
Hoje cedo, às 5h da manhã no horário de verão, a Nokia abriu seu evento anual, a Nokia World, onde anunciou um tablet, cinco novos celulares e alguns apps há muito esperados.
A essa altura você já deve estar ciente disso tudo. O que se segue, pois, é um apanhado de observações e comentários sobre o evento.
5. A vitória da esteira de rumores
Rumor é uma “nãotícia” que evito ao máximo abordar no Manual do Usuário. Nessa uma semana de vida do blog só citei um, brevemente, para contextualizar o Windows Phone 8 Update 3. E sabe da maior? Bateu certinho.
Há tempos já era sabido que a Nokia anunciaria um phablet de seis polegadas hoje, novos celulares da linha Asha e um tablet. Ontem à noite, o perfil @evleaks no Twitter, especializado em vazar fotos e informações de gadgets, entregou o Lumia 1320, o phablet de baixo custo da fabricante finlandesa e última surpresa de hoje.
Recentemente tem sido assim: surgem rumores, a maioria deles se confirma. Mais uma vez a esteira dos rumores saiu vitoriosa.
4. Novos Ashas

Na corrida pelo próximo bilhão de usuários de celular, a Nokia tem na linha Asha um grande trunfo. O Asha 501 (review em breve) ganhará novos companheiros, os modelos 500, 502 e 503, todos em versões com um ou dois SIM cards.
Todos seguem a identidade visual da marca, parecendo versões encolhidas dos Lumias. A nova safra conta com um acabamento em plástico transparente, o que deixa os aparelhos ainda mais grossos — e o Asha 501, acredite, já é bem grosso.
Destaques para preço, que chega a incríveis US$ 69 no Asha 500, e o oferecimento de conectividade 3G no 503 — os demais só operam em EDGE.
3. O que o Lumia 2520 tem de diferente?
O Lumia 2520 é o primeiro (e possivelmente único) tablet da Nokia. Rodando Windows RT 8.1, com tela de 10,1 polegadas, SoC Snapdragon 800 e acabamento em policarbonato colorido, quem mexeu neles diz que o equipamento parece um Lumia 720 esticado e amassado. Aliás, é bem fino, com 8,9 mm de espessura.
Essas especificações se assemelham um bocado às do Surface 2, lançado hoje pela Microsoft nos EUA. O que fazer para se diferenciar? Além do visual, a Nokia buscou outras saídas.

O Lumia 2520 tem uma câmera de 6,7 mega pixels com lente Carls Zeiss. Existe todo um debate em torno da prática de fazer fotos com tablets, mas deixo-o de lado no momento. Para quem gosta, porém, parece ser um prato cheio.
Outra característica bacana é a autonomia. A Nokia promete 11h de uso contínuo e, com o uso da capa-teclado vendida separadamente, o Nokia Power Keyboard (US$ 149, na imagem acima), outras 5h adicionais — além disso, o usuário ainda ganha mais duas portas USB e uma capa que, dobrada, fica parecendo um livro.
A Nokia também colocou uns apps exclusivos ali, como o HERE Maps, um editor de vídeos e o Storyteller, que também chegará aos smartphones da casa.
Por fim, há suporte a 4G LTE. O Surface 2 também terá, mas só no ano que vem.
(Repare que o comercial do Lumia 2520 bate muito na tecla do “em qualquer lugar”, que seria motivado pela conexão 4G e a tela que, diz a Nokia, funciona bem em ambientes abertos. No mais, só eu achei estranho o cara que leva um tablet para pescar de barco?)
O Lumia 2520 será lançado ainda no quarto trimestre, nas cores vermelho, preto, branco e azul, inicialmente nos EUA e Reino Unido. O preço inicial será de US$ 499.
2. Os novos phablets e a quem eles se destinam
Os novos smartphones Lumias, modelos 1520 e 1320, são phablets, ambos com tela de seis polegadas. O primeiro tem especificações agressivas, como SoC Snapdragon 800 e resolução Full HD, e será vendido por US$ 750. O segundo é um phablet de baixo custo, tem tela de alta definição (720p) e é movido por um Snapdragon S4 (dual core). Preço sugerido? US$ 340.

A Nokia segue a tendência lançada pela Samsung e seguida por outras, como HTC, ao se aventurar no mundo dos phablets, smartphones tão grandes que quase se confundem com tablets. Mas… quem quer esse tipo de aparelho enorme?
Resposta: o oriente.
De acordo com o IDC, a distribuição de phablets no oriente (excluído o Japão) no segundo trimestre de 2013 foi maior que a de notebooks e tablets. Em países como China e Índia, o instituto atribui esse sucesso ao tamanho intermediário do equipamento, que faz as vezes de smartphone e tablet ao custo de um só.
Outro levantamento, da Flurry, apontou que no mundo os phablets respondem por apenas 7% do mercado. Mas quando a análise fecha na Coreia do Sul, essa porcentagem salta para 41%. A Nokia não deve entrar no mercado sul coreano, que é bastante patriota (85% dos dispositivos em uso lá são de fabricantes locais, como Samsung e LG, também segundo a Flurry), mas esses dados dão uma boa medida dessa peculiaridade que se estende a outros mercados da região, especialmente a China e sua gigantesca base de usuários em potencial.
É por tudo isso que, não à toa, alguns países asiáticos como China, Hong Kong e Cingapura estão no rol de locais onde o Lumia 1520 chega primeiro, ainda este ano. E o Lumia 1320, veja só, sai primeiro e exclusivamente na China e no Vietnã, no começo de 2014.
O ouro está do outro lado do mundo.
(O hands-on acima, do blog oficial da Nokia, mostra o tamanho enorme do Lumia 1520, seu design que lembra muito o do Lumia 925 só que sem o acabamento em metal, a bizarra capa que parece a Smart Cover do iPad e os apps da câmera e Storyteller.)
1. Apps, apps por todos os lados

O inferno congelou — de novo. Durante a abertura da Nokia World, a empresa anunciou que o Instagram fará sua estreia no Windows Phone. Até que enfim!
A falta de apps é crítica para a Microsoft, tanto no Windows Phone quanto no Windows 8/RT. Medidas desesperadas, como empacotar sites como se fossem apps, estão sendo tomadas, mas o que vimos na Nokia World foi um sopro de esperança.
O Instagram é desde sempre apontado como uma espécie de exemplo-mor da carência de apps do Windows Phone. Tê-lo oficialmente na plataforma era um desejo antigo da Microsoft e da Nokia, e depois de campanhas, abaixo-assinados e até uma leva de apps genéricos (e uns bem decentes, como o 6tag), o Instagram chegou. Ou melhor, chegará, nas próximas semanas.
Além do Instagram, outros apps de peso foram anunciados na Nokia World. Destaques para Plex, Vine (já prometido desde a Build), Xbox Video (esse existia, sumiu, agora voltará), Asphalt 8 e Temple Run 2. A lista completa está no site da Microsoft.
For folks asking… Instagram, Vine, Xbox Video and most other apps are NOT Lumia-only. We're partnering to improve ecosystm
— Joe Belfiore (@joebelfiore) October 22, 2013
Todos esses, apesar de serem em parte resultados dos esforços da Nokia, serão compatíveis com qualquer Windows Phone. Os exclusivos para Lumias, porém, continuam existindo. E esses novos reforços apresentados são bem bacanas.
O Storyteller é um tipo de visualizador de fotos que organiza as imagens de acordo com vários contextos. O Nokia Camera convergirá dois apps hoje distintos, Pro Camera e Smart Camera, em um só. O Nokia Refocus trará aos Lumias com câmera PureView aquela bruxaria de alterar o foco após tirar a foto, mais ou menos como a câmera Lytro — veja um exemplo. As mesmas câmeras também ganharão suporte a fotos RAW.
Apps de desenho feitos para phablets também estão na lista, como InNote e Papyruz. A falta de apps que exploram o uso de stylus e a tela grande dos novos Lumias foi apontada por alguns sites como uma falha — o Galaxy Note, da Samsung, se destaca em muito pela suíte de apps adaptados para uso de stylus e de sua tela enorme.
Fora da linha Lumia/Windows Phone, o destaque ficou por conta do WhatsApp para os Ashas. Já não era sem tempo.
Falta muito pra Nokia e Microsoft se unirem como um sistema fechado ao estilo Apple? Pq está caminhando fortemente pra isso, já que quase ninguém mais está a fim de investir no WP e a Nokia foi comprada – quem sabe com um sistema pra um hardware o desenvolvimento acelere e ganhe aderência.
Imagino que esse é um pouco muito pensado na Microsoft.
Ao mesmo tem em que seu sucesso e ápice como empresa foi licenciando seu software, hoje com a proposta da Apple de oferecer o software gratuitamente torna a política da Microsoft mais complicada. Principalmente porque a Apple mostrou que a legião de fãs fortalece muito a marca e não vemos muito isso com a Microsoft principalmente por ela não oferecer seus serviços na cadeia torna de produtos. Os usuários ficam dependendo de fabricantes e os produtos não conversam corretamente. Ao mesmo tempo perder seus grandes parceiros pode ser complicado. Vejo o Google com o mesmo dilema.
A Apple conseguiu criar um nível de qualidade nos produtos como um todo e uma veneração dos usuários que a deixa acima dos outros players. Controlar todo o sistema e cadeia de produtos te dá um poder que hoje apenas a Apple possui.
Em último caso, acho. A Microsoft ainda lucra com parcerias, licenciando software. Quando essa fonte secar, ela terá menos a perder se fechando.
Mas, Ghedin, você não acha que essa espera pode acabar minando futuras chances da Microsoft de evoluir como produtora de hardware e serviço?
Vejo isso muito no Android/iOS. Gosto muito do sistema Android, todos meus gadgets estão com ele embarcado, mas sinto falta de uma união de dispositivos+serviços. A Google aposta muito, a meu ver como a Microsoft, de que os parceiros darão condições ao ecosistema, mas vendo as ações da Apple me parece que não vai funcionar a longo prazo. São muitos serviços que não funcionam tão bem, as fabricantes fazem muito sem se preocupar com a qualidade, diferente da Apple. Acho que a Google deveria oferecer mais serviços e produtos para o sistema como um todo.
Não sei, viu. Acho que o problema não é exatamente a Microsoft oferecer seu software para outras fabricantes; num mundo ideal, isso é até benéfico — vide o Google, que tem um marketshare enorme apostando nesse modelo. Aliás, a Microsoft tem mais a ganhar imitando o Google do que a Apple.
A Microsoft está fazendo bem o que pode: além de oferecer seus serviços no Windows Phone, também lança apps para iOS e Android. O caminho está bem traçado.
Estou com o Windows 8.1 no meu notebook e devo dizer que gosto muito da intracelular Modern, mesmo usando o mouse.
Os aplicativos para o sistema são poucos, mas todos sempre bem feitos. Se o sistema tivesse mais aplicativos, principalmente os dos serviços Google eu teria um, mas com essa falta eu sou “obrigado” a usar um tablet Android.
Gosto muito do sistema Android, mas acho interessante poder utilizar mais de um sistema para não ficar viciado. Quem sabe eu não instalo o Ubuntu Touch no meu Nexus 10 para mudar de ambiente…
O Lumia 1520 parece ser um bom ~smartphone híbrido~. O grande problema mesmo é o Windows Phone que não me parece otimizado para essas telas e acabou deixando essa poluição visual.
Não haverá um só dia que não irei lamentar a compra da Nokia pela Microsoft. A Nokia encabeça as fabricantes com aparelhos boa construção, bons aplicativos e features sensacionais; e tudo deve acabar sob o domínio da empresa de Redmond.
A Microsoft fez uma série de adaptações no Update 3 para tornar o Windows Phone 8 amigo das telas Full HD. Acrescentou uma coluna extra de blocos na tela inicial, redesenhou alguns apps nativos e está pedindo aos desenvolvedores para que façam o mesmo com os seus.
É bem provável que os aparelhos da Nokia não sofram com a transição para a Microsoft, ao menos não em um primeiro momento. Talvez o Lumia 2520 suma, afinal a Microsoft já tem um tablet com Windws RT, o Surface 2. Mas os Ashas e Lumias continuarão sendo vendidos e não vejo motivo algum para mexerem drasticamente nas duas linhas.