SEO, o conjunto de técnicas de otimização para sites aparecerem melhor nos resultados de busca do Google, é uma espécie de religião de marqueteiros e tecnocratas.
O deus Google escreve suas linhas tortas, com dicas etéreas ou banais e orientações turvas, que são interpretadas pelos pastores — os ditos “especialistas em SEO” — e aplicadas nos sites dos fiéis, na esperança de que isso se reverta em bênçãos na forma de bons posicionamentos nos índices do buscador.
É um exercício de fé, porque ninguém consegue apontar, com rigor metodológico, a relação de causa e efeito entre SEO e resultados.
Os que creem seguem os preceitos religiosos do Google e apenas acreditam. Se funcionarem, é a prova definitiva de que SEO existe. Se não, o problema é comigo, que escrevi 490 palavras em vez de 500 e repeti a palavra-chave quatro vezes em vez de cinco; que não acreditei o bastante.
O paralelo ficou ainda mais forte na última quarta (9), quando o Gizmodo obteve um comunicado interno da Cnet em que a direção avisava os funcionários que estava apagando milhares de posts antigos para “melhorar o SEO”. A notícia foi confirmada à publicação por um diretor de marketing da Cnet.
Agora, deus Google passou a exigir sacrifícios como condição para despejar sua bondade sobre sites caça-cliques.
A lógica, segundo o comunicado interno, é de que excluir conteúdo antigo que não gera tráfego “envia um sinal ao Google que diz que a Cnet é atual, relevante e digna de ser posicionada acima dos nossos concorrentes nos resultados de pesquisa”.
Nas redes, o Google refutou a estratégia. O que não quer dizer muita coisa, porque o Google não revela o algoritmo de rankeamento do seu buscador e, suspeita-se, sequer o entende por completo. Por isso, não dá para descartar que, mesmo que o Google desaconselhe a prática, sob condições específicas ela possa surtir resultado positivo.
A Cnet, importante lembrar, foi flagrada no início de 2023 publicando textos escritos pelo ChatGPT com erros crassos, apenas para atrair incautos no Google dispostos a clicar em lucrativos anúncios de empréstimos financeiros e cartões de crédito.
A priorização do SEO é o famigerado rabo que abana o cachorro. Mirar boas posições no buscador do Google não deveria, em hipótese alguma, se sobrepor a decisões editoriais, quiçá justificar a destruição do arquivo de publicações (que se dizem) jornalísticas.
No entanto, é o acontece quando a teocracia do SEO, liderada pelo Google, toma de assalto a web. Fundamentalismo tecnológico, robôs acima de seres humanos, pessoas reduzidas a cliques em anúncios.
O próprio texto é um exemplo prático do que perdemos quando nos submetemos ao SEO. Quando que daria pra fazer um texto criativo assim tendo que respeitar o SEO? Até entendo o uso por sites de empresas, que precisam usar técnicas de vendas, assim como mercados reais que colocam itens ao lado da fila do caixa, por exemplo. Mas, para o jornalismo, acho péssimo. Fica uma encheção de linguiça e textos (esses sim) rasos para obedecer ao SEO. Daí a pergunta: serve pra reter leitores? Eu, apreciador do bom e velho jornalismo, ainda prefiro um texto bem escrito como esse.
kkkk ri muito, otimo artigo
Artigo foda
Vivi pra ver defensor de SEO aqui nos comentários
É raro na internet,ler textos tão rasos, forçados e desprovidos de conteúdo técnico e ausência de domínio, sobre um assunto tão complexo como o SEO, principalmente o do Google ( como se os outros buscadores não existissem ).
Deixe – me ser breve. Em meados de 2010, nós abrimos um loja de serviço( venda, instalação e manutenção de aquecedores e ar-condicionado) próximo a Guarulhos.
E como um homem de vendas experiente e entusiasta de tecnologia, percebi que o comportamento das pessoas estava mudando – pois já começam a consultar o Google – antes de saírem de casa pra fazer compras.
Então percebi que,se o nosso negócio não estivesse na primeira página do Google, estaríamos condenados comercialmente.
Foi aí que me propus a saber mais sobre o tal do SEO e principalmente,como utilizá-lo!
Pra resumir,foi uma verdadeira caçada ao tesouro, porque as informações sobre o assunto no Brasil,eram escassas, incompletas e confusas.
Felizmente,sou uma pessoa determinada e após 6 meses, consegui enteder a lógica dos crawlers, parâmetros, layout,snipets, ranking e as demais regras – que mudam semestralmente,para dificultar a manipulação do ranqueamento.
Resultado; nunca paguei um único centavo de Adão para o Google!
E o nosso negócio alcançou e se estabeleceu – nos resultados orgânicos – da primeira página do Google do município onde a loja foi aberta.
Portanto,o SEO é sim um fator determinante para a sobrevivência de um negócio, principalmente depois da Covid19,onde o mundo ficou “trancado” dentro das suas casas, porém acessando o maior shopping digital do mundo: O Google.
Mas o contexto aqui é outro, não? Sua página, do seu negócio, é quase-estática, por isso você pode “comprar” um espaço privilegiado no alto dos resultados de busca sacrificando parte do seu site aos robôs. Um site vivo, de notícias, é muito diferente, ainda mais quando precisa se desfazer do seu principal produto (notícias) para continuar relevante aos olhos dos robôs.
Esse artigo retratou bem a maneira como tenho me sentido nos últimos meses. Redator em 5 sites e parece que não escrevemos mais para pessoas e sim para robôs. Não me admira essa gama de portais aderindo ao chat GPT. Ele deve se entender melhor com o algoritmo do Google porque máquinas se entendem.
acho que o manual tem que fazer mais posts sobre SEO
Em 2010 eu era diretor de marketing de uma agência de publicidade e fiz um vídeo sobre isso. Pare de fazer sites para o Google e desenvolva o site para o seu cliente, o seu público-alvo. O seu público irá encontrá-lo e o Google reconhecerá sua relevância.
O problema é que as empresas e o setor de marketing querem ver o link na primeira página quando uma palavra chave é digitada na busca, porém o Google já personaliza os resultados e, muitas vezes, o marketing da empresa não é o público-alvo da página. Ou seja, quando o cara que não é o público-alvo, mas é o SEO, vê o resultado é porque o verdadeiro público não está sendo alcançado.
Curioso ter encontrado esse texto justamente no Google. Dentro dos critérios que os algoritmos usam para tentar dizer o que é relevante para o usuário, ele me recomendou esse texto. Parece que por algum motivo ele o entendeu como relevante.
Dei muita risada. Bom texto.
Nossa quem escreveu isso é chato demais. Simples, não tá satisfeito, use outros buscadores. Ah, você depende do Google? Azar o seu, se adequa ou parte pra outro ramo. Tem milhares de coisas pra fazer além de ficar chorando na internet
Meu amigo, se o Google é o buscador dominante com uma fatia absurda do market share e começa a exigir (por querer ou não) que as empresas apaguem seus conteúdos isso não vai afetar apenas que usa Google. Isso vai afetar toda a internet, seja vc usando o Bing, duckgogo ou a pq*
O que vc está fazendo aqui amigo? Aqui é lugar de quem critica a tecnologia e não de quem é omisso e submisso..
Se bem que o adjetivo “chato” soa como elogio, pq sempre penso que os chatos mudam o mundo e os babões, bom, os babões são babões.
No fim, vai todo mundo se adequar ao que o Google determinar, de forma bem submissa na prática, mas reclamando como se não fosse submisso, ou seja, uma verdadeira empulhação.
Todo mercado tem os grandes que determinam a conduta dos pequenos, sempre foi assim, é assim e sempre vai ser assim. A Gerdau determina as bitolas de perfis que os engenheiros usam em seus projetos, e estes se adequam ou caem fora. Quem pode manda, quem depende reclama, chora, esperneia mas não tem como, no fim, obedece
Tu nem passa por aqui com frequência, né? A premissa do Manual é ser crítico ao “sistema estabelecido”, é falar de tecnologia para pessoas e não para robôs e, para ser coerente com tal, se faz independente de ferramentas originárias das Big tech o máximo possível. Bem vindo à este mundo diferente do seu. Fica por aqui, talvez você goste.
felipe, tem uma música legal pra vc: “baba”, da kelly key!
Achei fofo choramingar na internet supostamente reclamando de alguém choramingando na internet.
Temos aqui uma pessoa que gosta de liberdade de expressão, tanto que acha chato quem se expressa. O que ele não fala é que quase toda Big Tech se dedica a sufocar concorrência e monopolizar mercado, mas na cabeça dele é só você ir pra concorrência, como se houvesse alguma. Livre mercado não existe.
Nossa, quem escreveu essa resposta é chato demais. Simples, não tá satisfeito, vai ler outro site. Ah, você não consegue deixar de expressar sua chatice? Azar o seu, ou se adequa ou vai ser lembrado do quanto é chato. Tem milhares de coisas pra fazer além de ficar chorando na internet.
Cheguei às terras do Manual navegando no mar sempre muito revolto do feed de notícias do meu smartphone. Por que cliquei para ler o Artigo? O título. “Deus Google agora exige sacrifícios em nome do SEO” é provocativo (no sentido bom do termo) e levemente apimentado por uma dose calculada de ironia inteligente. E o conteúdo? Faz justiça ao título. O olhar do Manual sobre o universo digital é um convite a boa reflexão sobre a abordagem (e uso) das tentações digitais. Estas mesmas, uma nova versão do fruto proibido num Éden de possibilidades. Provavelmente, o aspecto humano, na sua eterna jornada de construção da Consciência Coletiva (e essencialmente humana para o bem e para o mal), seguirá incorporando a essa Consciência a nova camada: a dos algoritmos (a consciência da máquina). Ao final, e ao provar do fruto (agora nada proibido!), o aspecto humano estará onde sempre esteve, desde a sua origem. Diferente no aspecto, certamente. Mas ainda assim, bem humano, reinando num Éden do qual dificilmente será expulso. Sigo inscrito! Abraços e sucesso a toda equipe do Manual.
Vivo na internet desde 1996, programo sites desde 1998. Ou seja, antes dos buscadores serem algo relevante, ou quando eram somente índices e não vasculhadores de sites.
Quando comecei a me ocupar com SEO bastava respeitar a hierarquia de títulos no texto (h1, h2, etc), e o resto do conteúdo era lido. Mas, “echa la lei, echa la trampa”, com dizem os hermanos, os espertos começaram colocar longas listas de “palavras-chaves” ao final da página com fundo da mesma cor (“oculto”) para serem indexados.
O mesmo aconteceu com a metatag `title` e `description`. Assim, o Google começou a complicar cada vez mais o algoritmo para derrubar no ranking estas pequenas trapaças. E a cada nova trapaça inventada ia lá o Google e a derruba.
É uma longa história. Agora, como programador, temos que enfrentar o infame Core Vitals. Resumidamente é uma avaliação do desempenho da página em relação à velocidade. Mas… é usada como critério no rankeamento. O custo para se adequar é grande pois descobrir o que causa a queda de desempenho é um trabalho artesanal. Com o tempo alguns detalhes se tornam óbvios, mas sem acesso ou informação de como é calculado se torna um jogo de gato e rato.
Além de que os critérios mudam e voltamos a procurar o rato (ou talvez o gato, acho mais adequado pensar que nós somos o rato).
Durante alguns anos eu tinha um hobby: manter meu nome no topo da pesquisa do Google. Só perdi quando um psicólogo homônio registrou o domínio .com. Mas no meu processo de degoogling uma das coisas que fiz foi o processo contrário: desaparecer do ranking. Fiz um bloqueio diretamente no servidor Web para impedir o crawler do Google de “ler” o site (vou revisar isso, já não está tão preciso). Fora isso meu único perfil público é no Github.
Confesso que isso me libertou bastante. Mas trabalho para empresas que vivem disso, de serem vistas. É um trabalho exaustivo, pois máquinas de SEO dominam os resultados. Pesquisar por um produto te joga uma página de links da Amazon, Mercado Livre, Magazine Luíza… e muitas vezes o produto NÃO EXISTE LÁ. A Amazon é onde mais acontece na minha experiência, mas o ML não fica atrás.
Não sei se não estamos próximos de uma implosão do modelo: quão importante uma é ferramenta de busca que mostra o não o que você precisa mas o que é importante para empresas venderem coisas para você? Quão frustrante tem sido as buscas de vocês?
(Em tempo: não tem nada mais frustrante para mim que buscar na Amazon. As marcas tem que PAGAR para serem bem rankeadas na procura de seus próprios produtos!!)
O Core Vitals é algo muito estressante. Ainda mais hoje que grande parte das ferramentas são baseadas em JS e que são poucas que oferecem otimizações ou forma de otimizar.
Uma vez eu disse a um “entendido em SEO” que eu tinha aprendido isso na faculdade de jornalismo, na década de 1990. Ele debochou. Hoje eu vejo como o SEO renegou o pai lide e se transformou… nisso – tive que assistir um webinar sobre (incluindo dicas de como escrever palavras não dicionarizadas porque “dá mais alcance) e, no fim, lamentar profundamente.
É por artigos como esse que assino o Manual! ❤️🔥
Em tempo, trabalho fazendo sites onde tenho que fazer um bom trabalho pra otimizar o SEO – mas, felizmente, não sou o responsável pelo conteúdo, então não chega a ser algo distópico assim (só preciso garantir que todas as informações corretas estão sendo expostas da maneira correta, e deixar o site leve, óbvio). Mesmo assim, me dá um arrepio quando escuto alguém falando de SEO – meio que vai contra toda a ideia original da tecnologia em si: ajudar humanos. Fazer coisa pra robô é o fim da picada
E pensar que uma série de autovalores e autovetores se transformou num leviatã que, provavelmente, nem seu criador entende direito mais.
Mas SEO é o último suspiro antes de começarmos a escrever para agradar às IA generativas.
Depende do mercado.
Trabalhei por muitos anos fazendo SEO (parei em 2018) e hoje ajudo amigos principalmente na análise de resultados. Quando pensamos em otimização local, SEO é a única chance de pequenas empresas de “prosperar” online sem precisar investir em Google Ads.
Quando pensamos no mercado editorial, sim, concordo totalmente e isso é uma prática totalmente fora da realidade desde aquela época que eu comecei a trabalhar com SEO em 2009/10 e até piorou depois do Penguin.
“A priorização do SEO é o famigerado rabo que abana o cachorro. Mirar boas posições no buscador do Google não deveria, em hipótese alguma, se sobrepor a decisões editoriais, quiçá justificar a destruição do arquivo de publicações (que se dizem) jornalísticas.”
A grande questão é que no passado, era uma briga de gato e rato para otimizar os sites, era um exercício até divertido para falar a verdade, procurar brechas e formas de vencer, mas um dia percebemos que SEO não existe para notícias, blogs e etc quando concorremos com Portais e sites que dominam como querem o algoritmo do Google.
Hoje trabalho com planejamento digital, sempre indico dependo do nicho de mercado priorizar o SEO, mas em outros é preciso deixar em segundo plano.
Com um Fusca é possível sair do Rio Grande do Sul e chegar no Canadá, mas é impossível vencer uma corrida contra uma Ferrari.
“A priorização do SEO é o famigerado rabo que abana o cachorro. Mirar boas posições no buscador do Google não deveria, em hipótese alguma, se sobrepor a decisões editoriais, quiçá justificar a destruição do arquivo de publicações (que se dizem) jornalísticas.”
Da minha parte, acredito que a solução está deste lado do balcão: cabe a nós começar a bloquear sem dó os anúncios e cookies para obrigar Google e publicitários a rever suas políticas.
nesse sentido, vc tem feito um excelente trabalho.
Uma pitada de sarcasmo deixa tudo mais interessante. Ótimo texto!
É mais do que um alívio poder ler esse tipo de postagem vindo de alguém que gosto do trabalho.
Sempre fiquei na dúvida em SEO, pois sempre pareceu muito estranho a ideia de que 400 palavras poderiam ser mais úteis que 20 palavras sobre o mesmo assunto. De exemplos tínhamos postagens de utilitários para Windows, onde portais geralmente faziam uma super matéria em que a maioria das coisas eram repetitivas e blogs individuais de tecnologia iam direto ao ponto.
Outra coisa é que, apesar do Google não revelar como o algoritmo funciona, sempre tem um “profissional” que fala o jeito que ele funciona porque ele ouviu com outro “profissional” que tem informações privilegiadas, etc. Literalmente religião.