Jimmy Wales explica a Elon Musk o que é defender a liberdade de expressão.

Às vésperas das eleições na Turquia, nesse domingo (14), o Twitter passou a censurar a oposição ao candidato à reeleição, Recep Tayyip Erdoğan, por determinação do governo turco.

O Twitter não resistiu, não recorreu, apenas cumpriu a determinação e seguiu a vida. Como todo valentão, quando alguém maior gritou com ele, enfiou o rabo entre as pernas e não fez nada.

O jornalista Matthew Yglesias questionou abertamente a decisão, uma contrariedade flagrante ao discurso do “absolutista da liberdade de expressão” Elon Musk. Musk mordeu a isca e tentou justificar-se:

Seu cérebro caiu da sua cabeça, Yglesias? A escolha é ter o Twitter limitado em sua totalidade ou limitar o acesso a alguns posts. Qual você deseja?

Jimmy Wales, da Wikipédia, deu a letra em resposta a Musk:

O que a Wikipédia fez: defendemos nossos princípios e lutamos até Suprema Corte da Turquia e ganhamos. É isso que significa tratar a liberdade de expressão como um princípio e não como um slogan.

Musk não respondeu.

Pela quarta vez, China bloqueia Wikimedia Foundation em comitê de direitos autorais da ONU.

Pela quarta vez, o governo chinês vetou a participação de representantes da Wikimedia Foundation como observadores das reuniões do Comitê Permanente de Direitos Autorais e Direitos Conexos da Organização Mundial de Propriedade Intelectual, integrante do sistema das Nações Unidas.

Segundo os representantes chineses, a Wikimedia usa a Wikipedia e seus outros projetos para disseminar desinformação. A fundação anunciou que deve se candidatar à participação novamente na assembleia geral de julho deste ano, uma vez que, pelas regras do comitê, desde 2022 não é necessário que haja unanimidade para esse tipo de decisão.

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Wikimedia Foundation, da Wikipédia, deixa de aceitar doações em criptomoedas.

Após três meses de debate, a Wikimedia Foundation, que cuida da Wikipédia, decidiu interromper o recebimento de doações em criptomoedas. A fundação usava o serviço Bitpay e recebia doações em bitcoin, bitcoin cash e ether. A votação foi vencida com folga — 71,17% votaram a favor da proposta feita por Molly White, do (ótimo) Web3 os going great.

Na decisão, a Wikimedia Foundation deixou aberta a possibilidade de voltar ao assunto no futuro. Em janeiro, a Fundação Mozilla parou de receber doações do tipo. Leia-a na íntegra:

A Wikimedia Foundation decidiu descontinuar a aceitação direta de criptomoedas como meio de doação. Começamos a aceitar criptomoedas em 2014 a partir de pedidos dos nossos voluntários e comunidades de doadores. Estamos tomando esta decisão com base no recente feedback dessas mesmas comunidades. Especificamente, encerraremos a nossa conta no Bitpay, o que eliminará a nossa capacidade de receber diretamente crioptomoedas como método de doação.

Continuaremos monitorando esta questão, e agradecemos o feedback e a consideração destinada a este assunto em evolução por pessoas de todo o movimento Wikimedia. Manteremo-nos flexíveis e receptivos às necessidades dos voluntários e doadores. Mais uma vez, obrigado a todos os que deram contribuições valiosas a este tema cada vez mais complexo e mutável.

Via Coindesk, Wikimedia Foundation (ambos em inglês).

Os riscos da investida comercial da Wikipédia / Video game por assinatura é bom negócio?

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No podcast desta semana, Jacqueline Lafloufa e Rodrigo Ghedin debatem a investida comercial da Wikipédia, a Wikimedia Enterprise (matéria da Wired), e os acordos que serão estabelecidos com grandes empresas, como Amazon, Apple e Google. Isso afeta a imagem da Wikipédia? Quais as oportunidades? E os riscos?

No segundo bloco, debatemos as novas formas de jogar video game, em especial o Game Pass Ultimate da Microsoft, uma espécie de “Netflix dos games”. Há quem argumente que a oferta da Microsoft é a que tem o melhor custo-benefício do mercado, mas será que é só isso o que conta na hora de jogar?

Nas indicações culturais, Ghedin recomenda o filme Ascensor para o cadafalso, de Louis Malle, e a Jacque, o conto Lázaro, de Cristhiano Aguiar, publicado no Suplemento Pernambucano.

O legado de Jeff Bezos na Amazon / Os últimos lugares legais na internet

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Edição 21#2 do Manual:
https://manualdousuario.net/21-2/

Manual do Usuário em vídeo:
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Nesta semana, Rodrigo Ghedin e Jacqueline Lafloufa começam o podcast falando de Jeff Bezos. O fundador da Amazon anunciou que em 2021 deixará o cargo de CEO para se dedicar às suas outras empreitadas, como a Blue Origin e o Washington Post. Comentamos seu legado na Amazon, as qualidades e os defeitos da segunda pessoa mais rica do planeta.

No segundo bloco, falamos de Wikipédia, ou de como a Wikipédia é um lugar legal. Por quê? Quais fatores fazem dela algo tão “sui generis” na internet? Existem outros lugares legais aqui? As respostas, achamos, passam por dinâmicas sociais e modelos de negócio.

No fim, Jacque indica o jogo Jenga (sim, aquele de tirar as peças sem derrubar a torre). Ghedin indica o filme Amor, do austríaco Michael Haneke.

Ouça a Wikipédia.

Abra este site e aumente o volume. Ele toca um barulhinho toda vez que alguém edita a Wikipédia. O ritmo da versão portuguesa é lento; em uma mais ativa, como a inglesa, as edições formam uma melodia. Visualmente, bolhas coloridas indicam o tamanho da edição e outras características. O código-fonte está no GitHub.

Uma olhada na WT:Social, a rede social do cofundador da Wikipédia

A Wikipédia é um dos projetos mais bem sucedidos e inspiradores da internet. Uma enciclopédia colaborativa, que qualquer um pode editar, gratuita e sem publicidade soa como a descrição de um fracasso inevitável, mas ela segue aí, honrando seus princípios há quase duas décadas e cada vez mais popular e confiável. Jimmy Wales, cofundador da Wikipédia, acredita que um raio pode cair duas vezes no ciberespaço. Com a mesma filosofia, ele agora quer reinventar as redes sociais.

Continue lendo “Uma olhada na WT:Social, a rede social do cofundador da Wikipédia”

MEC solicita exclusão do verbete do ministro Abraham Weintraub na Wikipédia

A assessoria de comunicação do Ministério da Educação (MEC) solicitou à Wikipédia a exclusão do verbete do ministro Abraham Weintraub nesta segunda-feira (1).

De acordo com o e-mail, transcrito na íntegra pelo moderador da enciclopédia que o recebeu em uma página em que ele e outros moderadores debatem a melhor maneira de responder a solicitação, o pedido foi feito porque “a página contém informações não confirmadas com a pessoa pública ora em destaque, contribuindo para interpretações dúbias” e devido à “impossibilidade de edição por este órgão governamental”.

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Por telefone, uma assessora do MEC confirmou o pedido e a autenticidade do e-mail ao Manual do Usuário. Embora tenha se negado a especificar quais partes do verbete teriam motivado a solicitação, ela citou uma das consideradas problemáticas: a abordagem dada pelo texto ao percentual do contingenciamento das universidades públicas federais, anunciado no final de abril pelo ministro Weintraub, de 30% das despesas discricionárias ou 3,4% do orçamento total. (O episódio motivou uma explicação pra lá de esquisita do próprio ministro usando chocolates em uma “live” do presidente Bolsonaro.) A assessora reforçou que há outros pontos de discórdia no texto da enciclopédia, mas não os apontou, e que a iniciativa de solicitar a exclusão do verbete foi da assessoria do MEC — o ministro Weintraub apenas foi informado da medida.

A Wikipédia é uma enciclopédia online colaborativa e, como tal, jamais cria informação, apenas a reproduz de outras fontes consideradas confiáveis pelos seus moderadores. Qualquer pessoa pode editar os verbetes, mas o de Weintraub encontra-se “protegido” desde o dia 2 de junho por “vandalismo excessivo”. Isso significa que até 17 de julho apenas usuários identificados podem alterá-lo.

Na discussão motivada pelo e-mail do MEC, os moderadores debatem a pertinência de manter controvérsias em verbetes biográficos e cogitam encaminhar a solicitação à Fundação Wikimedia, responsável legal pela Wikipédia e sediada nos Estados Unidos.

Foto do topo: Agência Senado/Flickr.

A Wikipédia é confiável?

Recentemente IPs do Planalto foram flagrados nos registros da Wikipédia alterando os perfis dos jornalistas Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg. A mídia deu bastante ênfase ao caso e, na última segunda, Sardenberg questionou na CBN o modelo de funcionamento do site:

“(…) e acho que tem que ter uma outra forma de controle, porque esse da Wikipédia está fracassando. Você veja: se eu quiser entrar lá e escrever no meu perfil que eu sou o maior jornalista de todos os tempos, pode. (Risos) Se eu quiser entrar no verbete ‘Teoria da Relatividade’, mexer lá e dizer que Einstein estava errado, também pode. Pode até ser que eles troquem, mas por alguns dias fica lá, né? Então a governança da Wikipédia está errada, e está muito fraca, porque senão você vai ficar obrigado a todo dia ir lá verificar o seu perfil e tal. Então… acho que isso aí é um efeito secundário dessa história que é… ela fica um pouco desmoralizada, a Wikipédia… porque se mostrou que há uma vulnerabilidade muito grande. Ok, você vai atrás depois, mas já está feito, né?”

O modelo de funcionamento da Wikipédia sempre levanta sobrancelhas e suspeitas. Uma página consultada por milhões de pessoas todos os dias e que qualquer um pode editar? Tem quem questione sua credibilidade, a veracidade das informações e até a solidez do projeto.

Mas é preciso conhecê-la melhor antes de criticá-la tão duramente. O projeto, que existe desde 2001, já passou por outras turbulências do tipo e recorreu à sua grande força criativa, a colaboração de gente interessada, para identificar e neutralizar esses contratempos. Tudo fica registrado, tudo é verificável, qualquer alteração pode ser desfeita e geralmente as aberrações são revertidas muito rapidamente.

O ônus de tanta liberdade é pago com transparência e agilidade. Pesquisas científicas (PDF) e testes independentes mostraram rapidez na correção de erros crassos e a prevalência de pontos de vista neutros em verbetes polêmicos. A comunidade faz e decide na Wikipédia, e esse sistema funciona.

No LabMídia, Rafael Coimbra sintetizou essa ideia:

Portanto, não se trata de um território livre, onde que qualquer um escreve o que bem entende. Na Wikipédia existe um controle editorial coletivo. Isso garante certa credibilidade e faz com que a enciclopédia seja respeitada mundialmente.

Mas é preciso estar consciente de que ela não é 100% infalível. A “verdade” da Wikipédia não é absoluta.

E, claro, eventualmente alguém mal intencionado vai usá-la para escrever opiniões próprias. Por isso, por mais que seja útil e importante, deve ser vista sempre com um olhar crítico. O ideal é usá-la apenas como ponto de partida nas consultas. Quem quer informação precisa tem que pesquisar outras fontes. Quanto mais, melhor.

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A Universidade de Harvard tem uma postura similar sobre a relação entre seus alunos e a Wikipédia. A instituição disponibiliza uma página dedicada à enciclopédia no seu Guia para Uso de Fontes, onde expõe suas ressalvas quanto ao uso dela na pesquisa acadêmica, mas lhe concede carta branca para fins introdutórios:

O fato da Wikipédia não ser uma fonte confiável para a pesquisa acadêmica não significa que seja errado usar materiais de referência básicos quando você está tentando se familiarizar com um tópico. (…) Essas fontes podem ser especialmente úteis quando você precisa de informações de base ou contexto de um tópico sobre o qual estiver escrevendo.

***

No primeiro semestre gravei, num projeto de extensão do curso de Comunicação da UEM, um programa de rádio cujo primeiro bloco se dedica a desmitificar a Wikipédia. Ouça aqui.

@brwikiedits monitora alterações anônimas feitas na Wikipédia a partir de IPs de órgãos públicos

O bot dedo duro do Twitter.

Segunda-feira, neste post, citei o @congressedits, bot que monitora alterações anônimas feitas na Wikipédia a partir de IPs do Congresso norte-americano e as divulga no Twitter, como uma solução elegante e esperta para o problema. Por que não uma versão brasileira?

Pois bem, eis o @brwikiedits. Ele faz a mesma coisa do original britânico (@parliamentedits) e da variante do hemisfério norte citada acima, só que monitorando as redes das seguintes instituições brasileiras: Senado, STF, Câmara, Serpro, Procuradoria Geral da República, Dataprev, Petrobras, BCB, BB e Caixa.

O bot foi criado por Pedro Felipe (@pedrofelipee), desenvolvedor de 18 anos. Por e-mail, ele revelou como a ideia surgiu:

Há algumas semanas, pesquisando na Wikipédia, acabei caindo nas alterações das páginas e percebi que todas as edições anônimas tinham seus IPs registrados. Me veio à mente que algum serviço poderia monitorar e reportar mudanças feitas a partir da rede do nosso Governo e suas estatais. Logo depois o @congressedits surgiu e a etapa de desenvolvimento já estava eliminada, uma vez que o script por trás dele tem código aberto e qualquer um pode contribuir.

Até comecei a coletar alguns endereços que editam páginas do Palácio do Planalto e Câmara dos Deputados para tentar descobrir o intervalo de IPs. Foi frustrado, não consegui muita coisa e não era o bastante para começar o monitoramento, então deixei a ideia de lado. No começo dessa semana o escândalo explodiu e eu não poderia perder o timing.

Em vez de fazer a coleta dos intervalos de IP manualmente, o Pedro usou outra abordagem. Ele mesmo explica:

Todos os IPs estão registrados em nome de algum provedor, certo? Não sei se vou explicar com os termos corretos, mas os AS [sistema autônomo de roteamento] controlam vários intervalos de IPs. Todo provedor tem um.

Não foi tão simples como no exterior, onde os IPs de vários órgãos do governo americano estão disponíveis no Wikipédia, por exemplo. O que eu fiz foi buscar alguma lista com todos os AS brasileiros e caçar nomes dos órgãos e estatais. Com o código AS em mãos (ex. AS28629 Senado Federal), foi mais simples descobrir quais IPs estão sob seu controle.

Com o script em mãos, fiz algumas modificações, adicionei os IPs coletados, criei um perfil no Twitter e subi uma nuvem para monitorar. Ele funciona monitorando o IRC do Wikimedia, que publica todas as alterações anônimas com seus respectivos IPs num canal.

Ele diz que criou o perfil para dar mais transparência à questão e, também, pela diversão. As várias alterações que o pessoal da Petrobras fez hoje cedo na página do Digimon (!) são um exemplo.

O mais importante, porém, é que o @brwikiedits passa a monitorar instituições públicas importantes para eventuais alterações de viés político na Wikipédia. Especialmente agora, no período eleitoral, soluções do tipo contribuem bastante para tentarmos manter o nível das campanhas.

Computadores do Planalto foram usados para editar páginas da Wikipédia

Alexandre Aragão e Alexandre Orrico, na Folha:

Onze computadores do governo federal foram usados para alterar páginas da Wikipédia, enciclopédia on-line cujos textos podem ser editados livremente, como as do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT), do Movimento Passe Livre e do ex-governador José Serra (PSDB-SP).

Levantamento da Folha com os endereços de IP registrados em nome do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) e da Presidência da República mostra que artigos sofreram mudanças tanto para a inclusão de elogios e a retirada de críticas como para o inverso.

As edições, feitas entre 2008 e 2014, acabaram desfeitas por outros usuários, por infringirem regras de uso.

O fato de ser aberta a contribuições não é sinônimo de bagunça. Os editores e outros usuários corrigem os erros — embora nem sempre a definição de “erro” seja uma questão tão simples, binária.

Além do monitoramento de quem faz a Wikipédia, outros mecanismos podem ser usados. A tecnologia cria problemas, a tecnologia os resolve.

Nos Estados Unidos um script para Twitter causou alvoroço no início do mês. O @congressedits manda tweets automaticamente sempre que algum artigo da Wikipédia é editado por computadores do Congresso. Medida bem legal e que poderia (deveria) ser copiada aqui. Afinal, copiamos tanta coisa desnecessária (Hey? Sério?); custa nada copiar um negócio útil e que fará diferença no cenário político.