Só existe um futuro para o Brasil, e ele passa pela eleição de Lula neste domingo

Homem branco, de barba e cabelo curto brancos, vestindo uma camisa vermelha, olhando à sua direita. Ao fundo, desfocada, uma grande bandeira do Brasil.

Em março de 2021, quando o Brasil enfrentava uma das ondas mais mortíferas da pandemia de covid-19, o presidente Jair Bolsonaro imitou uma pessoa com falta de ar ao criticar declarações do ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta. Ele viria a repetir a cena dois meses depois.

As performances de Bolsonaro talvez tenham sido a manifestação mais perversa da sua conduta absolutamente errática à frente do país na pior crise sanitária do último século, mas não foi a única, nem a mais grave.

Sua insistência em recomendar medicamentos comprovadamente ineficazes no combate à covid-19 e o descaso nas negociações com laboratórios para a compra de vacinas foram responsáveis, segundo estimativas, por 400 mil mortes causadas pela covid-19. Mortes que poderiam ter sido evitadas.

É impossível prever uma pandemia, mas ao enfrentar outros problemas crônicos que assolam o Brasil, Jair Bolsonaro teve desempenho igualmente pífio e postura perversa, insensível. Em quatro anos, o Brasil sofreu retrocessos gravíssimos: do aumento progressivo das queimadas na Amazônia à fome, que voltou com força e hoje assombra mais de 30 milhões de brasileiros, passando pelo aumento da violência, do ódio e da intolerância.

Jair Bolsonaro tem em sua trajetória política recorrência de discursos machistas, racistas e homofóbicos. E em seu governo, estes discursos ganharam forma em políticas públicas que reduziam direitos das mulheres, população negra e indígena e LGBTQIA+, como as inúmeras portarias do Ministério da Saúde restringindo acesso ao aborto legal e ataques às demarcações de terras indígenas.

O governo de Bolsonaro foi pautado pela necropolítica. Convivemos quatro anos com uma exaltação constante à morte e à violência, com o armamento ostensivo da população e propostas perigosas como a da excludente de ilicitude, como se não houvessem estudos apontando que esse caminho não soluciona a insegurança sistêmica que vivenciamos — pelo contrário, só a piora.

A principal bandeira de Jair Bolsonaro na campanha de 2018, o combate à corrupção, foi rasgada sem demora. Ele aliou-se ao Centrão e se viu mergulhado em casos de corrupção, dos mais simples — mas não menos graves —, como as “rachadinhas” (desvio de dinheiro público) que parecem ser praxe entre seus familiares políticos, aos grandiosos, com destaque para o “Orçamento Secreto”, um esquema em que nosso dinheiro jorra aos bilhões no Congresso como moeda de troca para garantir sua sustentação no poder. Em situações-limite, Bolsonaro impôs sigilos injustificáveis de 100 anos a documentos que poderiam provar seus evidentes erros.

Mesmo com escândalos recorrentes no primeiro escalão do governo, que levaram à queda de ministros, histórias muito mal contadas, como a dos 51 imóveis comprados com dinheiro vivo e as que envolvem Fabrício Queiroz e os cheques depositados em nome da primeira-dama, e o aparelhamento de instituições como de controle e correição, Bolsonaro teve a pachorra de afirmar que não existiu corrupção em seu governo. A mentira foi institucionalizada. Virou política de governo.

Na economia, que justificou — na figura do ministro de enfeite Paulo Guedes — o apoio de setores poderosos à campanha vitoriosa de Bolsonaro em 2018, o crescimento do Brasil ficou abaixo da média global. Retrocedemos em todos os indicadores que importam, em alguns casos até 30 anos.

Viramos párias internacionais, motivos de piada e constrangimento em eventos globais. Os investimentos em educação, ciência e saúde encolheram e o orçamento federal de 2023 contém um apagão na área social a fim de abastecer o Orçamento Secreto. A cultura foi hostilizada e deixada à míngua; até discurso neonazista foi proferido por quem deveria, antes de qualquer um, defender e promover os nossos artistas.

Não contente em ser um mau governante e um mau ser humano, Jair Bolsonaro atacou todos os pilares da democracia em um exercício destrutivo constante — uma triste lição, sentida na pele, de como as democracias agonizam antes da morte.

Bolsonaro atacou a imprensa, atacou o Judiciário, atacou a urna eletrônica — a mesma que o elegeu várias vezes à Câmara dos Deputados, onde jamais fez coisa alguma, e à Presidência. Em todos os casos, sem provas nem justificativas. Ameaçou, e ainda ameaça, uma ruptura institucional caso não seja reeleito. Ao que tudo indica, em breve se revelará também um mau perdedor.

Entendemos que não reeleger Bolsonaro é o único caminho possível para podermos pensar no futuro. Diante da emergência climática e de um presidente que ataca e humilha a própria população, e diante dos sinais de que a extinção da humanidade é uma trilha cada vez mais sólida, não cabe ter qualquer dúvida quanto à ideia de que outro presidente é a condição mínima necessária para que se possa sonhar com um futuro. Se haverá ou não futuro, isso depende de muitos outros fatores que escapam à capacidade de resolução do sistema político engendrado pelo capitalismo.

Por isso, acreditamos ser importante nos posicionarmos. Para nós, esta não é uma escolha muito difícil, como sugeriu o histórico e lamentável editorial de O Estado de S. Paulo, em 2018, quando da disputa entre Fernando Haddad e Bolsonaro.

Para nós, a escolha entre os principais presidenciáveis – Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva – é uma obviedade. Longe de ser perfeito, o candidato do PT representa a única possibilidade de discutirmos uma agenda para o amanhã — e é isso que nos interessa, enquanto veículos jornalísticos e cidadãos: parte da nossa cobertura se concentrará em explicitar uma agenda civilizatória urgente para evitarmos o colapso do planeta, algo que ainda parece distante dos planos e das possibilidades de Lula.

Entre outras lacunas, entendemos que é urgente discutir um marco legal para reduzir as enormes desigualdades entre corporações e pessoas. Para nós, é impossível dissociar as maiores forças políticas do século XXI dos maiores problemas sociais, econômicos e existenciais dos nossos tempos.

Temos convicção que há uma diferença imensa, incomparável, entre Lula e Bolsonaro. Os dois governos de Lula (2003 a 2010) implementaram uma série de políticas públicas que melhoraram a vida dos mais pobres, mesmo tendo adotado a chamada política do “ganha ganha”, ou seja, beneficiando tanto os grandes empresários, mercado financeiro e agronegócio quanto a camada empobrecida da sociedade.

Criou medidas emergenciais e de assistência social, como o Bolsa Família, política de valorização do salário mínimo, abriu postos de trabalho e criou programas para produção de alimentos, como o programa de cisternas e o PAA. Implementou ainda os pontos de cultura, iniciando uma política de descentralização do investimento cultural e criou novas universidades.

Baseados na ciência e em centenas de evidências acumuladas enquanto jornalistas, consideramos que a agenda para o futuro passa por repensar a maneira como o sistema econômico está estruturado — uma agenda na qual o presidente da República e o Congresso podem exercer um importante papel.

Para voltarmos a ter esperança de um futuro melhor, é preciso derrotar Jair Bolsonaro. E eleger Lula. Defendemos o voto em Lula no primeiro turno porque há uma necessidade urgente de fortalecer a única candidatura com viabilidade de fazer oposição ao projeto de extrema direita de Bolsonaro.

Isso não significa que acreditamos que se deva assinar um cheque em branco para Lula. Não. A nossa cobertura será crítica também a ele, a possíveis problemas de seu programa eleitoral, de sua campanha, de suas alianças e de seu passado. Iremos cumprir com a missão do jornalismo de fiscalizar os poderes, denunciar abusos, violações a direitos humanos e fundamentais.

Também sabemos que um possível governo de Lula em 2023 terá ainda mais limitações que os governos de 2003 a 2010, já que as políticas sociais feitas nos dois mandatos contaram com uma situação econômica mundial favorável. E também porque será um governo de composição mais conservadora, sinalizada pela escolha de Geraldo Alckmin como vice na chapa.

Por isso, para nós, a limitada eleição de 2022 é uma oportunidade de descolonizar o imaginário. De entender que a participação política não se encerra nas urnas, e nem começa nelas. De entender que, antes de agirmos, precisamos recuperar a capacidade de imaginar outro mundo possível. Algo que nos foi tirado ao longo de décadas de tolhimento da atuação social e de construção da política como espaço proibido, sujo e repulsivo.

Todas as organizações de jornalismo que assinam este editorial têm diferentes posições políticas, mas somos redações que sonham, que acreditam na utopia. Quem tem fome, não consegue sonhar. Hoje, o Brasil está com fome. O Brasil de Bolsonaro é um país com fome.

Queremos ter o “direito de sonhar”, como disse Eduardo Galeano. E como disse Davi Kopenawa, é por meio dos sonhos que se faz política.

Que a gente possa começar 2023 com um horizonte de luta, cobrança e resistência.

Assinam este editorial com o Manual do Usuário:

Foto do topo: Ricardo Stuckert.

Atualização (1º/10, às 10h45): Removido o trecho do editorial que dizia que Lula “é o que temos para hoje”. Ele constava no artigo que serviu de base para o texto, escrito por uma das publicações signatárias, e foi derrubado pela maioria das signatárias durante a edição da versão final, publicada aqui. Peço desculpas pelo equívoco.

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42 comentários

  1. Existiam opções muito melhores que Lula ou Bolsonaro.
    Mas, a imprensa, mídia e artistas sempre tiveram uma má vontade absurda de fazer um mínimo de esforço para tentar criar uma atmosfera propícia para que os eleitores pudessem escolher a MELHOR opção, ao invés de escolher o “menos pior”, como se houvesse apenas 2 candidatos.

    Ver todo mundo que não era bolsonarista ou Lulista, ser massacrado por esse povo (mostrando CLARAMENTE que NÃO existe democracia livre e sim DIRECIONADA), foi triste.

    Quem eu votei no primeiro turno, não foi pro segundo.
    Quem estava no segundo, não teve meu voto (meu voto é em quem eu acredito, e não quem será menos ruim).

    EU não participei desse circo que se tornou e nem do resultado final da eleição.
    Não vou carregar comigo, essa pecha.

    Se o Brasil se tornar uma Suécia ou uma Venezuela, meu voto não fez parte disso e irei dormir de cabeça fria e leve.

  2. Gostei do posicionamento, até me fez pensar em reconsiderar o voto branco (que é por motivos diversos, como quem vai governar, extrema direita, já entrou no congresso).

    Mas não toca em nenhum momento no que está acontecendo de fato. O terrorismo moral. Está tão gritante que kids do meu trabalho estão repetindo coisas como “melhor o candidato que sabe rezar o pai nosso do que oq vai roubar o pão nosso”. E a pandemia? Minha mãe perdeu o pai para a doença, mas não vê nada de errado na postura do presi

  3. Neste domingo nossa democracia entrou em estado de coma. Assustador.
    Cuba do Sul? To dentro! Quero essa cidadania já!

  4. Iniciei processo para criação do meu passaporte. Até então não tinha.
    E não é para turismo.
    :(

  5. Excelente. Estou longe de achar que o Lula é um ser perfeito, cegamente, como vejo na minha bolha. Ainda assim, acabei de voltar da urna, glamurosamente vestindo rosa e branco, significado paz, depois de ter apertado 13 com muita vontade. Reitero a importância da escolha correta para as outras opções deputados(as), governador(a) e senador(a) que também tem um papel importantíssimo na nossa política. Abraços e tempos melhores virão!! <3

  6. Ghedin, o editorial está perfeito. É basicamente um voto pela civilização.

    Porém, como sempre disse para amigos próximos, o problema não é e nunca foi Bolsonaro, o problema são muitos milhões que são bolsonaros por aí, e a maioria em posições de alto poder na sociedade.

    Podemos eleger Lula agora, ou Simone, ou qualquer outro mais humano que Bolsonaro, mas estes milhões de bolsonaros ainda estarão por aí. Os “cidadãos de bem”.

    Boa sorte pro Brasil.

    1. Brizola nos avisou. Jair é apenas um peão nas mãos dos mercadores evangélicos. O plano de poder dessa gente está dando muito certo.

  7. Parabéns pelo editorial dos veículos de comunicação independentes! É necessário para esse momento. Lula é o candidato para derrotar Bolsonaro. Vamos em frente!

  8. Parabéns Ghedin, por não ser um reacionário como a maioria absoluta do pessoal que mexe com computadores, internet, etc.

    Interessante que numa área supoustamente racional a maioria das pessoas não utilize critérios racionais em suas escolhas políticas.

    Não vou nem me alongar sobre o assunto, o atual presidente cometeu (e continua cometendo) crimes quase DIARIAMENTE (e não vamos esquecer o maior dos crimes, a sabotagem do combate à pandemia), e pessoal ainda fica “ain, mas Lula, mimimi …” … francamente viu.

    Todo mundo tem direito à sua opinião, claro, mas ficar de mimimi quando temos um (entre coutras coisas) psicopata no “comando”, francamente, não dá pra entender.

    1. Na verdade dá para entender, mas no fundo tememos em admitir. Hoje mesmo virei a cara para duas pessoas quando elas declararam votos no salnorabo.

      Existe tanto os preconceitos sociais enrustidos, nos quais os atos do salnorabo acaam ecoando tais, quanto o senso do uso da “Lei de Gerson” para sobreviver. Os dois casos (um cliente e um colega, que já falei dele algumas vezes por aqui no PL) os conheço razoavelmente bem para traçar a questão de caráter dos mesmos. Não que eles tenham má índole, mas são daquelas pessoas que uma piada misógena por exemplo não os incomodam. Ou usam do famoso “bandido bom é bandido morto”. E eventualmente praticam “pequenas corrupções comuns diárias”, vamos dizer assim.

      Para eles, ver o PT no poder é temer que eles percam o que hoje tem, pois a cabeça deles já foi formada, seja na mídia e nas relações sociais – colegas, líderes religiosos, políticos locais – que apoiar o PT é apoiar M(T)ST, traficantes, bandidos, etc… na cabeça deles existe uma “moralidade perfeita” que não permite “votar em um partido que defende bandidos”.

      Votar no salnorabo, mesmo ele ecoando suas corrupções e preconceitos, a eles não é crime. É até de certa forma uma “virtude”, pois eles “não estão roubando dos outros”… ou melhor, deles as quais eles o puseram no poder.

      Por isso a dificuldade de “converter convertidos”. A certeza deles é que por mais que “todos os políticos são ladrões”, “o PT é o pior” (não é), o salnorabo é “honesto” (porque ele declara seus crimes, assim meio que “não sendo crime”) e por aí vai.

      É difícil por em palavras estes sentimentos e ideias pois nós que procuramos uma definiçãa correto sobre isso tudo, tememos em – diferente deles – apontar culpados a toa.

  9. Obrigada pelo texto. Já deu de banalizar a barbárie perversa e necropolítica desse desgoverno! E se quem leu tudo isso e *ainda* defende o excremento na presidência no mínimo vive num mundo paralelo.

  10. Não me orgulho de votar no Lula de novo, acho que precisávamos “oxigenar” a coisa. Também concordo que dificilmente teremos uma mudança da água pro vinho no buraco em que nos enfiamos.
    Mas, entre um governo falho e que deve ser monitorado de perto e a barbárie que se instalou, acho que a escolha é clara até para não-petistas.

  11. Concordo com a posição dos veículos que assinam e fico satisfeita com o tipo de posicionamento. Mas independente disso, fico muito mais confortável em obter informações em veículos transparentes que informam seus posicionamentos em vez de simular uma neutralidade.

  12. De um lado, um democrata. Do outro, um genocida. No próximo domingo votamos 13 pelo direito de voltar a sorrir e a sonhar.

    Chega de Bolsonaro.

    #voltaLula

  13. Eu escrevei todo um texto aqui criticando isso, mas ah… no site do cara ele pode postar o que quiser. E, sejamos francos, Ghedin nunca escondeu aideologia política do site. Imagino que tu deve ter considerado a eventual perda de leitores com isso antes de postar algo tão direto, mas imagino também que pouco importa, afinal seriam leitores que vc talvez nem queira.
    De toda forma, independente de qualquer coisa, vamos torcer pra que o futuro seja melhor.

    1. Blz André, até pensei em postar antes de você fazendo um contraponto ao editorial, primeiramente te apoio no direito de criticar, que é o que eu vou fazer de certo modo, ou não, mas mandar um ad hominem no Guedin não melhora em nada um ambiente de discussão e oposição de ideias, se o site ou o dono dele tem uma “ideologia” qual o problema disto é um direito dele e todos nós temos uma, então considero que “perder leitores” por causa disto é no mínimo desproporcional para não dizer algo pior, acessar e ler matérias que falam abertamente de algo que você não concorda é ótimo justamente para furar minimamente a nossa bolha que hoje é implacável.
      Agora falando do texto em si e das eleições, na minha OPNIÃO vejo o voto útil como uma pena para uma país tão rico encaro como “a escolha de Sofia” e podem me criticar mas eleger Lula como solução para Bolsonaro é de uma tristeza sem tamanho que não consigo dimensionar, me dou o direito de não votar para presidente pois considero as duas opções muito mas muito ruins e considero que em ambos os casos continuaremos em uma nau sem rumo, principalmente com a polarização instalada na população que convenhamos não é culpa de candidato A ou B e sim da máquina tecnológica que tem se mostrado cada vez mais poderosa nos últimos anos, ou seja, o texto acima é sobre tecnologia sim.
      Estou pessimista quanto a eleição do Lula e tenho medo que com ele eleito o mesmo não consiga governar minimamente pois a oposição vai ser muito forte.
      Por fim parafraseando você André, “vamos torcer pra que o futuro seja melhor”.

      1. Eu tenho esse mesmo medo, William, de que Lula não esteja a altura do momento histórico. Ou nos próximos quatro anos ele é capaz de minimamente pacificar o país para que a gente possa voltar a debater com um mínimo de racionalidade, ou é daqui para baixo.

        Mas entre a incerteza com Lula e a certeza do desastre que seria um segundo mandato de Bolsonaro, eu fico com a incerteza.
        Esse artigo fala sobre como autocratas tendem a radicalizar no segundo mandato: https://www.oliverstuenkel.com/2021/11/17/autocratas-mandatos-democracia/

      2. Opa… Eu não mandei ad hominem no Ghedin. Eu conheço (virtualmente) o Ghedin desde a época que ele fazia faculdade de Direito (e eu também). E eu disse, justamente, que não tem problema nenhum ele postar esse tipo de editorial aqui, porque o site é dele e ele faz o que quiser. Inclusive eu elogiei a postura dele, porque embora eu discorde dele quanto a política, eu acho ele um cara muito bacana, coerente e respeitoso. De certa forma, é melhor você ler um site sabendo da posição política dele, do que ler achando que é neutro, quando nunca é neutro. Meu comentário inicial era um contraponto direto ao texto, que eu decidi (depois de escrever) que não valeria a pena ser postado. Primeiro porque poderiam me confundir com bolsonarista, segundo porque dificilmente as pessoas mudam as ideologias políticas já concebidas (muito menosem razão de um comentário de internet). E quando eu me referi ao site perder eleitores, fiz menção a eventuais pensadores contrários (bolsonaristas, que seja) que deixariam de ler o site. Tem gente matando o outro por ideologia política diversa, imagina deixar de ler um site…

      3. Com sua licença (e a do Ghedin)?

        É assim: até eu torcia muito o nariz para o Lula na época da Lava Jato. Na verdade muitos de nós. Entorpecidos pela mídia, pelas ações das alt/far-right que aos poucos contaminaram toda a política…

        Em todos estes anos da era Lula/Dilma, fui favorecido com um “programa de certificação” (que ajudou a me certificar como cabista de rede) e um Pronatec simples (curso de manutenção de computadores). Ambos com auxílios de custo e tudo mais. Boa parte dos cursos técnicos se ampliaram nesta época, seja com investimento aos Estados (para favorecer as Fatecs/Etecs), seja com responsabilidade direta do Federal, com os Institutos Federais.

        Talvez a sensação que tenho é que muitos de nós se chateamos com uma das promessas de Lula, que era “acabar com a corrupção”. E pelo visto, aprendemos da pior maneira que “acabar com a corrupção” não é lá só prender quem desvia dinheiro ou pune quem comete favorecimentos, até porque quem tem a caneta na mão pode mexer nas regras do jogo – e nestes últimos 6 anos foi o que mais aconteceu.

        Lula errou porque o perfil dele não é de punição, é de negociação. Ele foi/é sindicalista. Aprendeu na época da ditadura (ou melhor, próximo ao final da mesma) a exigir direitos e negociar deveres. E nisso, gerou o talento político que o fez durar tanto no poder.

        Mas vamos além do Lula e fazer uma questão: quais nomes políticos hoje tem relevância? Felipe D’Ávila, um empresário louco para privatizar todo o Brasil? Simone Tebet ou Soraya Thronick (espero que eu esteja certo), que ambas vieram de regiões ruralistas com conflitos indígenas? Ciro Gomes, que pode ser um ótimo orador, mas é um péssimo negociador? Temos também Leo Péricles, que não conhecemos tanto; Vera Lúcia, que há um bom tempo disputa com uma visão mais “a esquerda” do espectro político, enfim, nomes que a gente não sabe tanto não só porque “não se tem mídia em cima deles” (Péricles e Vera Lúcia provavelmente devem aparecer em canais de vertente mais socialista como TVT, 247, etc…)… enfim.

        A política é bem ampla, e muitas vezes nosso prisma só nos atenta a coisas mais próximas – vizinhos, a mídia que vemos como o Manual do Usuário, etc… E a política institucional, esta que gera candidatos a cada 2 anos para diversos cargos, meio que está hoje aprendendo a tentar se por como atenção. Enfim, acho que daqui me estenderia demais então paro.

  14. Uma pequena questão que parece menor – e talvez seja – é desonerar o Paulo Guedes do atual desastre brasileiro. O ministério da economia dele vetou quase todos os programas sociais que, por milagre, passavam pelo crivo do Bolsonaro. A ideia privatista dele, muito próxima do que temos com o partido NOVO, foi responsável pelo desmonte de quase todo o funcionalismo público – e por consequência dos serviços estatais – que foi algo que culminou com os problemas que enfrentamos na pandemia (médicos em quantidade reduzida, enfermeiros faltando em todas as áreas, hospitais sem dinheiro/capacidade de investimento etc).

    Paulo Guedes não é apenas um enfeite, pelo contrário, ele é o grande fiador de todo o governo Bolsonaro. Formado em Chicago, defensor de Pinochet e da política econômica liberal-conservadora do Chile dos anos 90 (que resultou nos protestos da pandemia) e um grande especulador fundador de bancos como o BTG e que mantém fortunas em reservas em paraísos fiscais (que se aumentam a cada canetada dele aqui).

    Digo isso porque eu acho que os liberais, novamente, estão se safando da grande destruição que causaram ao país. Paulo Guedes virou um enfeite ou um ministro que não foi ouvido, partido NOVO se desgarrou do governo (mesmo mantendo mais de 90% de aderência aos projetos do Bolsonaro), institutos e think tanks liberais, financiados por ONGs, seguem agindo como se não tivessem nenhuma relação com o bolsonarismo e agindo como se tivessem a resposta para o futuro do país.

    Não podemos, novamente, deixar que os liberais não paguem a conta moral de serem e defenderem as opiniões que estão aí destruindo esse país.

    1. Guedes é tão psicopata e mau caráter quanto o Bolsonaro

      mas ele implementou (ou tentou implementar) as mudanças que o “mercado” sempre quis, contra os trabalhadores, e por causa disso sempre foi poupado

      me lembro de ter visto uma vez um comentário da Míriam Leitão (estava num consultório e fui obrigado a ver), ela era praticamente a secretária dele falando … e é lógico, tudo que ela fala vem de cima, dos patrões

      enfim, vamos torcer para que esse pesadelo acabe logo … e espero que MUITA gente sinta remorsos por ter votado no psicopata

      1. Exatamente isso. E me indigna um pouco que ele – e seus seguidores da B3 e Faria Lima – saiam impunes dessa papagaiada toda que foi o liberalismo neoconservador do Bolsonaro. Ele é tão ou mais culpado do que o Bolsonaro pelo buraco que a gente está.

      2. Quem vai votar no atual presidente ñ tem sentimento. Para essa galera o único sentimento que tem é ódio e rancor.

    2. Pois é, passamos 4 anos com sabotagem do bem estar social, comparar a gestão Lula e Bolsonaro e ainda dizer que são equivalentes é ser muito mal caráter. Lula teve seus problemas e defeitos, mas é o único que vai derrotar o rato imundo e voltar a investir no povo.

  15. Parabéns pela coragem! <3

    E pelo belíssimo texto.

    Isso aqui diz tudo: "Quem tem fome, não consegue sonhar. Hoje, o Brasil está com fome. O Brasil de Bolsonaro é um país com fome."

    Abraço!

  16. Peço licença antes de tudo para agradecer aqui ao Ghedin, por muitos textos que me fizeram pensar nestes últimos anos que tenho acompanhado os notíciarios de tech e social, e a vários comentaristas do Manual, como o Paulo Pilotti, Gabriel Fernandes, Pierre, Fábio Montarrios, Rafael, Diogo, Lucas, Mariana, Vanessa e N outros nomes que peço desculpas em não citar, mas muitos de vocês me rebateram, conversaram, deram ótimas opiniões, me aguentaram aqui também.

    Agradecer também a nomes como Leonardo “Nada no Front” Rossatto, no qual aprendi muito lendo os textos dele (me devo ver os vídeos, mas sou bem chato para assistir), Augusto Botelho, Marcelo Soares, Flávia “laydrasta” e outros nomes que estão no Twitter e outras redes sociais, puxando pessoas para pensar sobre as questões políticas e sociais.

    Torço muito que nestas eleições as escolhas feitas sejam refletindo muito de nossa esperança em ter uma política mais equilibrada. Mas sei que é difícil mudar cabeças – há um tempinho hoje mesmo fui tentar falar de politica com um colega, ele citou que ia votar no salnorabo, só virei a cara e fui embora. Porque infelizmente há um erro que cometemos em não se dedicar a aprender a lidar com a política, no final deixando as relações políticas dedicadas por pessoas que tem interesses mais escusos.

    Espero muito que 2023 o resultado seja de não só Lula na presidência, mas de governadores, senadores e deputados progressistas. Mas a política é complexa. Ao menos espero que o sentimento de “que acabe no primeiro turno” faça as pessoas pensarem em votar em políticos progressitas.

    1. Em tempos: pode parecer que não, mas notícias assim também se conectam com a tecnologia. Políticos que conseguem ver a ciência de forma positiva devem ser pauta em noticiários de tecnologia.

      Em tempos 2: esqueci de citar o Guilherme Felitti, mas sempre torço o nariz quando ele fala da Luciana Gimenez… 😋

  17. Existem muitas alternativas de candidatos para tirar o atual presidente do poder, mas a população decidiu escolher para ser o oponente dele o cara que foi um dos responsáveis pela crise política e econômica que resultou diretamente no bolsonarismo.

    Eu já apoiei o lula, sei as coisas boas que fez e não nego isso, mas atualmente precisamos de idéias concretas para levar o país ao caminho de saída dessa crise política e econômica.

    As condições que levaram às boas conquistas do governo lula já não estão aí, estamos passando por um período turbulento (guerra Rússia x Ucrânia e tentativa do mundo de se recuperar da crise causada pela pandemia), ano que vem vai ser bem mais complicado e precisamos de estabilidade política, mas infelizmente a eleição do lula (por mais bem intencionada que seja) não nos trará isso, ao contrário, divide mais ainda a população numa polarização irracional e desnecessária.

    Eu já perdi as esperanças de um futuro melhor, infelizmente estamos caminhando em círculo.
    Triste futuro nos aguarda…

    1. Na realidade, os comodities passam por um novo boom e a economia brasileira exporta quase tudo o que produz. O que mudou não foram as condições mundiais – elas mudaram, mas não o suficiente para modificar o cenário econômico brasileiro – e sim o sistema-alvo da economia brasileira. Passamos de uma economia baseada no crescimento interno (crédito, PAC, MCMV etc) para uma economia com foco em exportação, desmonte do sistema brasileiro de rede social e uma cultura de especulação financeira.

    2. Infelizmente é o que temos! Se a dita terceira via tivesse se unido, acredito que seriam mais fortes, mas a vontade de poder ditou tudo.

      1. A “dita terceira via” no final era um bando de gente que tinha interesse em continuar parte das políticas do que salnorabo fez: desmatamento, ocupação de terras, aumento da desigualdade….

        Soraya e Tebet são da região do Agro e há relatos de que elas toleram parte dos ataques a indígenas na região.

        Ciro já revelaram que tem interesses mais escusos infelizmente. Soma-se o fato que um dos gestores de campanha dele (Aldo Rebelo) meio que tem pose de “Coronel” no sentido perjorativo.

        D’Ávila é do Novo, um partido que nasceu depois de 2013 aproveitando o vácuo de pautas e botando o liberalcuzismo (apelido pejorativo para o “liberalismo capitalista sem escrúpulos, que se dobra para ser dominado pelo poder do capital”) na esteira de projetos do poder. D’Ávila vem com o pacote do MBL (um dos piores grupos políticos brasileiros), o Brazil Paralelo (que aproveitou do Olavismo para vender mídia de hipinose), etc…

        Não tínhamos uma “terceira via” real – alguém “centro” de verdade, que sabe conversar em todos os espectros políticos. Ou melhor, na verdade temos e é o próprio Lula.

        Lula não é esquerda plena. Nunca foi. Ele é centro-esquerda. Mais a esquerda que Lula é PSOL, e mais a esquerda ainda deveria ser PCdoB, mas os partidos no Brasil hoje são mais “caixinhas na prateleira” do que ideias e ideologias em si. E esse é outro problema.

        O Brasil não é um país de ideologias porque nunca fomos educados para ter e defender ideologias de forma consciente- a crítica musical de Cazuza mostra em partes isso. Senão talvez seríamos algo que a Rússia quis ser e não conseguiu – ser um país realmente socialista.

        1. Concordo contigo, porém minha posição está mais voltado para quem levanta a bola da polarização. Ñ que a “terceira via” fosse a melhor opção.

          1. Existe uma “mea culpa” do PT/esquerdas pois ao invés de fazer um esforço para as pautas de correção social (políticas aos povos originários, defesa dos direitos pessoais, etc) serem feitas de forma a serem integradas na educação da população (e sim, existiu isso), o esforço foi mais de confronto na internet e nas redes sociais. Toda tentativa de melhorar a educação para a diversidade, caímos naquela dos preconceitos que o pessoal da extrema direita usa para manipular a cabeça de outros.

            Por mais que hoje parte da população tenha ganhado uma visão progressista melhor, com defesa a diversidade e a políticas sociais, ainda temos a questão cultural “conservadora” que está em regiões mais ermas (interior). Soma-se também a ascensão do (neo)evangelismo e pessoas que viram na religião uma forma de ter poder social, político e econômico. A estes também existe um ponto sobre polarização, pois usam das pautas da religião como desculpa para manutenção de preconceitos.

            Enfim.

    3. Concordo 100% com o comentário.
      A polarização que criaram na política está destruindo o país, independente de quem vença a eleição o Brasil já perdeu. :(

      1. Cara, já foi falado N vezes. Não tem polarização nenhuma aqui. É simplesmente quem faz porcaria mudando leis a bel prazer (como para permitir grileiros destruírem a Amazonia ou reduzir as punições para “acabar com a ‘iNdúStrIa dAh MuLtAH'” por exemplo.) em relação a ações que realmente mudaram o Brasil para melhor em uma época mais favorável (como programas de combate a miséria; ações para melhorias em regiões pobres – boa parte dos desvios do Rio São Francisco foram iniciados na Era Lula, diga-se; melhorias na educação; etc.).

        O salnorabo fez tanta besteira, e com a pandemia que poderia ter se saído melhor como presidente, foi um dos piores e todo o planeta viu a merda. E sabe o que outros países falam? Que com o Lula será melhor, pois ao menos ele ia e conversava com as lideranças de boa, sem birras.

        O PT pode ter errado muito no passado, inclusive com um pouco da polarização. Mas tipo, uma coisa é brigar entre uma ideia boba, tipo se aquela rua precisa de pavimentação hoje ou amanhã ou se o time de futebol do bairro pode ter uma quadra esportiva. Outra coisa é estarmos polarizados entre apoiar alguém que sabe conversar com as pessoas contra alguém que além de não saber conversar, debocha e até deixa (E DEIXOU!) morrer.

        pense sobre, inclusive neste segundo turno por favor :)

  18. Parabéns pela posição, pois essa não é uma escolha muito difícil. É uma escolha civilizatória e humana.

    A batalha continua, sempre.

  19. Parabéns por não se omitirem, seja qual for nossa opinião sobre Lula – e a minha não é das melhores – há um abismo de diferença entre os dois candidatos competitivos nesse pleito. Essa não pode ser uma escolha difícil.