Em 2018, Apple e Google atualizaram seus sistemas operacionais móveis, iOS e Android, com uma ferramenta que informa ao usuário como ele usa o dispositivo. Tempo de Uso no iOS, Bem-estar digital no Android. O problema, no lado do Google, é que o Bem-estar digital é inexplicavelmente restrito, só funcionando nos celulares da linha Pixel, do próprio Google e que não são vendidos no Brasil, e naqueles participantes do programa Android One que já estejam rodando o Android 9 “Pie” — por aqui, apenas o Motorola One. Felizmente, existe um app que supre essa lacuna.
O ActionDash foi desenvolvido pelos australianos por trás do Action Launcher, um antigo launcher (interface alternativa) para Android. Ele funciona em qualquer Android — a partir da versão 5.0 — de qualquer fabricante e não deve nada aos relatórios gerados pelo Bem-estar digital do Google. Em alguns aspectos, é até melhor, como em seu sistema de navegação lateral para alternar entre os tipos de informações que ele gera.
Atualização (24/6/2020): O ActionDash foi vendido à SensorTower, uma empresa de inteligência de mercado. Com isso, ele deixou de exibir anúncios e os dados gerados nele passaram a ser usados pela SensorTower para enriquecer seus relatórios de uso de aplicativos. A empresa e o criador e ex-dono do app, Chris Lacy, garantem que os dados coletados são agregados e anonimizados, e que é possível negar a cessão (opt-out).
Por uma semana, pude comparar as duas soluções, ActionDash e Bem-estar digital, lado a lado, no mesmo dispositivo. Ambos os relatórios são idênticos:



O ActionDash tem a vantagem de ter uma apresentação mais fácil de entender desde que superada a barreira do idioma — ele está disponível apenas em inglês. São cinco telas laterais que mostram um resumo, o tempo de uso, o número de vezes que cada app foi aberto, o número de notificações e o número de desbloqueios direto para um app. No Bem-estar digital, existe a tela principal (resumo, ou painel) e, quando se toca no círculo dos aplicativos, há um sub-menu no topo com o tempo de uso, o número de notificações e as “ativações”, que são os desbloqueios direto para um app.
No ActionDash basta arrastar o dedo para os lados para alternar entre essas telas; no Bem-estar digital são necessários dois toques.
Em algumas estatísticas, o ActionDash chega a oferecer mais informações. No tempo de uso, por exemplo, além de indicar o total passado em cada app por dia ou hora, ele também indica a duração média de cada sessão.

Bem-estar digital vs. ActionDash
O Bem-estar digital é mais do que um relatório de uso do celular. É, na verdade, um conjunto de recursos que pretende ajudar o usuário a se policiar no uso do aparelho. Por isso, ele traz uma outra parte talvez mais importante: as “opções para se desconectar”.
Nessa parte do app, o usuário pode definir um limite máximo de tempo de uso para cada app. Quando esse limite é estourado, os ícones do referido app fica preto e branco e, ao tentar acessá-lo, o sistema impede com uma mensagem dizendo que o app “não está disponível”. Basta tocar no botão “Saiba mais” para desativar o timer de uso do app, mas é um lembrete poderoso ao usuário de que ele já gastou muito tempo naquele dia rolando o feed do Instagram, por exemplo.


Por motivos óbvios, o ActionDash não tem poder de bloquear a abertura de outros apps. Por outro lado, ele traz atalhos para gerenciar as notificações, uma possibilidade que está presente no Android já faz algumas versões.
Ainda na parte de desconexão, o Bem-estar digital tem o sugestivo “modo Relaxar”, que é basicamente um modo noturno para o sistema. O usuário pode ativá-lo manualmente ou programar seu início e fim. Quando o Relaxar está ativo, a tela fica cinza e o modo “Não perturbe” é ativado. Novamente: nada que impeça o uso do aparelho, mas são interferências visuais e funcionais poderosas que podem ajudar o usuário a diminuir o uso do celular.

Outra desvantagem do ActionDash é que ele é “freemium”, ou seja, apenas uma parte dos seus recursos é gratuita. Felizmente, a maior parte. Para ter todos os recursos, com destaque a retroceder além de sete dias nas estatísticas, algumas estatísticas avançadas como o detalhamento das sessões de uso, modo escuro e remoção de anúncios, é preciso fazer uma compra única de R$ 14,99.
Os dados mais recentes do próprio Google, do final de outubro de 2018, apontavam que o Android 9 “Pie” estava presente em menos de 0,1% dos celulares em uso com o sistema, o que indica que há um grande espaço para o ActionDash. Se não está nos seus planos comprar um Pixel ou um aparelho com Android One pelos próximos meses, é um aplicativo quase obrigatório e que, se as condições permitiram, vale o que custa pela versão completa — também para incentivar o excelente trabalho dos desenvolvedores.
E no iPhone?
Todos os celulares e tablets da Apple rodando iOS 12 têm o Tempo de Uso, equivalente da empresa ao Bem-estar digital. Fica dentro do aplicativo Ajustes e tem basicamente as mesmas funções, incluindo o modo “Repouso”, que é mais rígido que o “Relaxar” do Android 9: ativado, apenas apps pré-liberados e chamadas telefônicas podem ser feitas.
Uma coisa legal no lado da Apple é que, caso você tenha um iPhone e um iPad, o Tempo de Uso combina os dados dos dois — além de permitir vê-los em separado. Isso dá uma noção maior do tempo desperdiçado, digo, gasto em redes sociais, afinal não vale deixar o celular de lado, mas ficar pendurado no Twitter pelo tablet.
Entoa se é um componente embutido no android não pode ser retirado, desinstalados.
Estou usando há dois dias e estou gostando bastante dele. Muito bom para saber o que está tomando o meu tempo.
Ultimamente tenho usado o launcher da microsoft no meu Moto X2… e recentemente eles lançaram uma função parecida. Ele monitora do uso de cada app, e também contabiliza a quantidade de vezes que você abriu cada app nos últimos 7 dias. Não tem os recursos de impedir a abertura de apps ou outras notificações, mas já é válido.
Já serve para se espantar com a quantidade de tempo perdido no celular e tentar alguma reeducação…
Sabe que explica muito bem só termos o app para o Android novo, o 9?
Obsolescência.
É a mesma explicação que temos para uma quantidade bem grande de apps da Apple Store terem parado de funcionar no iOS 9 e pedirem do 10 pra cima sendo que nada foi adicionado nas atualizações e ainda é possível instalar via Cydia.
cheguei a usar um aplicativo parecido há uns 2 anos, mas não o achei intuitivo, esse é bem melhor.
já estou testando o aplicativo e assim que receber irei fazer a compra, ainda mais que não irei trocar de celular tão cedo e o meu parou no Android N
“O problema, no lado do Google, é que o Bem-estar digital é inexplicavelmente restrito”
“Por motivos óbvios, o ActionDash não tem poder de bloquear a abertura de outros apps.”
Você mesmo explicou o porquê o Bem-estar digital é inexplicavelmente restrito. :p
Pode ser argumentado que o aplicativo poderia ser separado em dois, um somente com a função de relatório e outro com função de bloquear, porém do ponto de vista de desenvolvimento, isso é caro de manter, além de aumentar um monte a quantidade de testes necessário para todos os aparelhos.
Longe de falar que _justifica_ a decisão, mas somente que _explica_. :p
Usei o Wellbeing por um bom tempo para diminuir o vício no Instagram (antes de deletar por completo e não sentir falta nenhuma). Funciona bem o efeito psicológico e o fato de bloquear o aplicativo para não deixá-lo usar.
Não sei se a comparação se sustenta porque o Bem-estar digital não é bem um app, mas um componente das configurações do Android, ou seja, é o próprio Android. (Existe uma opção para gerar um ícone na gaveta ou na tela inicial, mas é só um atalho direto para as configurações.)
É diferente o Google oferecer essa funcionalidade embutida no Android e um desenvolvedor terceiro ter esse poder em um app distribuído pela Play Store.
Então se é um componente embutido no android não pode ser retirado, desinstalados?