Marketing de guerrilha contra Worldcoin, o projeto de registrar íris do CEO da OpenAI

Adesivo colado sobre um QR code: “Diz muito que os investidores estejam desperdiçando dezenas de milhões em um novo esquema de criptografia a fim de ajudar os pobres do mundo. Se eles estivessem realmente interessados em ajudar comunidades de baixa renda, deveriam doar seu dinheiro em vez de investir em mais uma forma de vigilância.”
“Diz muito que os investidores estejam desperdiçando dezenas de milhões em um novo esquema de criptografia a fim de ajudar os pobres do mundo. Se eles estivessem realmente interessados em ajudar comunidades de baixa renda, deveriam doar seu dinheiro em vez de investir em mais uma forma de vigilância.” Foto: @docpop@mastodon.social.

O artista Doctor Popular criou adesivos para colar em cima dos cartazes da Worldcoin, startup/esquema co-fundado por Sam Altman, CEO da OpenAI, que quer registrar a íris de todas as pessoas do mundo em troca de uma criptomoeda fajuta.

Parece o plano diabólico de um filme ruim. O objetivo da Worldcoin é distinguir pessoas de inteligências artificiais, “habilitar processos democráticos globais” (?) e financiar com IA uma renda básica universal. (Sério, eu não estou inventando; está no site oficial.)

É esse cara — que não entendeu Oppenheimer — que está na vanguarda do Vale do Silício, moldando regulações de IA ao redor do mundo. Via @@docpop@mastodon.social (em inglês).

Bluesky levanta US$ 8 milhões e lança registro de domínios.

O primeiro produto pago do Bluesky é o registro de domínios web (precisa de login), oferecido em parceria com a Namecheap. Faz sentido: domínios são a identidade e a verificação no protocolo AT, usado pelo Bluesky.

No mesmo dia, a empresa Bluesky anunciou uma rodada semente de US$ 8 milhões liderada pela Neo. O dinheiro será usado para o básico: expansão da equipe, despesas de infra e investimentos no protocolo AT e aplicativo oficial. Via Bluesky (2) (em inglês).

Startup de US$ 1,1 bilhão fecha as portas; 95% dos usuários eram robôs ou falsos.

Um aplicativo de mensagens chamado IRL fechou as portas após revelar que 95% dos seus 20 milhões de usuários eram robôs ou contas falsas. O mais bizarro dessa história é que, antes disso, a IRL havia convencido investidores a colocar US$ 200 milhões no negócio (85% do valor foi em uma rodada liderada pelo SoftBank) e chegou a ser avaliada em US$ 1,1 bilhão. Mais um unicórnio do chifre falso.

Fico imaginando o tanto de robôs, perfis falsos, contas abandonadas e de pessoas que morreram que não tem por aí. É difícil fazer essa análise por causa dos feeds algorítmicos, mas suspeito que sejam muitas. Elon Musk, antes de adquirir o Twitter, também achava isso. Via The Information ($), Fortune (ambos em inglês).

ChatGPT já está alterando a internet

Inteligências artificiais gerativas prometem uma revolução. Embora possa soar como algo distante, quase no campo da ficção científica, em alguma medida a revolução já está acontecendo.

A startup NewsGuard identificou 49 sites de notícias que usam IAs como o ChatGPT para gerar todo ou quase todo seu conteúdo, boa parte dele com imprecisões ou mentiras. Existem sites em português na amostragem.

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As estratégias distintas das startups de buscas online de olho no bolo do Google.

A Neeva, startup fundada em 2019 por dois ex-executivos do Google, Sridhar Ramaswamy e Vivek Raghunathan, com a promessa de oferecer um buscador melhor, pago e sem publicidade, anunciou o encerramento do seu buscador pago e sem publicidade no sábado (20).

Depois de uma breve desvio (ou delírio) em criptomoedas, agora a Neeva vai focar em grandes modelos de linguagem (LLM, na sigla em inglês), o “coração” de inteligências artificiais como GPT-4, LLaMA e PaLM 2.

Estratégia estranha, essa de pular de tendência em tendência e, em todos os casos, bater de frente com algumas das maiores empresas do planeta — no caso, Google, Meta e Microsoft.

No Hacker News, Vladimir Prelovac, fundador de outra startup de buscas online sem publicidade, o Kagi, traçou a sua estratégia: aguentar o atual ciclo de empolgação com IAs (que ele prevê será de dois anos) e, quando as pessoas estiverem fartas dos chatbots repletos de publicidade e forem atrás de um buscador melhor, estar lá para antendê-las.

O relato de Vladimir tem muitos “ses”, ou seja, apresenta uma conjuntura impossível de prever a essa altura. Apesar disso, gosto da premissa (“sobreviver aos próximos dois anos e continuar inovando no que importa”) e há o argumento favorável de que pesquisas online são um produto consolidado, com bilhões de usuários, passando por um momento de turbulência, com a pressão multilateral que o Google enfrenta e a emergência dos chatbots como alternativa ao modelo clássico de pesquisa online. Via Neeva (em inglês).

BeReal e Clubhouse, startups de um truque só?

Reza a lenda que quando Steve Jobs tentou comprar o Dropbox, então uma pequena startup, o ex-CEO da Apple argumentou que o Dropbox era um recurso, uma funcionalidade, e não um produto.

O Dropbox ainda está aí, como toda boa empresa de tecnologia: capital aberto, demitindo centenas de pessoas e apostando tudo em inteligência artificial, provando que talvez Jobs estivesse errado.

Outras empresas, porém, parecem estar provando que às vezes uma boa ideia é só isso, uma boa ideia, e não serve de base para a constituição de uma empresa.

Tomemos o BeReal, a rede social francesa que ganhou tração limitando os usuários a uma postagem por dia, todas feitas no mesmo horário.

O BeReal ascendeu e caiu no ostracismo sem lançar um mísero recurso novo. Alguém lá dentro deve ter se tocado disso, o que levou à divulgação de uma novidade: agora, os usuários podem postar não uma, mas três vezes por dia. Oportunidade perdida e um forte indício de que toda a criatividade da equipe foi consumida pela ideia inicial.

O Clubhouse foi outra. Em janeiro de 2021, perto do pico de ansiedade provocado pela pandemia de covid-19, um delírio coletivo apontou as salas públicas de áudio como o futuro da internet. Milhões investidos, rivais pesos-pesados copiando recursos e… você se lembra do Clubhouse?

Nesta quinta (27), o Clubhouse demitiu metade dos funcionários para “reiniciar” a empresa que, dizem os fundadores, está construindo algo de que “o mundo precisa” e, por qualquer motivo, só conseguirá isso com 50 pessoas trabalhando em vez de 100. Via BeReal, Clubhouse (ambos em inglês).

Substack é a maior ameaça às newsletters que já existiu

O Substack é para newsletters o que o Spotify está sendo para podcasts, o Medium foi para blogs e o que o Google Reader foi para o RSS: um player agressivo, que domina e subjuga todo um segmento com vantagens artificiais e insustentáveis, numa aposta arriscada. É uma espécie de bomba relógio corporativa que, quando explodir, destruirá incontáveis pequenos negócios baseados em newsletters.

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GPT-4, Google e Anthropic/Claude: Um grande dia para a inteligência artificial.

Coincidência ou não, 14 de março de 2023 foi um dia marcante para o agitado setor de inteligência artificial.

A OpenAI lançou o GPT-4, nova versão da sua IA gerativa, base do ChatGPT. Alguns produtos comerciais, como Duolingo e o Bing, da Microsoft, já fazem uso da nova versão da IA. (Para usá-la no ChatGPT, por ora, só pagando.)

Em testes divulgados pela OpenAI, o GPT-4 mostrou-se ainda mais articulado e parecido com seres humanos, passando com sucesso por testes de cognição. O grande diferencial da nova versão, ainda indisponível ao público, é a capacidade de interpretar imagens. Vários exemplos no site oficial.

Do outro lado do front, o Google anunciou uma API e ferramentas para desenvolvedores “plugarem” seus sistemas aos grandes modelos de linguagem da empresa, e uma espécie de ChatGPT integrado ao Google Docs e ao Gmail.

Sobrou até espaço para a Anthropic, empresa especializada em IAs gerativas que recebeu um investimento pesado do Google em janeiro (~US$ 300 milhões), lançar o Claude, um chatbot que, promete a startup, “alucina“ menos que os rivais. Via OpenAI, Google, Anthropic (todos em inglês).

Quebra do Banco do Vale do Silício faz startuperos pedirem ajuda ao governo.

O Vale do Silício passou o fim de semana insone, ansioso pelo salvamento do Banco do Vale do Silício (SVB, na sigla em inglês), que quebrou espetacularmente na sexta-feira (10) após uma boa e velha corrida ao banco.

(Não vou me arriscar a tenta explicar o que aconteceu, pois complexo e vários já tentaram por aí — é só procurar.)

Com +90% do dinheiro depositado sem cobertura do equivalente deles ao nosso Fundo Garantidor de Crédito (FGC), havia o temor de que a quebra impedisse startups de pagar funcionários e credores. Na noite deste domingo (12), porém, autoridades do governo norte-americano garantiram que os correntistas terão o seu dinheiro de volta.

Outros temores persistem, como o risco sistêmico, de uma quebra generalizada do setor bancário norte-americano. Antes e depois do SVB, o também californiano Silvergate (especializado em criptomoedas) e o novaiorquino Signature (de alta renda, também exposto a criptomoedas) quebraram.

Durante o que a Bloomberg resumiu em “67 horas caóticas”, investidores de risco e startuperos se uniram em coro pedindo ajuda ao governo para salvar setor. Irônico. Via Departamento do Tesouro dos EUA (em inglês).

O acordo entre Serpro e DrumWave, startup que quer criar “carteira de dados pessoais” no Brasil

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No dia 19 de novembro, o Painel da Folha de S.Paulo veiculou uma breve entrevista com André Vellozo, fundador da DrumWave, empresa com sede nos Estados Unidos que, segundo o texto, “desenvolveu uma plataforma que promete transformar os dados pessoais de qualquer pessoa em dinheiro” e está prestes a entrar no mercado brasileiro.

Chamou a atenção uma resposta de André em que ele afirma já ter assinado “um contrato com a Serpro, a maior empresa pública de tecnologia do mundo”.

A entrevista não se aprofunda no assunto, então entrei em contato com o Serpro para tentar entender os detalhes do contrato.

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Mãe de criança ou assistente de CEO de startup de tecnologia?

  1. Uma parte desproporcional do seu tempo é gasta limpando bagunça e levando comida a ele.
  2. Ele te chama gritando seu nome.
  3. Ele não para de falar de como vai construir um foguete e viajar para o espaço sideral.
  4. Ele usa um monte de palavras que soam totalmente inventadas.
  5. Quando você lhe diz que precisa de um dia de folga, ele ri na sua cara.
  6. Ele se recusa a calçar sapatos.
  7. Ele superestima suas próprias habilidades a todo momento.
  8. Ele oferece reflexões profundas não solicitadas de assuntos dos quais ele não sabe nada.
  9. Quando ele diz algo que não faz sentido, você sorri, acena com a cabeça e diz que ele é um gênio.
  10. Ele nunca paga impostos.
  11. Ele tem uma sala cheia de brinquedos a que ele se refere como seu “escritório”.
  12. Quase todo dia, ele senta em sua mesinha e finge estar digitando alguma coisa até cair no sono.
  13. Ele quer ser um unicórnio.

Resultado:

  • Mãe de criança: 1–13.
  • Assistente de CEO: 1–13.

Nota do editor: O texto abaixo é da Justine Cotter e foi publicado originalmente em inglês na McSweeney’s Internet Tendency, que gentilmente me autorizou a traduzi-lo e publicá-lo aqui.

Centralização no Substack.

Vez ou outra temos a sensação de que a história humana está condenada ao mesmo roteiro repetido eternamente, apenas com personagens e contextos um pouco diferentes.

Há alguns anos, o Substack despontou como destino principal para escritores de fim de semana e gente que quer levar a sério o radical ato de escrever textões na internet. Não por acaso: é uma ferramenta fácil de usar, bem apresentável e em constante evolução. Mais importante, é totalmente gratuito a menos que você cobre pelas sua newsletter, e não há qualquer pressão para que ela seja cobrada.

Não surpreende, pois, que uma centralização no Substack esteja em curso. Além de ver cada vez mais newsletters com endereços terminados em substack.com, fui chamado à atenção para o fenômeno por este texto do Erik Hoel (no Substack!). Nele, Hoel exalta algumas características descentralizadas do Substack, seus efeitos de rede e o potencial de crescimento (“growth”) que desencadeia em newsletters de todos os tamanhos.

Não é algo muito diferente do que aconteceu no Facebook, Twitter, Instagram, do que acontece em paralelo no TikTok. Produza seu conteúdo ali, em uma plataforma de terceiros cheia de facilidades e gratuita, em troca da atenção das pessoas.

Isso funciona bem até o dia em que a plataforma passa a querer capitalizar, a realizar sua promessa (de lucro). Aí o alcance do Facebook/Instagram desaba e, caso você queira se comunicar com as pessoas que seguiram/curtiram sua página em algum momento do passado, precisa tirar o escorpião do bolso.

O Substack ainda está na fase de crescimento e tem uma aura descolada, anti-redes sociais. No fundo, é uma startup clássica, com +US$ 80 milhões levantados em quatro rodadas de investimento feita por firmas como a16z, Y Combinator e Quiet Capital — as de sempre.

Por tudo que o Substack faz de bom (e é bastante coisa), o saldo de concentrarmos a escrita ativa na web e no e-mail em uma startup só tende ao negativo. Porque é questão de tempo (ainda que seja bastante tempo) para que o arrocho dos escritores comece. Quando isso acontecer, é bom que o próximo Substack esteja pronto. Essas viradas costumam ser abruptas e destrutivas.

WeHashed: como a fintech Hash foi dos milhões às demissões

WeHashed: como a fintech Hash foi dos milhões às demissões, por Leandro Miguel Souza no Startups:

A história da Hash, fintech que surfou a onda de empolgação que tomou o cenário startupeiro do país nos últimos anos, causou impacto. A pergunta que ficou foi como uma startup que parecia tão promissora, que anunciou ter levantado portentosas rodadas de investimento (perto de US$ 60 milhões), chegou ao ponto de deixar de atender clientes, demitir sua força de trabalho e encerrar abruptamente suas operações? Como ela gastou tanto dinheiro?

Para tentar encontrar respostas, o Startups conversou com alguns ex-funcionários e fontes do mercado. E o que encontramos foi uma espécie de “cautionary tale” – um termo em inglês que não tem uma tradução específica em português, mas que indica uma história que serve de aviso para quem estiver interessado em ler e tirar suas conclusões.

Comentários no mercado e o sentimento dos usuários em relação aos GIFs em redes sociais demonstram que eles caíram em desuso enquanto formato de conteúdo, com usuários jovens em especial descrevendo GIFs como “para boomers” e “cringe”.

— Giphy, startup norte-americana especializada em GIFs animados.

A Giphy foi comprada pela Meta em 2020, por US$ 400 milhões, mas o negócio foi bloqueado pelo órgão antitruste do Reino Unido. A frase acima é de um documento enviado ao órgão na tentativa de liberar a aquisição. Via The Guardian (em inglês).

Bitwarden levanta US$ 100 milhões e promete que nada mudará para usuários.

O Bitwarden, aclamado gerenciador de senhas, anunciou o recebimento de uma rodada de investimentos de US$ 100 milhões (~R$ 520 milhões) nesta terça (6).

A empresa foi bastante cautelosa no comunicado, reforçando em vários momentos que nada deverá mudar para os usuários finais. “Este investimento representa uma forte afirmação do modelo de negócio existente do Bitwarden e um compromisso em dar continuidade aos nossos valores principais”, diz o texto assinado por Michael Crandell, CEO do Bitwarden.

O Bitwarden é bem quisto pela comunidade por ter o código aberto e oferecer uma versão gratuita bastante generosa, a ponto de tornar dispensável a paga — e mesmo essa custa pouco, US$ 10 por ano. É, de fato, uma ótima solução para gerenciamento de senhas.

O dinheiro será “investido sabiamente” em áreas adjacentes, como gerenciamento de autenticação e tecnologias sem senha, com foco em clientes corporativos. A empresa também pretende gastar na expansão internacional, incluindo a América Latina.

Não é à toa o cuidado na comunicação. Muita gente correu para o Bitwarden depois que o 1Password levantou US$ 620 milhões e iniciou uma série de alterações hostis aos usuários finais, como acabar com a versão “self-hosted”, mudar o modelo de negócio de venda única para assinatura, e converter o aplicativo nativo do macOS para um baseado em Electron. Via Bitwarden (em inglês).