A palavra “nuvem” foi adotada pela indústria de tecnologia para se referir aos grandes parques de servidores escaláveis.
Graças a ela, qualquer empresa, startup ou empreendedor individual não precisa mais arcar com os altos custos iniciais de infraestrutura para lançar um serviço na internet. A nuvem permite começar pequeno (e gastando pouco) e crescer de modo contínuo, de acordo com a demanda, rápido ou devagar.
É um modelo genial. Não à toa, os líderes do setor — Amazon Web Services, Google Cloud e Microsoft Azure — ficaram enormes e são muito lucrativos.
Como toda tecnologia transformadora, ficamos fascinados com o lado bom da nuvem e nos esquecemos dos riscos da concentração de mercado, indisponibilidade pontual, segurança e custos colaterais, ocultos pela sombra do otimismo que o progresso tecnológico impregna em si mesmo. Raros e/ou incipientes, mas ainda assim presentes, esses riscos em geral revelam a natureza física da nuvem, levantada com muitos recursos naturais limitados, como metais raros, silício e água.
Chamou-me a atenção esta reportagem da Bloomberg (sem paywall) mostrando regiões que sofrem com secas históricas e, ao mesmo tempo, abrigam grandes data centers de empresas como Meta, Microsoft e Amazon.
Esses data centers, os endereços físicos da “nuvem”, consomem quantidades enormes de água. Um da Meta em Talavera de la Reina, na Espanha, ainda no papel, deverá gastar 665 milhões de litros por ano. Nos momentos de pico, serão 195 litros por segundo para arrefecer máquinas que sustentam a nuvem digital.
Não por acaso, data centers do tipo têm gerado insatisfação e antipatia das pessoas que moram nos locais onde estão instalados ou pretendem se instalar. De repente, elas se veem obrigadas a dividir a pouca água com computadores.
É irônico que a “nuvem” dos titãs da tecnologia se comporte de maneira oposta à da natureza: em vez de trazer água, consome-a. A menos que se conte como “água” aquele barulhinho de chuva do streaming, possível apenas graças à nuvem digital.
O prefessor Sérgio Amadeu fala bastante sobre isso. E tem bons dados sobre o assunto!
a titulo de comparação,665 milhões de litros por ano equivale a uma cidade de 10.000 habitantes
Não é só data center. A internet responde por 4% das emissões de gases do aquecimento. Isso é quase três vezes as emissões do Brasil. E para quê? Boa parte desse uso é meio inútil. bitcoin, streaming, bots…
Correção: mineração de bitcoin é um número separado disso…
Os datacenters fazem reaproveitamento de boa parte da água e, claro, há perdas. Já as cervejarias e produtoras de refrigerantes tem bem menos reaproveitamento de água.
1848: tudo que é sólido desmancha no ar
2023: as nuvens desmanchadas vão acabar destruindo o planeta
A maior parte da água é sim reutilizada, mas há grandes perdas. E a reutilização da água inclui resfriamento o que implica uso de energia e potencialmente de mais água. A água/vapor aquecidos não podem retornar imediatamente ao sistema e a água deslocada para esse sistema fica presa nele (pensem no que fazem de forma similar as usinas termoelétricas e nucleares).
Outra grande parte é utilizada na construção e instalação dos data centers. Há que se considerar que as críticas apresentadas são sobre o estresse hídrico em regiões que já estão sob pressão, passando por secas severas e com quebras de safras.
Na notícia do Bloomberg há links explicitando isso melhor, de casos no Chile, Uruguai e Países Baixos.
Exato! Geralmente ela é utilizada em um sistema fechado para resfriamento dos sistemas.
Claro que há perdas de água, etc.. mas isso é utilizado há anos em toda escala industrial.
Não entendi o porquê do tom alarmista na matéria.
O problema é que esses datacenters estão instalados justamente em locais que sofrem com escassez de água monopolizando o recurso enquanto a população local é orientada através campanhas publicitárias (supostamente pró meio ambiente) a economizar água no dia a dia.
Mesma relação que a nossa com o agro-negócio, economize água no banho enquanto o agro desperdiça toneladas na produção de soja.
Mas seria para resfriar servidores, não é?
Teoricamente não precisa contaminar nem absorver a água. Ela só passaria pelo processo. Não?