A meu ver o esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte. Então você se diverte jogando videogame, você se divertiu. O atleta de e-sports treina, mas a Ivete Sangalo também treina para dar show e ele não é atleta, ela é uma artista que trabalha com entretenimento. O jogo eletrônico não é imprevisível, ele é desenhado por uma programação digital, cibernética. É uma programação, ela é fechada, diferente do esporte.

— Ana Moser, ministra do Esporte.

A declaração da Ana Moser causou polêmica. É importante contextualizá-la: a definição dos e-sports como esporte teria implicações em políticas públicas e de fomento ao esporte, como leis de incentivo e bolsas.

Bons argumentos, dos dois lados, de gente do meio: este fio do Rique Sampaio e o comentário do Kaluan Bernardo.

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19 comentários

  1. Sem ler os links e comentários, eu tenho a impressão que essa discussão ocorreu nos EUA nos anos 70 (ou 80) quando jogos eletrônicos eram considerados jogos de azar porque não tinham influência da habilidade do jogador em questão. Claro que isso ficou pra trás e não é o que a Ana Moser está falando, mas, a discussão é parecida: definição.

    Na época a definição de jogo de azar era por conta das máquinas de fliperama da Atari, principalmente, indicando que elas estavam mais como caça-níqueis do que como entretenimento casual. Foi provado em corte (procurem) a habilidade como fator decisivo no sucesso ou não do jogador. Mudou o paradigma.

    Hoje passamos por uma questão mais complexa, que envolve investimentos em escolas e preparação de professores para lidar com esse tipo de atividade – eSport. Aos poucos a tendência é que eles sejam aceitos como categoria esportiva, até o Shaquile O’Neil defendeu isso algum tempo atrás.

    Mas, voltando um ponto: não é uma dicussão que o Brasil deve ter ao redor de políticas públicas. Antes de termos essa discussão precisamos falar de reformas estruturais no ensino esportivo e nas escolas. Coisas como: manutenção hidráulica e elétrica, pintura, manutenção estrutural, acesso à internet estável, salas de professores capazes de serem salas de professores, salas de estudos, bibliotecas, número máximo de alunos abaixo de 22 por sala etc. Depois disso, depois termos escolas funcionando de fato (com merenda, atividade física básica, e laboratórios clássicos de leitura e ciências) podemos passar pra parte onde discutimos se vamos ter incentivo à robótica em sala de aula (lei vetada pelo presidente Lula de maneira correta) ou incentivo à eSports para comunidades e escolas. Até lá, desde a discussão do turno integral até a discussão sobre eSports, estamos falando sobre coisas que não são a realidade palpável das nossas escolas e centros esportivos.

    Primeira infraestrutura total, depois vamos dar o passo além.

  2. Não entendo o motivo de a comunidade gamer se sentir ofendida com isso. Não diminui em nada os jogadores tratar jogos como entretenimento e não esporte.

    A indústria de games, aliás, a indústria nacional de games, que precisa ser fomentada e inclusive é negligenciada por grande parte da comunidade que está revoltada com as falas da ministra, ganha muito mais incentivo sendo tratada em áreas como cultura e ciência e tecnologia do que em esportes.

  3. Ana Moser falou algo até correto. Esporte pressupõe a liberdade de praticar livremente, sem plataformas limitantes. Você não joga lol no Xbox, Valorant no PS5, Fifa e EFootball em qualquer pc e etc… Se você tem algo fechado e controlado por empresas, a liberdade não existe.

  4. Concordo inteiramente com ela. Futebolista joga futebol. FIFA soccer não conta.

  5. Agora que podemos discutir políticas públicas o assunto fica bem interessante! Há duas camadas no debate.
    Uma é a própria definição do que seja esporte, como o Rique Sampaio coloca no exemplo do Xadrez. A parte que ninguém dúvida são os esportes que envolvem atividades físicas (que é da onde a Ministra fala). Nos jogos mentais, há sim um debate se são mesmo esportes ou não. Eu até acho que esportes eletrônicos são sim esportes, mas essa discussão não vai nos levar a nenhum lugar, pois não é o que está em discussão na fala da Ministra.

    A Ministra fala de um lugar onde a definição de esporte implica em política pública, que terá incentivos e orçamento do Estado. Isso precisa ter uma justificativa social clara. Ela está defendendo uma política pública que interaja com outras, como de saúde, inclusão social e educação. Nesse contexto, faz sentido privilegiar os esportes (1) que envolvam atividades físicas, (2) que sejam baratos e (3) que envolvam alguma dimensão educativa. Ou seja, excluir os esportes eletrônicos da definição de esporte tem uma função política, justamente porque são atividades que não contemplam esses atributos.

    Inclusive há uma vontade de reduzir os investimentos públicos no “esporte de alto rendimento”, que seria mais comparáveis aos e-sports, para enfatizar a dimensão comunitária e de inclusão social.

    Podemos, obviamente, discordar da abordagem social do esporte e achar que o bom mesmo seria investir na parte competitiva e de alto rendimento, pois isso traria benefícios econômicos para o país, por exemplo. Nesse caso, poderia sim fazer sentido trazer os esportes eletrônicos para dentro, pois de fato eles movimentam muita grana, assim como os demais esportes de massa / entretenimento, como futebol.

    1. Fui fazer uma pesquisa rasa do termo. Esporte (ou Desporto) geralmente define atividades que lidam com o corpo e ao mesmo tempo tem algum nível de competição.

      O termo original tem o significado de “recreação, passatempo, lazer”. Então teoricamente qualquer atividade que sirva para tais propósitos pode ser definido como esporte – aí recaí os e-sports e jogos de inteligência / tabuleiro. Oficialmente além do Xadrez, o Bridge (jogo de cartas), o jogo de Damas (que é uma variação do xadrez) e outros dois jogos orientais de tabuleiro são considerados esportes documentados.

      Creio que o problema da definição de jogos eletrônicos como e-sports recaí em um ponto político. Como obviamente a discussão é sobre recursos públicos, é como alguns disseram: o E-Sports já tem uma circulação de dinheiro baseada nos ganhos das empresas que detém as tecnologias (jogos, equipamentos, etc) para sua prática. A não ser que falemos que podemos basear os jogos eletrônicos em equipamentos e softwares open-source, jogar políticas públicas em algo que já há a “mão do mercado” nele é duvidoso.

      Se analisar um pouco mais com calma, é fácil ver em escolas públicas hoje cursos de “desenvolvimento de jogos”, custeados pelo Estado. Isso em partes já é um investimento estatal, mas que acaba revertido para o “mercado”, não para o Estado (políticas públicas). Imagine mais jogos open source em computadores por aí? Não vemos estas políticas.

      Quais benefícios econômicos reais os e-sports dão? Os ganhos financeiros acabam circulares – falamos de gente que consome os equipamentos para isso (hardware e software – consoles/computadores e jogos). E o máximo que se ganha é em impostos que são pegos apenas na primeira compra. Pois depois acaba uma espécie de “economia circular” – no caso de jogos físicos (CDs/DVDs/cartuchos), hoje há mais trocas. Os jogos são digitais também, então os impostos acabam muitas vezes sendo mal cobrados pois há sempre uma busca por um valor mais barato, o que faz usuários comparem jogos no exterior.

      Outro ponto também é a questão cultural: que jogos que hoje são promovidos? Jogos de guerra ou simulacros (Fortinite, Counter Strike, etc…), simulados de guerras e conflitos (Warcraft e outros), de corrida (Asserto Corsa, Forza, etc…), de luta (Street Fighter e similares). Alguém vê campeonato de Stardew Valley por aí? :p

      Aí caberia um ponto que o Estado poderia começar a investigar melhor via ministério da saúde – no que tais jogos realmente influem social e culturalmente. Como já disseram, a pancada de ancap que vem disso e vira depois eleitores de cagões governamentais não é brincadeira.

      Tou tentando me lembrar onde vi um fio que diz uma coisa interessante: de qualquer forma, o ideal é o governo atual “abraçar” esta turma, antes que a direita o façam ancaps novamente.

  6. Não ligo pra e-sports. Menos ainda pra esporte.

    Agora só digo uma coisa: se e-sports não é esporte, xadrez não deveria ser também.

    1. Xadrez qualquer um pode jogar, por outro lado o lol dependendo de uma empresa manter os servidores funcionando.
      Se o jogo eletrônico for de código aberto aí talvez eu considere um esporte assim como o xadrez.

  7. Gente, não é maravilhoso quando a polemica dos politicos é sobre política publica ao invés de negacionismo/golpe militar/golden shower?

    Muito satisfeito, independente dos lados. Uma pena só ter que discutir isso enquanto tem gente tendo que limpar cocô da sala do Xandão, mas né… Um passo de cada vez.

  8. E ela tá mais que certa. Não dá pra se considerar como esporte algo que o “modelo” está completamente sob controle de uma empresa privada. É entretenimento tal qual BBB.

    1. Pois é, pois tanto o equipamento que se usa (computador) quanto o jogo em si estão nas mãos de 1 ou 2 empresas. Quantas empresas fabricam placas de vídeo e processadores? E quanto a que publica o jogo?

      Pôde-se argumentar que equipamentos de ponta dos esportes também são fabricados por poucas empresas. Ainda assim, existem os equipamentos de entrada que podem ser encontrados até no camelô.

      1. Podemos adicionar ainda que os equipamentos podem ser feitos até em casa. Papel amassado vira um bola de vôlei, futebol e golfe, um pedaço de madeira vira bastão de beisebol ou críquete. Você ainda pode fazer corrida de 100 m na rua de casa (dá para até fazer corrida com obstáculos com os buracos) ou nadar em qualquer piscinão, rio, praia. Isso que eu só pensei por uns 2 minutos.