Algo que me chama atenção no processo de demissão em massa que várias empresas de tecnologia estão fazendo, tanto as Big Techs internacionais quanto os “unicórnios” brasileiros, é que não faz muito tempo falava-se da crescente demanda de profissionais da área e que o ritmo de formação da academia brasileira não daria conta de suprir.
É evidente que demissões em massa de empresas específicas não necessariamente significa que os estudos e levantamentos estavam errados, mas não deixa de soar como um sinal contraditório.
Vagas na área continuam e continuarão a existir, mas talvez esses levantamentos de demanda que nunca seria suprida tenham sido um tanto exagerados?
muita gente está falando em um movimento coordenado de redução do valor da força de trabalho e proletarização forçada da categoria dos programadores (ou profissionais de TI de um modo geral)
Há anos que trabalho informalmente. Me pergunto quando vou conseguir uma coordenada para trabalhar de forma formal.
Só pra vocês terem uma ideia dos estudos que estou comentando que dimensionaram o déficit de profissionais de TI.
Relatório da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) publicado em 01/12/2021 e que repercutiu muito na imprensa na época diz o seguinte:
> O relatório estima que as empresas de tecnologia demandem 797 mil talentos de 2021 a 2025. No entanto, com o número de formandos aquém da demanda, a projeção é de um déficit anual de 106 mil talentos – 530 mil em cinco anos. São números que refletem, segundo a Brasscom, o crescimento acelerado do setor de TIC, e deixam clara a urgente necessidade de que a formação profissional também seja ampliada no mesmo ritmo.
Ou seja, um déficit de mais de meio milhão de profissionais até 2025.
Link: https://brasscom.org.br/estudo-da-brasscom-aponta-demanda-de-797-mil-profissionais-de-tecnologia-ate-2025/
1) Existe demanda, mas ela é por profissionais com senioridade (coloca aí mais de 5 anos de experiência).
2) As demissões em massa acaba afetando justamente esses profissionais sênior, que tem altos salários. Em outro post eu falei que 1/3 das demissões da TW foi de pessoas com nível sênior, líder, etc. É um enxugamento de mão-de-obra cara, afinal, essas vagas serão reabertas com salários menores (ou nem serão e as demandas serão absorvidas internamente sobrecarregando as equipes).
3) Muito profissional júnior, recém saído de cursos de programação acha que vai conseguir uma vaga de R$7k por mês. Se conseguir de R$2k tá bom na maioria dos estado (tirando SP da reta), e você vai ter de fazer um desafio técnico pra passar da primeira etapa que, muito provavelmente, vai envolver o conhecimento de um pleno.
4) A demana seguirá crescente, mas por pessoas com bastante experiência. A tendência (e saída) pra quem ainda é JR é procurar por programas de aceleração que algumas empresas ‘pagam’ para formar um programador que vai suprir as demandas dela (e às vezes apenas dela).
5) A profissão vai ter alto e baixos como sempre. Mas acredite, já foi MUITO mais simples conseguir um emprego de programador jr ou assistente.
Acho que a demanda continua sendo maior que a oferta – apesar de não ser simples definir “profissionais de computação”- não é uma demanda uniforme e nem constante. Na pandemia, chegamos no ápice de desequilíbrio, mas acho difícil imaginar que no futuro estarão sobrando profissionais de TI.
E sobre projeções, o Ghedin já comentou, não é algo plausível e tenho muitas objeções…mas todos adoram uma estimativa simples para problemas complexos.
Aí eu me pergunto: ainda vale a pena entrar na área de tecnologia?
Se curte, vai fundo.
Se não curte e quer entrar numa área aquecida… Não sei de nenhuma outra que tá em alta.
Com certeza, vale sim. Como comentei, há e haverão vagas, só acho contraditório o tamanho das demissões em massa quando relembramos do buzz de déficits de profissionais qualificados que era bradado pouco mais de um ano atrás.
Empresas recebem investimentos que precisam girar, do contrário no próximo ano esse investimento vai diminuir.
Uma das formas de justificar? Contratar!
Uma das formas de reduzir? Demitir.
Isso é um ciclo.
Ou seja, não tem nada de errado nas previsões.
Inclusive eu trabalho em uma empresa de grande porte que todo ano serão contratados x funcionários e final do ano y funcionários serão demitidos. Já é certo. E olha que nem é na área de tecnologia.
Resumindo: funcionário para empresa é produto/serviço, não são seres humanos…
Isso que está acontecendo não é normal. A Meta vai demitir 20 mil pessoas em menos de um ano. Demissões são do jogo, faz parte da rotina corporativa; demissões em massa, não.
[sarcasmo]Não se preocupa, é temporário, pois assim que o metaverso decolar como logicamente vai a tendencia altera.[/sarcasmo]
Cara, a meta fez uma aposta mediocre. Ta colhendo os frutos. O que espera dessa empresa em 5 anos? O que exatamente eles fornecem hoje?
Palpite meu: previsões são sempre feitas com os dados que se tem no momento. Talvez desse para prever, mas de qualquer modo seria muito difícil apostar que em 2022 os EUA subiriam os juros, a inflação viraria um problema no mundo inteiro e, para completar, estouraria uma guerra na Europa.
Não que esse conjunto de más notícias seja justificativa (acho, na real, que na maioria dos casos ele serve de bode expiatório), mas são eventos tão atípicos que escapam de qualquer modelo de previsão, incluindo o da demanda por trabalho.
Me causa espanto a dimensão destas dispensas. Dá impressão que estas Big Techs são (ou eram) cabidões de empregos sustentos por um otimismo mal calculado. A conta chegou.