamos dizer que seja um negócio que você precise ir com mais frequência, tipo um mercadinho ou uma padaria. Se tiver outra opção perto, OK, mas se não tiver, você tem condições de gastar mais tempo/dinheiro/esforço pra ir num lugar mais longe? São coisas que você precisa avaliar.
E assim, não sei como funciona contigo, mas pra mim é um pouco raro eu conhecer o dono de um lugar que eu frequente, e mais raro ainda saber a posição política dele. Não sei se pra você isso acontece ocasionalmente (vai que são negócios pequenos mesmo, onde o dono trabalha no local), ou se você vai atrás disso ativamente. Só achei curioso você relatar que isso acontece “sempre que abre um negócio novo na vizinhança”.
Agradeço a dedicação de tempo na resposta <3
Sobre o primeiro ponto, não foi apenas a genealogia. Num determinado momento em que eu estava na livraria, entrou uma moradora de rua pedindo ajuda. Após sua saída, a proprietária lançou um comentário higienista e aporofóbico, que foi o que me fez sair do lugar na sequência e ficar remoendo a situação o final de semana inteiro, dando origem a este mesmo post.
Em relação ao segundo, entendo que vão sempre haver pessoas da classe trabalhadora que foram cooptadas pela polarização e toda situação na mídia que alavancou o cenário atual, e acho que tudo bem tentar eventualmente conversar com esses pequenos comerciantes. A tristeza é ver porém nas infos dos cnpj's de estabelecimentos da região os sobrenomes de gente abastada, que muitas vezes conseguem manter os estabelecimentos por terem dinheiro e uma rede de amigos que vão lá prestigiar com frequência. O dinheiro acaba circulando entre as pessoas da mesma classe, saca?
De fato reconheço o privilégio de morar num bairro onde eu possa fazer tudo a pé (em nenhum momento eu disse ser um fato infeliz, foi uma escolha que cabia melhor no orçamento do que financiar/alugar um carro).
Nem sempre conheço pessoalmente os donos, mas sempre tento fazer amizade com os funcionários, e eventualmente tomar a liberdade de perguntar sobre as condições de trabalho, e quase sempre o olhar é de tristeza: uma vez a atendente de um restaurante com uma pegada namastê natureba me perguntou se eu queria um suco. Perguntei qual sabor ela gostava mais, e ela soltou que jamais deixam os funcionários experimentar nenhum dos pratos do buffet.
Acontece com recorrência porque eu acabo sendo paranóico e vou atrás pra saber a origem do lugar e quem que está de fato se beneficiando do lucro e da exploração de gente que vem geralmente da periferia trabalhar nesses lugares de rico.
Olha, não tenho como ajudar. Eu moro em Laranjeiras, bairro do Rio que tem antiga tradição de ser de esquerda desde 1° de abril de 1964, quando o bairro amanheceu cheio de tanques de guerra e soldados em cada esquina.
Que bacana! Imagino que o consumo aí deva doer bem menos na alma e no bolso <3
Dá pra dizer que Laranjeiras é no RJ um pouco como a Santa Cecília ou o Bexiga são em São Paulo? (ou talvez o Bexiga esteja mais pra Lapa no RJ?)
(não que faça qualquer sentido comparar essa maravilha que é o RJ com essa desgraça que é SP, mas gosto de pensar nessas analogias)
Não sei, não conheço nenhum dos dois bairros de SP. Laranjeiras é a divisa entre as zonas norte e sul, e ainda tem muito comércio pequeno, muitas casas e vilas, e ainda uns recantos (como a entrada que dá para a Rua General Glicério) que o povo trata como se fosse uma pequena vila e todo mundo se conhece.
A pandemia que trancou todo mundo em casa também aproximou muita gente do bairro, quando um cara resolveu criar o grupo do bairro no whatsapp. Povo descobriu que seu vizinho de andar fazia quiches, que três prédios depois alguém mantinha a tradição dos avós fazendo bolo de rolo, uma advogada que ficou sem trabalho porque fórum fechou começou a vender trutas de Nova Friburgo etc, o cara da loja de ferragens começou a vender por whatsapp e ele mesmo começou entregar e fazer reparos pros idosos etc. Eu sou admin do grupo de desapegos e uma das regras até hoje é o local de retirada ser nos bairros que podem ser alcançados a pé – exatamente porque o povo não queria/podia pegar metrô ou ônibus mas precisava vender o que tinha em casa pra fazer dinheiro extra.
A vizinhança se expandiu e se conheceu com todo mundo trancado em casa.
Achei o comentário da Julia bem pertinente.
Por que você não muda de bairro?
Pelo que eu entendi da sua postura de vida, acho que você vive isso de uma maneira bastante intensa. Eu tô no time dos flexíveis, que continua mantendo amigos e familiares bolsonaristas e só muda de fornecedor em casos muito emblemáticos, como Madero e Riachuelo.
Na questão das probabilidades de topar com um bolsonarista que o Ghedin citou em algum lugar, ela na verdade é bem maior que 50% se você ponderar por faixa de renda, profissão “empresário”, bairro e cidade. Então não tem muita solução.
Como você tem o privilégio de escolher o lugar onde morar, essa escolha também representar um ato político.
Grandes cidades tem seus enclaves políticos bem demarcados, você pode buscar por um bairro tipo Laranjeiras. Ou mesmo mudar de cidade: Salvador e Recife, por exemplo, são grandes capitais tidas como mais “progressistas”.
Eu penso bastante nisso também, mas concluí que:
Se houver opção, use a alternativa, nem que seja a menos pior, mas senão não houver mesmo, paciência, só faz oq tiver q fazer msm e é isso.
Da mesma forma que evitar o consumo de algo através de gente babaca do bairro não vai mudar a situação política do país, o contrário também não vai instaurar um governo autoritário, somos insignificantes demais individualmente pra que isso importe, e acho que vale gastar mais sua energia em problemas mais importantes, e refletir seu consumo em coisas que impactam mais (por exemplo, comprar ou assinar algo ou um serviço cujo dono é um bilionário).
De fato, concordo 100%. Acho que buscar alternativas é o ideal porém nem sempre fácil de encontrar tudo online ou próximo o suficiente que dê pra ir a pé ou de bike.
Ainda me sinto culpado por exemplo de ainda ter amazon prime, por conta da conveniência e eventuais preços baixos.
Eu continuo lendo seus textos e gostando de boa parte, mesmo sendo totalmente contra o PT.
mas o texto dele não tem NENHUMA menção ao PT
Obrigado pelo elogio meu caro.
Existe uma gama de possibilidades fora da associação PT==esquerda (spoiler: não é esquerda) e vários pontos que justificam buscar alternativas melhores à situação política que temos hoje. Busque conhecer e se organizar! Procure pelo Luide e seu conto do funil =)
Não vai ser boicotando comércio que vamos acabar com esta maldita polarização. A mesma coisa vale para o absurdo que foi feito em certas regiões do país, quando identificaram “comércios petistas” para que fossem boicotados.
Como ele disse no texto, não existe comércio ético no capitalismo (até porque toda empresa é necessariamente cretina nesse sistema).
O problema está em saber que aquele vendedor aparentemente simpático da quitanda da esquina concorda com práticas como tortura e assassinato de quem pensa diferente.
De fato. Vai que ele é simpático ao regime norte coreano.
Não, eu me refiro a gente que quer que pessoas como EU sejam jogadas na ponta da praia.
Eu detesto o regime norte-coreano, mas tem gente fascista aqui PERTO que quer nos matar — e eu já presenciei ao vivo esse desejo fascista em eliminar quem pensa diferente e já fui agredido por essa escória que se diz gente de bem.
O bolsonarismo é um problema REAL e tem que ser criminalizado assim como o nazismo foi na Alemanha.
Deixa de ser obtuso.
Sem dúvidas, vou concordar com você quando o Bolsonarismo começar a defender extermínio em massa de qualquer etnia ou grupo populacional (tem uigueres no Brasil?) em campos de concentração (ou gulags). Por enquanto, para mim não passa de um movimento reacionário pseudoconservador e que deve ser superado pelas vias institucionais e democráticas (como está sendo, ainda que de forma mais lenta do que gostaríamos).
@thiago acho legal você ler um pouco mais sobre o genocídio Yanomami. Não precisa de campo de concentração pra extermínio em massa de etnias.
“a maldita polarização” que de um lado tem um genocida como símbolo e sua horda raivosa de comportamento miliciano que comete crimes de ódio e homicídios (vide moa do katendê, marcelo arruda e tantos outros) com respaldo neopentecostal e do outro existem… pessoas.
Exato. A ideia é não financiar quem financia esse tipo de ideia.
O objetivo em nenhum momento era boicotar 100%, afinal não existe consumo ético, ponto. A ideia era entender possíveis alternativas para fomentar gente que realmente precisa da grana =)
Sobre a revolução coreana, é algo que fez total sentido para a realidade que eles enfrentaram no pós-guerra. Recomendo estudar a história do movimento, é um conteúdo bem bacana. Recomendo o episódio 248 do À Deriva, com Lucas Rubio.
O dono da quitanda da esquina votou no Bolsonaro e é um f*dido que se perder o negócio, vai ter que pedir bolsa família.
Eu tenho estudado o ecossocialismo e tenho pensado em mudar pra uma ecovila
Eu não tenho condições de julgar ou de criticar quem faz essa escolha — até porque envolve MUITOS desafios e esforços individuais e coletivos.
Mas…
De um ponto de vista estrutural tenho muitas dúvidas sobre o movimento as ecovilas. Tanto de um ponto de vista ambiental como social elas podem ser uma cilada.
Eu também sou um pouco cético em relação ao movimento de ecovilas, vejo ainda como um movimento de uma classe média alternativa, intelectualizada e pouco acessível pra trazer soluções mais concretas para a maioria da população trabalhadora. Tenho acreditado mais em intervenções urbanas mesmo, tipo hortas coletivas e coisas do tipo.
Não tenho conhecimento algum sobre ecovilas, e compartilho do preconceito abaixo de que é algo meio jovem místico namastê classe média. Aceito referências de leitura sobre.
Eu acho que nesse caso vale a pena sacar as “gradações” entre esses bolsonaristas. Tem muita gente que aderiu ao bolsonarismo pelo meio em que vive, pelo convívio, e foi comprando o pacote todo. E tem gente que é escrota mesmo. Acho que vale a pena prestar atenção em pequenos detalhes como, por exemplo, a forma que a pessoa trata os funcionários. Vale trocar ideia com os funcionários também, aproveitar que você mora no bairro e vai sempre a esses lugares e sacar se as condições de trabalho são boas. E eu acho que hoje em dia também sempre tem a opção comprar de gente de esquerda/progressista pelo correio também, pela internet… avalia certinho o que realmente precisa ser consumido no bairro e o que daria pra comprar online para fortalecer um coletivo que não esteja geograficamente próximo de você.
Eu ia falar algo do tipo. Tenho experiência com algumas pessoas desse tipo que eu sabia de antemão a “opinião” dela só que conversando com tempo fui notando que a “opinião” dela era mais resultado da superexposição dela ao ambiente de versões únicas incontestáveis do fato do que uma convicção real dela mesma.
Concordo plenamente. Adoraria encontrar na internet um compilado de fornecedores de esquerda/progressista para facilitar a compra.
Conversar com os funcionários é essencial, pra entender se eventualmente as pessoas estão sendo maltratadas ou influenciadas em algum comportamento negativo (como o caso da menina do restaurante que comentei na resposta acima, que recebeu o terrorismo de que perderia o emprego caso o L vencesse)
No facebook existe um grupo que chama esquerda compra da esquerda, tem de tudo que vc pode imaginar e, a princípio, é tudo comuna. É bem legal, só isso segura o facebook para mim.
Eu tinha saído do facebook, mas vou atrás de uma alternativa pra acessar isso aí. Obrigado!