Se nas apresentações da Apple o “one more thing” é (ou era) um tipo de marca registrada, as do Google também estão ganhando uma espécie característica própria: a (looooooonga) duração.
Ano passado foi 3h30min de Google I/O; hoje, chegamos a 2h40. Para quem não tem tanto tempo disponível e largou a bets no meio do evento ou sequer se arriscou a ficar na frente do computador vendo demonstrações e comentando no Twitter, o Manual do Usuário traz um guia direto, sem enrolação e super rápido de tudo de relevante que foi anunciado. Foi sobre Android, múltiplas telas, Chrome(book|OS|cast), Google Drive… foi sobre bastante coisa, na verdade.
https://www.youtube.com/watch?v=d36cIFCJvQs
Android One
Esta iniciativa do Google aponta smartphones baratos para mercados emergentes. O Android One é um modelo de referência com Android puro, atualizações garantias e automáticas, e planos de dados com valores módicos para quem se dedicar à fabricação de aparelhos simples.
Um dos aparelhos mostrados no palco, da indiana Micromax, tinha tela de 4,5 polegadas, dual SIM, slot para cartão SD e rádio FM, com preço de venda abaixo dos US$ 100. Além da Micromax, Karbonn Mobile e Spice Mobile, ambas também da Índia, formam o trio que dará início ao Android One.
Material Design
Cores fortes, animações, profundidade… A nova linguagem visual do Google, chamada Material, é bem bonita — as demos do Polymer, a biblioteca para desenvolvimento na web, são particularmente impressionantes. Mais do que beleza, ela é unifiada, ou seja, permite que os designers mantenham o mesmo visual, adaptado de acordo com o tamanho da tela, em várias plataformas, de relógios inteligentes minúsculos a TVs enormes. Apps do Google e a próxima versão do Android trarão essa identidade, que já pode ser vista na versão atual do app do Google+.
Mais detalhes aqui, e um PDF completo neste link.
Android L
Here's a list of Android L features, if you want to mine it. And here's my sneak peek post: http://t.co/qCADjcZIqg pic.twitter.com/V1oIMu3JVM
— Wilson Rothman (@wjrothman) June 25, 2014
Ainda não tem nome, nem se sabe qual número ela terá, mas a próxima versão do sistema móvel do Google, conhecida por ora como Android L, foi mostrada. Além das melhorias estéticas e que, de carona, melhoram também a usabilidade, conhecemos outras novidades:
- Notificações na tela de bloqueio.
- Notificações surgem no topo da tela, como no iOS, e podem conter ações — na demonstração, uma ligação podia ser atendida ou rejeitada através de botões na notificação.
- Desbloqueio automático que ignora a senha/padrão quando um relógio inteligente está no pulso do usuário. Afastou o relógio, o Android volta a pedir o código de desbloqueio.
- Abas do Chrome passam a aparecerem na multitarefa como se fossem apps autônomos. O sonho do WebOS e do primeiro iPhone voltou!
- Sai a máquina virtual Dalvik, entra a nova runtine ART. O Google garante que apps ficarão mais rápidos sem que os desenvolvedores tenham que mudar uma linha sequer de código.
- Novo modo Battery Saver, que desliga o Wi-Fi e diminui drasticamente a energia da tela. A promessa é de que isso garantirá 90 minutos extras de autonomia.
- Um “botão de desligamento” que permite transformar o Android em um peso de papel remotamente, o que deve inibir roubos e furtos. Uma solução similar implementada no iOS 7 reduziu em 38% o número de iPhones surrupiados em San Francisco e 24% em Londres.
Android Wear
Um tempão foi gasto mostrando do que o Android Wear é capaz de fazer, e muita gente ficou meio desanimada com o que viu. Na forma e com as aplicações disponíveis hoje, ele parece um Google Now limitado a uma tela minúscula. Nada exatamente novo, empolgante ou mesmo conveniente; várias ações pareceram mais simples no bom e velho smartphone do que se realizadas pelo relógio
G Watch, da LG, e Gear Live, da Samsung (!), entram em pré-venda hoje nos EUA. Infelizmente, não foi dessa vez que tivemos notícias concretas a respeito da disponibilidade do Moto 360. O Google também liberou um SDK para o Android Wear e, para demonstrá-lo, pediu uma pizza pelo relógio. Era tudo o que eu queria, claro, como viver sem isso?, agora vai!
Detalhe para aguçar os vanguardistas brasileiros: o site do Android Wear está em português.
Android Auto
Com um punhado de parceiros da Open Automotive Alliance, o Google deu contornos mais definidos ao Android Auto, sua investida nas centrais de informação e entretenimento dos carros. À primeira vista, o sistema parece mais acertado que o CarPlay, da Apple: a interface é bonita e adequada à situação, há compatibilidade com botões e knobs físicos do carro, apps e interações (via reconhecimento de voz) parecem bem naturais e, na demonstração, tudo funcionou direito. E como o sistema fica no smartphone (Android L), ele estará sempre atualizado.
Em breve sai um SDK para o Android Auto e, até o fim do ano, os primeiros carros compatíveis com o sistema.
Android TV
Mais um ano, mais uma tentativa de ganhar a sala de TV por parte do Google. Já foram várias, como Google TV e Nexus Q, nenhuma particularmente feliz em qualquer sentido da palavra.
O Android TV traz uma interface simplificada, baseada em voz e comandos simples, e compatível com joysticks — tem jogos, aliás, com suporte a partidas multiplayer. O sistema funcionará em TVs, set-top boxes, dispositivos de streaming e consoles, e além do controle remoto fornecido por esses, também poderá ser usado com smartphones e relógios inteligentes. Ele também conta com suporte ao Google Cast, o protocolo que permite ao Chromecast funcionar, então mandar conteúdo do smartphone ou tablet para o Android TV será simples. (O que nos leva à inevitável questão: como fica o Chromecast aqui? Parece bem redundante ao lado do Android TV.)
No fim do ano sairão TVs da Sony, Sharp e TPVision com Android TV. LG e Razer também estão entre as parceiras e dessa última virá um console com Android. Não seria a primeira vez, porém; Oyua e FireTV já estão aí para levar os joguinhos do Android para a tela grande da sala de estar.
Chromecast
O pequeno stick HDMI é uma das coisas mais legais que o Google fez recentemente. Ele também ganhou novidades, ainda que tímidas. Em breve, o Chromecast terá a opção opção de permitir que dispositivos fora da rede Wi-Fi em que está conectado possam mandar conteúdo para ele. Outra é o espelhamento do Android, inicialmente limitado a 10 modelos, entre smartphones e tablets. Atualmente só dá para espelhar abas do Chrome através do Chromecast, e de modo bem precário.
Chrome OS
Se a Google I/O tivesse acontecido antes da WWDC, da Apple, as surpresas do Chrome OS seriam mais impressionantes. Basicamente, o sistema para notebooks do Google agora sabe quando seu smartphone está por perto e conversa com ele. Mas o papo é mais limitado do que na solução da concorrente: em vez de atender e responder mensagens, o Chrome OS apenas avisa o usuário desses eventos, via notificações. Melhor que nada, né?
Outra novidade é a possibilidade de rodar apps do Android. Na demonstração, vimos Flipboard, Vine (com direito a uso da webcam) e Evernote rodando no Chrome OS. Essa compatibilidade, porém, depende de atualizações nos apps feitas pelos desenvolvedores.
Google Docs/Sheets/Slides
O “Office do Google” agora edita arquivos do Microsoft Office sem ter que recorrer a conversões prévias. O mesmo vale para os apps móveis de Docs, Sheets e o novo Slides, que incorporaram recursos do QuickOffice (que já era) e agora estão mais robustos. Na web, eles ganharão novas páginas iniciais consistentes e mais organizadas. O processo de desmantelamento do Google Drive, revertendo o ecossistema do Google ao que ele era antes da sua introdução, parece finalizado.
O sistema de edição em tempo real dos arquivos do Docs ficou mais esperto. Quando um editor sugerir mudanças, um comentário relacionado surgirá automaticamente. Ao autor caberá aceitá-las ou estender o papo pelo próprio do comentário.
Google de terno e gravata
Em um evento tão abrangente quanto essa Google I/O, era inevitável uma passagem pelo mercado corporativo.
Duas coisas interessantes. Primeiro, uma solução que separa, no mesmo dispositivos, apps e dados pessoais dos da empresa. As empresas poderão fazer o deploy dos apps, e esses não precisam de modificações para serem compatíveis com a solução. É algo parecido com o que a Nokia e a ex-RIM já tinham há uns bons anos no Symbian e BlackBerry, e ao que fabricantes, como a Samsung com o Knox, já faziam por conta. Aliás, a Samsung contribuiu com a solução do Google.
A outra boa notícia é no Google Drive. O novo Drive for Work traz criptografia, controles administrativos melhorados, APIs para atividades e auditoria, e espaço ilimitado, tudo isso por US$ 10 por usuário ao mês.
Google Fit
Resumidamente, a resposta do Google ao HealthKit, da Apple. É uma plataforma que concentra e organiza dados relacionados à saúde do usuário colhidos por sensores, gadgets vestíveis e apps. Os parceiros iniciais são Nike, Adidas, Withings, RunKeeper e Basi, e em poucas semanas outros desenvolvedores poderão fazer uso dessa plataforma em seus próprios apps.
O que mais?
Durante a apresentação houve dois incidentes inusitados: pessoas que começaram a gritar em protesto contra o Google. E não, não era por conta da demora infininta do evento, mas umas coisas meio malucas — o segundo disse “vocês todos trabalharam para uma empresa totalitária que constrói máquinas que matam pessoas”. Oi?
Ao final, os desenvolvedores presentes ganharam dois brindes: um relógio inteligente (da LG ou da Samsung, à escolha) e um papelão que, montado, se transforma em uma espécie de óculos de realidade virtual. Ah sim, e o Moto 360, quando for lançado.
Apesar das distrações e do cansaço, o Google anunciou várias coisas legais, algumas com implicações importantes. É hora de rever tudo com calma, ler o que os outros estão comentando por aí e refletir sobre. Ainda publicarei outras reflexões sobre a Google I/O por aqui. Fique de olho!
Foto do topo: Google.
Um rumor que saiu esses dias e não falaram nada sobre foi o Nearby.
Será que fica pro próximo Android, ou vem como app?
Excelente post. Sinto que não preciso visitar nenhum outro site para saber mais detalhes a respeito do evento.
Está de parabéns como sempre, Ghedin.
E curti o layout novo do blog! Me lembrou o Ghedin que me indicou o falecido “txt.io”.
Enquanto isso, no mundo encantado do meu próximo smartphone: “e o Nexus, óóóóó” ( roda vt da escolhinha do professor Raimundo)
Hj está limitado a Nexus, iPhone e Motorola. Mas o primeiro e último ainda são uma incógnita.
Será que a Google vai mesmo perder sua Nau Capitania!? Ou deixar em um Silver que nem deve aparecer na Tupiniquim Land…. Acho que nem eles sabem