Mastodon não é web3 e não tem a ver com criptomoedas.

“Os perigos ocultos da web descentralizada”, diz o título de um artigo de opinião na Wired.

A autora, Jessica Maddox, professora assistente de tecnologia de mídia digital na Universidade do Alabama, coloca redes baseadas no protocolo ActivityPub, como o Mastodon, no mesmo balaio de picaretagens como criptomoedas e web3.

É um equívoco. E, se formos nos ater às especificidades, até mesmo “web descentralizada” é algo impreciso, visto que a web (uma rede) é, por definição, descentralizada. Os movimentos que levantam a bandeira da descentralização o fazem como reação a forças de mercado que subverteram essa característica. (E, apesar de se referirem a “web”, em alguns casos nem rodam na web.)

Podemos, e devemos, sempre nos esforçar para construir uma tecnologia melhor, mais acessível e mais inclusiva. Mas a descentralização da web em silos murados parece improvável que atinja esse objetivo.

Por incrível que pareça, o trecho acima não se refere às plataformas da Meta e do Google, mas sim às da “web3” e do Mastodon.

Não acho que Jessica seja ignorante, o que me deixa intrigado com os motivos que levariam alguém entendido a publicar essa desinformação.

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14 comentários

  1. Eu queria mais é que cada um, que quisesse, tivesse seu blogzinho e todos,que quisessem, acompanhasse via RSS.

  2. Acho a comparação válida, a origem desses conceitos vem de motivações similares: uma alternativa a instituições centralizadoras, sejam os bancos centrais ou as big techs. Além das motivações, compartilham as dores da complexidade para o usuário.

    Mais importante: acho os riscos similares também.

    É plausível, provável inclusive, que o ActivityPub se popularize a partir de uma (ou algumas) instância ou serviço com grandes investimentos. Acontecendo o que aconteceu com o e-mail, mas com efeitos práticos mais graves, já que provavelmente exacerbaria os problemas atuais das redes centralizadas e diminuiria as responsabilidades.

    Criptomoedas também foram uma reação contra o mercado, mas isso não impediu que fosse cooptado porque tem recursos para isso. Não vejo nada impedindo que o mesmo aconteça com ActivityPub, se tiver relevância suficiente.

  3. Também não acho que o Mastodon seja realmente decentralizado. Eu levo mais fé no NOSTR que é uma rede social P2P e na rede Tor. O resto não alcançou um nível de decentralização aceitavel e poderia facilmente ceder ou ser derrubado por agentes externos.

    1. O Nostr se alinha aos ideais da galera da web3/criptomoedas: um negócio caótico, sem qualquer possibilidade de moderação, liderado por pessoas paranóicas que acreditam genuinamente que existe uma conspiração global contra elas, por mais insignificantes que sejam.

  4. Pra quem sonha com liberdade e meios livres de comunicação, estes dias estão contados. Não vai sobra nada além da verdade do governo e controle estatal da comunicação. Os ataques são para formar base pra um processo de bloqueio assim como fazem com o telegram hoje. Sem base, sem causa, só argumentos e muita, mas muita sede de censura e controle .

    1. “Não vai sobra nada além da verdade do governo e controle estatal da comunicação.”

      Esse medo do Estado malvadão é muito engraçado porque não existe nada próximo disso, muito pelo contrário, os Estados estão apanhando pra conseguirem regular a atuação das Big Techs, imagina controlar a comunicação.

    2. Partindo da premissa de que você está falando isso a sério, não é um robô, nem mau caráter, que indícios ou subsídios te levaram a construir esse raciocínio de que estamos sob o risco de um “controle estatal da comunicação”? É uma pergunta genuína, porque me parece um argumento tão maluco que não tenho ideia de como alguém consegue chegar a essa conclusão.

      1. mas Ghedin, o governo está tentando aprovar leis para punir fake news, correto? controle das big techs, parece um meio nobre mas, quem vai decidir o que é ou não fake news? o governo. agora, sabemos que politico praticamente tem “imunidade” politica, interesse próprio sempre vem em primeiro lugar, e com o poder de decidir o que é fake ou não, o que impede dele remover o que vc escrever sobre ele mesmo sendo verdade (mas contra ele) já que ele é que decide o que é verdade? é só pegar o que está acontecendo com o Léo Lins e ajustar pra a PL das fake news, vc não só tem controle da população como também do que é publicado, não?

        eu como cidadão, fui atropelado por um politico, publico o que ele fez por ter fugido, o que impede dele não só remover, aplicar uma multa a mim e me processar por danos morais e mais um monte de coisa?

        1. concordo com vc a respeito de rede sociais descentralizadas, mas defender PL das fake news é a mesma coisa que o que a Jessica Maddox está defendendo, só que muito pior, que é dar o poder a um único grupo de pessoas, mas nesse caso, de definir o que é verdade sendo que, esse grupo de pessoas não é diferente de qualquer outra pessoa, o interesse próprio/beneficio próprio sempre estará em primeiro lugar.

          vão ter casos que a população vai se beneficiar? sim, vários, não tenho dúvidas, mas o maior beneficiado serão os políticos que estarão respaldados em fazer qualquer merda e se alguém ir contra é só f*@#r a vida dele, remover qualquer indicio do que foi falado e pronto, reeleição por melhor politico do ano garantida kk

          1. Daniel, acho que você não leu ou não entendeu o PL 2630/20.

            O governo não vai decidir o que é fake news ou não. Os casos de interferência estão previstos na seção IV, que trata do protocolo de segurança, que versa sobre temas previstos no artigo 7º e terá os detalhes definidos pelo Comitê Gestor da Internet (CGI.br).

            O grande mérito desse projeto de lei é responsabilizar as big techs por casos de omissão em situações que já são crimes no Brasil ou em momentos de estresse institucional, como o 8 de janeiro.

            “PL da censura” é uma fake news que a oposição (com muitos políticos notórios por espalhar e se beneficiar de fake news) espalhou para melar o debate.

            Tudo é interpretação, por isso fico aberto a ser corrigido, de modo fundamentado, à interpretação que faço do PL 2630/20. Se puder me apontar em que parte do texto está prevista essa “censura” do governo, sou todo ouvidos.

          2. O principal ponto que causou discussões sobre liberdade de expressão (moderação de conteúdo com a participação direta do Governo) foi reescrito.

            ANTES – 03/07/2020:
            CAPÍTULO IV – DO CONSELHO DE TRANSPARÊNCIA E RESPONSABILIDADE NA INTERNET
            O Art. 25 citava as principais atribuições do conselho, dentre elas:
            VIII – avaliar os procedimentos de moderação adotados pelos provedores de redes sociais, bem como sugerir diretrizes para sua implementação;
            XI – estabelecer diretrizes e fornecer subsídios para a autorregulação e para as políticas de uso dos provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada.

            E no Art. 26. versa sobre a participação deste conselho que seria composto por 21 membros indicados direta ou indiretamente pelo governo.

            ATUAL – 27/04/2023 (Retirado o cap. IV e incluído o cap. XV):
            CAPÍTULO XV – DA REGULAÇÃO DOS PROVEDORES

            O Art. 51 cita as principais atribuições do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), dentre elas:
            I – realizar estudos, pareceres e propor diretrizes estratégicas sobre liberdade, responsabilidade e transparência na internet
            V – realizar estudos sobre os procedimentos de moderação de contas e de conteúdos adotados pelos provedores de redes sociais, bem como sugerir diretrizes para sua implementação

            A PL não cita como é composta a formação do CGI, para isso precisamos ir até o decreto 4.829 que dispõe sobre a criação do CGIbr, no seu Art. 2 entendemos que o CGI é formado também por 21 membros indicados direta ou ou indiretamente pelo governo.

            E lembrando que quem melou as discussões foi o próprio governo, utilizando o artifício da urgência na votação (sem passar por discussões nas comissões) e voltando atrás nessa urgência pq não teria votos suficientes para aprovar o PL.

          3. @ AT~InDaHause

            Sim, a autoridade de fiscalização independente foi retirada devido à grita da oposição, que por ignorância ou má-fé colou esse discurso de que seria controlada pelo governo.

            Seu comentário está repleto de imprecisões e/ou mentiras. Só o deixei no ar para rebater os argumentos.

            O que você diz a respeito do antigo artigo 26 do PL 2630/20, por exemplo, está incorreto. A autoridade seria multisetorial e independente do governo, com os representantes dos setores escolhidos entre os seus e todos aprovados pelo Congresso. A quem duvida, basta ler o referido artigo e seus parágrafos aqui.

            Os membros do CGI.br também não são apontados pelo governo, com exceção dos representantes do… governo. Os demais, dos outros setores, são eleitos para mandatos trienais.