Em nova fase, Matrix quer fazer frente a WhatsApp e afins

O Matrix, padrão para troca de mensagens de maneira descentralizada e com criptografia de ponta a ponta, deu início a uma nova fase.

De acordo com um (longo) post no blog dos desenvolvedores, até então o objetivo era demonstrar a viabilidade do projeto. Agora, eles querem jogar pra valer e fazer frente a aplicativos comerciais centralizados, como iMessage, WhatsApp e Telegram.

Para isso, estão focando em quatro grandes áreas, com destaque para uma nova API, chamada Sliding Sync, que agiliza algumas ações básicas e triviais em soluções centralizadas, porém desafiadoras no modelo descentralizado.

Coisas como sincronizar o estado das conversas ao abrir o app e manter as conversas atualizadas de modo transparente ao usuário final, por exemplo.

Embora a nova abordagem do Matrix 2.0 ainda esteja longe de estar finalizada, já é possível usufruir do trabalho sob algumas condições:

  • Estar em um servidor que tenha a API Sliding Sync, como o dos desenvolvedores do protocolo (matrix.org); e
  • Usar o novo aplicativo Element X (Android, iOS), que usa exclusivamente a API Sliding Sync.

Tenho feito isso, e o resultado é digno de nota. O Element X ainda carece de alguns recursos, mas é bonito, tem uma interface limpa e está bem rápido.

Desde que abordei o Matrix neste Manual, temos migrado aos poucos os grupos do site para lá.

No último fim de semana, criei um “espaço” para nosso site. Funciona como uma espécie de “servidor” do Discord, com salas temáticas.

Se você já usa o Matrix ou quer dar uma olhada, conheça o nosso espaço (#manualdousuario:matrix.org).

WhatsApp está virando uma mistura de shopping com SAC

O marketing do WhatsApp é todo voltado às relações próximas, pessoais.

No site do aplicativo da Meta, uma mensagem grande diz que “com mensagens e chamadas privadas, você pode ser quem realmente é, conversar com liberdade e se aproximar das pessoas mais importantes da sua vida, não importa onde estejam”.

Quase escapou uma lágrima aqui.

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A vez em que tive prejuízo por proteger meus dados

Neste episódio do podcast, falo dos canais do WhatsApp (siga o do Manual), explico por que decidi criá-lo, falo das redes que abandonei e conto a história da vez em que tive um pequeno prejuízo por proteger demais meus dados.


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Com Flows, WhatsApp dá um largo passo para virar “super app”.

De todas as empresas ocidentais que tentam recriar aqui o modelo chinês do WeChat, de “super app”, o WhatsApp é o melhor posicionado para tornar isso realidade.

Nesta quarta (20), a Meta anunciou o “Flows”, uma ferramenta para grandes empresas — clientes da API Business do WhatsApp — que permite criar formulários personalizados para transações das mais diversas, de escolher o assento ao comprar uma passagem de avião a fazer reservas em restaurantes, sem contar o bom e velho varejo. Será que vinga?

O próximo passo para o Telegram é ir além das mensagens e liderar a inovação nas mídias sociais em geral. Usaremos a nossa popularidade para mudar a vida de bilhões para melhor, para inspirar e elevar as pessoas em nosso planeta.

— Pavel Durov, CEO do Telegram.

O mesmo Telegram que deseja “liderar a inovação” em redes sociais lançou em julho, depois de todo mundo e quase dez anos após o pioneiro no formato, suporte a stories.

Nesta segunda (14), o Telegram completou dez anos no ar. Tem 800 milhões de usuários e já é, há muito, um híbrido de mensagens (sem criptografia de ponta a ponta padrão) e rede social (com moderação frouxa e sem regras de convivência robustas). Via @durov/Telegram (em inglês).

Google adotará padrão aberto de mensagens criptografadas de ponta a ponta.

O Google vai adotar um padrão para mensagens criptografadas de ponta a ponta e interoperáveis no Google Messages e no Android. O Message Layer Security (MLS, especificação RFC 9420) foi finalizado neste mês de julho.

O Google arrisca ser visto lá na frente como um pioneiro: como não tem um app de mensagens popular, pode abraçar sem ressalvas a ideia; e com a força da União Europeia/Digital Markets Act, as chances do MLS vingar são bem maiores que as do RCS, que até hoje a Apple ignora mesmo diante de apelos públicos do Google. Via Google (em inglês).

Telegram ganha stories, TikTok ganha posts em texto.

Sexta o Telegram ganhou stories. O diferencial é que, lá, só assinantes pagantes podem publicar stories. Nesta segunda (24), o TikTok lançou o formato de posts em texto escrito. A lei de Zawinski continua firme e forte. Via Núcleo, TikTok.

Discord lança ferramenta de controle parental.

Após uma chuva de críticas e casos assustadores, o Discord anunciou uma ferramenta de controle parental nesta terça (11). Pais e responsáveis saberão com quem os filhos conversam e quais servidores frequentam, mas não o conteúdo da conversa — segundo a empresa, para preservar a autonomia dos menores. A ferramenta foi batizada de Central Familiar. Via Discord (em inglês).

Quando começará o processo de “merdalização” do WhatsApp?

Já são raras as oportunidades de lidar com uma pequena ou média empresa, ou com profissionais liberais, sem passar pelo WhatsApp.

No mundo inteiro, o WhatsApp Business é usado por 200 milhões de pessoas. O número é quatro vezes maior o de três anos atrás.

Com o empenho da Meta para gerar receita cada vez mais explícito (e esse crescimento vertiginoso é reflexo disso), fica a dúvida de quando começará o processo de “enshittification” do WhatsApp.

O termo, um neologismo que poderia ser traduzido como “merdalização”, foi cunhado por Cory Doctorow em um popular ensaio publicado no início de 2023. Ele resume o processo de degradação pelo qual passam plataformas digitais. Assim:

É assim que as plataformas morrem: primeiro, elas são bons para seus usuários; então elas abusam de seus usuários para melhorar as coisas para seus clientes corporativos; no fim, eles abusam desses clientes corporativos para agarrar de volta todo o valor para si mesmas. Daí elas morrem.

Chamo isso de “enshittification”. É uma consequência pelo visto inevitável, decorrente da combinação da facilidade de mudar a forma como uma plataforma aloca valor combinada à natureza de um “mercado de dois lados”, onde uma plataforma fica entre compradores e vendedores, mantendo cada refém do outro, coletando uma parte cada vez maior do valor que corre entre eles.

O ensaio todo (em inglês) é uma leitura indispensável.

Startup de US$ 1,1 bilhão fecha as portas; 95% dos usuários eram robôs ou falsos.

Um aplicativo de mensagens chamado IRL fechou as portas após revelar que 95% dos seus 20 milhões de usuários eram robôs ou contas falsas. O mais bizarro dessa história é que, antes disso, a IRL havia convencido investidores a colocar US$ 200 milhões no negócio (85% do valor foi em uma rodada liderada pelo SoftBank) e chegou a ser avaliada em US$ 1,1 bilhão. Mais um unicórnio do chifre falso.

Fico imaginando o tanto de robôs, perfis falsos, contas abandonadas e de pessoas que morreram que não tem por aí. É difícil fazer essa análise por causa dos feeds algorítmicos, mas suspeito que sejam muitas. Elon Musk, antes de adquirir o Twitter, também achava isso. Via The Information ($), Fortune (ambos em inglês).

Verificação de Privacidade no WhatsApp.

O WhatsApp ganhou uma tela chamada Controle/Verificação de Privacidade (dentro da aba Configurações, Privacidade) que apresenta as várias opções do tipo de outra maneira, organizadas por tópicos. Achei intuitiva, com rótulos e conjuntos que fazem mais sentido. Por que não é assim por padrão? Via WhatsApp.

WhatsApp ganha edição de mensagens; Signal deve ser o próximo.

O WhatsApp começou a liberar a edição de mensagens. As regras são as seguintes:

  • Mensagens podem ser editadas até 15 minutos depois de enviadas;
  • Mensagens editadas exibirão um rótulo informativo; e
  • Não há histórico ou maneira de ver a versão original de uma mensagem editada.

Funciona de maneira muito parecida com a edição do Telegram, que existe desde 2016, com a diferença de que lá não existe prazo para a edição (o que pode ser problema por inúmeras razões).

Atualização (24/5, às 9h40): Ao contrário do que foi informado, o Telegram tem, sim, prazo para a edição de mensagens, de 48 horas. O que não tem prazo lá é a exclusão de mensagens, ou “desfazer” o envio. Obrigado pelo toque, fulalas!

O Signal vinha debatendo o mesmo recurso de desde abril de 2017. As notícias de que o WhatsApp estaria prestes a lançá-lo parecem ter acelerado o desenvolvimento: há vários commits (1, 2, 3, 4) no código do aplicativo para iOS nas últimas semanas. (Deve ter nos outros apps, mas não verifiquei.)

A edição de mensagens no WhatsApp será liberada de forma gradual e deve chegar a todos os usuários “nas próximas semanas”. Via WhatsApp.

Telegram dispara contra PL das fake news.

O Telegram disparou uma mensagem em seus canais oficiais, nesta terça (9), pedindo aos usuários para que pressionem deputados para votarem contra a aprovação do projeto de lei.

A mensagem do Telegram traz trechos que alegam que o PL “matará a internet moderna” se aprovado, e que “brasileiros merecem uma internet livre e um futuro livre”.

O tom da mensagem, de ameaça, é polvilhado por vários trechos questionáveis ou de desinformação pura.

É uma escalada na oposição acirrada que as empresas afetadas, como o Google, tem feito ao projeto de lei.

Atitudes como essa do Telegram reforçam a necessidade de regulação das plataformas digitais no Brasil. A mensagem institucional do Telegram está no mesmo nível das que as plataformas deveriam elas próprias combaterem. Por mais que o PL 2630/20 tenha problemas, nada justifica um ataque baixo e gratuito do tipo. Via @TelegramBR/Telegram.

Atualização (16h13): No plenário da Câmara, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), relator do PL 2630/20, disse que irá à Justiça contra o Telegram.

Atualização (16h51): A Meta publicou uma nota refutando a citação a ela pelo Telegram. “A Meta refuta o uso de seu nome pelo Telegram na referida mensagem, e nega as alegações no texto.” Imagine estar tão errado no seu argumento para que a Meta, em plena campanha de lobby buscando alcançar o mesmo resultado que você, venha a público para se distanciar.