O movimento anti-IA chegou à fotografia digital
O Google segue chapado de IA generativa. No lançamento da linha de celulares Pixel 9 — que vêm recheados de recursos que adulteram fotos com IA —, Isaac Reynolds, diretor de produto da câmera dos Pixel, disse que o lance do Google é gerar memórias, e não fotografias.
Os exemplos mostrados pelo The Verge de um desses recursos, o “Reimagine”, dão uma boa ideia de como uma “memória” pode se revelar um completo delírio — e ter implicações sérias no mundo real.
Embora o Google seja o mais entusiasmado com a adulteração de fotos, a overdose de pós-processamento não é de agora nem exclusiva dessa empresa.
Em 2016, achava graça de marcas asiáticas que e apps de que prometiam “embelezar” selfies. Hoje, o fenômeno se expandiu a todas as empresas e extrapolou as selfies.
Até a câmera do iPhone, o celular mais popular entre influenciadores e outros tipos viciados em fotos e vídeos online, passou a gerar resultados estranhos. Esta análise do Marques Brownlee, de janeiro de 2023, traz um bom panorama da situação.
Se toda ação gera uma reação, estaríamos à beira de uma “ressaca de IA”?
A Lux, desenvolvedora de aplicativos para iOS, lançou em 14 de agosto o “Processamento Zero” para o seu principal app de câmera, o Halide.
“Algo diferente de todos os produtos de tecnologia em 2024”, o tal Processamento Zero é “usa zero IA e zero fotografia computacional para produzir fotos naturais e semelhantes a filmes [fotográficos]”.
Em outras palavras, nesse modo o Halide “pula” o pós-processamento padrão de fotos feitas no iPhone. Não é para amadores; ainda que algumas fotos fiquem esquisitas, o pós-processamento compensa muitas limitações — da câmera física e de quem fotografa.
O Zerocam é outro aplicativo, só que todo feito em cima dessa proposta e que mira na facilidade de uso — a interface se resume a um botão. Aos aspirantes a Sebastião Salgado, a variante Zerocam Mono só faz fotos em preto e branco.
Não precisamos ir a esse extremo. O pós-processamento moderno de fotos permitiu alcançar o ideal de “é só apertar um botão” — fotos difíceis com câmeras comuns, como o retrato de alguém em frente à fonte de iluminação, saem boas, quase como mágica.
Apps como o Halide e Zerocam podem, porém, servir de aviso amigo à indústria. Tudo que é demais, faz mal.
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Novidades e atualizações em apps
[iOS] Kabit é um novo app gratuito para registrar hábitos. Bem simples — o que pode ser sua maior vantagem. / apps.apple.com
[Web] A Apple lançou uma versão web do seu aplicativo de podcasts. (Precisa de uma Conta Apple para usá-lo.) / podcasters.apple.com (em inglês)
[Windows] A Microsoft unificou o app do Teams, acabando com a confusão entre a versão corporativa e a pessoal. (Alguém usa o Teams para falar com amigos ou família? Sem ser obrigado??) / blogs.windows.com (em inglês)
[Android, iOS] A Justiça Eleitoral atualizou o Pardal para as eleições 2024. Este app facilita o envio de denúncias de propaganda irregular. Em menos de três dias, +4,3 mil denúncias foram feitas pelo Pardal. / tse.jus.br
[Android] Fread é um novo app que mistura Mastodon e feeds RSS. / play.google.com
Parede que o Fread não está disponível para o Brasil. Foi mal, galera!
[Linux, macOS, Windows] Quem curte o visual e os recursos do Arc, prefere o Firefox e não tem disposição de fuçar no navegador da Mozilla, ganhou uma alternativa: Zen, um fork do Firefox com várias boas ideias do Arc. / zen-browser.app
[Linux, macOS, Windows] O LibreOffice 24.8 chegou com diversas melhorias, com destaque para uma nova opção de privacidade que elimina meta dados de identificação dos arquivos gerados. / blog.documentfoundation.org (em inglês)
Foto do topo: Lux/Divulgação.
Eu sou fotógrafo profissional (vivo disso) e amador (aquele que ama). Uso câmeras e lentes mais “avançadas” e também uso o celular. Não sou totalmente contra o uso de aprimoramento de IA nas fotografias, tudo depende do contexto em que se está fotografando e é claro, de sua vontade. Vou citar um exemplo que aconteceu no último final de semana que a IA foi fundamental na captura de boas fotografias que são bem importantes para mim.
Viajei para um outro estado para um festival de música, tinham algumas bandas que eu queria muito assistir, desde a infância, e não tive oportunidade. Realizei essa vontade e foi tudo fantástico. Como fotógrafo, é claro que eu queria alguns registros legais desse momento (não meus, mas dos artistas mesmo). Usei o Galaxy S23 Ultra no modo ExpertRAW, que é um modo em que ele entrega um arquivo RAW (cru), e os controles são 100% manuais. Acontece que esse RAW não é 100% cru. Existe algum algorítmo, alguma engenharia por trás, em que mesmo o arquivo RAW tem processamento e ele consegue realizar melhorias que ajudam muito. Por exemplo: clarear áreas que ficaram muito escuras e reduzir tremidos ou congelar os momentos em que a pessoa se mexeu no momento da captura da fotografia. Tendo em vista que eu estava em um festival com mais de 10 mil pessoas, tremer ou me mexer durante a captura é completamente normal; o artista também se mexendo muito; show a noite sempre tem condições de luz abaixo do ideal, sempre mais escuro do que gostaríamos e nem sempre a luz pega em cheio no artista. Juntanto todos esses fatos, se estivesse usando um modo totalmente cru, sem IA, sairia com péssimas fotos. Mas o ExpertRAW me ajudou a ter fotos menos tremidas (mais nítidas) e não tão escuras.
Meu exemplo é uma exceção? Com certeza! Mas para mim, sabendo usar, e tendo bom senso, dá para ter fotografias legais. O que importa mesmo é você ficar satisfeito com o resultado, mesmo que seu colega não goste.
Achei bizarro essa parte “Isaac Reynolds, diretor de produto da câmera dos Pixel, disse que o lance do Google é gerar memórias, e não fotografias.”
Me lembrou aquele filme chamado “O vingador do futuro” de 1990, onde um cara tem pesadelos com marte e vai em uma empresa que realizam implantes de memória que emulam a sensação da pessoa te visitado determinados lugares.
Eu sou fotógrafo amador e devo dizer que a câmera do celular no modo automático é a melhor coisa 90% do tempo. Ela vai ser perfeita na maioria das vezes, não vai dar trabalho, vai estar pronta no momento que a foto é tirada e sucesso.
Para fotos digitais, se tirada com câmera, sempre vai haver um segundo momento de edição. Quase nunca vai valer a pena não mexer na foto por um purismo que nem faz sentido. Desde os princípios da fotografia os fotógrafos têm brincado com pós processamento, diferentes banhos químicos e tals, para gerar fotos únicas.
Concluindo, não acho necessário esse purismo todo de ir para fotos sem nenhum processamento. Claro que os processamentos que embelezam e geram imagens terríveis como a do Google são meio deprimentes, mas isso não justifica ir totalmente para o lado Full Manual Mode. O meio do caminho é o caminho.
Isso não é de hoje.
Desde o inicio existem esse apps anti-alguma coisa.
No inicio eram os anti-pós-processamento.
Depois os anti-fotografia-computacional.
Agora os anti-ia.
A questão toda é que os resultados desses aplicativos não compensam.
Mas é bom separar bem as coisas, pois essa ferramenta do google não é uma câmera, é um editor com IA. Iguais a ele existem dezenas. O Google apenas o colocou no seu smartphone, assim como fez com seus produtos ao longo dos anos.
Ou será que esquecemos que a maioria dos smartphones topo de linha, até outro dia, tinha como propaganda da câmera o fato de transformar uma fotografia da noite em dia, através de seu pós-processamento?
E no fim das contas, TODA fotografia é uma ilusão (mas esse assunto é pano pra manga e existe desde que a fotografia existe).
Vi em algum lugar que as fotos dos smartphones não são mais a realidade. Mas as imagens não são ruins, longe disso. Os vídeos também são excelentes. Mas resolvi desenterrar minha DSLR velhinha de guerra e mesmo com 16 anos não tem como o celular ganhar. Com lentes e distância focal maior, ganha. Claro que o sensor e o processamento estão bem ultrapassados e isso interfere. Mas não fotografo profissionalmente e acho pouco provável o público em geral notar. Só entusiastas vão notar.
Tenho uma D50 com lente 1.8, compradas em 2006.
Em situações de boa luz, ela arrebenta com qualquer iPhone 15 pro max ou Galaxy s24 ultra.
Fora que é extremamente mais agradável olhar uma imagem gerada por um sensor maior com uma profundidade de campo analógica.
Com certeza a câmera vai ser muito melhor, mas a que preço? Pra maioria das pessoas as fotos do telefone são o suficiente e é muito menos burocrático. A foto já está ali com backup na nuvem e pronta pra compartilhar.
Celulares são ótimos computadores de bolso e tiram boas fotos até. Mas se você quiser controlar o que está fazendo, eu recomendaria uma câmera.
Fui tentar baixar o Fread, mas aparece como “indisponível no país” (Brasil).
Ahhh, que pena. Não tentei baixá-lo. Vou adicionar uma observação ao post. Obrigado, Gaio!