Essas alterações só pretendem manter os autores fora do alcance do “cancelamento”, para que os detentores dos direitos autorais possam continuar faturando sobre isso. Não tem absolutamente nada a ver com uma “proteção de um público novo” ou com o fato de que novas gerações não conseguem abstrair o contexto temporal de um texto.
Acho que muitas vezes a forma como esse assunto é abordada deixa escapar isso, passando a responsabilidade para o público leitor.
Hmmm, esse é um “take” um tanto cínico. É inegável que exista um receio de “cancelamento” (por mais que sejam obras antigas e conhecidas do público), mas quero crer que existe, também, um cuidado para apresentar grandes clássicos a novas gerações de uma maneira mais moderna, com menos potencial de danos.
Novas gerações são plenamente capazes de abstrair a época em que uma obra foi escrita, mas somente depois de adquirir certa maturidade. Deve ser muito difícil, por exemplo, explicar a uma criança que… sei lá, discriminação racial é errado e, dali a pouco, ela pegar um livro infantil com passagens racistas. Para o público em formação, esse cuidado é bem legal — vital, até.
E não é nada novo. As muitas histórias dos irmãos Grimm, por exemplo, são bem sinistras no original, mas acabaram “diluídas” em edições modernas e adaptações para o cinema. Até os autores citados na reportagem, que escrevem para o público adulto, sofreram alterações nas adaptações para o cinema.
E mesmo assim, a energia racista e a misoginia explícita estão lá nos primeiros filmes de James Bond; estou assistindo a todos, desde o começo e na ordem, e são filmes ótimos, mas… né, reflexo do seu tempo — anos 1960.
Concordo 100% na questão de livros para crianças mas acredito que para públicos mais maduros, até mesmo adolescentes, mais interessante do que a alteração do conteúdo da obra seria a adição de paratextos, prefácios e pósfácios que discutam criticamente esse conteúdo. O Thiago Ora comentou sobre isso no canal do Youtube dele, e concordo quando ele diz que seria uma maneira melhor de tratar o racismo ali contido do que só omiti-lo para deixar mais palatável. Até porque no longo prazo me parece que isso pode surtir um efeito de ao invés de reparar um erro, só ignorar que ele aconteceu.
Sim, é um ótimo ponto de partida para abordar temas espinhosos. No caso dos adolescentes, isso precisa ser feito com acompanhamento — apesar de tudo, ainda são pessoas em formação, sem discernimento.
No geral, acho que há espaço para as obras originais e para as editadas também. O importante é que isso seja feito com transparência e respeito a todos os envolvidos.
A bíblia moderna já foi revisada várias vezes, algumas vezes para escolher quais livros entram, algumas para traduzir (traduziram para o grego e essa tradução que virou a base para outras traduções). Nunca reparou que cada vertente cristã tem uma bíblia ligeiramente (as vezes não tão ligeiramente) diferente das outras?
Os próprios autores costumam revisar a edições seguintes de suas obras quando são reeditadas, as vezes de forma bem extrema. Se Agatha Christie estivesse viva, talvez ela mesma reescrevesse essas partes que não combinam com as convenções atuais para alcançar mais leitores. Mas o mais impressionante é que ela teria nada mais nada menos que 133 anos.
Desculpe, o ponto é que o texto é sempre repensado pelo próprio autor ou por outrem de acordo com as circunstâncias e isso inclui as tendências do mercado, momento político etc. Por exemplo, tudo que a editora Clube do Livro lançou desde que foi fundada foi censurado a gosto do editor. Páginas inteiras de traduções foram adulteradas ou suprimidas. Tudo aquilo que lemos na juventude foi mexido. Aliás, traduções são um caso a parte! Não existe pureza em se tratando do mercado editorial. Quer pureza vá ler os manuscritos do autor.
Lança a edição revisada e mantém a clássica, problema resolvido.
Tá muito barulho com isso esses últimos anos, mas sempre tivemos revisão de obras para deixar mais palatável a novas audiências.
Acho esse um bom caminho, especialmente para materiais infantis, ou seja, aquele destinado a um público que, por definição, ainda não tem o discernimento desenvolvido.
O limite a traçar é exatamente esse. Onde iniciamos a mudar o passado e o negar.
Onde vai parar não sei, será horrível, e fico feliz que com máximo de mais 40 anos para viver vou ver relativamente pouco dessa merda toda.
Essas alterações só pretendem manter os autores fora do alcance do “cancelamento”, para que os detentores dos direitos autorais possam continuar faturando sobre isso. Não tem absolutamente nada a ver com uma “proteção de um público novo” ou com o fato de que novas gerações não conseguem abstrair o contexto temporal de um texto.
Acho que muitas vezes a forma como esse assunto é abordada deixa escapar isso, passando a responsabilidade para o público leitor.
Hmmm, esse é um “take” um tanto cínico. É inegável que exista um receio de “cancelamento” (por mais que sejam obras antigas e conhecidas do público), mas quero crer que existe, também, um cuidado para apresentar grandes clássicos a novas gerações de uma maneira mais moderna, com menos potencial de danos.
Novas gerações são plenamente capazes de abstrair a época em que uma obra foi escrita, mas somente depois de adquirir certa maturidade. Deve ser muito difícil, por exemplo, explicar a uma criança que… sei lá, discriminação racial é errado e, dali a pouco, ela pegar um livro infantil com passagens racistas. Para o público em formação, esse cuidado é bem legal — vital, até.
E não é nada novo. As muitas histórias dos irmãos Grimm, por exemplo, são bem sinistras no original, mas acabaram “diluídas” em edições modernas e adaptações para o cinema. Até os autores citados na reportagem, que escrevem para o público adulto, sofreram alterações nas adaptações para o cinema.
E mesmo assim, a energia racista e a misoginia explícita estão lá nos primeiros filmes de James Bond; estou assistindo a todos, desde o começo e na ordem, e são filmes ótimos, mas… né, reflexo do seu tempo — anos 1960.
Concordo 100% na questão de livros para crianças mas acredito que para públicos mais maduros, até mesmo adolescentes, mais interessante do que a alteração do conteúdo da obra seria a adição de paratextos, prefácios e pósfácios que discutam criticamente esse conteúdo. O Thiago Ora comentou sobre isso no canal do Youtube dele, e concordo quando ele diz que seria uma maneira melhor de tratar o racismo ali contido do que só omiti-lo para deixar mais palatável. Até porque no longo prazo me parece que isso pode surtir um efeito de ao invés de reparar um erro, só ignorar que ele aconteceu.
Sim, é um ótimo ponto de partida para abordar temas espinhosos. No caso dos adolescentes, isso precisa ser feito com acompanhamento — apesar de tudo, ainda são pessoas em formação, sem discernimento.
No geral, acho que há espaço para as obras originais e para as editadas também. O importante é que isso seja feito com transparência e respeito a todos os envolvidos.
“Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.”
Agatha Christie é fácil. Famosa hipocrisia de esquerda.
Se bobear daqui 20 anos teremos a “Bíblia Revista”.
Quero ver reescrever o Alcorão. O resto é bobagem.
A bíblia moderna já foi revisada várias vezes, algumas vezes para escolher quais livros entram, algumas para traduzir (traduziram para o grego e essa tradução que virou a base para outras traduções). Nunca reparou que cada vertente cristã tem uma bíblia ligeiramente (as vezes não tão ligeiramente) diferente das outras?
Os próprios autores costumam revisar a edições seguintes de suas obras quando são reeditadas, as vezes de forma bem extrema. Se Agatha Christie estivesse viva, talvez ela mesma reescrevesse essas partes que não combinam com as convenções atuais para alcançar mais leitores. Mas o mais impressionante é que ela teria nada mais nada menos que 133 anos.
Desculpe, o ponto é que o texto é sempre repensado pelo próprio autor ou por outrem de acordo com as circunstâncias e isso inclui as tendências do mercado, momento político etc. Por exemplo, tudo que a editora Clube do Livro lançou desde que foi fundada foi censurado a gosto do editor. Páginas inteiras de traduções foram adulteradas ou suprimidas. Tudo aquilo que lemos na juventude foi mexido. Aliás, traduções são um caso a parte! Não existe pureza em se tratando do mercado editorial. Quer pureza vá ler os manuscritos do autor.
Lança a edição revisada e mantém a clássica, problema resolvido.
Tá muito barulho com isso esses últimos anos, mas sempre tivemos revisão de obras para deixar mais palatável a novas audiências.
Acho esse um bom caminho, especialmente para materiais infantis, ou seja, aquele destinado a um público que, por definição, ainda não tem o discernimento desenvolvido.
O limite a traçar é exatamente esse. Onde iniciamos a mudar o passado e o negar.
Onde vai parar não sei, será horrível, e fico feliz que com máximo de mais 40 anos para viver vou ver relativamente pouco dessa merda toda.
É a idiotização do ser humano. Olha, você não vai entender isso, tenho que te proteger, etc etc.
Ainda bem que estou tb nessa dos 40 anos e não nasci e nem crio filho pra ser tutelado.
Querer reescrever a história, para mim, é coisa de gente da turma do cabo austríaco.