LinkedIn conduziu experimento em 20 milhões de usuários.

Entre 2015 e 2019, o LinkedIn conduziu testes com 20 milhões de usuários para determinar se a sugestão de contatos mais próximos ou mais distantes influenciava nas chances deles conseguirem melhores oportunidades profissionais.

Descobriu que, sim, a teoria da força dos laços fracos funciona, e que o grupo que recebeu sugestões de contatos distantes acabou se dando melhor na hora de conseguir um bom emprego. A pesquisa está atrás do paywall da revista Science.

É inacreditável que pesquisadores, pessoas que julgamos tão inteligentes, tenham mesmo achado que seria uma boa ideia submeter tanta gente a um teste com potencial de alterar vidas sem avisá-las disso.

E nem dá para dizer que é algo inédito. Em 2014, o Facebook fez algo parecido quando dividiu quase 700 mil pessoas em dois grupos e mostrou posts alegres para um deles e posts tristes para outro, a fim de saber se isso teria alguma influência no humor deles. (Spoiler: teve.)

O LinkedIn se defendeu dizendo que seus termos de uso e política de privacidade preveem a realização de experimentos do tipo, o famoso consentimento inadvertido, um absurdo que leis modernas de privacidade, como a nossa LGPD, vedam. Via New York Times (em inglês).

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14 comentários

  1. No caso do Facebook, eu concordo que foi algo irresponsável e com grande potencial de causar danos psicológicos nos seus usuários. Algo totalmente reprovável e ilegal.

    Agora no caso do LinkedIn, não vejo nada de absurdo. Sugerir opções de contatos, os quais talvez tragam oportunidades de trabalho, estas que por sua vez, precisam ser aceitas pelos candidatos, como sempre foi.

    “…acabou se dando melhor na hora de conseguir um bom emprego”.

    Como isso poderia ser ruim? Me parece muito mais como um excelente recurso da plataforma. Afinal esta é a sua finalidade. Criar relacionamento, para conseguir oportunidades melhores de trabalho.

    Talvez eu esteja sendo muito ingênuo, mas não consegui enxergar o lado negativo disso.

    1. Como isso poderia ser ruim?

      Pergunte à galera do outro grupo, que recebeu sugestões de amizades piores e, por isso, teve metade das oportunidades de emprego em relação ao outro grupo.

      O experimento em si não é condenável. Ele tinha uma boa hipótese e visava aperfeiçoar a plataforma para o seu objetivo (um dos). O problema foi tê-lo realizado sem a anuência e sequer o conhecimento dos participantes. Isso é baixo, é vil, é antiético.

      1. Diminuíram a qualidade de um serviço que é prestado “de graça” para um grupo específico de usuários, com a finalidade de testar um recurso, o qual se for bem sucedido, resultará em uma melhora para todos. Acho bem válido.

        Sobre não terem avisado aos usuários participantes, concordo que é antiético, mas eles deixaram isso bem claro nas letras miúdas que ninguém lê:

        “4.2 Exclusão de Responsabilidade

        Estes são os limites da responsabilidade legal que assumimos com você.

        DE ACORDO COM O LIMITE PERMITIDO PELA LEGISLAÇÃO EM VIGOR (E A MENOS QUE O LINKEDIN EXECUTE UM CONTRATO EM SEPARADO QUE CANCELE ESTE CONTRATO), O LINKEDIN, INCLUINDO SUAS AFILIADAS, NÃO SERÁ RESPONSÁVEL, NO QUE SE REFERE A ESTE CONTRATO, POR PERDA DE LUCROS OU DE OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS, REPUTAÇÃO (EX., DECLARAÇÕES OFENSIVAS OU DIFAMATÓRIAS), PERDA DE DADOS (EX., PARADAS OU PERDA, UTILIZAÇÃO OU ALTERAÇÕES EM SUAS INFORMAÇÕES OU CONTEÚDOS) OU POR QUAISQUER DANOS INDIRETOS, INCIDENTES, CONSEQUENTES, ESPECIAIS OU PUNITIVOS.”

        https://br.linkedin.com/legal/user-agreement#introduction

        1. Esse trecho dos termos de uso não menciona a participação involuntário em experimentos científicos que podem prejudicar suas chances de conseguir um emprego na plataforma, Silvair.

          E, mesmo que mencionasse, que validade teria uma cláusula genérica enterrada num documento em que (você mesmo disse) ninguém lê? Legislações modernas de proteção de dados pessoais, como a nossa LGPD, não consideram consentimento quando o usuário sequer tem ideia de que consentiu com algo.

          (A definição de “consentimento” na LGPD diz que se trata da “manifestação livre, informada e inequívoca pela qual o titular concorda com o tratamento de seus dados pessoais para uma finalidade determinada”.)

  2. eu desconheço alguém que tenha conseguido emprego via linkedin, eu mesmo só fui chamado para meia dúzia de entrevistas depois de preencher formulários intermináveis que não deram em nada…

    1. Depende muito da sua área de atuação. Algumas trabalham com métodos alternativos de captação de funcionários, e outras, principalmente de tecnologia, só contratam pelo LinkedIn.

      Trabalho a 8 anos com auditoria de TI, e todas as empresas que passei me contrataram depois de fazer contato pelo LinkedIn.

      1. Fico com medo de me cadastrar no Linkedin e no final não conseguir nada de qualquer forma. (Eu tinha cadastros em outros sites de empregos, mas como não dava em nada, apaguei todos os perfis. O Info Jobs ou o Vagas eram os piores, diga-se. Eu tinha que mandar e-mail para pedir para apagar meu perfil.)

  3. Como diferenciar um experimento social de um teste A/B? Pergunto porque quando li a manchete dessa notícia em outro lugar entendi como um teste A/B comum

    1. É um teste A/B. Em certo sentido, não há diferenças entre um teste A/B e um experimento. O que torna esse digno de nota é o escopo (20 milhões de pessoas, quatro anos de duração), a metodologia (é uma pesquisa científica, afinal) e… bem, o fato do teste implicar em mudanças profundas na vida de pessoas que sequer sabiam/consentiram em participar do tal experimento.

  4. Eu me surpreenderia se em algum momento descobrissem que NUNCA foi feito nenhum experimento social que mudou a vida das pessoas.

  5. Assim caminha o governo mundial das big techs. Vai saber em quantos experimentos não estaremos sendo usados de cobaias neste exato momento. Políticas de privacidade, né…