Cloudflare volta atrás e encerra prestação de serviços a fórum extremista.
A Cloudflare é uma empresa que atua na infraestrutura da internet, oferecendo soluções de distribuição de conteúdo (CDN) e mitigação de ataques DDoS. Estima-se que a Cloudflare preste serviços a ~20% da internet — incluindo este Manual do Usuário.
Na última quarta (31/8), a Cloudflare respondeu publicamente a pedidos para abandonar um cliente, o site Kiwi Farms, um fórum criado em 2013 que se especializou em organizar campanhas de assédio via internet, em especial contra pessoas trans. A campanha foi iniciada por uma vítima, a streamer canadense Clara Sorrenti.
Sem citar o Kiwi Farms, a Cloudflare justificou a manutenção da relação comercial com os assediadores em um longo post de blog, dizendo que “nossos princípios exigem que o abuso de políticas seja específico ao serviço sendo usado”.
O post detalha outros poréns na tentativa de sustentar a decisão, alguns legítimos, como a pressão que governos autoritários exercem usando tais casos como precedentes, mas que talvez… sei lá, não sejam fortes o suficiente para manter guarida a sites reconhecidamente criminosos?
Aí no sábado (3), a Cloudflare mudou o discurso e abandonou o Kiwi Farms. Ao Washington Post, o CEO da empresa, Matthew Prince, disse que detectaram um “perigo iminente” na atuação do fórum, na forma da divulgação de endereços de alvos e pedidos para matá-los, e que isso teria mudado o cenário.
É, sem dúvida, um terreno complicado, esse em que empresas de infraestrutura precisam decidir a que tipo de cliente prestam serviços ou não, mas:
- Já havia relatos de suicídios atribuídos à atuação do Kiwi Farms anteriores à campanha organizada por Sorrenti; e
- Não seria a primeira vez que a Cloudflare cessa relações comerciais com sites/organizações criminosas. No passado, a empresa se negou a prestar serviços ao 8chan e à publicação neonazista The Daily Stormer.
Via Cloudflare, Washington Post (ambos em inglês).
viva o capitalismo. às vezes a pressão dos consumidores dá resultado.
É o status atual. Daqui a pouco vão querer criminalizar a conduta da empresa que presta esse tipo de serviço, alegando que quando vc não impede, você está pactuando com os ideiais criminosos dos fóruns, ou coisa do tipo que essa gente inventa.
“Empresa” não comete crime, André, salvo crime ambiental — isso, claro, no Brasil. De qualquer forma, se você pode impedir um crime e não o faz deliberadamente, pode ser implicado criminalmente — dê uma olhada no artigo 13, § 2º do Código Penal.
O caso da Cloudflare é bastante complexo, ou seria se o caso tivesse ocorrido no Brasil. Reduzi-lo a esse cinismo típico do reacionarismo é contraproducente e juridicamente desprezível.
Eu sei que empresa não comete crime, salvo a hipótese ambiental. Por isso eu comentei que DAQUI A POUCO vão querer criminalizar, porque esse é o status atual, de querer impedir as pessoas de serem livres sobre seus corpos, de querer censurar todo pensamento contrário, de querer dizer que o certo é só o que é certo para um lado. Não precisa ir muito longe, imagina uma empresa se dizer, sei lá, abertamente contra a “vacina”. Claro, empresas são espertas e visam o lucro, então vão seguir a corrente atual, porque elas amam o dinheiro. Então pode esperar logotipos coloridos e esse tipo de coisa que encanta gente burra. Claro, só não espere os logotipos coloridos das mesmas empresas em outros países.
Ué, foi pressão popular, até o mais liberal dos liberais vai concordar que é do jogo. É difícil entender essa mentalidade atual que o governo não pode regular o mercado, mas o consumidor também não pode pressionar e nem boicotar (aí é “cancelamento”). Nós temos que esperar quietos até os incentivos financeiros das empresas se alinharem com a sociedade?
Empresa não tem lá muito incentivo que não seja o de auferir lucro.
E é claro que é do jogo. Foi o que eu disse no comentário, ué: “É o status atual.”
O que eu critico é esse status atual, principalmente o de tolher a liberdade das pessoas. (E aí eu exagerei esse status atual no comentário, pq daqui a pouco a pressão popular vai ser pra criminalizar a conduta de empresas que simplesmente querem criar um ambiente livre na internet).
Mas tem bastante gente que aplaude quando a liberdade é tirada, né.
Acho bem triste.
Ah pronto, agora perseguir outras pessoas, ameaçá-las de morte, divulgar seus endereços com incentivos à violência é “tolher a liberdade das pessoas”.
Está com dó dos bandidos do Kiwi Farms? Leva pra casa. Hospeda no seu servidor.
Faça-me o favor, André.
Se um criminoso usa uma faca pra cometer um crime, a gente tem que proibir o uso de facas? Ou proibir empresa de fabricar facas?
Eu não tenho dó do bandido do fórum em questão. Criminoso tem mais é que se ferrar. (pausa irônica, porque geralmente a esquerda é quem é a favor de bandidos, mas divago…)
Eu tenho preocupação com esses absurdos cometidos hoje em dia sob o pretexto de “segurança” das pessoas. Aí o governo investiga você, ferra com sua privacidade, pra “defender a população do terrorismo”. Ou, como é o caso, impedir uma empresa de hospedar um site, porque um dos usuários cometeu um crime lá.
Maaas, como eu disse no comentário inicial, é o status atual. Não tem muito o que fazer, só se adaptar e tentar não emburrecer muito, desligando a tv/rádio, filtrando melhor o que lê e vê, etc. Eu tava até pensando em criar um site, tipo o Manual, porque acho que já estou sendo chato demais no terreno alheio.
@ André
Ah não, de novo esse argumento da faca, não. É bem óbvia a distinção, mas vamos lá: a faca tem outros usos além de servir de arma, e este nem é o principal. É diferente de uma arma de fogo, que só serve para matar — e, justamente por isso, tem (ou tinha, né, agora virou farra) a venda bastante regulada.
A comparação nem cabe porque não é como se o fim do Kiwi Farms impedisse essas pessoas de se reunirem em outros lugares para falarem das coisas que julgam relevantes. Não é uma decisão legal, é apenas uma empresa usando da sua discricionariedade que opta por não se associar a pessoas com perfil criminoso. Não chegou à Justiça.
Regra geral eu apoio muito isso, só tenho o receio de que você espalhe (mais) desinformação por aí. A depender do sucesso do seu site, daqui a quatro anos pode concorrer às eleições e tudo mais. Um perigo 😄