Talvez a Amazon esteja interessada em saber onde você colocou seu sofá.

A repercussão da compra da iRobot, dos robôs aspiradores de pó, pela Amazon, por US$ 1,7 bilhão, inclui analistas e gente da indústria desmerecendo o receio de que a Amazon esteja comprando um atalho para consolidar dados das residências dos consumidores.

Na newsletter de tecnologia da Bloomberg, por exemplo, o setorista de Amazon Brad Stone disse achar “a ideia de que a Amazon quer a ajuda do Roomba para mapear o interior da sua casa absurda: à Amazon não interessa saber onde você colocou seu sofá”.

No Twitter, Benedict Evans ecoou o sentimento:

O que me deixa mais perplexo em fios como este é a ideia de que alguém queira saber detalhes aleatórios e triviais da sua vida — que isso tenha qualquer valor econômico. “A Amazon quer saber onde sua mobília está!” Não, ela não quer, mas por que ela iria querer?

Talvez o co-fundador e atual CEO da iRobot nos ajude a entender? De uma entrevista dele à Reuters de 2017:

Há todo um ecossistema de coisas e serviços que uma casa inteligente pode entregar uma vez que você tenha um mapa detalhado da casa que o usuário tenha concordado em compartilhar.

Na época, a iRobot tinha acabado de tornar seus robôs Roomba compatíveis com a Alexa, da Amazon. Na entrevista, Angle ventilou a possibilidade de compartilhar os mapas da casa com as três gigantes de tecnologia — Amazon, Apple e Google —, um serviço que seria gratuito.

A vantagem à iRobot nesses arranjos, na avaliação do executivo, seria conectar os robôs Roomba ao maior número de outras empresas para torná-los mais úteis dentro de casa.

A reação foi bem negativa, o que levou Angle a uma tour de contenção de danos. Em outra entrevista, esta ao Mashable, o executivo bateu na tecla de que dados das casas só são enviados à nuvem e só seriam compartilhados com a anuência do usuário, mas também não descartou vendê-los no futuro: “Ainda não temos qualquer plano para a venda de dados.”

Talvez, afinal, a Amazon esteja sim interessada em saber onde você coloca seu sofá?

Newsletter

O Manual no seu e-mail. Três edições por semana — terça, sexta e sábado. Grátis. Cancele quando quiser.

Deixe um comentário

É possível formatar o texto do comentário com HTML ou Markdown. Seu e-mail não será exposto. Antes de comentar, leia isto.

7 comentários

  1. teoricamente com a alexa a amazon ja consegue saber quais equipamentos smart existen, atraves do wifi/bluetooth, correto?

    1. Recai naquela questão do Google que absorve informações dos roteadores com o street view.

  2. Se a distância entre o sofá e a parede do outro lado for X metros então convém mostrar um anúncio de uma TV de Y polegadas que seja mais adequada e que significa uma compra concreta ao invés de um anuncio aleatório de uma TV muito maior do que o possível cliente queira.

    1. É uma faca de dois gumes. Há essa suposta vantagem, mas tipo, não é só medidas das casas. Quantidade de móveis, presença da pessoa, etc… Sistemas automatizados tem capacidade de puxar diversos tipos de informações. E tais também tem risco de vazarem e cair nas mãos de criminosos.

  3. Os únicos interessados em detalhes internos de residência são criminosos, políticos/poderes autoritários e vendedores inescrupulosos.

    1. Bingo! Vendedores in escrúpulosos vc disse, aí entram as big techs. Eh isso o q elas são

  4. “a ideia de que alguém queira saber detalhes aleatórios e triviais da sua vida — que isso tenha qualquer valor econômico”…

    Meu deus, a cara de pau não dói não?