ChatGPT no Windows, Bing no ChatGPT: As novidades em IA da Microsoft.

A Microsoft anunciou (mais) um punhado de coisas envolvendo inteligência artificial, em parceria com a OpenAI, na abertura do evento Build nesta terça (23):

  • O Windows Copilot (vídeo) lembra muito as promessas da Cortana, porém sem uma interface de áudio, tudo por texto escrito/bate-papo. O lance de resumir PDFs e interagir com aplicativos de terceiros (Spotify, no exemplo) são bem legais.
  • A Loja da Microsoft ganhou uma central de inteligência artificial (vídeo) destacando aplicativos do tipo.
  • Já o Dev Home (vídeo) conecta o Windows 11 ao GitHub e reaproveita alguns recursos já existentes para facilitar e acelerar a criação de um ambiente de desenvolvimento.
  • O mais interessante, do ponto de vista dos negócios, é que a parceria com a OpenAI virou uma relação de mão dupla com a chegada do Bing ao ChatGPT.

Impressiona o volume e a rapidez com que a Microsoft tem explorado a parceria com a OpenAI e colocado na praça produtos baseadas em IA. Via Microsoft (2) (3) (em inglês).

Desavenças internas e ameaças externas envolvendo IA colocam Google contra a parede.

O Google ainda parece estar atordoado com o atropelo da OpenAI e seu ChatGPT. Duas reportagens nos últimos dias mostram desavenças internas e dificuldades em lidar com as novas e sérias ameaças que rondam a empresa nesses tempos de inteligências artificiais.

Em uma, da Bloomberg, a reportagem conversou com alguns funcionários e ex-funcionários do Google para mostrar como o lançamento desastrado do Google Bard ignorou diversos alertas e pedidos por um adiamento, do setor de ética a funcionários comuns.

O Google jogou no lixo anos de trabalho em salvaguardas e cuidados no uso de IA frente a uma ameaça corporativa. Não que seja surpresa, mas o episódio dá uma dimensão do que realmente importa dentro dessas empresas.

A outra, do New York Times, revela o “pânico” que se instalou dentro do Google em março diante da notícia de que a Samsung estaria cogitando trocar o Google pelo Bing, da Microsoft, como motor de busca padrão em seus celulares. Estima-se que essa parceria renda US$ 3 bilhões por ano ao Google.

Bônus: uma música viral, com vocais de Drake e The Weekdn criados por uma inteligência artificial, colocou o YouTube (que é do Google) em um dilema existencial: ao tirar do ar a canção, a pedido da Universal (gravadora que representa Drake), o Google diz implicitamente que trabalhos derivativos de IAs ferem direitos autorais, abrindo um precedente que coloca em risco as suas próprias IAs. Se não fizer nada, compra briga com a indústria fonográfica. No The Vergeum ótimo artigo acerca desse assunto.

Empresas como a do ChatGPT deveriam pagar pelas fontes de dados usadas no treinamento? O Reddit acha que sim.

O Reddit vai cobrar o acesso à sua API de empresas que treinam grandes modelos de linguagem (LLMs) usados em inteligências artificiais como o ChatGPT. “Achamos justo”, disse Steve Huffman, cofundador e CEO do Reddit.

Desenvolvedores de aplicativos e robôs e pesquisadores continuarão tendo acesso gratuito à API do Reddit.

Atualização (10h39): Ao contrário do que noticiou o New York Times, a API também passará a ser cobrada de desenvolvedores. Pelo menos é o que diz Christian Selig, criador do Apollo: “O uso gratuito da API para aplicativos como o Apollo não é algo que eles [Reddit] vão oferecer, logo, eu oferecer o uso gratuito do app provavelmente será muito difícil. É quase certo que o Apollo terá que mudar para um modelo [em que exista] apenas Apollo Ultra (leia-se: assinatura paga).”

Huffman parece entender uma ou outra coisa melhor do negócio do que seu colega do Twitter, que quebrou a API gratuita e afugentou meio que todo mundo da plataforma.

Cabe aqui um exercício que extrapole a situação do Reddit a toda a web.

O Google e outros buscadores desde sempre vasculham e processam o conteúdo de sites, mas até então havia uma relação de troca: o Google e outros buscadores “pagavam” esse acesso mandando pessoas que buscam por coisas que os sites oferecem. É algo que funciona bem. No Manual, por exemplo, a maior parte dos acessos é originada no Google.

Com as IAs, como o ChatGPT, Google Bard e Bing Chat, essa troca deixa de existir porque elas devolvem a resposta na própria página do buscador, sem que a pessoa interessada precise visitar outro site — no caso, a fonte da informação. Os buscadores viram parasitas, e… bem, no fundo, os chatbots explicitam um problema que já vinha se desenhando, conforme estes dados de 2019.

Mesmo um site pequeno, como o Manual, pode oferecer um corpus de dados significativo. (Em quase dez anos, publicamos 4,3 mil posts e 111,1 mil comentários.) Se interfaces como a do ChatGPT realmente se firmarem na rotina das pessoas, ocupando o espaço antes dedicado às pesquisas na web, prevejo dias difíceis pela frente. Via New York Times (em inglês).

Microsoft corrige falha de cinco anos no Windows que fazia Firefox consumir muito processamento.

A Microsoft corrigiu uma falha no Defender, o antivírus nativo do Windows — que vem ativado de fábrica —, que causava picos de processamento quando o Firefox estava em uso.

Embora seja um problema no Defender, a falha foi registrada no Bugzilla, da Mozilla, por Markus Jaritz em fevereiro de 2018:

Notei que já faz algum tempo a maior parte do tempo em que o Firefox está ativo, o [serviço] nativo do Windows 10 “Antimalware Service Executable” usa mais de 30% do meu processador e lê e escreve arquivos aleatórios em Windows/Temp, todos começando com etilqs_.

Isso tem me atrasado significativamente e faz com que o Firefox fique bem lento.

A correção finalmente chegou nesta terça, na atualização de março do Defender (plataforma 4.18.2302.x, motor 1.1.20200.4).

Yannis Juglaret, engenheiro da Mozilla, testou a correção e confirmou a melhoria:

Os números sugerem uma melhoria de ~75% no uso do processador do MsMpEng.exe ao navegar com o Firefox (o número específico se aplica a navegar no youtube.com na minha máquina).

Foi um mês cheio: na terça (11), a Microsoft liberou correções para 96 falhas, incluindo uma do tipo “dia zero” e sete classificadas como críticas. Antes disso, no dia 6/4, 17 falhas do Edge já haviam sido corrigidas. Via Neowin, Bleeping Computer (ambos em inglês)

O que aconteceu quando o CEO da Uber virou motorista de aplicativo.

O Wall Street Journal publicou uma matéria meio chapa branca, mas não por isso desinteressante, contando como a Uber aperfeiçoou várias práticas em relação aos motoristas depois que executivos do alto escalão, incluindo o CEO, Dara Khosrowshahi, passaram a fazer entregas e a dar caronas a passageiros, como motoristas disfarçados.

No caminho, ele [Dara, o CEO] teve dificuldades para se cadastrar como motorista, testemunhou algo chamado de “isca da gorjeta” e foi punido pelo aplicativo por rejeitar corridas. A grosseira de alguns passageiros da Uber foi algo surpreendentemente difícil de aguentar.

A iniciativa partiu de Carrol Chang, diretora de operações de motoristas.

Esse tipo de coisa é o que se chama no meio de “dogfooding” — numa tradução literal, algo como “comer ração de cachorro”, mas que na prática significa usar o próprio produto para ter a experiência do consumidor/cliente visando melhorá-lo.

Por coincidência, logo em seguida li uma troca de e-mails fascinante, de 2003, na ótima (e sugestivamente intitulada) newsletter Internal Tech Emails.

Nela, Bill Gates, então CEO da Microsoft, gasta 5,3 mil caracteres descrevendo sua tentativa frustrada de baixar o Movie Maker para o Windows XP. Na sequência, outros executivos trocam e-mails entre si tentando estabelecer um plano de ação e definir responsabilidades para… colocar um link de download no site da Microsoft.

Não é só o salário dos executivos que parece descolado da realidade. Experimentos desse tipo — aparentemente raros — deveriam ser mais frequentes, no mínimo porque são benéficos à própria empresa: nos Estados Unidos, foco da reportagem do WSJ, a Uber ganhou mercado da sua principal concorrente (Lyft) e suas ações, derrubadas pelo contágio no setor de tecnologia, caíram muito menos que as da Lyft. Via Wall Street Journal, Internal Tech Emails (ambos em inglês).

Google abre Bard, rival do ChatGPT, ao público, mas só para quem mora nos EUA e Reino Unido.

O Google abriu o Bard, seu rival do ChatGPT, em caráter experimental. Por ora, apenas em inglês, com fila de espera e limitado a residentes dos Estados Unidos e Reino Unido.

Devem existir motivos para essa restrição geográfica, provavelmente de cunho jurídico, mas é frustrante para o resto do mundo. Mais ainda porque, hoje, ChatGPT e Bing Chat estão disponíveis para qualquer um, em qualquer lugar do mundo, falando português do Brasil, até mesmo “mineirês” (eu vi, haha).

No comunicado oficial, executivos do Google dizem que o Bard “será expandido a mais países e idiomas” sem especificar prazos. Esperarmos sentados.

Em nota mais ou menos relacionada, a Microsoft embutiu o DALL-E, gerador de imagens da OpenAI, no Bing Chat. Via Google, Microsoft (ambos em inglês).

Com Copilot, Microsoft leva o ChatGPT aos seus aplicativos de produtividade

Introducing Microsoft 365 Copilot | Your Copilot for Work

Esta pedra estava cantada: na quinta (16), a Microsoft anunciou o Copilot, uma integração do GPT-4/ChatGPT aos produtos da antiga família Office, atual Microsoft 365 (Word, Excel, Outlook etc.).

É tudo aquilo que se esperaria num primeiro momento. Com breves comandos, o Copilot escreve textos, resume outros, extrai dados de planilhas, gera apresentações de slides. Há, ainda, um chatbot baseado na tecnologia.

A Microsoft diz que um diferencial do Copilot é que ele combina o poder do GPT-4 com os dados gerados pelo usuário. É um caso de uso mais fechado, e que, por isso, pode acabar se mostrando mais útil.

Um parêntese aqui: o marketing da Microsoft, não é de agora, vem pesando a mão nesses vídeos de divulgação, não? Por um momento acreditei que o Word estivesse bonito como no vídeo acima. Não é o caso. Via Microsoft (em inglês).

Depois de 40 anos, Word enfim ganha atalho para colar texto sem formatação.

Levou apenas 40 anos para o Word, da Microsoft, ganhar um atalho para colar texto simples, sem formatação. Anote aí: Ctrl + Shift + V no Windows, Cmd + Shift + V no macOS.

No anúncio, a gerente de produtos da Microsoft, Ali Forelli, questiona:

Não seria ótimo se você pudesse copiar e colar texto de um site no seu documento e ele ficasse legal? Imagine não ter que remover manualmente a formatação do original, como tamanho, fonte ou cor de fundo.

Sabe o que seria ótimo? Se a opção de copiar sem formatação fosse padrão. (Sei que dá para mudar nas configurações, mas o padrão é o que importa.) Não consigo me lembrar de uma situação sequer em que eu quisesse colar um texto copiado da web com a formatação original.

Em tempo: no macOS, o atalho universal Cmd + Option + Shift + V faz esse colar sem formatação. (Aparentemente, não funciona no Word/aplicativos da Microsoft.) No Windows, navegadores como Firefox e Chrome têm o atalho que chega agora ao Word. Se quiser algo abrangente, porém, um pequeno utilitário gratuito, o PureText, permite criar um atalho universal. Via Microsoft 365 Insider (em inglês).

E eu achando que o anúncio do Notion, no ano da graça de 2022, de que agora era possível selecionar trechos parciais de dois parágrafos era o ápice do “progresso”. Via Microsoft (em inglês).

Outlook para macOS agora é gratuito, mas….

A Microsoft tornou gratuito o Outlook para macOS (baixe na App Store), o aplicativo de e-mail que, até então, era parte do Microsoft 365, o serviço de assinatura da empresa.

Apesar de homônimo do serviço de e-mail da Microsoft, o aplicativo Outlook lida com outros serviços, como Gmail, Yahoo e qualquer um compatível com o protocolo IMAP.

A julgar por um comentário de Jeremy Perdue, funcionário da Microsoft que assina o post de anúncio do novo Outlook, a versão gratuita traz de “brinde” anúncios. Assinantes pagantes do Office 365 se livram da publicidade.

Outra esquisitice: o aplicativo para macOS é nativo, ou seja, feito especialmente para o sistema da Apple. No lado Windows, há quase um ano a Microsoft está testando em público uma nova versão do tipo PWA — em outras palavras, um site maquiado para se parecer com um aplicativo. Via Microsoft (em inglês)

Atualização sem nome do Windows 11 traz Bing Chat e abas ao Bloco de Notas.

A Microsoft liberou uma atualização grande do Windows 11. (E… bem, é isso, “uma atualização”; as atualizações do Windows não têm mais nomes.)

O carro-chefe da versão é a presença do Bing Chat, a inteligência artificial baseada no ChatGPT da OpenAI, embutido na barra de tarefas do sistema. Os caras estão viciados nisso.

Há outras novidades boas, como o aplicativo Assistência Rápida redesenhado, painel de widgets ocupando a tela inteira, interface mais adaptada a tablets, gravação em vídeo da tela com o aplicativo Captura e Esboço e abas no Bloco de Notas. Veja em vídeo.

Você pode esperar o Windows Update baixar a atualização em algum momento de março, ou forçar o processo fazendo uma verificação manual por atualizações. Via Microsoft (em inglês).

Chatbot do Bing/OpenAI também cometeu erros básicos em apresentação ao público.

Não foi só o Bard do Google que cometeu erros durante a apresentação ao público. O chatbot do Bing, que usa a inteligência artificial (IA) da OpenAI, também pisou na bola, com erros até mais grosseiros que os do rival.

Eles foram detectados por Dmitri Brereton e divulgados em sua newsletter. Há informações desatualizadas de estabelecimentos mexicanos, características incorretas de um produto e, no erro mais surpreendente, o Bing errou dados do balanço da GAP — um tipo de dado estruturado e, em tese, mais fácil de serem processados por IAs.

O receio do Google em liberar ferramentas do tipo era bem fundamentado: IAs gerativas “falam” com tanta segurança que parecem estar certo, mas não há garantia alguma de que estejam. No estágio atual, são uma curiosidade fascinante.

Fosse um humano cometendo esses mesmos erros reiteradamente, sem jamais se ocupar de revisá-los ou desculpar-se, cairia em total descrédito. Por que uma inteligência artificial, prestes a ser posta à frente de bilhões de pessoas, não passa pelo mesmo escrutínio? Via DKB Blog (em inglês).

Google e Microsoft dão largada à corrida dos buscadores com chatbots inteligentes

Nesta semana, Microsoft e Google apresentaram suas armas para a nova corrida dos buscadores inaugurada pelas inteligências artificiais gerativas. Rodrigo Ghedin e Jacqueline Lafloufa debatem as implicações — as já previstas, outras inéditas e algumas que nos afetam diretamente — neste bate-papo do Guia Prático.

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