Prazo curto, pressão e ansiedade: a saga dos entregadores do Mercado Livre, por Rogério Galindo e Flavia Barros, no Plural:
Depois da pandemia, toda grande cidade hoje tem milhares de pessoas trabalhando com entregas de mercadorias, não só para o Mercado Livre. As pessoas acostumaram a fazer encomendas via Internet e isso movimenta bilhões de reais. Só no primeiro ano da pandemia, o Mercado Livre registrou um espantoso crescimento de 185%. Hoje, com capacidade para entregar 2 milhões de pacotes por dia, a empresa, que tem sede na Argentina, se expande às pressas. A receita também explodiu: foram US$ 2,1 bilhões só no último trimestre de 2021.
Na ponta, isso significa uma só coisa: pressão para entregar tudo no prazo, ainda mais porque algumas compras oferecem ao consumidor a promessa de ter tudo em casa em poucas horas — às vezes no mesmo dia, às vezes no dia seguinte. O exército de entregadores não para de crescer — assim como o Uber no começo, hoje é para o serviço de entregas que correm muitos desempregados em busca de renda.
Na minha cidade, interior de MT, as entregas do Mercado Livre e de outras plataformas são caóticas. Empresas terceirizadas pela plataforma para a entrega terceirizam a entrega para pessoas desempregadas. Dão a elas um caminhão lotado de encomendas para finalizar em um dia numa região com 3 cidades num raio de 55 km – e claro, pagando uma mixaria para essas pessoas. Já teve vez de receber encomenda de um jovem (que duvido que tivesse CNH) e uma adolescente, ambos em uma Honda Biz se virando para segurarem as encomendas no colo. Claro: sem qualquer identificação funcional, crachá, nada disso. Você assina o recebimento da encomenda sem saber o quê está sendo entregue e quem o está fazendo. Tudo pela precarização do trabalho.
Me vinha a mente trabalhar com este tipo de coisa, mas imaginava que poderia ter problemas assim dado a dinâmica de contratações e operação. (Tava lendo quando saiu a matéria, diga-se).
É aquela coisa do “Como o privado controla as coisas”. Motoboys se matando no trânsito por causa disto ou quase matando os outros (eu ontem quase fui atropelado por um cara recheado de caixas na moto, com celular na mão que foi jogar a moto pra calçada para sair do trânsito. Xinguei ele de “eleitor do bolsonaro corrupto” para ver se ele se tocava”), motoristas surtando (vejam a matéria quem não viu!), relatos de gente que “joga por cima do muro” o pacote… Enquanto isso os donos das empresas andam de helicóptero ou Ferrari por aí…
Acho que precisamos meio que aprender a controlar nossa ansiedade em aguardar as coisas. Pelo visto, as empresas querem tentar nos convencer a comprar rápido e ter rápido – só que esta matéria já mostra parte dos problemas desta cultura.
Ah! Lembrando da antiga “Lei Habib’s” -https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/06/18/motoboys-entrega-rapida-delivery-express-lei-transito-ifood-rappi-habibs.htm