Segundo o fundador da DignifAI “não há nada de inteligente na inteligência artificial”, já que “…centenas de milhares de trabalhadores de países pobres tornam possível a existência de sistemas IA como o ChatGPT” … “os ‘etiquetadores’ (data labelers) realizam uma tarefa tediosa… etiquetar milhões de dados e imagens para ensinar a IA”
en-us: https://time.com/6247678/openai-chatgpt-kenya-workers/
O ponto: em kenya a renda per capta é $2290 (wiki). Para um exemplo no brasil trabalhamos 2080 horas por ano (google). Portanto o salario MEDIO do kenya é $1.10 dolar/hora.
A OpenAI pagou entre “$1.32 and $2 per hour”
Ou seja, a noticia é que milhares de trabalhadores ganharam mais que a media nacional, e mais que o minimo, para treinar a AI.
Mas no MEU ponto de vista. No ponto de vista de um floquinho que a maior conquista da vida foi nascer bem… isso é um escândalo, claro.
Sim, mundo injusto. Deviam…. ter pago menos né?
Ou melhor, eu sei eu sei! Não da trabalho para gente no kenya e evita complicação!
Essa racionalização é pobre e desconsidera variáveis importantes. Trazendo à nossa realidade (Brasil), seria o mesmo que pagar entre R$ 1,5 mil e R$ 2,4 mil a um trabalhador que lida com uma rotina absurdamente estressante e, em muitos casos, sem auxílio psicológico e sujeito a longas jornadas de trabalho.
Se a gente nivelar tão baixo assim, daqui a pouco será aceitável trabalhar em troca de comida. É melhor que nada, afinal.
Tu ta vivendo no brasil??
Fala isso para uma pessoa desempregada a 6 meses, 1 ano ou mais. BONITO.
Mas a realidade atrapalha o teu bonito.
Além disso, apenas mais um exemplo: sabe que além de todos os clientes, todos os funcionários ODEIAM trabalhar em callcenter? A anos atras trabalhei em um (ainda bem que hoje escapei), e tenha certeza: na epoca eu daria tudo para trabalhar em coisa melhor, como “treinador de AI”.
Sim, call center é um bom paralelo. (E é menos pior que treinador de IA, pois não te expõe a conteúdo traumático.) Nosso ideal não deve ser naturalizar mais profissões ruins como o de atendente de call center, mas sim elevar essa categoria e recompensá-la da maneira devida.
Por que você acha que essas empresas vão a países pobres da África e do Sudeste Asiático contratar? Eu, hein… tenha um pouco de empatia, coloque-se no lugar dessa galera.
JUSTAMENTE! Empatia com realidade é mais correta que empatia de internet!
Quero que todos sejamos Europeus! Coisa injusta esse monte de brasileiro na sociedade que vivemos. Viu! Tenho empatia de criança também!
O emprego é ruim para quem vive bem, sendo apenas um emprego – e nem tão ruim – para quem vive em uma realidade de bosta!
Andre, treinamento de IA expõe as pessoas a conteúdo extremo, do tipo que gera transtorno de estresse pós-traumático. Considerando que esse tipo de trabalho precisa ser feito, o mínimo, numa sociedade justa, é que ele seja bem pago e bem assessorado, com acompanhamento psicológico, jornadas atenuadas e outras salvaguardas para evitar danos.
Não é o caso dessas empresas, de nenhuma delas, que terceirizam esse trabalho ruim pagando uma mixaria. “Ah, mas é mais do que a média salarial do país”, mas de que país? Quem ganha US$ 1,32/hora nos Estados Unidos, sede da maioria dessas empresas? Não tem outra palavra para descrever isso, é exploração.
Eu tenho medo dessa relativização que você faz aqui (e discordo veementemente) porque é o primeiro passo para chegarmos à situações bem graves, como trocar trabalho por comida. Afinal, é melhor que nada.
Licença?
Ghedin, me chame de chato mas acho que Call Center, moderação de sites e alimentar AI tem o mesmo nivel de estresse/ exposição a conteúdo toxico. Call center aguenta cada coisa… (se bem que tem ums também que contribuem para ambentes tóxicos, mas enfim…
Porém sigo contigo na lógica do valor: a defasagem meio que acaba sendo problemática, pois por mais que se gamhe “o equivalente em dólar”, a inflação toma de volta e tira o poder de compra. Ganhar 5 reais por hora, em 4 reais paga-se um almoço em algum centro de cidade. Ganhar 10 reais (dois dólares), em duas horas se paga o almoço, só que com mais duas paga a passagem de ônibus.
Aí André, você acaba ignorando isso. Por mais que o valor é “alto”, existem n outros gastos que vão consumir estes ganhos. Eletricidade, manutenção do computador, manutenção da pessoa (quanto é a hora do psicólogo?), etc…
O pensamento de “ao menos tem um trabalho” é igual a ideia dos Layoffs que ocorreram desde o fim do ano passado, dado que fizeram isso para desvalorizar o salário do profissional de TI. Siga. nessa lógica.
Sim, deviam ficar felizes por receber essa generosa caridade, de coração que a ONG OpenAI deu, sem nenhuma contrapartida. Francamente, hein?
Não. voces todos tem rasão.
As empresas como OpenAI, google, microsoft, dell, Renner, Tok Stok, Nestle, MacDonald e todas mais deviam pagar salarios justos em todos os paises. Como em suas matrizes.
Como está não pode. Elas são horríveis, por isso eu vou passar a boicotar. Mas APENAS ESSAS. Os estrangeiros que paga o mesmo aqui terão eu como cliente!
Vamos mudar isso!!!!
Você pode usar da ironia que quiser, ainda que isso deixe o debate raso. Ninguém está pedindo equiparação salarial em relação à sede, só que parem de explorar países subdesenvolvidos.
(E sim, todas as empresas deveriam pagar mais para o chão de fábrica. Hoje, executivos ganham centenas de vezes mais que os funcionários, algo injustificável.)
Tá mais tu vai no MEC. Não? Compra na renner? etc etc…. porque diabos o limite do absurdo é apenas a openai? Cara, eles não estão fazendo nada que não é feito por literalmente todas as empresas que os antecederam!
Explorar paises subdesenvolvidos… meu, é trabalho, de acordo com a realidade do pais. Uma merda, mas novamente, “eles não estão fazendo nada que não é feito por literalmente todas as empresas que os antecederam!”
Sim, “business as usual”, infelizmente. Acontece em outros setores e, em muitos casos, é difícil fugir, boicotar. Nosso poder de mudança, enquanto indivíduos, é muito limitado.
Reconhecer isso é uma coisa; normalizar, aí não. Empresas que agem assim devem ser expostas, criticadas, cobradas por mudança por nós, pela sociedade civil, pelos governos, por todo mundo. Porque o que elas fazem não é certo, não é justo, é desumano.
Pior Ghedin que, no artigo, Enrique García diz “Pode ser que as grandes empresas de tecnologia possam pagar mais, mas estamos muito agradecidos pelas oportunidades”… (?!)
“Empresas que agem assim devem ser expostas, criticadas, cobradas por mudança por nós, pela sociedade civil (…)”
Obrigado pelo resumo. É que penso!
Todas elas estão explorando mão de obra precarizada. Não posso fazer nada porque sou apenas uma pessoa, mas não vou jogar confete em empresa que se aproveita da miséria em países pobres para ganhar rios de dinheiro.
Não precisa jogar confete. Mas francamente não é emprego rui, já tive piores
Callcenter é HORRÍVEL, e trabalhar em comércio em shopping center é ainda mais horrível!!! Nesse ultimo foi onde eu cheguei na gota dagua ao ponto de pedir emprego em TI para desconhecidos online (uma pessoa de um forum quem nunca tinha visto – um esforço ainda maior para min por ser completamente anti-social), e incrivelmente consegui um e estou na area a 15 anos.
Apenas não acho que vale falar tão mal assim. Tem muita coisa pior, mas os americanos em suas bolhas não sabem portanto acham que isso que é o limite do absurdo. Não é.
E isso limitando em minhas experiencias. Pois sei que tem coisa ainda pior.
@ Andre Kittler da Costa
Como você afirma que “não é tão ruim assim”? Imagine se a sua rotina fosse ver imagens e descrições de decapitações, abuso infantil e outras insanidades? Deve ser uma das piores coisas do mundo.
Usando a lógica do “se tem coisa pior…” dá pra aceitar qualquer coisa 🤷♂️
A questão aqui é que quem trabalha com IA não faz ideia de quem é que treina a IA, e quem usa IA não faz ideia do quão prejudicial (tanto física quanto mentalmente) é esse trabalho – normalmente, floquinhos que não o fazem. A questão não é você pagar 22 centavos de dólar/hora a mais. É 1. Saber quem são as pessoas que estão ensinando a IA e quais as condições de trabalho a que elas são submetidas 2. Como é possível você estruturar toda uma tecnologia sem ser em cima da exploração de milhões de pessoas como é hoje.
Como disse a economista Paola Tubaro numa entrevista à BBC, “o microtrabalho é invisível para muita gente e tem atraído pouca atenção da opinião pública. Até mesmo o debate ético em torno da inteligência artificial se concentrou na transparência e na imparcialidade dos algoritmos, mas não levou em conta os trabalhadores que estão por trás da própria produção da inteligência artificial. Não pode ser justo se essas pessoas não são pagas o suficiente, ou não têm nenhum tipo de proteção social. Se as pessoas trabalham sob as mesmas condições que as fábricas do século 19, isso não é algo que nossa sociedade deveria aceitar.”
Não é porque é “limpinho” ou “dá para comer” que deixa de ser degradante, injusto, inaceitável. O mundo está construindo tecnologia do futuro usando métodos de trabalho do passado. Usar como argumento “Não dá trabalho para gente no Quênia e evita complicação!” é tipo “Já que a escola no Brasil é uma porcaria, bota a meninada pra quebrar pedra em mina de calcário porque todo mundo vai ter o que comer” – resumidamente, uma bobagem. Você pode dar trabalho para as pessoas no Quênia – olha que revolucionário – pagando bem.
Btw: quem está treinando IA não é gente miserável (e não é visão de “um floquinho que a maior conquista da vida foi nascer bem”):
“A Organização Internacional do Trabalho (OIT) entrevistou 3,5 mil microtrabalhadores em 75 países. E descobriu que a idade média dos entrevistados era de 33 anos. Um terço era de mulheres, mas em países em desenvolvimento, esse percentual caía para um quinto. Eles também são instruídos – menos de 18% dos entrevistados haviam estudado até o ensino médio, um quarto havia frequentado a universidade e 20% tinham pós-graduação. Mais da metade é especialista em ciência e tecnologia, 23% em engenharia e 22% em tecnologia da informação.”
Recomendo o livro do Siddharth Suri e da Mary Gray, “Ghost Work”, que acabei comprando para escrever uma matéria sobre microtrabalho: https://www.theverge.com/2019/5/13/18563284/mary-gray-ghost-work-microwork-labor-silicon-valley-automation-employment-interview
O Kenya tem que ser grato, mais uma vez, pela generosidade branca. Afinal depois de décadas de exploração não-remunerada agora eles estão remunerando!!! Viva!!!
Espero que todos aqui façam sua parte e não usem chatgpt e/ou bing agora e no futuro.
Não sejamos hipócritas.
Você pode usar inclusive para lutar por condições dignas pra quem trabalhou pra torná-lo o que é. Olha que extraordinário. Incrível, não?
Verdade!
Hora de mudar a sociedade! A revolução começa agora e aqui!
Eu não quero participar dessa uma (erro meu) pois depois dos protestos de passagem de onibus de 2013 virei amargo/experiente, mas tenho certeza que todos vocês irão, ativamente e já, e tenho orgulho de ver isso nascer!!
Eu imagino como seria se os monarcas e nobres tivessem pensado nesse nível de argumento contra a burguesia na idade moderna, antes da revolução inglesa e francesa. Já que a burguesia usa as estradas reais para fazer comércio, depende dos exércitos reais para defender sua vida e propriedade contra invasões de outros monarcas, usa a moeda nacional para expandir seu lucro, etc, então que a burguesia aceite os impostos reais, pague o dízimo da igreja, trabalhe por 40 dias para a monarquia todo ano, pague os impostos aos nobres, obedeça ao rei e a igreja, e pare de reclamar dos abusos e explorações todos.
Literalmente esta tirinha.