Lendo alguns comentários fica evidente como alguns não entendem como uma faculdade funciona. Não dá pra ficar mudando grade curricular e infelizmente alguns professores são muito defasados e não tem mão de obra pra substituir. Esse é um ‘problema’ de toda academia e não tem como resolver, por isso abre mercado para fazer pequenos cursos mais especializados.
quando você diz ‘concurso’ refere-se a esfera pública? pois olha, nas faculdades privadas as coisas são tão caoticas quanto… o objetivo principal não é ensinar, é fazer dinheiro. só vai encontrar uns professores menos carrancudos e exigentes, pois eles podem ser realmente demitidos caso tenham muita reclamação.
Sempre me apareceu que essa é uma questão de desencontro de expectativas: ciência da computação é sobre computação e não sobre “tecnologia”. De fato é um curso mais “acadêmico” e acabava sendo um dos poucos diplomas que permitia trabalhar nas áreas de “tecnologia” com nível superior.
Reclamar que usa pouco o que aprendeu em computação no trabalho como “dev” é parecido com estudar administração e ir trabalhar como vendedor “júnior” em loja pequena: há muitos pontos de contato entre o currículo e a atuação profissional mas o curso não foi pensado pra isso e por isso não tem como garantir que vai realizar sua expectativa.
Hoje em dia há uma profusão de cursos mais “adequados ao mercado”, com foco mais profissionalizante e “prático”.
O abandono de cursos superiores tem aumentado muito nos últimos anos em todas as áreas (umas mais, outras menos) e transparece, por exemplo, no esforço que as instituições federais de ensino têm feito para preencher as vagas nos primeiros períodos e manter a taxa de formandos nos últimos.
Os indícios de abandono por “descompasso com o mercado” parecem ser mais uma questão de correlação do que de causação.
Mercado de TI no Brasil é 99% trabalhar na iniciativa privada que não investe em pesquisa e inovação (não, chatbot não é inovação). O dia a dia real: implantação, sustentação, segurança, etc. não é ensinado na faculdade.
Nesse sentido, do ponto de vista de empregador pouco me importa a faculdade para contratar.
Gente, desculpem o textão. Mas esse tema me pega fundo.
A reportagem dá ênfase ao universo de TI. Mas a parte onde está, efetivamente, o problema, aparece em uma única frase na reportagem toda.
São desafios manter os cursos conectados às demandas do mercado, que mudam cada vez mais rapidamente, e também relevantes para a formação de longo prazo. Também é preciso lidar com lacunas de aprendizagem que os alunos trazem do ensino básico.
Em todas as entrevistas, há um discurso essencialmente instrumentalista. É o “por que preciso estudar isso se não vou usar pra trabalhar?”.
Por que as pessoas aprenderiam algo, afinal? Por que faz sentido fazer um curso superior?
O que se vê, especialmente no discurso dos coordenadores dos cursos privados, é uma resposta frágil. Esse “pé em cada canoa”: quero ajudar o aluno a apertar parafuso e, ao mesmo tempo, fazer ele refletir sobre o impacto da evolução tecnológica dessa chave de fenda.
Tudo isso em semestres ensalados com gente de nível diferente, com aulas via zoom, avaliações usando formulários Google, enfim.
Os alunos que já trazem suas lacunas do ensino fundamental entram nessa roda do hamster e saem fragmentados, concluindo o curso ou não.
As perguntas que merecem ser feitas são: O que é e para que serve a universidade hoje? qual o sentido do conhecimento, do que é possível fazer com ele? Qual o papel do ensino, da pesquisa, dos grupos de estudo entre alunos?
Não existe vácuo. Se as instituições de ensino não se esforçarem para responder (enquanto tentam sobreviver como negócio), outras empresas (leia “big techs”) vão impor sua vontade.
Não tenho respostas pra isso. Só cansaço e assombro.
Eu curso o tecnólogo de Segurança da Informação pela FATEC e na minha experiência vejo que muitos alunos não lidam bem com as matérias menos práticas, muitos já se queixaram numa linha do tipo “porque vou fazer isso se não vou usar pra trabalhar?”.
Embora os cursos de tecnologia sejam de fato mais voltados para o mercado de trabalho, ainda são cursos superiores e precisam ter uma base comum de formação acadêmica, com matérias do tipo cálculo, português e metodologia de pesquisa.
Como profissional da área (inclusive de formação), entendo o sentimento da galera.
Na minha visão os cursos deveriam investir mais em fundamentos do que em tecnologias “da moda”.
Na minha visão esse tipo de aprendizado foi o que mais fez a diferença na minha formação e na de outras pessoas que considero bons profissionais.
O fato do mercado de TI ser bastante aquecido tem feito muita gente ter aumentos e mais aumentos rápidos sem necessariamente ter um nível de conhecimento que justifique isso.
Agora em momentos de layoffs e cortes de custos pq bolhas estouraram, isso pode acabar sendo um baita balde de água fria pros famosos “seniores com 2 anos de carreira”.
A real é que a graduação na área não preparam um profissional para o mercado. Eu não vejo nada errado com isso, mas vejo muita gente reclamando, talvez comparando com outros cursos.
Essa discussão é tão antiga quanto a própria área de TI, que nunca haverá um consenso.
A ementa tradicional de ciência da computação, muda pouco e nunca foi muito alinhada com o mercado, gerando uma diferença de expectativas. O curso tem foco mais acadêmico, mas a maioria espera aprender coisas do dia-a-dia. Os cursos mais práticos, por outro lado, acabam cobrindo cada vez menos o espaço de possibilidades: novas tecnologias surgem toda hora, mas as antigas não somem de uma hora para outra.
Há 20 anos um curso de banco de dados precisava cobrir sistemas transacionais e talvez algum MPP, mas nos últimos anos explodiu as alternativas NoSQL. Esse ano mesmo, a gente está mexendo com os chamados “banco de vetores” para integrar LLMs, obviamente isso ainda não está na ementa dos cursos.
Eu pessoalmente gostei de fazer graduação, ao menos para minha área de atuação, a base teórica ajuda o meu dia-a-dia. Mas para várias outras áreas, é bem pouco relevante, aumentando a sensação de perda de tempo e falta de sentido.
Fiz graduação em Ciências da Computação em uma universidade pública entre os anos de 2010 a 2015. Enquanto hoje em dia dá pra citar aulas presenciais e currículo desatualizado como motivos pra uma pessoa abandonar o curso, já naquela época eu pensava em algumas fatores que faria alguém abandonar a faculdade, fatores que talvez valham até hoje.
Ciências da Computação é um curso, na minha opinião, muito abrangente e teórico demais para quem quer simplesmente trabalhar na área de TI. Pra seguir a área acadêmica, ele é perfeito, mas fora dela, eu consigo pensar em mais de uma dezena de matérias que cursei que nunca vi na prática no dia a dia do trabalho.
O fato é que, em 5 anos de curso, há matérias de todo o tipo, desde teoria da computação (máquinas de Turing), compiladores de código, redes de computadores, processamento gráfico, IA, sistemas operacionais, bancos de dados, isso sem falar em matérias base, como cálculo, física, estatística e álgebra linear e vetorial. Não à toa, o nome do curso é “Ciências” no plural.
Há cursos técnicos que, em 2 anos ou 3 anos, focam apenas no necessário (ex.: programação, redes ou bancos de dados) para que a pessoa fique apta para trabalhar na área. Inclusive em instituições públicas.
Na coordenação do meu curso, porém, tinha outro agravante: eles não permitiam o estágio até que a pessoa tivesse terminado todas as matérias obrigatórias, o que ocorria por volta de 2,5 anos do curso, (isso se a pessoa não tivesse reprovado alguma matéria, senão atrasava mais ainda). Não sei se outros cursos de outras universidades seguem essa política, mas para uma pessoa que queira ou talvez precise de uma renda, isso é um desincentivo muito grande. Fora que estágio é uma disciplina dentro da grade curricular, então isso impede que a pessoa procure um emprego, pois ela vai precisar de um estágio que seja assinado pela empresa e pela universidade.
Todas as universidades tem essa política de só permitir a a partir do terceiro semestre (um estágio de 30h). Isso porque, antes da lei do estágio, era comum que as empresas usassem estagiário como uma posição Jr. mam remunerada, com jornadas normais de um profissional formado, sem VR/VT e com a necessidade de apresentar relatórios mensais ou bimestrais para a agência de estágio. Sem falar que a maioria das empresas, nessa época (aí por 2006) não tinham nenhum orientador dentro da empresa para ajudar o estagiário.
Mas, para bolsas de pesquisa (12h ~ 20h) normalmente é possível conseguir uma a partir do segundo semestre. E, para uma formação DE FATO é muito melhor do que um estágio em uma agência de desenvolvimento web, por exemplo. E hoje, acho, a bolsa teve um bom aumento e vale R$750 mensais com todas as vantagens de conseguir compartilhar estudos e pesquisa E usar a pesquisa pra aprender mais do que se aprende nas aulas.
Essa educação “utilitarista” que ainda é muito presente na computação (e que ignora a formação do ser humano social) é um grande problema que vai ter que ser adereçado em algum momento, senão vai ser cada vez mais um reduto de incels-redpils-ancaps (não é por nada que a maioria dos programadores com alguma preocupação social são velhos, formados nos anos 90 principalmente, antes do “boom” de TI).
Não discuto as políticas para permitir estágio com base no semestre ou na quantidade de horas/disciplinas cursadas. No entanto, atrelar isso à cursar todas as disciplinas obrigatórias, independente de quando elas serão cursadas, é que onde acho que discutível. Não era raro reprovar alguma disciplina obrigatória e só conseguir terminar todas lá pelo 6º, 7º ou 8º semestre.
Sobre bolsas de pesquisa: concordo que seriam bem melhor do que bolsas de estágio. Porém na minha época, as oportunidades eram poucas; não que haviam poucas pesquisas, mas certamente não havia para todos os alunos. Seria interessante que algo do tipo pudesse substituir o estágio obrigatório.
Sobre o fato da educação ser “utilitarista” em TI: pode ser ingenuidade da minha parte, mas não entendo a relação entre quantidade de disciplinas e formação social. Só pra constar, não sou contra a grade curricular dos cursos superiores de TI, mas há uma divergência entre expectativa e realidade desses cursos, que muitas vezes se vendem (ou são vendidos) como a solução para a escassez de mão de obra em TI aqui no Brasil.
Não acho que o ponto seja a relação entre quantidade de disciplinas e formação social mas sim que os cursos superiores tem uma função que extrapola a formação profissional dos alunos, por isso é relevante que haja uma parte obrigatória da grade com matérias dedicadas a formação de indivíduos mais conscientes, como reladidade socio-economica do Brasil, tecnologia e sociedade, etc.
Agora, concordo quanto a isso de cursas todas as matérias obrigatórias para poder fazer um estágio ser uma péssima ideia. Me parece que as instituições públicas de ensino utilizam de mecanismos muito excludentes para avaliar seus estágios (minha companheira teve problemas com isos durante toda a graduação na Unicamp).
No meu curso havia uma única disciplina chamada “Informática e sociedade”. Além do professor ser do próprio departamento (o que já acho um equívoco), o próprio professor não demonstrava compromisso com as aulas, faltava com frequência e as aulas que tinha era o famoso “filminho”, que nem lembro o que era.
No final, a nota da disciplina foi apenas um projeto pra levar os estudantes pra fazer algo na “sociedade”, no nosso caso foi apenas um workshop pra apresentar o curso pra alguns alunos de ensino médio de uma escola.
Na UFRGS era diferente, poderia estagiar a partir do 3 semestre, mesmo sem ter fechado as matérias do 2 semestre. O que não podia era ter uma taxa de reprovação alta (tipo, ter reprovado todas as matérias do primeiro ano). Daí eles não assinavam mesmo. O grande problema de conseguir estágio na minha época era a falta de regramento mesmo. Empresa querendo estagiário de 44h, empresa querendo estagiário noturno, empresa não pgando VR/VA etc. No final, ficava todo mundo em bolsa-trabalho na faculdade mesmo (exatamente porque na época faltava bolsa de IC).
Isso mudou muito quando eu voltei a estudar, em 2011. Tinha CsF, IC, PIBIC, ISF um monte de coisas que agregavam valor a tua área de atuação dentro da universidade e te colocavam em contato com o conhecimento que tu tinha adquirido em sala de aula. E muitas vezes eramos impelidos a empreender dentro da universidade, principalmente propondo pesquisas novas.
Sobre a parte de formação humana, acho essencial que um curso superior se preocupe em formar pessoas ciadadãs e não apenas trabalhadores. O estado do mercado de TI tem uma relação muito forte com uma formação social baixa/fraca e uma pedagogia opressora (de forma geral, esse é um problema das ciências exatas).
Concordo que não vão ser os bacharelados em CiC que vão suprir a demanda por programador junior ou por fábrica de software. Isso é um erro e deveria ser adereçado pelos tecnólogos e técnicos.
“O mercado bastante aquecido, que muitas vezes contrata sem exigir diploma (basta o conhecimento prático), aumenta o desafio.”
O que? Empresas contratando por conhecimento e não por pedaço de papel? O que eles estão pensando, obter maior produtividade??? Oh! A audácia!!
E daí vem um programador que não sabe usar FTP, não sabe usar um tracert/traceroute, não sabe fazer quase na unha e não conhece conceitos básicos (BigO, Ensenble, semântica formal, árvores) e ficam refém de um sistema de desenvolvimento (e as vezes nem entendem o que são os padrões como MVC, Serverless) porque eles só abem usar pra resolver problemas.
É errado? Não, mas isso pode/deve ser feito por um técnico com supervisão de um bacharel/mestre/doutor para entender e aperfeiçoar o que a parte mais “mão na massa” faz. Sem falar que precisa de um sistema de P&D, algo que duficilmente vai ser fácil de ser feito sem uma formação acadêmica (social, metodológica e cientifica).
Não entendi a parte “bacharel/mestre/doutor para entender e aperfeiçoar o que a parte mais “mão na massa” faz”. Achei essa frase bem etilista.
Em 22 anos de profissão, nunca vi isso suprimir a experiência do profissional no dia a dia nem como gestor eu colocaria uma pessoa em um cargo gerencial por sua expertise acadêmica. Isso que falou é completamente deslocado do mercado de trabalho.
1) Não disse que era pra colocar alguém em cargo gerencial por conhecimento acadêmico. Aliás, conhecimento acadêmico em cargo gerencial não tem muita afinidade, conhecimento acadêmico é técnico.
2) Eu não disse que experiência acadêmica substitui experiência profissional, aliás, eles deveriam se complementar, não se complementam por uma educação utilitarista focado no trabalho e não no saber, resquicios de uma educação destinada a gerar *apenas* mão-de-obra periférica (e é por isso que as empresas brasileiras de tecnologia não tem quase patentes e raramente tem um setor de pesquisa).
3) Entender e aperfeições processos exige conhecimento teórico, infelizmente, além de habilidades diferentes.
3.1) Eu tenho um exemplo: um programador – gerente de projetos – precisava fazer um sistema que usasse o LLM (LanguageChain eu acho) para gerar um “GPT” que respondesse questões de usuários em forma de tutorial sobre os produtos da empresa (um “ask something”). O programador/gerente de projetos conseguiu fazer uma PoC disso e conseguiu fazer rodar. Entregava o que era pedido. Só que o trabalho braçal de colocar URL por URL para o modelo treinar e depois gerar as respostas era de algo consumo e ainda estava sujeito a uma série de ruídos. E note, ele era um bacharel em formação em análise de sistemas.
3.2) Funcionava, como eu disse, a solução desse PM. Mas ela poderia ser melhorada. Na empresa em questão deixaram os programadores por mais de uma semana quebrando a cabeça como fazer isso, até que alguém perguntou pra um linguista como poderia ser feito. Gerar um corpus, tokenizar, limpar, lematizar e transformar tudo em um uico arquivo TXT lido em milissegundos melhorou sobremaneira o sistema inteiro.
Moral da história: precisava de um conhecimento acadêmico ali (de outra área inclusive) que não é ensinado na experiência profissional (pelo menos não depois de muita tentativa e erro) e que cruzava áreas distintas pra gerar um resultado melhor do que o “mão na massa” puro e simples. Às vezes não tem como melhorar processos e metodologias sem ter conhecimento teórico. O conhecimento teórico trás a generalidade que o profissional técnico (apenas técnico) não tem.
Mas a questão toda é: os dois conhecimentos podem estar na mesma pessoa, inclusive devem. Mas pra isso, precisamos parar de pensar copm uma cabeça utilitária e aceitar que precisamos “aprender coisas que não vamos usar” (teoricamente) na faculdade e depois partir pra “mão na massa” no mercado de trabalho.
O problema não é ser técnico ou acadêmico, o problema é ser utilitarista e não ver valor em um profissional acadêmico que passou por diversas discrplinas até chegar no mercado de trabalho, com uma bagagem literária e cientifica muito grande.
Lendo alguns comentários fica evidente como alguns não entendem como uma faculdade funciona. Não dá pra ficar mudando grade curricular e infelizmente alguns professores são muito defasados e não tem mão de obra pra substituir. Esse é um ‘problema’ de toda academia e não tem como resolver, por isso abre mercado para fazer pequenos cursos mais especializados.
“infelizmente alguns professores são muito defasados e não tem mão de obra pra substituir.”
Isso quando tem concurso pra professor, que pra isso precisa abrir vagas, não é?
quando você diz ‘concurso’ refere-se a esfera pública? pois olha, nas faculdades privadas as coisas são tão caoticas quanto… o objetivo principal não é ensinar, é fazer dinheiro. só vai encontrar uns professores menos carrancudos e exigentes, pois eles podem ser realmente demitidos caso tenham muita reclamação.
Sempre me apareceu que essa é uma questão de desencontro de expectativas: ciência da computação é sobre computação e não sobre “tecnologia”. De fato é um curso mais “acadêmico” e acabava sendo um dos poucos diplomas que permitia trabalhar nas áreas de “tecnologia” com nível superior.
Reclamar que usa pouco o que aprendeu em computação no trabalho como “dev” é parecido com estudar administração e ir trabalhar como vendedor “júnior” em loja pequena: há muitos pontos de contato entre o currículo e a atuação profissional mas o curso não foi pensado pra isso e por isso não tem como garantir que vai realizar sua expectativa.
Hoje em dia há uma profusão de cursos mais “adequados ao mercado”, com foco mais profissionalizante e “prático”.
O abandono de cursos superiores tem aumentado muito nos últimos anos em todas as áreas (umas mais, outras menos) e transparece, por exemplo, no esforço que as instituições federais de ensino têm feito para preencher as vagas nos primeiros períodos e manter a taxa de formandos nos últimos.
Os indícios de abandono por “descompasso com o mercado” parecem ser mais uma questão de correlação do que de causação.
Mercado de TI no Brasil é 99% trabalhar na iniciativa privada que não investe em pesquisa e inovação (não, chatbot não é inovação). O dia a dia real: implantação, sustentação, segurança, etc. não é ensinado na faculdade.
Nesse sentido, do ponto de vista de empregador pouco me importa a faculdade para contratar.
Gente, desculpem o textão. Mas esse tema me pega fundo.
A reportagem dá ênfase ao universo de TI. Mas a parte onde está, efetivamente, o problema, aparece em uma única frase na reportagem toda.
São desafios manter os cursos conectados às demandas do mercado, que mudam cada vez mais rapidamente, e também relevantes para a formação de longo prazo. Também é preciso lidar com lacunas de aprendizagem que os alunos trazem do ensino básico.
Em todas as entrevistas, há um discurso essencialmente instrumentalista. É o “por que preciso estudar isso se não vou usar pra trabalhar?”.
Por que as pessoas aprenderiam algo, afinal? Por que faz sentido fazer um curso superior?
O que se vê, especialmente no discurso dos coordenadores dos cursos privados, é uma resposta frágil. Esse “pé em cada canoa”: quero ajudar o aluno a apertar parafuso e, ao mesmo tempo, fazer ele refletir sobre o impacto da evolução tecnológica dessa chave de fenda.
Tudo isso em semestres ensalados com gente de nível diferente, com aulas via zoom, avaliações usando formulários Google, enfim.
Os alunos que já trazem suas lacunas do ensino fundamental entram nessa roda do hamster e saem fragmentados, concluindo o curso ou não.
As perguntas que merecem ser feitas são: O que é e para que serve a universidade hoje? qual o sentido do conhecimento, do que é possível fazer com ele? Qual o papel do ensino, da pesquisa, dos grupos de estudo entre alunos?
Não existe vácuo. Se as instituições de ensino não se esforçarem para responder (enquanto tentam sobreviver como negócio), outras empresas (leia “big techs”) vão impor sua vontade.
Não tenho respostas pra isso. Só cansaço e assombro.
Eu curso o tecnólogo de Segurança da Informação pela FATEC e na minha experiência vejo que muitos alunos não lidam bem com as matérias menos práticas, muitos já se queixaram numa linha do tipo “porque vou fazer isso se não vou usar pra trabalhar?”.
Embora os cursos de tecnologia sejam de fato mais voltados para o mercado de trabalho, ainda são cursos superiores e precisam ter uma base comum de formação acadêmica, com matérias do tipo cálculo, português e metodologia de pesquisa.
Como profissional da área (inclusive de formação), entendo o sentimento da galera.
Na minha visão os cursos deveriam investir mais em fundamentos do que em tecnologias “da moda”.
Na minha visão esse tipo de aprendizado foi o que mais fez a diferença na minha formação e na de outras pessoas que considero bons profissionais.
O fato do mercado de TI ser bastante aquecido tem feito muita gente ter aumentos e mais aumentos rápidos sem necessariamente ter um nível de conhecimento que justifique isso.
Agora em momentos de layoffs e cortes de custos pq bolhas estouraram, isso pode acabar sendo um baita balde de água fria pros famosos “seniores com 2 anos de carreira”.
A real é que a graduação na área não preparam um profissional para o mercado. Eu não vejo nada errado com isso, mas vejo muita gente reclamando, talvez comparando com outros cursos.
Essa discussão é tão antiga quanto a própria área de TI, que nunca haverá um consenso.
A ementa tradicional de ciência da computação, muda pouco e nunca foi muito alinhada com o mercado, gerando uma diferença de expectativas. O curso tem foco mais acadêmico, mas a maioria espera aprender coisas do dia-a-dia. Os cursos mais práticos, por outro lado, acabam cobrindo cada vez menos o espaço de possibilidades: novas tecnologias surgem toda hora, mas as antigas não somem de uma hora para outra.
Há 20 anos um curso de banco de dados precisava cobrir sistemas transacionais e talvez algum MPP, mas nos últimos anos explodiu as alternativas NoSQL. Esse ano mesmo, a gente está mexendo com os chamados “banco de vetores” para integrar LLMs, obviamente isso ainda não está na ementa dos cursos.
Eu pessoalmente gostei de fazer graduação, ao menos para minha área de atuação, a base teórica ajuda o meu dia-a-dia. Mas para várias outras áreas, é bem pouco relevante, aumentando a sensação de perda de tempo e falta de sentido.
Fiz graduação em Ciências da Computação em uma universidade pública entre os anos de 2010 a 2015. Enquanto hoje em dia dá pra citar aulas presenciais e currículo desatualizado como motivos pra uma pessoa abandonar o curso, já naquela época eu pensava em algumas fatores que faria alguém abandonar a faculdade, fatores que talvez valham até hoje.
Ciências da Computação é um curso, na minha opinião, muito abrangente e teórico demais para quem quer simplesmente trabalhar na área de TI. Pra seguir a área acadêmica, ele é perfeito, mas fora dela, eu consigo pensar em mais de uma dezena de matérias que cursei que nunca vi na prática no dia a dia do trabalho.
O fato é que, em 5 anos de curso, há matérias de todo o tipo, desde teoria da computação (máquinas de Turing), compiladores de código, redes de computadores, processamento gráfico, IA, sistemas operacionais, bancos de dados, isso sem falar em matérias base, como cálculo, física, estatística e álgebra linear e vetorial. Não à toa, o nome do curso é “Ciências” no plural.
Há cursos técnicos que, em 2 anos ou 3 anos, focam apenas no necessário (ex.: programação, redes ou bancos de dados) para que a pessoa fique apta para trabalhar na área. Inclusive em instituições públicas.
Na coordenação do meu curso, porém, tinha outro agravante: eles não permitiam o estágio até que a pessoa tivesse terminado todas as matérias obrigatórias, o que ocorria por volta de 2,5 anos do curso, (isso se a pessoa não tivesse reprovado alguma matéria, senão atrasava mais ainda). Não sei se outros cursos de outras universidades seguem essa política, mas para uma pessoa que queira ou talvez precise de uma renda, isso é um desincentivo muito grande. Fora que estágio é uma disciplina dentro da grade curricular, então isso impede que a pessoa procure um emprego, pois ela vai precisar de um estágio que seja assinado pela empresa e pela universidade.
Todas as universidades tem essa política de só permitir a a partir do terceiro semestre (um estágio de 30h). Isso porque, antes da lei do estágio, era comum que as empresas usassem estagiário como uma posição Jr. mam remunerada, com jornadas normais de um profissional formado, sem VR/VT e com a necessidade de apresentar relatórios mensais ou bimestrais para a agência de estágio. Sem falar que a maioria das empresas, nessa época (aí por 2006) não tinham nenhum orientador dentro da empresa para ajudar o estagiário.
Mas, para bolsas de pesquisa (12h ~ 20h) normalmente é possível conseguir uma a partir do segundo semestre. E, para uma formação DE FATO é muito melhor do que um estágio em uma agência de desenvolvimento web, por exemplo. E hoje, acho, a bolsa teve um bom aumento e vale R$750 mensais com todas as vantagens de conseguir compartilhar estudos e pesquisa E usar a pesquisa pra aprender mais do que se aprende nas aulas.
Essa educação “utilitarista” que ainda é muito presente na computação (e que ignora a formação do ser humano social) é um grande problema que vai ter que ser adereçado em algum momento, senão vai ser cada vez mais um reduto de incels-redpils-ancaps (não é por nada que a maioria dos programadores com alguma preocupação social são velhos, formados nos anos 90 principalmente, antes do “boom” de TI).
Não discuto as políticas para permitir estágio com base no semestre ou na quantidade de horas/disciplinas cursadas. No entanto, atrelar isso à cursar todas as disciplinas obrigatórias, independente de quando elas serão cursadas, é que onde acho que discutível. Não era raro reprovar alguma disciplina obrigatória e só conseguir terminar todas lá pelo 6º, 7º ou 8º semestre.
Sobre bolsas de pesquisa: concordo que seriam bem melhor do que bolsas de estágio. Porém na minha época, as oportunidades eram poucas; não que haviam poucas pesquisas, mas certamente não havia para todos os alunos. Seria interessante que algo do tipo pudesse substituir o estágio obrigatório.
Sobre o fato da educação ser “utilitarista” em TI: pode ser ingenuidade da minha parte, mas não entendo a relação entre quantidade de disciplinas e formação social. Só pra constar, não sou contra a grade curricular dos cursos superiores de TI, mas há uma divergência entre expectativa e realidade desses cursos, que muitas vezes se vendem (ou são vendidos) como a solução para a escassez de mão de obra em TI aqui no Brasil.
Não acho que o ponto seja a relação entre quantidade de disciplinas e formação social mas sim que os cursos superiores tem uma função que extrapola a formação profissional dos alunos, por isso é relevante que haja uma parte obrigatória da grade com matérias dedicadas a formação de indivíduos mais conscientes, como reladidade socio-economica do Brasil, tecnologia e sociedade, etc.
Agora, concordo quanto a isso de cursas todas as matérias obrigatórias para poder fazer um estágio ser uma péssima ideia. Me parece que as instituições públicas de ensino utilizam de mecanismos muito excludentes para avaliar seus estágios (minha companheira teve problemas com isos durante toda a graduação na Unicamp).
No meu curso havia uma única disciplina chamada “Informática e sociedade”. Além do professor ser do próprio departamento (o que já acho um equívoco), o próprio professor não demonstrava compromisso com as aulas, faltava com frequência e as aulas que tinha era o famoso “filminho”, que nem lembro o que era.
No final, a nota da disciplina foi apenas um projeto pra levar os estudantes pra fazer algo na “sociedade”, no nosso caso foi apenas um workshop pra apresentar o curso pra alguns alunos de ensino médio de uma escola.
Na UFRGS era diferente, poderia estagiar a partir do 3 semestre, mesmo sem ter fechado as matérias do 2 semestre. O que não podia era ter uma taxa de reprovação alta (tipo, ter reprovado todas as matérias do primeiro ano). Daí eles não assinavam mesmo. O grande problema de conseguir estágio na minha época era a falta de regramento mesmo. Empresa querendo estagiário de 44h, empresa querendo estagiário noturno, empresa não pgando VR/VA etc. No final, ficava todo mundo em bolsa-trabalho na faculdade mesmo (exatamente porque na época faltava bolsa de IC).
Isso mudou muito quando eu voltei a estudar, em 2011. Tinha CsF, IC, PIBIC, ISF um monte de coisas que agregavam valor a tua área de atuação dentro da universidade e te colocavam em contato com o conhecimento que tu tinha adquirido em sala de aula. E muitas vezes eramos impelidos a empreender dentro da universidade, principalmente propondo pesquisas novas.
Sobre a parte de formação humana, acho essencial que um curso superior se preocupe em formar pessoas ciadadãs e não apenas trabalhadores. O estado do mercado de TI tem uma relação muito forte com uma formação social baixa/fraca e uma pedagogia opressora (de forma geral, esse é um problema das ciências exatas).
Concordo que não vão ser os bacharelados em CiC que vão suprir a demanda por programador junior ou por fábrica de software. Isso é um erro e deveria ser adereçado pelos tecnólogos e técnicos.
“O mercado bastante aquecido, que muitas vezes contrata sem exigir diploma (basta o conhecimento prático), aumenta o desafio.”
O que? Empresas contratando por conhecimento e não por pedaço de papel? O que eles estão pensando, obter maior produtividade??? Oh! A audácia!!
E daí vem um programador que não sabe usar FTP, não sabe usar um tracert/traceroute, não sabe fazer quase na unha e não conhece conceitos básicos (BigO, Ensenble, semântica formal, árvores) e ficam refém de um sistema de desenvolvimento (e as vezes nem entendem o que são os padrões como MVC, Serverless) porque eles só abem usar pra resolver problemas.
É errado? Não, mas isso pode/deve ser feito por um técnico com supervisão de um bacharel/mestre/doutor para entender e aperfeiçoar o que a parte mais “mão na massa” faz. Sem falar que precisa de um sistema de P&D, algo que duficilmente vai ser fácil de ser feito sem uma formação acadêmica (social, metodológica e cientifica).
Não entendi a parte “bacharel/mestre/doutor para entender e aperfeiçoar o que a parte mais “mão na massa” faz”. Achei essa frase bem etilista.
Em 22 anos de profissão, nunca vi isso suprimir a experiência do profissional no dia a dia nem como gestor eu colocaria uma pessoa em um cargo gerencial por sua expertise acadêmica. Isso que falou é completamente deslocado do mercado de trabalho.
Eu acho que você entendeu bem errado.
1) Não disse que era pra colocar alguém em cargo gerencial por conhecimento acadêmico. Aliás, conhecimento acadêmico em cargo gerencial não tem muita afinidade, conhecimento acadêmico é técnico.
2) Eu não disse que experiência acadêmica substitui experiência profissional, aliás, eles deveriam se complementar, não se complementam por uma educação utilitarista focado no trabalho e não no saber, resquicios de uma educação destinada a gerar *apenas* mão-de-obra periférica (e é por isso que as empresas brasileiras de tecnologia não tem quase patentes e raramente tem um setor de pesquisa).
3) Entender e aperfeições processos exige conhecimento teórico, infelizmente, além de habilidades diferentes.
3.1) Eu tenho um exemplo: um programador – gerente de projetos – precisava fazer um sistema que usasse o LLM (LanguageChain eu acho) para gerar um “GPT” que respondesse questões de usuários em forma de tutorial sobre os produtos da empresa (um “ask something”). O programador/gerente de projetos conseguiu fazer uma PoC disso e conseguiu fazer rodar. Entregava o que era pedido. Só que o trabalho braçal de colocar URL por URL para o modelo treinar e depois gerar as respostas era de algo consumo e ainda estava sujeito a uma série de ruídos. E note, ele era um bacharel em formação em análise de sistemas.
3.2) Funcionava, como eu disse, a solução desse PM. Mas ela poderia ser melhorada. Na empresa em questão deixaram os programadores por mais de uma semana quebrando a cabeça como fazer isso, até que alguém perguntou pra um linguista como poderia ser feito. Gerar um corpus, tokenizar, limpar, lematizar e transformar tudo em um uico arquivo TXT lido em milissegundos melhorou sobremaneira o sistema inteiro.
Moral da história: precisava de um conhecimento acadêmico ali (de outra área inclusive) que não é ensinado na experiência profissional (pelo menos não depois de muita tentativa e erro) e que cruzava áreas distintas pra gerar um resultado melhor do que o “mão na massa” puro e simples. Às vezes não tem como melhorar processos e metodologias sem ter conhecimento teórico. O conhecimento teórico trás a generalidade que o profissional técnico (apenas técnico) não tem.
Mas a questão toda é: os dois conhecimentos podem estar na mesma pessoa, inclusive devem. Mas pra isso, precisamos parar de pensar copm uma cabeça utilitária e aceitar que precisamos “aprender coisas que não vamos usar” (teoricamente) na faculdade e depois partir pra “mão na massa” no mercado de trabalho.
O problema não é ser técnico ou acadêmico, o problema é ser utilitarista e não ver valor em um profissional acadêmico que passou por diversas discrplinas até chegar no mercado de trabalho, com uma bagagem literária e cientifica muito grande.
A TI criou o submundo das certificações e ficou refém disso.
Acho bom e acho ruim.