A proibição do governo dos Estados Unidos de que as empresas do país façam negócio com a Huawei por uma suposta ameaça à segurança nacional causou o primeiro dano público à fabricante chinesa na manhã desta quinta-feira (19), durante a apresentação dos celulares Mate 30 e Mate 30 Pro em Munique, na Alemanha.
Richard Yu, chefe da divisão de consumo da Huawei, falou dos celulares e de alguns outros novos produtos da marca por cerca de duas horas. Na parte destinada ao tema Google e Android, Yu explicou rapidamente o impedimento imposto pelos EUA e apresentou a alternativa da casa aos serviços Google. É um tema evidentemente incômodo e que ameaça o desempenho comercial do Mate 30 fora da China.
Com a proibição, instaurada em maio deste ano, a Huawei não pode lançar produtos com o Android do Google. Isso não é problema na China, onde o Google não existe e a Huawei — e todas as demais fabricantes — lançam celulares Android baseados no AOSP, a porção de código aberto do sistema, que é profundamente modificada e acrescida dos apps e serviços ao gosto local. As principais personalizações têm nomes próprios, o que veio a calhar neste momento. A da Huawei se chama EMUI e no Mate 30 é baseada no recém-lançado Android 10.
No restante do mundo, porém, o Android do Google é o único Android que importa. Nem mesmo gigantes como Amazon (Fire Phone/FireOS) e Microsoft (Windows Phone) tiveram sucesso quando tentaram estabelecer a “terceira via” no segmento de sistemas para celulares. A exceção que confirma a regra é a Apple com seu iOS, livre do Google e motivo suficiente para muitos preferirem iPhones mesmo quando há celulares Android mais avançados à disposição. Afinal, hardware sem software é só um peso de papel caro.
No lugar do Google, entram os serviços e a lojinha de apps da própria Huawei (AppGallery), que já conta com 45 mil apps. Parece muito, mas é uma fração dos quase três milhões que a Play Store oferece. Mais importante, a AppGallery carece dos apps mais populares, como WhatsApp, Instagram e Twitter, e assim continuará enquanto a suspensão dos EUA estiver valendo, pois todos esses apps são norte-americanos. Em um esforço para diminuir essa lacuna, a Huawei anunciou um fundo de US$ 1 bilhão para incentivar desenvolvedores a portarem seus apps. Só que o buraco é mais embaixo: não basta apenas cadastrar um app na loja da Huawei. Muitos confiam nas APIs do Google para funcionarem. Sem acesso ao Google, eles simplesmente quebram.
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É nesse clima de incerteza e com um revés pesado em seu Android para o mercado ocidental que a Huawei tentará convencer o consumidor a dar uma chance ao Mate 30 no lugar do iPhone 11 e Galaxy Note 10 — os dois exaustivamente citados e comparados na apresentação em Munique. Mas a concorrência não está inerte e já explora o infortúnio da Huawei. Enquanto Yu alardeava as impressionantes câmeras dos Mate 30, a Samsung disparou um e-mail marketing a seus consumidores promovendo o Galaxy Note 10 com uma indireta pouco sutil no assunto da mensagem: “Aproveite atualizações, aplicativos e serviços do Google”.
Sem Google, é como se a Huawei estivesse indo à guerra contra Apple e Samsung com os dois braços amarrados nas costas. O que, de certa forma, é uma pena. Se as condições fossem iguais ou a disputa estivesse restrita ao hardware, as chances da chinesa seriam consideráveis. Mate 30 e Mate 30 Pro têm números enormes (e um menor do qual estranhamente se gaba, o do tamanho do entalhe na tela), câmeras incríveis feitas em parceria com a Leica e várias funções avançadas — algumas naquela linha tênue entre utilidade e excentricidade, mas muita coisa genuinamente surpreendente, caso do carregador veicular sem fio de alta capacidade (27 W) e que se mexe sozinho para “abraçar” e soltar o celular.
Um parêntese: foi a primeira vez que assisti a uma apresentação de produto da Huawei e a dissonância entre os dois termos, “apresentação” e “produto”, foi gritante. Os Mate 30, apesar de um deslize ou outro (“couro vegano” me fez lembrar a breguice da Samsung pré-Galaxy S6), são celulares bonitos, até elegantes, o oposto do marketing da empresa. A apresentação foi quase uma tortura de tão enfadonha e essa sensação acabou contaminando um pouco os produtos anunciados.
Detalhes do Mate 30 e Mate 30 Pro
Mate 30 e Mate 30 Pro são bastante parecidos, com poucas diferenças para justificarem a diferença de preço. As telas de ambos são OLED, mas a do Mate 30 Pro é um pouco menor que a do Mate 30 (6,53 polegadas contra 6,62) e só o modelo Pro tem o design que “escorre” pelas bordas laterais.
Apesar de fisicamente menor, o Mate 30 Pro tem mais bateria (4.500 mAh contra 4.200). Ambos têm três câmeras nas costas, mas o Pro se sobressai em fotografia: a câmera ultra grande-angular das costas tem 40 megapixels e abertura f/1,6 (contra 16 megapixels e f/2,2 da do Mate 30), há mais sensores no entalhe frontal e somente ele consegue fazer vídeos em super câmera lenta a assombrosos 7.680 quadros por segundo em alta definição (720p).
Nas memórias, o Mate 30 Pro vem 8 GB de RAM e 128 ou 256 GB de espaço para armazenamento; já o Mate 30 pode ter 6 ou 8 GB de RAM, mas só oferece 128 GB de espaço.
Há ainda uma versão especial projetada pela Porsche, o Mate 30 RS, com memórias ainda maiores e acabamento exclusivo em couro de verdade e aquela temática automobilística que costuma agradar a homens ricos e inseguros.
Preços na Europa (via Ztop):
- Mate 30: € 799 (8 GB/128 GB).
- Mate 30 Pro: € 1.099 (8 GB/256 GB).
- Mate 30 Pro 5G: € 1.199 (8 GB/256 GB).
- Mate 30 Pro Porsche Design: € 2.095 (12 GB/512 GB).
Apesar dos valores divulgados, não se sabe ainda quando a linha Mate 30 chega à Europa. Perguntei à assessoria da Huawei no Brasil se há previsão de lançamento por aqui. A resposta foi que “não temos essas informações no momento, mas avisaremos assim que tivermos novidades”.
Mais fotos de divulgação do Mate 30 e Mate 30 Pro:




Esse “calombo” gigante atrás pras câmeras me lembrou do Lumia 1020.
Graças ao “Deus mercado liberal em cujas costas o Estado não mete a mão” não pode haver serviços Google para Huawei. Que a China consiga superar todas essas tolas sanções e restrições que lhe são impostas pelo império estadunidense.
Acho que eu estava dopado quando escrevi isso…
Se não fosse pelo bootloader fechado e falta de código fonte, os celulares da Huawei seriam perfeitos para criação de uma ROM focada em privacidade.
Pensei na mesma coisa. Usar AOSP não é problema para a maioria dos heavy users, que querem fazer sua própria customização.