Centralização no Substack.
Vez ou outra temos a sensação de que a história humana está condenada ao mesmo roteiro repetido eternamente, apenas com personagens e contextos um pouco diferentes.
Há alguns anos, o Substack despontou como destino principal para escritores de fim de semana e gente que quer levar a sério o radical ato de escrever textões na internet. Não por acaso: é uma ferramenta fácil de usar, bem apresentável e em constante evolução. Mais importante, é totalmente gratuito a menos que você cobre pelas sua newsletter, e não há qualquer pressão para que ela seja cobrada.
Não surpreende, pois, que uma centralização no Substack esteja em curso. Além de ver cada vez mais newsletters com endereços terminados em substack.com, fui chamado à atenção para o fenômeno por este texto do Erik Hoel (no Substack!). Nele, Hoel exalta algumas características descentralizadas do Substack, seus efeitos de rede e o potencial de crescimento (“growth”) que desencadeia em newsletters de todos os tamanhos.
Não é algo muito diferente do que aconteceu no Facebook, Twitter, Instagram, do que acontece em paralelo no TikTok. Produza seu conteúdo ali, em uma plataforma de terceiros cheia de facilidades e gratuita, em troca da atenção das pessoas.
Isso funciona bem até o dia em que a plataforma passa a querer capitalizar, a realizar sua promessa (de lucro). Aí o alcance do Facebook/Instagram desaba e, caso você queira se comunicar com as pessoas que seguiram/curtiram sua página em algum momento do passado, precisa tirar o escorpião do bolso.
O Substack ainda está na fase de crescimento e tem uma aura descolada, anti-redes sociais. No fundo, é uma startup clássica, com +US$ 80 milhões levantados em quatro rodadas de investimento feita por firmas como a16z, Y Combinator e Quiet Capital — as de sempre.
Por tudo que o Substack faz de bom (e é bastante coisa), o saldo de concentrarmos a escrita ativa na web e no e-mail em uma startup só tende ao negativo. Porque é questão de tempo (ainda que seja bastante tempo) para que o arrocho dos escritores comece. Quando isso acontecer, é bom que o próximo Substack esteja pronto. Essas viradas costumam ser abruptas e destrutivas.
Mas não tem uma diferença aí por ser uma newsletter? Digo. Vc mesmo já relatou que precisou trocar o serviço de newsletter e para isso conseguiu pegar a base de dados e migrar para outro.
Pergunto mas também sou a favor de descentralizar o uso das plataformas que fazem esse serviço.
O Substack ainda permite que o usuário pegue sua lista de contatos e migre para outro serviço. Acho que essa é uma das características básicas de qualquer serviço de newsletter e serve muito bem, no momento, como diferencial para redes sociais, onde sua rede fica presa à plataforma.
Só que faz algum tempo que o Substack tem tentado ser algo mais que um serviço de newsletters. Só nas últimas semanas, eles lançaram @menções, envios cruzados entre newsletters distintas e selos de “best sellers”. São recursos exclusivos da plataforma. (Essas novidades são anunciadas na newsletter do próprio Substack.)
Fora isso, tem aquele lance de dar retorno aos investidores. Na fase de crescimento é tudo lindo e o usuário final é rei. Quando chega a conta, as prioridades se invertem e aí vemos até onde vai o compromisso da plataforma (regra geral, não muito longe).
Os concorrentes estão aí:
https://beehiiv.com/
No Brasil, um ainda incipiente:
https://gstack.news/
Open source (tem versão free, tipo WordPress):
https://ghost.org/
Bonus: 6 pontos para entender se uma tecnologia é democrática ou ditatorial
https://www.youtube.com/watch?v=6HyDmtPfBqI