Fim de senhas compartilhadas na Netflix marca nova era do streaming
Em 2007, a Netflix teve uma ideia revolucionária: disponibilizar filmes e séries por streaming.
Até então, a empresa fundada em 1997 em Los Gatos, Califórnia, tinha como negócio enviar DVDs de filmes pelos correios. O aumento na velocidade da internet comercial deu espaço para o modelo sem discos físicos, de plástico, dez anos mais tarde.
Em 2011, com o lançamento do seu primeiro original para o streaming, House of Cards, a Netflix iniciou uma trajetória espetacular, uma raridade que causa inveja em outras empresas e redefine indústrias inteiras.
Tanto causou inveja que, pouco a pouco, todos os principais conglomerados de mídia, estúdios de cinema e big techs lançaram streamings próprios.
A “balcanização” do streaming tirou um pouco da força da Netflix na segunda metade dos anos 2010, mas não foi um golpe tão duro quanto o da primeira queda no número de assinantes em mais de uma década, no primeiro trimestre de 2022.
É difícil definir os marcos que sinalizam o declínio e o início de eras. Dito isso, arrisco dizer que aquele resultado negativo marcou o fim da era de ouro do streaming, quando o acesso instantâneo ao melhor do audiovisual que a humanidade produz era barato e livre de anúncios.
O tropeço na trajetória ascendente da base de usuários da Netflix despertou os piores instintos nos executivos da empresa. Sem demora, a empresa anunciou dois experimentos controversos e, até então, impensáveis: o fim do compartilhamento de senhas e a criação de um plano pago com anúncios.
Nesta terça (23), a Netflix expandiu o pente fino contra senhas compartilhadas para o Brasil e os Estados Unidos, dois dos seus maiores mercados. Por aqui, quem quiser continuar usando a senha de um amigo ou familiar em outro endereço que não o da pessoa que paga a conta terá que desembolsar R$ 12,90 extras por mês.
O plano com anúncios, lançado em novembro de 2022 e que custa R$ 18,90 no Brasil, é um sucesso: mais de 5 milhões de pessoas assinaram e, de acordo com a Netflix, 25% das novas assinaturas são a do plano mais básico.
É curioso, e talvez não seja coincidência, o fato das empresas de streaming estarem espremendo os consumidores da maneira que podem para extrair mais dinheiro.
O YouTube, que sempre foi sustentado por anúncios, tem aumentado a dose dos que exibe aos usuários sem dó, com até dez anúncios enfileirados e, em breve, peças de 30 segundos que não podem ser puladas, uma reminiscência da TV convencional.
O volume de publicidade no YouTube tem dois objetivos: aumentar a receita e direcionar pessoas mais sensíveis às interrupções da publicidade ao YouTube Premium, assinatura paga cujo benefício principal é a ausência de anúncios. Até agora, segundo o Google, dono do YouTube, 25 milhões de pessoas toparam pagar pela experiência melhor.
Nos Estados Unidos, o rebranding do HBO Max, agora apenas Max, trouxe preços mais salgados para o plano com filmes e séries em resolução 4K.
Por lá, são poucos os streamings sem um plano pago, mais barato, mas com anúncios. O Max tem, o Hulu sempre teve, o Disney+ ganhou um em dezembro de 2022.
As exceções a essa movimentação mesquinha, até o momento, são as big techs, Apple e Amazon, que têm em seus streamings mais um apoio estratégico a seus negócios principais, mais rentáveis, do que a esperança de fazer dinheiro para valer com filmes e séries.
Como parte dessa nova era de velhos hábitos, convém ficar de olho nos desdobramentos naturais, como o download de filmes e séries, que há algum tempo diziam estar morto
Serviços tipo Mubi também seriam exceção, e sem uma big tech pra escorar. Ou não entram na categoria de stremings tratada aqui? No mais, ótimo texto. Eu só mudaria o título: “Netflix reinaugura a velha era no streaming”.
Arrisco dizer que esses streamings de nicho, tipo MUBI, Belas Artes À La Carte e Imovision Reserva, não devem ser “contaminados” pelas mudanças que a Netflix está promovendo (ou seguindo, né, se considerarmos outros players grandes/mais comerciais como Hulu e HBO Max).
Não conhecia esse Imovision, porém olhei e gostei, têm os filmes do Haneke.
Há o darkflix também.
Ontem cancelamos a Netflix lá de casa, o serviço já estava caro e com pouquíssimas coisas boas, pelo preço dela tem coisa muito melhor para ser assinada. Espero que o brasileiro caia na real e perceba que ela não é o único serviço disponível
Eu já penso que o conteúdo da Netflix tem muito mais a cara do brasileiro médio que vê streaming do que qualquer outro serviço. Tanto que qualquer conversa sobre séries fica praticamente restrita ao que a Netflix produz. No máximo pega ali a HBO, mas rapidinho alguém já cita outra série da vermelhinha e o foco volta ao início.
Porque na cabeça deles só existe Netflix para streaming
Acho que o fato da Netflix ser o serviço com maior abrangência de tipos de séries/filmes é a razão disso acontecer. Acredito que ela seja o serviço de streaming com a melhor estratégia de conteúdo para atingir um volume maior de pessoas, porém, ultimamente me parece que as estratégias comerciais de empresa estão sendo feitas pra destruir isso.
Tem também o fato do pioneirismo no ramo da Netflix ter servido para que, no Brasil, ela virasse sinônimo de streaming. Muita gente se refere a Netflix como se refere à Gillette. Eu mesmo pra explicar pros meus pais o que era o Amazon Prime Video falei que era uma espécie de Netflix.