Em fevereiro lancei meu primeiro livro, As neurofiandeiras de Val, uma ficção científica leve. Foi uma auto-publicação, em formato e-book apenas.
Acredito que, hoje, esse é o caminho mais viável para um escritor estreante. O convencional, de ficar batendo na porta de editoras e implorando para ser lido, é entediante, então nem cogitei essa opção.
Auto-publicar não é algo novo. O estigma de que quem se auto-publica é porque não conseguiu uma editora é ao mesmo tempo verdadeiro — na maioria dos casos — e irrelevante, porque a auto-publicação me parece um excelente primeiro passo para chamar a atenção de editoras, se esse for o seu objetivo.
Acho que ainda faltam referências e exemplos do caminho da auto-publicação, por isso resolvi escrever esse texto, para contar o meu caso, para compartilhar minha experiência de iniciante para que outros possam ver as escolhas que tomei, o dinheiro que gastei e os resultados alcançados.
Uma inspiração para esse texto foi o post que a autora Giu Domingues fez sobre marketing ao lançar de um livro independente. É um texto muito generoso, com dicas interessantes. A Giu também lançou seu primeiro livro de maneira independente. Ela se tornou uma autora best-seller e eu estou aqui, feliz com minhas parcas vendas a conta-gotas. Sugiro ler o texto dela para aprender o que fazer e o meu para aprender o que, talvez, não fazer, mas não encare meu relato com pessimismo. Estou feliz com as minhas escolhas. Por mais que tenha gasto bastante dinheiro e o retorno tenha sido bastante baixo até o momento.
Não sei dizer se o que eu gastei foi caro ou não. Por isso mesmo quero expor os valores exatos, para que a próxima pessoa a considerar esses serviços tenha pelo menos uma referência para informar melhor sua decisão. Com sorte, outras pessoas falarão mais abertamente sobre preços e o mercado ficará melhor para todos.
Primeiro, para não criar suspense, deixa eu já dizer o total que gastei para lançar meu livro: R$ 18.418,22.
Nesse valor estão cursos, análises do texto, ilustrações, burocracia e divulgação. Vou falar sobre esses gastos ponto por ponto.
Todos os valores são os que eu paguei, não necessariamente é o valor que você pagará, mesmo que contrate o mesmo serviço da mesma pessoa. Em outras palavras, isto não é uma tabela de preços. Cada um dos serviços tem mil variáveis que afetam o preço cobrado. O aumento de demanda por um curso, aumenta seu preço. A mudança no formato, como mais horas de aula ou análise individualizada de textos, também. O tamanho do texto de um livro afeta muito todos os serviços que dependem de ler o seu texto, como revisão, preparação, leitura crítica. Preços de ilustrações variam muito em termos de experiência, expertise e disponibilidade da pessoa artista, assim como tamanho e detalhamento esperado da arte, prazo, formas de pagamento. Divulgação por influenciadores depende disso tudo também, além do tamanho do público, tipo de inserção, alinhamento ao perfil do conteúdo etc.
Pedi permissão a todos os prestadores de serviços para mencionar seus nomes e valores neste texto. Não por que ache que exista qualquer problema — pelo contrário, parece-me uma boa divulgação dos serviços deles —, mas por boa etiqueta. A única pessoa que pediu para não incluir seu nome foi a pessoa influenciadora que fez uma resenha paga para meu livro.
Vamos aos valores.
Cursos
- Curso Ferramentas e Teorias da Ficção de Thiago Cabello (em 2021): R$ 1.440.
- Curso Laboratório de Escrita da Bia D’Oliveira (2022): R$ 500.
Eu não tinha nenhuma experiência prévia em escrita profissional, muito menos de ficção, por isso incluo os custos dos cursos que fiz.
Seria enganoso dizer que não são parte dos custos do meu livro, por mais que sejam indiretos, investimentos em minha formação, e não voltados à criação do livro em si.
Os valores dos cursos de escrita criativa já são naturalmente transparentes: todo mundo diz quanto custa o seu ao divulgá-lo, então não tem por que me alongar muito aqui. Quero apenas dizer que recomendo muitíssimo ambos os cursos e gastar uns dois ou três parágrafos para elogiá-los.
O da Bia é mais curto — quatro aulas online, se me lembro bem. E, no pacote que comprei, tive meus textos avaliados individualmente. As dicas das aulas foram preciosíssimas e os comentários dela sobre meus textos, muito pertinentes.
O do Thiago Cabello é bem longo, e nisso está uma das suas principais qualidades. São aulas online uma vez por semana ao longo de uns nove meses, em uma turma de umas vinte pessoas. O foco do curso não é a escrita do livro em si, mas os recursos, conselhos e ferramentas para preparar o projeto do seu livro.
Por ser frequente e longo, recheado de discussões riquíssimas muito bem facilitadas pelo Thiago, cria-se um vínculo muito forte com a turma. No começo do curso, éramos todos estranhos. No fim, éramos um coletivo de autores iniciantes que se ajuda das mais diversas maneiras. Batizamos o nosso coletivo de “Primeiro Ato” e lançamos juntos uma coletânea de nossos contos.
Análise do texto
- Avaliação no Minipod Contos do Eduardo Spohr e Thiago Cabello (em 2022): R$ 340.
- Leitura crítica do Daniel Galera (em 2022): R$ 5.000.
- Revisão ortográfica da Riviane Reigadas: R$ 1.466,22.
Minipod Contos é uma iniciativa do famoso escritor Eduardo Spohr em seu grupo de Telegram junto com meu professor, Thiago Cabello.
A proposta é enviar textos curtos para que os dois façam uma análise crítica que é publicada em formato de “minipod” (um podcast dentro do grupo do Telegram), mais a divulgação do seu nome e texto no próprio grupo e nas redes sociais do Spohr.
Enviei para análise o primeiro capítulo do As Neurofiandeiras de Val. Como o livro estava longe de ser finalizado, estava mais interessado na parte da avaliação. Para quem está com algo já lançado, acho que é uma excelente oportunidade para um combo de análise do seu texto com qualidade e uma divulgação bem relevante.
A leitura crítica foi o item onde mais gastei dinheiro. Com gosto. Acho que o objetivo de um escritor iniciante deve ser escrever o melhor livro que puder escrever. Também gastei um bom dinheiro em outras coisas, como ilustrações e divulgação, mas acredito que leitura crítica seja o menos opcional dentre esses gastos.
Existem dois motivos para a leitura crítica ter esse preço alto. O mais evidente é que Daniel Galera é um escritor profissional, publicado, premiado e muito respeitado pela qualidade da sua prosa. Está entre os melhores escritores brasileiros contemporâneos. Isso tudo traz uma habilidade única para fazer o serviço de leitura crítica. O outro motivo relevante é que a leitura crítica que ele faz engloba muitas outras coisas que, normalmente, não são consideradas tecnicamente parte de uma leitura crítica.
Como referência, o Thiago Cabello orçou uma leitura crítica do meu texto, de 62.000 palavras, pelo valor de R$ 1.100. Acabei não fechando porque ele estava sem disponibilidade (o que é um sinal que, talvez, ele devesse subir seu preço, mesmo considerando que o valor que ele me passou inclui um desconto de ex-aluno). O perfil profissional do Cabello é muito diferente do do Daniel Galera, mas o serviço prestado também é diferente. Cabello lê seu livro, faz um parecer por escrito com observações e sugestões de melhoria do texto, além de uma conversa ao final para aprofundar os pontos do parecer. Isso é o que mais comumente entende-se como o serviço de leitura crítica.
Já Daniel Galera vai além. Ele faz o parecer e a conversa da mesma maneira, mas ele também faz inúmeras sugestões diretamente no seu texto, na forma de comentários no Google Docs. Ele aponta as ocorrências das críticas mencionadas no parecer, faz sugestões de cortes, faz elogios a trechos especialmente interessantes, faz comentários sobre o estilo da sua prosa, sugestões de como melhorar algumas frases, aponta furos e inconsistências no roteiro. Ele até aponta erros ortográficos — o que é mais um bônus porque ele não tem a pretensão de fazer uma revisão ortográfica propriamente dita.
Essa forma dele fazer leitura crítica engloba uma intervenção que normalmente é reservada para o que é chamado de preparação de texto, edição e copidesque. No meu entender, fazer tudo isso de uma vez é algo raro nos serviços de leitura crítica e que, claramente, demanda muito mais tempo de trabalho e dedicação. O valor de R$ 5.000 é plenamente justificado por tudo o que ele faz, na qualidade que ele faz.
A revisão ortográfica deixei tranquilamente nas mãos da Riviane Reigadas, que já havia feito a revisão da antologia de contos Fractais do coletivo Primeiro Ato. Fora a precisão e atenção, uma coisa que gosto do trabalho da Riviane é que ela também abre um pouco o escopo do seu trabalho e faz breves comentários e sugestões estilísticas e de inconsistências no texto.
Talvez tenha quem prefira que a revisão ortográfica se restrinja às correções de erros de português, mas acho que a Riviane melhorou a qualidade estilística do texto em diversos pontos e ainda achou um ou outro furo que teria passado — afinal, a revisão dela é a última mudança que é feita no texto.
Ilustrações
- 9 ilustrações do Ógbá: R$ 4.990.
A leitura crítica realmente foi o item mais caro, mas só por R$ 10. Gastei um bom dinheiro nas ilustrações do livro. Aqui, porém, admito que foi um luxo que quis me dar. Não foi um luxo irracional, apenas quis dar uma pequena esbanjada, por bons motivos.

O Ógbá é um baita artista cujo trabalho conheci uns anos atrás procurando pelas interwebs artistas brasileiros para encomendar obras para decorar minha casa. Comprei dois quadros dele e sua arte enriquece muito minha vida e meu dia a dia, com sua visão forte e tocante da vivência negra.
Quando terminei o primeiro rascunho do meu livro, comecei a pensar na capa e como a maioria dos personagens relevantes do meu livro são negros. Logo pensei no Ógbá. A primeira ideia era encomendar apenas uma ilustração para a capa. Cogitei contratar um capista, mas logo tomei a decisão de investir numa boa ilustração e eu mesmo cuidar do design gráfico, tendo a ilustração como estrela da capa.
Após decidir a capa, cada vez mais fui reconhecendo que a mensagem e o estilo da obra do Ógbá batiam muito com o que eu aspirava ter em meu livro e acabei encomendando uma ilustração para cada um dos oito personagens principais, além da capa. Aí, já que estava esbanjando mesmo, e como o Ógbá já naturalmente faz sua arte em mídias físicas, e não digitais, pedi que ele enquadrasse as noves ilustrações e me desse os quadros como parte do pacote.
O fato do dinheiro gasto estar ajudando o início da carreira de um artista que acredito que mereça só facilitou a decisão. Foi um luxo sim, mas um luxo sem nenhuma futilidade.
Burocracia
- ISBN e Ficha Catalográfica na CBL: R$ 82.
Apesar do nome da categoria ser meio assustador, essa parte foi muito fácil, rápida e barata. Faz-se tudo digitalmente no site da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Fora que o preço já é transparente. Incluí aqui apenas para lembrar que foi uma etapa na criação do meu livro após o texto estar finalizado.
Divulgação
- Patrocínio do site e podcast do Manual do Usuário: R$ 2.100.
- Resenha da pessoa influenciadora: R$ 2.500.
A parte de divulgação, honestamente, é onde estava (e sigo) mais perdido. Já estava (e sigo) orgulhoso do meu livro, então já me sentia com a parte mais importante pronta, o que me levou certa negligência com a divulgação.
O plano inicial era seguir mais de perto o que a Giu Domingues fez, tendo como referência aquele post que mencionei no começo do texto. Sabia que não ia fazer tudo o que ela fez, nem tão bem, mas estava tranquilo com isso. Não ia começar com pré-venda, não faria “booktrailer”, não faria mil imagens de divulgação, não pretendia usar as redes sociais para ficar divulgando meu livro. (Nem tenho seguidor pra isso; no caso de Instagram, nem perfil eu tinha.)
Tudo isso era uma mistura de preguiça e de simplesmente não ter o perfil para esse tipo de divulgação. Eu não sou muito de redes sociais. Uso mesmo apenas o Twitter e sou daqueles que só lê e posta algo inútil uma ou duas vezes por mês. Não tenho Instagram ou Tiktok. Tenho Linkedin para o trabalho o que, para minha surpresa, foi um ótimo canal de divulgação.
Voltando às orientações da Giu Domingues. Concordo com a visão dela sobre preço, de que precificar muito baixo afeta negativamente a percepção de valor do livro. Queria que meu livro fosse levado a sério, não tratado com o produto de um hobby de um qualquer.
Decidi vender meu livro por R$ 19,90. Hoje, acho que talvez tenha errado um pouco para o outro lado e que R$ 12,90 teria sido mais adequado para o ebook de um autor desconhecido que nem sabe se vender direito. Talvez. Penso melhor nisso no próximo livro.
O que segui à risca do plano da Giu Domingues foi a divulgação em canais de grande engajamento. Foquei nos perfis de Twitter @semspoiler_ e @divulganacional. Reservei a verba para esses canais, mas já no início as coisas não saíram como o esperado: os dois canais recusaram fazer a divulgação do meu livro, mesmo pagando. Não me pergunte o porquê.
Apesar da recusa, ambos foram muito gentis no atendimento e disseram para eu passar informações do livro para entrar na lista de candidatos à divulgação gratuita. Nenhum dos dois divulgou gratuitamente também. Tinha certa fé no @semspoiler_. Eles fazem um trabalho excelente, que aparenta alto engajamento. A própria Giu Domingues menciona que eles foram o melhor canal na divulgação do livro dela.
A recusa em anunciar meu livro me deixou mais perdido ainda a respeito do que fazer com meu orçamento. Não sigo criadores de conteúdo de literatura. Não conhecia ninguém. Mas, como disse, o atendimento do @semspoiler_ foi gentil e ele até me indicou uma pessoa criadora de conteúdo que batia com o perfil do meu livro. Fui ver os vídeos dessa pessoa e gostei muito do conteúdo, postura e personalidade. Entrei em contato e fechamos a divulgação. Acabei fechando a divulgação com ela: alguns stories e a inclusão de uma resenha do meu livro em um dos seus vídeos, junto com outras resenhas.
O processo de contratação é curioso e, acho eu, bem justo. Você paga 30% e manda o livro para a pessoa ler. Se não gostar do livro, ou seja, não puder fazer uma resenha positiva, a pessoa não faz resenha nenhuma e fica com o sinal, o que acho justíssimo, pois já teve o trabalho de ler o livro. Se gostar do livro, e achar que merece uma resenha positiva, aí você paga o resto e a divulgação é incluída em um dos vídeos.
Outra coisa que tinha em mente e deu errado foi fazer anúncios na própria Amazon. Queria colocar meu livro para aparecer em buscas patrocinadas, mas não soube como fazer. Pela central de auto-publicação da Amazon (KDP), a opção de anúncios pagos não existe ainda para o mercado brasileiro. Ao mesmo tempo, vejo anúncios de livros nas minhas buscas, sei lá como. Se alguém souber como fazer, ensine nos comentários.
O outro investimento que realizei em divulgação foi um experimento mais ousado mesmo, admito. Quis inventar moda. Eu já era leitor, ouvinte e apoiador do conteúdo aqui do Manual do Usuário. Gosto muito do trabalho feito e, como é um site de tecnologia, achei que valia o experimento de patrocinar o site com uma divulgação de livro e ver o que acontecia. Entrei em contato com o Rodrigo Ghedin, que me deu um belo desconto porque ficou com dó de um pobre escritor iniciante que não sabia bem o que estava fazendo e fechamos. O acordo foi o padrão do site, com um post no site, banner no site por uma semana, menção na newsletter e em redes sociais, e um spot no podcast Guia Prático.
Lançamento e resultados

Os gastos acabaram por aí. Note que não mencionei diagramador, um custo comum na criação de um livro. Por praticidade, escolhi fazer apenas a versão e-book e lançar apenas na Amazon. Então usei um software livre, o Sigil, e diagramei eu mesmo o livro. Até porque e-book é bem mais simples de diagramar do que um livro para impressão. Achei que ficou bom o suficiente.
Existem três formas de ler meu livro:
- Comprar o e-book na Amazon;
- Ler o e-book pela assinatura do Kindle Unlimited; e
- Ler o livro gratuitamente, em fascículos enviados por email, no meu site.
O ebook vendido por R$ 19,90 me rende, após a Amazon tirar a parte dela, R$ 13,65.
O Kindle Unlimited paga royalties estimados de pouco mais de R$ 0,01 por página lida, então se alguém ler meu livro inteiro, até o fim, ganho algo próximo de R$ 3.
No meu site no Confabulistas, a leitura por e-mail é gratuita.
Pré-venda
- 2 livros vendidos para meus contadores.
Não houve uma pré-venda de verdade, mas, curiosamente, as duas primeiras vendas, antes do lançamento, foram para os meus contadores.
No meu trabalho fixo, recebo como PJ e uso os serviços do mesmo escritório de contabilidade faz muitos anos. Enviei um e-mail para eles apenas para perguntar como lidar com o faturamento da venda dos livros, se valia incluir na minha PJ. A resposta é que não, a menos que você fature vários milhares de reais por mês, algo que eu sabia que não aconteceria. Era só deixar cair na minha conta pessoa física mesmo.
Para minha surpresa, os dois gostaram da ideia de eu estar escrevendo um livro e compraram, cada um uma cópia, no mesmo dia. Antes de eu fazer o “lançamento”, quando deixaria meu livro de graça (nunca contei para eles que dali a dois dias o livro estaria gratuito).
Lançamento para amigos
- 161 livros baixados gratuitamente no lançamento;
- Sem novas assinaturas no Confabulistas;
- Poquíssimas páginas lidas no Kindle Unlimited.
Deixei o livro gratuito na Amazon por dois dias no lançamento, que foi basicamente falar que estava começando uma carreira de escritor de ficção, uma sinopse curta do livro e o link da Amazon.
Mandei essa mensagem nos grupos de WhatsApp e Telegram — não estou em muitos deles, devem ser uns seis ou sete grupos somando os dois serviços — e no LinkedIn.
O LinkedIn é a minha rede de maior alcance. Não posto nada em nenhum lugar, muito menos lá, mas é onde tenho conexões com a maioria das pessoas que conheço desde a faculdade. O post do LinkedIn teve 91 curtidas e umas 3 mil impressões. Os posts nos grupos de mensagens também tiveram boa recepção, mas imagino que menos de 200 pessoas devem estar nos grupos onde fiz divulgação.
Esse número de downloads, que veio nos dois primeiros dias do lançamento, me surpreendeu. Achava que seria bem menor. Notei que as pessoas ficaram positivamente surpresas por eu ter escrito um livro de ficção. Ninguém nos meus círculos de faculdade e trabalho escreve ficção. O ofício de escritor ainda mantém um certo status na sociedade, um glamour. A supresa de que alguém conhecido estava iniciando nessa carreira gerou bastante carinho por partes dos amigos, e isso se converteu em downloads do livro gratuito.
É um efeito que com certeza não se repetirá no meu futuro segundo livro, pois terá deixado de ser novidade. E, claro, no momento que tirei a promoção e o livro voltou ao preço normal, de R$ 19,90, os downloads quase pararam. Talvez valesse a pena ter deixado mais tempo porque, no segundo dia, o livro entrou na lista dos gratuitos mais baixados da Amazon em ficção científica. Acho que parte desses downloads era conversão orgânica vinda dessa lista. De qualquer modo, eu já estava feliz com o resultado. E, nos dias seguintes, ainda antes de qualquer divulgação paga, consegui vender 7 livros pelo preço cheio para uns amigos atrasados.
Com o e-book gratuito, ninguém optou por ler pelo Kindle Unlimited (não sei se isso é devido a uma proporção baixa de pessoas que têm a assinatura no meu círculo de amigos). No anúncio de lançamento, não citei o Confabulistas, então foi natural que ninguém tenha assinado a lista de emails lá. Falo do Confabulistas na descrição do livro na Amazon e dentro do próprio livro, no prefácio e no posfácio, mas com o livro já estando gratuito, ninguém deve ter se importado em checar essa opção.
Patrocínio do Manual do Usuário
- 4 livros vendidos (R$ 54,60);
- 966 páginas lidas no Kindle Unlimited (R$ 8,01 de royalties);
- 16 novos assinantes no Confabulistas.
Os resultados de ambas as ações pagas não foram bons em termos de retorno sobre o investimento, mas não significa que me arrependi.
A minha expectativa ao fechar essas divulgações não era que o valor das vendas fosse maior que o investido. Ao menos não no curto prazo. A ideia é angariar uma massa crítica de novos leitores (para além dos meus amigos) e observar a recepção nesse público: se terminam o livro, que notas dão na Amazon, GoodReads ou Skoob, e se, principalmente, recomendam o livro para outras pessoas.
Esses resultados só vão mesmo aparecer ao longo dos próximos meses, creio eu. Tirar qualquer conclusão da efetividade dessas ações agora seria um pouco precipitado. Mas, sim, dá para ver que não foi um estouro de vendas.
Tem alguns benefícios difíceis de mensurar também. Gostei que o post no Manual do Usuário agora é um resultado de busca proeminente para o termo “neurofiandeiras”. Se alguém um dia for buscar o livro no Google para ver qual é a dele, vai ter um site com legitimidade e autoridade falando do meu livro.
Na divulgação do Manual do Usuário, a mensagem já foi mais explícita de que era possível ler o livro gratuitamente no Confabulistas. Achei bom esse número de 16 novos assinantes. Começar uma lista de e-mails de leitores é um ativo valiosíssimo para a minha carreira como escritor. Daqui uns cinco anos, espero ter uma lista de e-mails com alguns milhares de leitores, o que facilitará a divulgação de futuros projetos. É por isso que criei o Confabulistas e o motivo de deixar o livro gratuito lá. Além de contos diversos, inclusive contos extras no universo do Neurofiandeiras.
O número de páginas lidas no Kindle Unlimited também começou a subir. Deve ter alguma participação de amigos meus que vinham lendo desde o lançamento, mas, pelos dias de leitura, me parece que a maior parte é resultado da divulgação do Manual do Usuário mesmo.
Uma coisa curiosa sobre essa métrica do Kindle Unlimited é que, até onde eu sei, não é possível saber quantas pessoas estão lendo seu livro, apenas quantas páginas foram lidas. Meu e-book é calculado em cerca de 250 páginas, logo 966 páginas lidas no Kindle Unlimited podem significar tanto que 4 pessoas leram meu livro até o fim ou que 300 pessoas leram umas três páginas e abandonaram o livro. Ou qualquer coisa no meio disso.
Publicidade com influenciadora
- 2 livros vendidos (R$ 27,30);
- 8.610 páginas lidas no Kindle Unlimited (R$ 91,43 de royalties);
- 5 novos assinantes no Confabulistas.
Aqui fica claro o perfil da audiência, muita gente com Kindle Unlimited. Esse modo não paga muito bem, mas em termos de leitores considero esse resultado excelente. Quase ninguém comprou (dois a mais que meus contadores) e poucos assinaram o Confabulistas. Mas nessa divulgação, a mensagem não incluia nada sobre essa opção do Confabulistas. Foi apenas alguém que viu a menção na descrição da Amazon ou na amostra grátis do livro que mostra o prefácio. E depois uns que, acredito, leram até o final e inscreveram-se para ler os contos extras.
Hoje, tenho 20 notas na Amazon, das quais 12 de 5 estrelas sei que foram feitas por amigos meus. As outras são de 4 ou 5 estrelas, o que é um bom sinal. Será interessante ver o que vai começar a aparecer a partir de agora. Já tenho 10 resenhas no Skoob (entre positivas, medianas e levemente negativas), o que mostra que tem estranhos lendo meu livro.
Acho que a publicidade com influenciador foi essencial para atingir um número mínimo de novos leitores para aquela massa crítica inicial que vão começar a dar nota e recomendar, ou não, o livro. Como é tudo no Kindle Unlimited, é difícil estimar quantas pessoas estão lendo. Mas, palpite meu, somando os livros vendidos após as duas divulgações pagas e o Kindle Unlimited, seria algo entre 50 e 100 pessoas desconhecidas lendo o livro.
Isso é massa crítica suficiente para gerar uma fagulha? Caso o livro seja mesmo bom, haverá pessoas suficientes recomendando-o para que gere vendas orgânicas ao longo dos próximos meses? Não sei. O benefício dessa incerteza é que posso seguir me confortando mais um pouco na ilusão que talvez meu livro seja realmente excelente, eu que não sou muito bom de divulgação.
Aprendizados para o próximo livro
Gastei bastante dinheiro com esse primeiro livro. Tenho a sorte e o privilégio de poder fazer esse investimento e estou feliz com o resultado.
Você pode ver que não me arrependi de nenhum gasto e recomendo todos os profissionais com quem trabalhei. Eu não estou sendo chapa branca e também não deixei de fora ninguém que teria trabalhado e não gostado. Gostei mesmo de todos. Acho que tenho uma boa intuição para identificar pessoas que são profissionais e de boa índole, e tendo a por a minha percepção da índole da pessoa à frente de qualquer outro critério. Então, tem sim mérito meu no fato de que todas as parcerias profissionais deram certo. Mas, claro, tem um pouco de sorte também. Eu só queria alertar para o fato que saber identificar quem são pessoas boas e quem são picaretas é uma habilidade que deve ser cultivada. Faz muita diferença prática na vida e traz uma paz preciosa evitar relações com pessoas de caráter duvidoso.
Eu estar satisfeito com todos os serviços, dadas as minhas expectativas iniciais, não significa que fiz tudo certo e não tenha restado nada a melhorar no lançamento do meu livro de forma independente. Já tenho mais ou menos claro para mim o que vou manter e o que vou mudar. Quero chegar num valor de orçamento seja o mais enxuto possível para a minha realidade, sem perder nada do que deu certo.
Os cursos, claro, não entrariam novamente na conta do custo de um segundo livro. É o tipo de coisa que acaba sendo um custo pontual que vai sendo diluído ao longo da carreira, mas não faz sentido ficar fazendo cálculos para alocar esse custo em cada livro lançado. Então, do novo orçamento, já tiraria aqueles quase R$ 2 mil em cursos. Fora isso, vamos ver o que deu certo.
O que deu muito certo e com certeza repetirei
Leitura crítica. O investimento na escrita de um livro de qualidade segue sendo aquele com menor risco e, potencialmente, maior retorno.
A leitura crítica do Daniel Galera com certeza manterei. Difícil saber o tamanho do meu próximo livro ou se o preço continuará o mesmo, mas, nesse valor de R$ 5 mil, com certeza contrataria novamente. Se ele não puder, devo seguir uma das recomendações que ele deu de outros autores e autoras igualmente talentosos, como Antonio Xerxenesky, Michel Laub e Natércia Pontes. Esse perfil de profissional para leitura crítica é algo que melhora não só o livro em questão, mas minha habilidade como escritor de modo geral.
Além dessa, acho que contrataria também a leitura crítica do Thiago Cabello. Não é essencial, mas acredito que é um bom complemento com uma análise talvez mais focada em enredo e entretenimento, mesmo que não necessariamente em prosa, profundidade de personagens e mensagem, estrutura literária, como a dos escritores profissionais.
Também estou plenamente satisfeito com a revisão ortográfica da Riviane. Não tem por que mudar, se ela tiver disponibilidade.
O que deu certo, mas vou pensar se contrato de novo
Divulgações. Gostei da experiência do Minipod Contos — que poderia estar tanto na categoria “análise de texto” quanto na “divulgação”; o serviço segue sendo um combo. Para o próximo livro, acho que faz sentido aproveitar melhor o benefício da divulgação, ou seja, deixar para contratar no lançamento do livro.
A resenha de influenciador acho que funcionou muito bem. Posso fazer com a mesma pessoa, pois fiquei satisfeito com o modo como foi feito e o resultado, mas posso testar com outra pessoa também. Outra opção é tentar ações mais orgânicas ou assessoria de imprensa, talvez até começar a criar uma presença mais forte em redes sociais… Nah, isso não. Enfim, é algo que vou deixar para pensar depois que estiver com o próximo livro pronto.
Inclusive a divulgação no Manual do Usuário. Não no mesmo formato, mas é um canal que segue como opção de divulgação.
O que deu certo, mas não vou contratar de novo
Ilustrações. Foi um luxo que não precisa se repetir. Para o próximo, estarei satisfeito contratando uma pessoa capista. Sinceramente, nem sei o preço desse serviço; chuto algo entre R$ 500 e R$ 1,5 mil para substituir os quase R$ 5 mil que gastei em ilustrações.
O que deu errado
Dos serviços, nada, mas talvez eu ajuste o preço de venda do livro. Acredito que algo entre R$ 10 e 15 seja mais adequado para um livro curto de um autor desconhecido.
Orçamento do próximo livro
Com essas considerações, estou no momento de planejar o que seria um orçamento adequado para o meu próximo livro. Arredondando alguns valores e sempre lembrando que eles podem mudar para cada serviço, essa me parece uma boa estimativa:
- Leitura crítica de escritor profissional: R$ 5.000;
- Leitura crítica do Cabello: R$ 1.500;
- Revisão ortográfica: R$ 1.500;
- Capista: ~R$ 1.000;
- Divulgação: R$ 3.000 (verba reservada, a decidir onde usar).
Total: R$ 12 mil.
Posso ir me planejando para ter esse dinheiro disponível para investir no meu próximo livro. Esse é um valor ideal, ou seja, o teto do meu investimento.
No mesmo espírito, acho válido o exercício de pensar o piso também: um valor o mais enxuto possível, focado em economizar e procurando prestadores desses serviços que sejam um pouco mais em conta.
Nessa especulação de valores, considerando um livro curto, com menos de 60 mil palavras, elegeria esses serviços como essenciais:
- Leitura crítica: R$ 1.000;
- Revisão ortográfica: R$ 1.000;
- Capa: R$ 400;
Total: R$ 2,4 mil.
Considero esse uma espécie de valor mínimo para ter um livro pronto de qualidade. Desconfiaria de profissionais cobrando menos que isso para tais serviços, mas posso estar enganado. A partir do livro pronto, é possível investir apenas meu próprio tempo em uma divulgação mais orgânica.
Espero que essa abertura dos gastos ajude outros escritores iniciantes. Sozinho, consigo fazer muito pouco pela transparência e clareza do trabalho envolvido em auto-publicar um livro, mas talvez outras pessoas se inspirem e também abram seus custos, e com isso o mercado todo amadureça.
Enquanto isso, você pode aproveitar para ler meu livro e analisar por si só o resultado de todo esse trabalho e investimento.
Foto do topo: @felipepelaquim/Unsplash.
Cara, muito legal a tua matéria! Como era grande, acabei pondo para ler depois e foi passando. Como meu carro foi para a revisão ontem e acabaram não entregando a tempo, vim para o trabalho no ônibus institucional. No caminho lembrei dessa matéria e resolvi ler.
Primeiro, a capa ficou muito bonita, parabéns.
Sobre os gastos que tu teve, não imaginava que seriam tantos assim para lançar um livro digital, mas como tu mesmo disse no meio do texto, estes gastos poderiam ter sido menores (alto custo com as ilustrações e com o marketing). E citando o marketing, sem dúvida essa é a pior parte, a mais chata, mais enfadonha, cansativa, e todos os outros adjetivos ruins que tu encontrar. Já tive empresa e sei o quanto isso é horrível.
Mas no mais, parabéns pelo lançamento. Pelo visto esse foi só o primeiro de mais alguns outros que virão.
PS: uma pergunta sincera. Por qual motivo tu não lançou para a plataforma da Kobo? É tão complicado lançar por lá, também?
curioso o relato bem detalhado gosto de saber essas questões mesmo nada tendo a ver com minha área profissional ^^
Legal, obrigado pelo relatório, anotado para quando conseguir terminar um…
Olá. Muito interessante o processo todo. Fazia ideia de alguns mas outros nunca tinha parado para pensar.
Como alguém já disse abaixo, infelizmente muito vem das presenças nas redes – mas não sei o quanto isso vale para ti.
Parabéns pela transparência e sucesso.
Parabéns pela iniciativa e por compartilhar sua jornada.
Nunca tinha lido um relato tão completo! Parabéns pelo livro e pela iniciativa de compartilhar sua experiência na auto publicação. Como colega autora da mesma área — na Amazon desde 2018 — fiz um caminho parecido, porém bem mais em conta e, pelo que pude comparar obtendo resultados bem próximos. Mas cada caso é um caso. De tudo o que foi citado, tem 3 coisas que não abro mão: revisor, cursos profissionalizantes — tanto sobre escrita profissional, quanto MKT digital literário e contratação de divulgadores/resenhistas. Sei que o lance das redes sociais é mesmo um porre :P preferia 1000x só me preocupar em escrever um livro após o outro. Entretanto, para isso, seria necessário uma boa verba mensal $$$. De qualquer forma, conforme li em um comentário aqui mesmo, a verdade é que sem redes sociais e produção de conteúdo próprio, nos tempos atuais, sendo um escritor iniciante e auto publicado, arrisco dizer que é impossível obter leitores.
Rodrigo, que legal o teu relato! Bem completo, gostei muito. A minha esposa recentemente auto-publicou seu segundo livro, “Da Janela do Joelma” (ficção história sobre o famoso incêndio). Vou compartilhar teu texto com ela, e fica o convite pra conhecer o livro: https://www.amazon.com.br/Janela-Joelma-Maria-Carolina-Passos-ebook/dp/B09RB9XJ48
Meu caro,
Infelizmente vivemos numa época em que a falta de presença em redes sociais praticamente equivale ao fracasso de qualquer projeto que se pretende vender. Sugiro reconsiderar esse ponto.
Achei muito interessante. Sempre pensei em talvez publicar algo escrito num futuro distante e uma dúvida que sempre tive é de quanto seriam os hipotéticos gastos em uma empreitada como essa, muito bom ver um post assim de alguém falando do processo com transparência.
Parabéns pela publicação e sucesso!
Parabéns pelo texto.
Assim quando o orçamento permitir, vou comprar pra prestigiar o autor.
… Levei um tempão pra converter pra em ebook via word (papel A6, fonte 12, espaço simples e margem 0,5 cm), só pra ler no kindle.
Deixo aqui para aprovação do autor:
https://1drv.ms/u/s!ArdIoUUj1mhHgo0ZmVckCf2Crlg7kg?e=qsStDi
Muito massa, obrigado por compartilhar!
Cara, muito bom e obrigado pelo post. Logo mais será mais um livro vendido contabilizado a partir da leitura desse txt. :)
E muito educativo mostrar os custos relacionados com a auto-publicação. Confesso que sempre pensei que era muito menor, mas percebe-se que você investiu com seriedade na qualidade ao contratar leitura crítica, revisores e mais.
Parabéns e sucesso!
Sempre é admirável quando a pessoa é transparente em relação a trabalhos criativos.
Uma das coisas que mais presenciei — quando vejo pessoas sendo questionadas sobre como é o processo — são criadores reclamando de plágios.
Tem gente que acha que é fácil fazer livro, música ou desenhar. Na parte da música as coisas tendem a ser quase a mesma coisa que você relatou, principalmente com editoras (aqui gravadoras). Já vi músicas ridículas serem aprovadas por gravadoras, enquanto projetos fantásticos foram diminuídos por falta de “engajamento”. Esse tipo de comportamento leva os artistas a lançarem músicas por conta própria (onde serviços como DashGo, SoundOn, etc reinam).
Começos sempre são complicados, mas espero que você consiga mais e melhores resultados no futuro.