A nuvem que consome água

A palavra “nuvem” foi adotada pela indústria de tecnologia para se referir aos grandes parques de servidores escaláveis.

Graças a ela, qualquer empresa, startup ou empreendedor individual não precisa mais arcar com os altos custos iniciais de infraestrutura para lançar um serviço na internet. A nuvem permite começar pequeno (e gastando pouco) e crescer de modo contínuo, de acordo com a demanda, rápido ou devagar.

É um modelo genial. Não à toa, os líderes do setor — Amazon Web Services, Google Cloud e Microsoft Azure — ficaram enormes e são muito lucrativos.

Como toda tecnologia transformadora, ficamos fascinados com o lado bom da nuvem e nos esquecemos dos riscos da concentração de mercado, indisponibilidade pontual, segurança e custos colaterais, ocultos pela sombra do otimismo que o progresso tecnológico impregna em si mesmo. Raros e/ou incipientes, mas ainda assim presentes, esses riscos em geral revelam a natureza física da nuvem, levantada com muitos recursos naturais limitados, como metais raros, silício e água.

Chamou-me a atenção esta reportagem da Bloomberg (sem paywall) mostrando regiões que sofrem com secas históricas e, ao mesmo tempo, abrigam grandes data centers de empresas como Meta, Microsoft e Amazon.

Esses data centers, os endereços físicos da “nuvem”, consomem quantidades enormes de água. Um da Meta em Talavera de la Reina, na Espanha, ainda no papel, deverá gastar 665 milhões de litros por ano. Nos momentos de pico, serão 195 litros por segundo para arrefecer máquinas que sustentam a nuvem digital.

Não por acaso, data centers do tipo têm gerado insatisfação e antipatia das pessoas que moram nos locais onde estão instalados ou pretendem se instalar. De repente, elas se veem obrigadas a dividir a pouca água com computadores.

É irônico que a “nuvem” dos titãs da tecnologia se comporte de maneira oposta à da natureza: em vez de trazer água, consome-a. A menos que se conte como “água” aquele barulhinho de chuva do streaming, possível apenas graças à nuvem digital.

Spotify reajusta preços no Brasil.

A assinatura premium do Spotify ficou mais cara no Brasil:

  • Individual: de R$ 19,90 para R$ 21,90 (+10,1%);
  • Duo: de R$ 24,90 para R$ 27,90 (+12%);
  • Universitário: de R$ 9,90 para R$ 11,90 (+20,2%).

O plano família não sofreu alterações — continua custando R$ 34,90.

Netflix: mais cadastros nos EUA, audiência menor no Brasil.

Cerca de 3,5 milhões de pessoas assinaram a Netflix nos Estados Unidos em junho, segundo a consultoria Antenna. Foi o melhor mês da empresa nessa métrica em muito tempo, com o dobro da média de cadastros mensais. O número é absoluto, ou seja, não leva em conta os cancelamentos no mesmo período.

No Brasil, segundo o Kantar Ibope (via Na Telinha), a Netflix perdeu audiência no primeiro semestre, caindo de 4,9% em janeiro para 4,1% em junho.

São dados preliminares e de terceiros. Nesta quarta (19), a Netflix divulgará seus resultados financeiros do segundo trimestre de 2023 e, aí sim, teremos uma visão mais ampla da estratégia de acabar com o compartilhamento de senhas. Via Bloomberg (em inglês), Na Telinha.

TikTok lança streaming de música no Brasil.

O TikTok lançou, no Brasil e na Indonésia, um streaming de música. O TikTok Music é mais barato que os concorrentes (R$ 16,90/mês) e conta com integração com o TikTok. É o segundo app do tipo da ByteDance. O anterior, Resso, será aposentado nesses dois mercados no dia 5 de setembro. Via TikTok.

Netflix começa o combate ao compartilhamento de senhas no Brasil.

A Netflix vai começar a cortar o compartilhamento de senhas no Brasil nesta terça, segundo comunicado à imprensa.

As pessoas afetadas receberão um e-mail para “para assinantes que compartilham a conta Netflix fora da própria residência no Brasil”.

O custo do assinante extra, ou seja, para continuar o compartilhamento com pessoas que não residam no mesmo endereço, será de R$ 12,90 por mês, por assinante extra. Via Netflix.

Com Classical, Apple Music se posiciona como a antítese do Spotify.

O Apple Music Classical é um deleite. O novo aplicativo, disponibilizado na noite desta terça (27), é autoexplicativo em sua razão de existir: ele pega o(a) ouvinte pela mão e mostra as especificidades da música clássica, em especial a taxonomia própria do gênero, com divisões por compositor, gravações e até instrumentos.

Bônus: uma série em dez partes de uma espécie de podcast introdutório, “A história da música clássica” (infelizmente apenas em inglês).

É um aplicativo que eu não pagaria à parte, mas imperdível como extra sem custo na assinatura do Apple Music. E, acho eu, o Classical funciona quase como uma declaração do posicionamento do serviço da Apple como um de música, e somente de música — sem podcasts, sem audiolivros, uma antítese do que o Spotify está tentando se transformar custe o que custar. Via App Store.

App de música clássica da Apple chega no fim de março.

Enquanto o Spotify coloca a música em segundo plano para promover podcasts e outros produtos de áudio, a Apple segue na direção contrária, reforçando o foco em música do seu streaming… de música. (Parece óbvio, né?)

Nesta quinta (9), a Apple anunciou o Apple Music Classical, um aplicativo à parte dedicado a música clássica.

O Apple Music Classical é baseado no Primephonic, um serviço de streaming que a Apple adquiriu em agosto de 2021.

Pode parecer meio estranho dedicar um aplicativo a um estilo (? gênero? Como se define isso?) musical, mas a dor não só existe como é objeto de vários aplicativos específicos para este fim.

A classificação/organização de música clássica é bem diferente das canções contemporâneas, começando pelo fato de que os compositores têm maior peso e são mais conhecidos do que os intérpretes. (No mínimo, é impossível ouvir os maiores, como Mozart ou Beethoven, tocando suas próprias composições; ambos morreram antes da invenção da música gravada.)

Esta boa reportagem do New York Times (em inglês), de 2019, explica um pouco o drama dos ouvintes de música clássica na era do streaming.

O Apple Music Classical será lançado no dia 28 de março como um extra, sem custo adicional, na assinatura do Apple Music. Já dá para “pré-baixar” o aplicativo na App Store. Via @AppleClassical/Twitter (em inglês).

Spotify e Reddit se rendem à interface estilo TikTok.

Se o TikTok for banido dos Estados Unidos — uma hipótese longínqua, mas não descartada —, seu fantasma continuará pairando sobre os usuários norte-americanos. E não digo isso apenas pela “tiktokzação” do Instagram.

Nesta semana, o Reddit anunciou um novo feed de vídeos no estilo TikTok e o Spotify reformulou a interface do seu aplicativo, que agora incluí um feed vertical infinito que… lembra o TikTok.

A outra frente em que o TikTok se destaca, a recomendação de conteúdo por inteligência artificial, está bem representada no Artifact, o novo aplicativo dos criadores do Instagram — que nem disfarçam a inspiração e definem o app como o “TikTok de textos”.

O último fenômeno do tipo foi quando todos os gerentes de produtos decidiram que stories com bolinhas no topo da tela, a grande sacada do Snapchat, eram algo imprescindível em seus aplicativos. Sobrou quem? Só o Instagram, se não me falhe a memória.

Em tempo: o Spotify ainda não oferece músicas em alta qualidade (hi-fi), um ano após prometer o recurso. É o único dos grandes apps de streaming de música que ainda não o tem. Via Spotify, Reddit (ambos em inglês).

É assim que a Netflix acabará com o compartilhamento de senhas.

“As pessoas que não moram em sua residência precisam usar a própria conta para assistir à Netflix.” É assim que a Netflix abre o documento em que explica como combaterá o compartilhamento de senhas.

A Netflix usará “informações como endereços IP, IDs de dispositivos e atividade da conta em aparelhos conectados à conta Netflix” para determinar quais são associados à residência do titular.

Quando detectar um aparelho estranho (leia-se em outra rede Wi-Fi ou que não acesse a Netflix regularmente da rede da residência do titular), a empresa exigirá uma senha temporária enviada ao titular.

Patético. Boa sorte com isso.

Embora a documentação atualizada só tenha sido descoberta agora, o primeiro registro da versão brasileira salvo na Wayback Machine data de 25 de dezembro de 2022. A ofensiva contra o compartilhamento de senhas deve começar ainda neste trimestre, segundo o Wall Street Journal. Via Netflix.

Do nosso arquivo: Netflix e a impossibilidade de negócios sustentáveis (abril de 2022).

A aposta do Spotify em podcasts não está se pagando.

Gráfico do Spotify mostrando geração de receita entre 2017 e 2021, com linhas finas referentes a conteúdo “não musical” nos dois últimos anos/barras.
Imagem: Spotify, com intervenção de Tim Ingham/Music Business Worldwide.

O Spotify superou a marca de +200 milhões de usuários pagantes no quarto trimestre de 2022. Os outros números da empresa não são bonitos, porém.

Esta boa análise do Tim Ingham é reveladora. (Ela foi publicada dias antes da divulgação do balanço de 2022.) Os gastos operacionais do Spotify, o ritmo alucinado de contratações em 2022 e o investimento bilionário em podcasts parecem, na ausência de mais detalhes, erros crassos da gestão de Daniel Ek.

O gráfico de receita (acima) compartilhado pelo próprio Spotify no “investor day” de 2022, com intervenção artística de Ingham, é chocante. E piora com mais contexto: por trás aquela linha vermelha, que representa a receita gerada por podcasts e áudiolivros, está um prejuízo de US$ 103 milhões em 2021 — e a previsão de um desempenho ainda pior em 2022. Via Music Business Worldwide, Variety (ambos em inglês).

Spotify demite 600 funcionários; responsável por podcasts pede demissão.

Chegou a vez do Spotify demitir em massa. Nesta segunda (23), o CEO da empresa sueca, Daniel Ek, anunciou um corte de 6% dos quase 10 mil funcionários.

Dawn Ostroff, até então diretora de conteúdo e publicidade, responsável por “aumentar em 40 vezes o nosso conteúdo em podcasts”, pediu demissão. Sua saída parece não ter relação com as demissões em massa, mas foi anunciada no mesmo comunicado de Ek.

Não é o primeiro abalo que a vertical de podcasts sofre. Em outubro do ano passado, o Spotify demitiu 1/3 dos funcionários dos estúdios que havia comprado, Gimlet e Parcast, e cancelou 11 podcasts. Os sindicatos dos dois estúdios culparam falta de apoio e a restrição do acesso aos programas ao Spotify pela queda de audiência.

Ek usou a mesma desculpa dos outros CEOs — esperava que o crescimento da pandemia se mantivesse, corte de custos, “assumo total responsabilidade”, blablablá —, mas talvez o podcast enquanto mídia esteja passando por uma ressaca: o volume de lançamentos despencou mais 80% em 2022 no comparativo com 2020, segundo dados do Listen Notes compilados pelo Chartr. Via Spotify, The Verge, @Jason/Twitter (todos em inglês).

A Netflix criou um “ciclo de cancelamento auto-sustentável”.

O serviço de streaming da Netflix completou 16 anos nesta segunda (16). (A empresa é mais antiga e começou com o aluguel de DVDs pelos Correios.)

Coincidência ou não, a Netflix atualizou seu aplicativo para iOS, trazendo novos efeitos visuais bem bacanas. (Veja um vídeo.)

Ok, legal, mas não é para ficar vendo pôster que alguém assina a Netflix — em tese, ao menos. Na Forbes, Paul Tassi argumenta que a Netflix criou um “ciclo de cancelamento auto-sustentável” a partir das várias séries canceladas do nada e sem conclusão, como os casos recentes de 1899 e The midnight club.

Paul explica:

A ideia é que já que você sabe que a Netflix cancela várias séries depois de uma ou duas temporadas, encerrando elas com pontas soltas ou deixando suas histórias abertas/sem final, quase não vale a pena investir tempo em uma série antes dela ter acabado e você tenha certeza de que ela tem um final coerente e um arco fechado.

Por isso, você evita assistir a novas séries, mesmo aquelas que lhe interessam, pois tem medo de que a Netflix as cancele. Um tanto de gente faz isso e, surpresa, a audiência [de novas séries] é baixa! E aí ela acaba sendo cancelada. O ciclo é fechado, e reforçado, porque agora há mais um exemplo, fazendo com que ainda mais pessoas tenham cautela da próxima vez. E agora chegamos a um cenário em que, a menos que uma série seja uma espécie de febre por acaso (Wandinha) ou uma super franquia estabelecida (Stranger Things), a chance de haver uma segunda ou terceira temporada não é nem meio a meio, mas sim algo como 10–20% na melhor das hipóteses.

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Via Forbes (em inglês).

Os principais rivais do Spotify finalmente oferecem retrospectivas personalizadas aos usuários.

O Spotify teve uma ideia genial em dezembro de 2016: uma retrospectiva baseada nos hábitos de consumo dos próprios usuários. Desde então, o Spotify Wrapped virou uma espécie de celebração anual da vigilância tecnológica música.

Demorou, mas enfim o recurso foi copiado por todos os principais rivais do Spotify. Em 2022, Apple Music, Deezer e YouTube Music lançaram suas próprias retrospectivas personalizadas aos usuários.