Topei com uma história curiosa a respeito do mIRC. Isso trouxe tantas lembranças e, talvez mais surpreendente, a revelação de que o IRC vive, com uma comunidade ativa, e planos para modernizar-se.
Sim, o mIRC ainda existe e é atualizado com frequência. O aplicativo, lançado em 1995, continua ativo e seu criador, o britânico Khaled Mardam-Bey, segue à frente do projeto. A última versão, 7.72, foi lançada em 27 de novembro.
São quase 30 anos desenvolvendo um aplicativo que teve seu auge há décadas e, nos últimos anos, foi relegado pelo público, que migrou para alternativas mais modernas e que funcionam em celulares.
O mIRC voltou ao meu radar devido à notícia de que, em 2019, Khaled deixou de honrar as “licenças vitalícias” que vendia até então. Segundo o site PocNetwork, ele tem pedido a usuários que compraram a licença há mais de dez anos para renová-la. As novas valem por três anos.
Essa informação consta na página de perguntas e respostas. O texto mudou um pouco no último mês, ficou mais enxuto/direto, provavelmente devido à repercussão. Até novembro, com a ajuda da Wayback Machine, vemos que a mensagem dizia o seguinte:
Quando comecei a oferecer licenças vitalícias [do mIRC] em 1995, parecia a coisa certa e justa a se fazer. Entretanto, eu não imaginava que estaria trabalhando no mIRC 25 anos depois. A licença vitalícia significa que ainda dou suporte e ofereço atualizações a todos os usuários que já se registraram. Isso se tornou gradativamente mais difícil e chegou a um ponto em que, infelizmente, não é mais possível. Se o seu registro tem mais de dez anos, se você puder, por favor, considere registrar-se de novo. Agradeceria seu apoio contínuo ao mIRC.
A licença, ou registro do mIRC, custa US$ 20. Ele só tem versão para Windows.
mIRC? IRC?
Se esta é a primeira vez que você lê o nome “mIRC”, significa que é jovem e não viveu a fase da internet em que o IRC, um protocolo de troca de mensagens baseados em servidores descentralizados e canais, era febre. Isso foi entre meados dos anos 1990 e início dos anos 2000, antes do IRC ser atropelado pelo ICQ e, principalmente, MSN Messenger.
O IRC, sigla para “Internet Relay Chat”, é ainda mais antigo. Foi criado em 1988 e tornou-se um padrão em 1993. Apesar dos nomes similares, IRC e mIRC são coisas diferentes: o primeiro é o protocolo; o segundo, um dos vários aplicativos compatíveis com o protocolo.
Nas madrugadas e fins de semana do início da internet comercial, boa parte da interação que tínhamos online se passava em janelinhas como esta:

Acho que ninguém aqui no Brasil chegou a pagar pelo mIRC e poucos deviam usá-lo assim, no “sabor puro”.
Vários grupos de usuários com alguma habilidade em programação hackeavam o mIRC para incluir novos recursos e “crackear” (piratear) o registro. Essas modificações eram chamadas “scripts”, tinham nomes criativos como Scoop, t7dS e Cebolinha, e eram distribuídas gratuitamente. Bons tempos!
Presente e futuro
Apesar do declínio em popularidade e do surgimento de protocolos abertos mais modernos, como XMPP e Matrix, o IRC ainda é usado por aí.
O maior servidor do mundo é o Libera.Chat. Além do mIRC, existem outros aplicativos compatíveis com o protocolo, como Polari (Linux, GTK), LimeChat (macOS) e Circio (iOS).
Desde 2016, um grupo trabalha no IRCv3, um projeto para modernizar o IRC mantendo a compatibilidade com a versão atual do protocolo.
Nossa saudades do irc💔💔 até hoje busco todos os meios de encontrar amigos,a rede caiu tudo foi perdido…
Todas tecnologias de hoje redes sociais plataformas não deram como irc mIRC 🥺🥺
Não “hackeavam” o mIRC, o programa permitia a inclusão de códigos em scripts.
Meus scrips favoritos: Tucupi Script, Scoop Script e The 7 Deadly Sins Script.
O que eu usei isso nos anos 2000, não tá na história kkkkkk
Pense numa época de ouro da internet, muito antes do cheio-de-emojis-MSN, o mIRC era o papai do chat online, às vezes perdia pro chat da UOL, Terra e tal… mas era bom demais! Fui entrar agora só de curiosidade e a nostalgia bateu na alma.
Vivi uma época muito boa da minha vida a 20 anos atras com o mIRC.
Eu era um dos que programava meu próprio script, e era founder do canal do meu colégio (o que gerou algumas tretas com colegas hahaha)
Abandonei o mIRC no início do orkut, não por causa do orkut em si, mas porque meu HD havia estragado e eu havia perdido todo o código do script que eu vinha fazendo a anos, e com isso acabei abandonando o mIRC com preguiça de reescrever tudo outra vez.
Agora no inicio de 2023 tive a sorte e alegria de reencontrar na webarchive o código do meu script, o “Windows Script XP”, e por incrível que pareça funcionou na nova versão do mIRC, 7.72.
Decidi então que vou reviver o script e adicionar novas funcionalidades que atendam a maneira como as pessoas usam apps de chat hoje em dia, trazendo suporte para compartilhamento de conteúdo multimídia (fotos, vídeos e áudio) de forma simplificada.
Estou conectando na irc.BrasIRC.com.br, tem um pessoal que ainda conecta lá. E o nome do script será Tutipila Script. #Tutipila pra quem quiser acompanhar o desenvolvimento.
Nossa, nostalgia bateu forte com essa notícia. Usei pirch e mIRC (embora nunca tenha pago por ele). Quanto à revogação da licença, acho que não é algo grave. Caso alguém queira continuar a usar o programa, que se pague, até mesmo por uma questão de consideração ao trabalho que ele vem mantendo há quase 3 décadas. Se não tiver afim de usar, pode partir pra alguma solução opensource gratuita (opção não faltará).
Nossa, a nostalgia bateu forte com essa notícia. Eu lembro que comecei usando o pirch, depois fui pro mIRC por causa da “propaganda” por parte dos meus amigos, ao ponto que, na minha turma eu fui o único que não bandeou para os scripts por um motivo muito simples: meu pc era muito fraco e o mIRC era o único com o qual eu conseguia manter um chat, um navegador e alguma mp3 rolando ao mesmo tempo.
Nem sabia que existia uma versão paga do mIRC. Usava os derivados como Scoop Script, The 7 Deadly Sins Script, etc. Que saudade!
As comunidades de software livre nunca deixaram de usar IRC. Redes como a freenode e oftc tinham salas oficiais com centenas de usuários de comunidades como KDE, Gnome, Firefox e outras.
Atualmente as comunidades estão migrando pro matrix.org mas sempre mantendo uma bridge com os IRCs, pois boa parte dos devs mais antigos não saem de lá.
Nossa, que nostalgia! Eu usava muito o mirc, principalmente pra baixar MP3 dos usuários que gentilmente disponibilizavam seus catálogos gratuitamente. Tinham canais específicos pra isso e eu achava muita raridade que não tinha no Napster, por exemplo. Saudades!
Pô, mancada vender uma licença vitalícia e depois voltar atrás na decisão de suportar essas licenças.
Não sei como isso é tratado pelas leis, mas dependendo do país em que o cliente do mIRC, a empresa pode ser obrigada a manter o formato da licença. E paro por aqui com meu (quase nulo) conhecimento jurídico.
Aprendi a programar com mIRC! Saudades.
Eu também! Apesar de não mexer com isso hoje em dia, os conceitos que aprendi com o “scripting” do mIRC ainda fazem sentido.
Sempre preferi o mIRC, pois o ICQ era mais “solto”. A possibilidade de achar os canais por determinados tópicos era superior que o contato avulso de uma pessoa no ICQ. O ICQ ganhava no quesito ser direto, pois no mIRC haviam vários servidores. Então durante jogos era mais fácil só compartilhar o # do ICQ.
E em tempo, lembrei da música “Me Dê OP no #seu_coracao”.
E boa nostalgia dos IRContros.
Haha boa lembrança essa música (e esse título é ótimo!)
Até recentemente era bem popular com a comunidade opensource, agora que estão migrando pro matrix e outros em parte por umas polemicas do freenode
Confundi mIRC com IRC e cometi esse comentário sem nexo, fica aí de informação sobre o IRC, nāo o mIRC 😅
Basicamente o argumento dele era: “licença vitalícia só enquanto eu trabalhar para manter o aplicativo até deixar vocês na mão. Depois devo parar e ir para outra coisa. Aí, se fode aí com licença vitalícia. Mas como não imaginei que continuaria trabalhando e que teria que honrar a licença vitalícia temporária, dá uma ajudinha aí”
Poderia ter proposto algo nos moldes de softwares tradicionais, você compra a versão x, para atualizar para a seguinte, compra de novo sei lá.
Não julgo o cara. Provavelmente ele pensou que o crescimento de usuários fosse sustentar, no mínimo os custos do negócio (servidor, consumo de rede, armazenamento, etc.) e talvez no início, em 1995, isso deu certo. Mas estamos aqui em 2022, quase 30 anos depois, e certamente a quantidade de usuários não está crescendo, pelo menos não mais quanto antes.
E talvez oferecer uma versão nova iria de encontro com a licença vitalícia mesmo assim: ou ele teria que manter a versão antiga e a nova ao mesmo tempo (o que não seria desejável, seria necessário manter as duas versões), ou precisaria descontinuar a versão antiga. Assinaturas com upgrades ou novos recursos pagos seriam uma boa ideia.
Sendo sincero, não creio que “licença vitalícia” seja um modelo ideal para software, hoje em dia a gente entende melhor que softwares exigem atualizações, correções de bugs e melhorias para continuar funcionando em novos sistemas operacionais. Nos anos 90, pagar por um software em uma versão X, e depois pagar pela atualização, ou pela nova versão ainda era viável, mas para o usuário comum, ele poderia pensar: “por que eu pagaria pela nova versão se a versão que eu tenho ainda funciona?”. Por isso entendo o apelo que a “licença vitalícia” teve na época, e que infelizmente, não funciona mais hoje.
Olha, eu julgo porque ele não se organizou nem planejou, não considerou as consequências de oferecer uma licença vitalícia lá atrás. Ele ofereceu uma licença vitalícia que não se sustentou por 30 anos, o que não é nem metade de uma vida, considerando as expectativas de vida da população.
Eu não vejo problema no comércio nos moldes dos anos 90. Ao menos do ponto de vista do consumidor. O fato desse comércio estar acabando significa que: era um comércio insustentável, visto que o “Photoshop 1” faz, basicamente, as mesmas coisas que o “Photoshop 2”, e aí muita gente não faz o upgrade, ou porque viram que o público caiu matando em pagar assinatura de software então viram que dá mais lucro assim.
“por que eu pagaria pela nova versão se a versão que eu tenho ainda funciona?” Exatamente. Por quê? Por que trocar de telefone se o telefone atual ainda funciona? Por que trocar de carro se o carro atual ainda funciona?
Do ponto de vista do consumidor acho bem josta que tá ficando cada vez mais difícil, ou impossível, dependendo da empresa, comprar uma licença vitalícia de uma versão específica de um software X, mesmo ciente de que não terá atualização de bugs e tal, mas podendo fazer o serviço a que se foi proposto inicialmente. Hoje quem decide se atualiza o software não é mais o usuário, é a empresa.
Nem o Khaled, nem ninguém poderia imaginar nos anos 1990 que um aplicativo simples como o mIRC duraria tanto tempo.
Por mais que o modelo de licença vitalícia seja, por definição, insustentável, acho que esse caso merece uma abordagem mais afetuosa. Afinal, é só um cara tentando ganhar a vida com um app de US$ 20 que ele mantém há 30 anos; não é uma Adobe da vida sugando a alma (e o cartão) do usuário. É bem provável que, lá atrás, ele tivesse zero noção de negócios e, como o próprio diz no FAQ, não imaginasse que passaria a vida cuidando daquele app.
Eu sempre pago licenças vitalícias com a expectativa de que elas não serão vitalícias. Talvez o cara do mIRC pudesse ter reservado novos recursos para uma grande nova versão que motivasse uma nova venda, como a Adobe e a Microsoft faziam, mas… né, nem isso ele fez, o que, para mim, é mais um motivo para pegar leve com ele.
É faz sentido. Deveria guardar minha acidez para essas empresas enormes mesmo e não destilar minha ira em um programador solitário. hahahaha
Só pra complementar: o meu ponto é que softwares precisam de atualizações. Imagina que de repente um programa começa a dar tela azul por causa de uma nova versão ou de um update do Windows. Ou imagina que o programa tem uma falha que permite acesso remoto nível administrador de um hacker a seu computador. Não dá pra simplesmente cobrar por um programa e esperar que ele funcione pra sempre sem atualizações, e também não é justo que um desenvolvedor (como o do mIRC) receba apenas um pagamento vitalício e isso custeie o suporte para o programa para sempre.
A questão que eu botei do usuário se questionar porque pagaria pelo mesmo programa é que muitas dessas questões de bugs e correções não refletem necessariamente em algo palpável para ele.
O mIRC foi o discord de antigamente.
Até hoje tenho amigos daquela época.