A Netflix criou um “ciclo de cancelamento auto-sustentável”.
O serviço de streaming da Netflix completou 16 anos nesta segunda (16). (A empresa é mais antiga e começou com o aluguel de DVDs pelos Correios.)
Coincidência ou não, a Netflix atualizou seu aplicativo para iOS, trazendo novos efeitos visuais bem bacanas. (Veja um vídeo.)
Ok, legal, mas não é para ficar vendo pôster que alguém assina a Netflix — em tese, ao menos. Na Forbes, Paul Tassi argumenta que a Netflix criou um “ciclo de cancelamento auto-sustentável” a partir das várias séries canceladas do nada e sem conclusão, como os casos recentes de 1899 e The midnight club.
Paul explica:
A ideia é que já que você sabe que a Netflix cancela várias séries depois de uma ou duas temporadas, encerrando elas com pontas soltas ou deixando suas histórias abertas/sem final, quase não vale a pena investir tempo em uma série antes dela ter acabado e você tenha certeza de que ela tem um final coerente e um arco fechado.
Por isso, você evita assistir a novas séries, mesmo aquelas que lhe interessam, pois tem medo de que a Netflix as cancele. Um tanto de gente faz isso e, surpresa, a audiência [de novas séries] é baixa! E aí ela acaba sendo cancelada. O ciclo é fechado, e reforçado, porque agora há mais um exemplo, fazendo com que ainda mais pessoas tenham cautela da próxima vez. E agora chegamos a um cenário em que, a menos que uma série seja uma espécie de febre por acaso (Wandinha) ou uma super franquia estabelecida (Stranger Things), a chance de haver uma segunda ou terceira temporada não é nem meio a meio, mas sim algo como 10–20% na melhor das hipóteses.
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Boa tarde! Preciso cancelar a minha assinatura da Netflix.
Como fazê-lo . Meu e-mail é:
leani.pelegrini@gmail.com
Tenho urgência, obrigada!
Leani, o cancelamento da Netflix é feito nesta página.
Do jeito que vai vou cancelar certamente a NETFLIX!!!
eu li os comentários aqui e pensando nesse ciclo de autocancelamento sinto que há ainda mais um agravante: séries produzidas com foco exclusivo na trama (cada vez mais dependentes de cliffhangers e outros recursos narrativos rasteiros)
não que isso seja novidade, mas a intensificação disso me parece cada vez mais sufocante
explico: as pessoas passam a assistir às séries esperando unicamente a resolução de suas tramas (e quanto mais mistérios as tramas possuam, mais forte é o desejo de que eles sejam resolvidos)
toda a fruição audiovisual que é própria do mundo do cinema fica em segundo plano: o que importa é resolver a trama, seja de um episódio para outro, seja de uma temporada para outra
aí essas séries novas investem em cliffhangers nos finais das temporadas para ver se o público engaja na solicitação de temporadas novas e o ciclo se repete e se autoalimenta
e o prazer de assistir a algo pelo simples prazer de assistir a algo fica em segundo plano: cada vez mais tudo o que importa é acompanhar apenas a trama
(claro, há um fundo moralista no meu comentário que pode ser bastante criticado — afinal, cada um aprecia suas séries do jeito que achar melhor — mas sinto que é um problema que contribui para esse ciclo)
inclusive: https://www.nytimes.com/2017/07/13/opinion/sunday/emmys-cliffhangers-are-ruining-the-golden-age-of-tv.html
Tanta série com N temporadas que poderia ter tido uma só, né?
Seu comentário me lembrou o filme Aftersun, da Charlotte Wells. Você viu? Tudo bem que cinema é um bicho diferente, mas senti o exato oposto do que você comentou das séries ao vê-lo — é uma história meio sem final, sem conclusão, vale (e muito) pela jornada.
ainda não vi, parece bem interessante
também por isso gosto muito da terceira temporada de twin peaks: os episódios até poderiam terminar com cliffhangers, mas em geral cada episódio acabava de forma completamente desinteressada em criar ganchos para o próximo: lembro de um capítulo, por exemplo, que concluía com uma cena enorme de um sujeito varrendo o chão do bar, salvo engano
e era lindo de ver e de acompanhar, fugindo completamente dessa neurose de “cenas pós-créditos” do cinema pós-marvel ou de ganchos tensos para os próximos episódios
digamos que é uma espécie de “slow tv” em analogia à “slow web”
Amargo até hoje pela segunda temporada porquíssima de Altered Carbon, e por cancelarem a série sem mais nem menos. A Netflix atira em seu próprio pé — e sim, embora tal prática seja comum (principalmente com as emissoras como NBC, CBS e ABC) lá fora, a métrica usada pela Netflix é completamente torta.
Analise interessante, assim, da a entender que a NETFLIX só leva pra frente material que de fato trás novos assinantes. É uma especie de filtro de engajamento, pra literalmente investir em quem de fato torna retorno a plataforma.
Po, achei meio injusto de Paul dizer que a Netflix foi quem criou esse ciclo. Quem acompanhava as séries de TV americana antes do advento das plataformas de streaming sabe que esses cancelamentos por conta de audiência rolam desde sempre.
A métrica agora é diferente. Séries de sucesso são canceladas só porque não hitaram tanto quando algum engravatado achou que deveria. Lembrando o Gaiman mendigando que o povo maratonasse Sandman e ela ainda demorou ser renovada, sendo que foi A série do momento. Essa continuação de Dark também, cancelada sem nem dar tempo de analisar os números direito.
Mas não é exclusividade da netflix, a warner também anda cancelando coisa pronta e ainda removendo do catálogo, pra ninguém entender.
Em breve esse pessoal vai tá chorando que a pirataria tá muito alta, etc
Já faz um tempo que, praticamente, só tenho assistido séries que já tenham sido concluídas.
Sem tempo pra assistir séries com risco de cancelamento ou de qualidade duvidosa.
Não consigo encontrar, mas lembro que bem atrás, na epoca do house of cards, a netflix explicou que não importava quantos assistiam a serie no lançamento, pois justamente no decorrer dos anos mais pessoas poderiam vir a conhecer a serie e a assistir.
Tipo… eles não se achavam um canal de TV que estrá na pratica passando serie ao vivo. Se consideravam um streaming, onde o publico que definia a hora de assistir.
Era bom….
Bati o martelo e cancelei
O que quero observar é se com o cancelamento e ao ficar sem nenhum serviço de streaming que facilite meu acesso a um inúmero catálogo de opções, eu acabe por fazer uma curadoria mais legal e consumir produções com maior qualidade (mesmo que seja apenas entretenimento)
Vamos ver o que virá
Fazendo curadoria, e tendo cabeça aberta para conhecer novas coisas, dá para ter um mundo de séries e filmes apenas no Youtube de graça, e se adicionar o bom e velho torrent obviamente vai ter coisas novas, mainstream e de alta qualidade. Por exemplo, no youtube tem trocentos desenhos e animes dublados, porque felizmente essas empresas gringas desprezam o mercado brasileiro, ao contrário do deles. Também tem canais cheios de filmes estrangeiros legandados como o brasileiro Cine Antiqua e o russo Mosfilm, além de só pesquisar por playlist do que quiser, comédia, filmes portugueses e etc.
Mas esses exemplos são nichos, os serviços de streaming tem que atender a um publico muito mais amplo.
E quem vai fazer a curadoria? Meio fora da realidade.
E vamos combinar: filme russo é osso! Já vi muitos, entendi metade e gostei de um.
Ele disse que ia fazer a curadoria ele mesmo, por isso que falei de youtube e torrent, nesses a própria pessoa que tem que ir atrás do conteúdo, eh sua grande desvantagem. Não acho que vai ser ‘mainstream’ estilo Netflix, más o fato de ser de graça e mais fácil no youtube vai manter os 2 como opções populares, certamebte mais que a maioria das assinaturas e aumentara quando os preços e fragmentacao destas subir. Meus exemplos são de cunho pessoal, mas eu discordo completamente que desenho e anime são produções de nicho, eu vejo muita criança vendo picapau dublado e a Disney+ se baseia nisso, com Marvel e star Wars de complemento. Fora as produções infantis professionais no youtube, Tipo Lucas Neto, ja eh um setor infantil muito importante no YouTube. No youtube eu tb posso ver A grande família, eu a patroa e as crianças e todo mundo odeia chris dublado, um monte de filme brasileiro, chaves, etc. A Copa do mundo de 2022 foi posta no youtube de gratis, mesmo que parzialmente, e pode ser que aumente isso.
Dá uma olhadinha no Mubi, é muito bom! E se não me engano eles estão com uma promoção de 3 meses por dez reais. :) Tem o Itaúculturalplay também, que é gratuito, só o app tem alguns probleminhas, mas filmes muito interessantes e nacionais
Culpa dessa métrica sem sentido (a meu ver) de que tem que prender o usuário o maior tempo possível. Por mim o usuário ideal dos serviços de streaming é o que mantém a assinatura consumindo a menor quantidade de recursos (literalmente usufruindo do serviço). E a melhor maneira de fazer isso seria com muitas séries com episódios semanais, e não com o modelo de maratona.
Parece que estão presos no passado (antes da netflix ter séries próprias) quando a graça do serviço era maratonar todos episódios de séries que já tiveram suas temporadas concluídas.
Esse tipo de usuário não é interessante pra eles porque se passam muito tempo sem usar, acabam cancelando a assinatura. Mas eu concordo que as métricas deles estão bem zoadas.
Pra mim faz sentido q assina por mais tempo quem assiste uma série semanal, pq vai assinar pelo menos por 2 meses, do q lançando de uma vez q a pessoa pode cancelar assim q maratonar.
Só tem q lançar outra série/temporada semanal q atinja um publico semelhante assim q a temporada da anterior estiver acabando. Aí assina por mais tempo que quem maratona
Estou bem nessa. E estou a um passo de cancelar a Netflix
O mercado de mangás no Japão é mais ou menos nesta mesma linha. Quem entende disso provavelmente poderá vir aqui me corrigir, mas pelo que leio, a mecânica de produção de conteúdo nos quadrinhos japoneses é na mesma linha: existem as revistas “de linha” (como a Shonen Jump), que sempre vem com diversas séries, algumas novas e outras que vão circulando pela revista conforme resposta dos fãs. Quadrinhos/Mangás que tem menos audiência vão aos poucos “indo para o final da revista” (literalmente, falando em posição de páginas) até a hora que é cancelada.
Sim, mas existe uma diferença importante entre quadrinhos e séries televisivas: quadrinho é muito mais barato de produzir e, consequentemente, saem num volume muito maior. Há a expectativa de que nem todas as histórias continuem — as Shonen Jump da vida acabam servindo como filtro —, o que não acontece com as séries.
tá certo :).
falaram em um comentário mais acima que na verdade isso é bem comum no mercado televisivo americano tambem.
falando em cancelamento a Warner fez uma carnificina no seu conteúdo com um CEO totalmente refratário ao modelo de negócio de streaming “coma tudo que puder e pague só uma vez”