Olavo de Carvalho é banido do PagSeguro.

Depois do PayPal, agora foi a vez do PagSeguro banir Olavo de Carvalho da sua plataforma de pagamentos. A ação é creditada ao Sleeping Giants, que organizou um abaixo assinado que disparava um e-mail à CPP Investments, acionista do PagSeguro, a cada assinatura feita. Foram mais de meio milhão de assinaturas. Via Época.

Atualização (17h40): A assessoria do PagSeguro entrou em contato para dizer que não baniu Olavo de Carvalho, ou seja, Carvalho deixou de usar o PagSeguro por iniciativa própria. A nota do Guilherme Amado, na Época, também foi atualizada. Abaixo, a íntegra da que o PagSeguro enviou ao Manual do Usuário:

O PagSeguro reitera que é instituição de pagamento sujeita à Lei 12.865 de 2013, garantindo o atendimento não discriminatório aos usuários finais, bem como liberdade de escolha, segurança e proteção a seus interesses econômicos. O PagSeguro não faz juízo com relação às transações realizadas entre os milhões de compradores e vendedores por seu intermédio todos os dias. Conteúdos comunicacionais vendidos / adquiridos utilizando o PagSeguro como meio de pagamento são sujeitos ao Marco Civil da Internet, e somente conteúdos apontados como infringentes mediante o recebimento de ordem judicial específica são tornados indisponíveis. Isso não ocorreu até o momento, e notícias veiculadas sobre o tema são falsas.

Sleeping Giants é formado por casal de 22 anos do interior do Paraná.

O perfil brasileiro Sleeping Giants revelou sua identidade. É um casal de Ponta Grossa (PR), Leonardo de Carvalho Leal e Mayara Stelle, ele ex-motorista de Uber, ela vendedora de maquiagem — ambos com 22 anos, afetados pela pandemia e recebendo o auxílio emergencial. Já sabíamos que eram estudantes de direito, mas não que eram um casal.

Teorias mil se seguiram à revelação, feita com exclusividade pela Mônica Bergamo. Perfis bolsonaristas alegam que o casal é um “laranja”, como se fosse necessário uma mega-operação para ficar no Twitter citando perfis de marcas que aparecem em anúncios. Um disse que a revelação seria falsa porque “não existe motorista de Uber de esquerda.” Sintomático que perfis afeitos a notícias falsas tenham dificuldade em aceitar verdades singelas — ou no mínimo, para manter algum ceticismo, informações verossímeis.

De volta ao mundo são, ainda não entendo as razões para terem decidido revelar a identidade. Leonardo disse, na entrevista, que “a gente acredita que é o momento de mostrar o rosto para nossos seguidores, antes que um site de fake news descubra quem a gente é.” Eles se mudaram para São Paulo para proteger os familiares; essa confiança no distanciamento geográfico não resolve muita coisa com a internet. Pode parecer paradoxal, mas o anonimato fortalecia o projeto, e não o contrário. Nos Estados Unidos, Matt Rivitz, o criador do Sleeping Giants original, teve a sua identidade revelada por um site de extrema direita.

Sleeping Giants, Gazeta do Povo e Rodrigo Constantino

Ao comentar o chocante desfecho do caso Mariana Ferrer, o do “estupro culposo”, o colunista Rodrigo Constantino disse que, se fosse sua filha no lugar da vítima, daria um esporro nela e não denunciaria os abusadores porque ela teria bebido antes de sofrer a violência que sofreu. (Se tiver estômago, assista ao vídeo.) A fala nojenta dele pegou mal e — finalmente —, após anos dizendo e escrevendo barbaridades desse nível, custou-lhe algumas das posições que tinha na imprensa.

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Financiamento de “fake news” pelo governo federal escancara os perigos da publicidade programática

O maior mérito do Sleeping Giants brasileiro talvez não seja fazer com que grandes empresas retirem seus anúncios de sites picaretas, mas sim o efeito educador que ele pode ter na população dos perigos da publicidade programática, modelo que tomou a internet nos últimos anos e redefiniu o cenário da publicidade em diferentes medidas.

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Sem saberem, grandes empresas financiam desinformação e intolerância na internet: Uma conversa com Matt Rivitz, do Sleeping Giants

Em novembro de 2016, após Donald Trump ser eleito presidente dos Estados Unidos, o redator publicitário Matt Rivitz abriu o site Breitbart News, ligado ao estrategista de campanha de Trump, Steve Bannon, e peça-chave na cobertura da campanha do republicano. Rivitz ficou horrorizado com o que classificou de conteúdo “incrivelmente intolerante, racista e sexista”. Também chamou a sua atenção a presença de anúncios de grandes marcas ao lado desses comentários. Primeiro, Rivitz questionou se as empresas sabiam que suas marcas estavam sendo veiculadas ao lado de conteúdos reprováveis. E, se ao saberem, tomariam alguma atitude. Decidiu, então, expôr o problema.

Nascia ali o Sleeping Giants, uma conta no Twitter inicialmente anônima que Rivitz criou para conscientizar o mercado dos resultados potencialmente danosos à imagem das empresas que a publicidade programática pode gerar. Esse modelo, liderado pelo Google e praticamente padrão na indústria, automatiza a compra de espaços para a veiculação de anúncios. A empresa X que queira anunciar seu produto nos locais e para as pessoas mais propensas a adquiri-lo paga ao Google, não aos sites e apps anunciantes, e o Google faz o trabalho de combinar as peças aos sites, palavras-chaves no buscador e outras propriedades digitais usando todos os dados que coleta rotineiramente dos seus bilhões de usuários. Obviamente, nem todos os sites são iguais e é nessa que marcas renomadas acabam anunciadas em locais que emanam ódio, racismo, misoginia e toda a sorte de conteúdo errático.

O Sleeping Giants detecta e expõe essas situações. É um trabalho que vem dando resultado: de acordo com a Moat Pro, empresa especializada em inteligência em publicidade, entre o início do perfil e junho de 2018, o número de marcas anunciantes no Breitbart News caiu 80,3% (de 3.300 para 649) e o de peças únicas, 83,5% (de 11.500 para 1.902). Apesar do foco inicial nesse site, hoje o Sleeping Giants mira outros veículos intolerantes e, em alguns casos, indivíduos que desfrutam de posições privilegiadas a despeito de condutas e declarações reprováveis.

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